quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Denúncias derrubam outro ministro, agora do PMDB


Rossi deixa Agricultura após admitir uso de jatinho de empresa agropecuária

Menos de 24 horas após admitir com naturalidade o uso de um jatinho da Ourofino, empresa do setor agropecuário, o ministro da Agricultura, o peemedebista Wagner Rossi, perdeu as condições de permanecer no cargo e caiu. Em menos de três meses, é o quarto ministro demitido do governo Dilma, depois de Antonio Palocci, Alfredo Nascimento e Nelson Jobim. Rossi sai em meio a escândalos em pastas comandadas por aliados: Transportes, Turismo e Agricultura. Com Rossi no ministério, repasses do governo federal para a Ourofino cresceram. Só em financiamentos, foram R$ 38,9 milhões em 2010, contra R$ 13,6 milhões em 2009. Para aliados, Rossi saiu para proteger o vice-presidente Michel Temer, que patrocinou sua indicação. O líder do governo no Congresso, Mendes Ribeiro, é cotado para a vaga. O ministro do Turismo, Pedro Novais, disse que fica no cargo até Dilma dizer o contrário.

"Raras vezes" tantas quedas

Dilma perde o 4º ministro em dois meses e meio, desta vez Wagner Rossi, do PMDB

Regina Alvarez, Evandro Éboli e Luiza Damé

Quatro ministros fora do governo em menos de três meses. Ontem, foi a vez do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, deixar o cargo em meio a denúncias de corrupção e fisiologismo na pasta. Com o gabinete na mira de investigação da Polícia Federal, Rossi, apadrinhado pelo vice-presidente Michel Temer, entregou carta de demissão alegando ser vítima de perseguição e acusações infundadas. Antes dele, já tinham deixado o governo Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes) e Nelson Jobim (Defesa). Nenhum dos quatro tinha sido escolha pessoal de Dilma.

Depois de receber a carta de demissão do peemedebista Wagner Rossi, no início da noite de ontem, a presidente Dilma Rousseff lamentou a saída do ministro da Agricultura e agradeceu sua contribuição ao governo. A presidente saiu em defesa do ex-auxiliar, lamentando que ele "não tenha contado com o princípio da presunção da inocência, diante de denúncias contra ele desferidas".

O secretário-executivo José Gerardo Fonteles assumirá interinamente o Ministério da Agricultura. Rossi se reuniu com Dilma por volta das 18h45m. O encontro foi rápido, e o vice-presidente Michel Temer também participou.

Anteontem, Rossi foi acusado de usar o jatinho da empresa Ourofino, que tem ligações com o Ministério da Agricultura. O ministro não teve constrangimento em admitir que usou o avião "raras vezes", apesar de a conduta ser vedada pela Comissão de Ética Pública. O caso seria examinado pela comissão na próxima reunião, marcada para o início de setembro.

Rossi atribui denúncias a Serra

Na carta de demissão, o ministro afirma que estava deixando o governo a pedido de sua família e se defende, afirmando que foi vítima de uma campanha de adversários. Segundo Rossi, nenhuma das acusações indicaria "um só ato (...) que pudesse ser acoimado (tachado) de ilegal ou impróprio no trato com a coisa pública". Afirma que nos últimos 30 dias enfrentou diariamente "uma saraivada de acusações falsas, sem qualquer prova". Sem citar nomes, insinua na carta que sabe de onde partiu a campanha.

"Só um político brasileiro tem capacidade (...) de acumular tantas maldades fazendo com que reiterem e requentem mentiras e matérias que não se sustentam por tantos dias", diz o texto. Segundo auxiliares, Rossi atribui as denúncias a José Serra, ex-governador de São Paulo. Procurado, o tucano não quis comentar a acusação.

Na carta, Rossi elogia a presidente Dilma Rousseff e diz torcer pelo sucesso de seu governo."Deixo o governo, agradecendo a confiança da presidenta Dilma, do vice-presidente Michel Temer, do presidente Lula e dos líderes, deputados, senadores e companheiros do PMDB e de todos os partidos que tanto respaldo me deram", destaca no texto. "Confio que o governo da querida presidenta Dilma Rousseff supere essa campanha sórdida e possa continuar a fazer tanto bem ao nosso país".

Segundo Rossi, a campanha teria "objetivos políticos, em especial a destituição da aliança de apoio à presidenta Dilma e ao vice-presidente Michel Temer, passando pelas eleições de São Paulo onde, já perceberam, não mais poderão colocar o PMDB a reboque de seus desígnios".

Na mensagem, Rossi reclama da divulgação das denúncias feitas pelo ex-presidente da comissão de licitação da pasta Israel Leonardo Batista. Há duas semanas, a revista "Veja" revelou que o lobista Júlio Froés circulava livremente no ministério, montava licitações e ainda distribuía propina a servidores da pasta. Segundo Israel Batista, Fróes tinha até sala junto à comissão de licitação com o aval do então secretário-executivo do ministério Milton Ortolan. Amigo de Rossi há 25 anos, Ortolan foi obrigado a pedir demissão.

"Embora me mova a vontade de confrontá-los, não os temo, (...), mas não posso fazer da minha coragem pessoal um instrumento de que esses covardes se utilizem para atingir meus amigos ou meus familiares. (...) minha família é meu limite. Aos amigos tudo, menos a honra", diz na nota, referindo ao ex-presidente da comissão de licitação.

A Polícia Federal abriu inquérito para investigar as denúncias de irregularidades no Ministério da Agricultura. A PF já tomou o depoimento de Israel Leonardo Batista. No depoimento, Batista confirmou que o lobista Júlio Fróes tinha aval do gabinete do ministro para atuar na pasta.

No depoimento, Batista disse que ouviu o lobista conversar com Ortolan ao telefone e se referir ao "chefão 1". À PF, o depoente não soube dizer se essa expressão era usada para identificar o ministro Rossi. Mas repetiu que foi chamado a uma sala da assessoria parlamentar no oitavo andar do ministério, onde ficava o gabinete de Rossi, onde recebeu uma pasta com notas de R$50. Batista diz ainda que não aceitou o dinheiro e devolveu sem contar. Outros servidores também teriam recebido pasta semelhante, mas Batista não indicou essas pessoas.

A investigação da Polícia Federal vem sendo conduzida pelo delegado Leo Garrido de Sales Meira. Foi ele quem tomou o depoimento do ex-chefe da comissão de licitação. Batista esta na Telebrás atuando na mesma função. Ele disse à PF que foi vítima de perseguição, porque não quis participar do esquema.

FONTE: O GLOBO

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