sexta-feira, 19 de agosto de 2011

PT não gosta da faxina de Dilma...


Diante da faxina da presidente Dilma para demonstrar esquemas de corrupção no governo - derrubando quatro ministros herdados de Lula, três deles suspeitos de irregularidades -, nada restou à ala mais lulista do partido senão o constrangimento. Internamente, petistas se quiexam de que a faxina pode passar a imagem de que o ex-presidente deixou uma herança maldita. A reação petista se acirrou com a Operação Voucher, que atingiu um ex-assessor da senadora Marta Suplicy.

O silêncio constrangido do PT

Petistas não defendem faxina publicamente e se irritam com termo "herança maldita de Lula"

Maria Lima e Adriana Vasconcelos
O constrangimento do PT lulista com as ações da presidente Dilma Rousseff, que têm resultado no desmonte de esquemas de corrupção nos ministérios partidários, vem sendo explicitado pela ausência de manifestações públicas de apoio à faxina. Nenhum petista se coloca publicamente contra a limpeza ética no Ministério, mas nos bastidores muitos deles se dizem incomodados principalmente com o fato de ela ter atingido até agora três ex-integrantes do governo Lula. Além deles, o outro que caiu até agora, Nelson Jobim, também foi herdado de Lula.

Internamente, petistas avaliam que a onda de denúncias e demissões alimenta o discurso da oposição de que Lula deixou uma "herança maldita" para Dilma, o que eles repudiam. Além disso, há preocupação de que Dilma fique refém da fórmula adotada de apurar toda denúncia de corrupção, o que poderá impedir que o governo encerre a atual crise, além de a onda poder atingir todas as siglas, inclusive o PT.

- Não concordamos com a tentativa de ataque à herança do presidente Lula. Lula é o nosso comandante. Dilma está constrangendo o PT ao desmontar a imagem de um governo que deu certo - afirmou um experiente petista, de forma reservada.

Um dos mais fiéis aliados de Lula, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) reclama que a oposição, em parceria com a imprensa, está criando essa versão de que Lula deixou uma "herança maldita" para Dilma, "do mesmo jeito que inventou o mensalão".

- Quem inventou a tal da faxina? Vocês criaram essa imagem. Mas a presidente não é faxineira! O Lula não está incomodado nada com isso. Fundamos nosso instituto, não tem nada que nos abala - disse Devanir.

"Não existe herança maldita"

No depoimento do ministro Pedro Novais (Turismo), na Câmara, quarta-feira, o líder do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), fez discurso semelhante:

- A oposição está usando isso (as denúncias e demissões) como um palco para aparecer. Não existe herança maldita. No governo Lula, as instituições funcionaram com independência total e muitos servidores foram demitidos. Nós do PT estamos dando todo o apoio à presidente Dilma, que está colocando em prática políticas permanentes. O presidente Lula também atuou com rigor contra a corrupção, não teve leniência com a corrupção.

Os mais preocupados no PT com a faxina de Dilma falam, nas reuniões fechadas, em descontrole e até em um golpe que impediria a conclusão do mandato da presidente. A reação petista se acirrou a partir da Operação Voucher no Turismo, que atingiu um ex-assessor da senadora Marta Suplicy (PT-SP) e pode atrapalhar os planos do PT na eleição para prefeito da capital paulista - Marta é a preferida do PT para a disputa, embora Lula esteja trabalhando para fazer do ministro Fernando Haddad (Educação) o candidato.

Há também os que comparam a ação da oposição ao udenismo de Carlos Lacerda, que levou ao suicídio de Getúlio. Foi o que fez o senador José Pimentel (PT-CE) no plenário no dia do lançamento da frente suprapartidária.

O senador Pedro Taques (PDT-MT), um dos nove senadores que integram a frente suprapartidária, retruca:

- Dizem que estamos tendo uma atitude de udenistas, que só falar contra a corrupção é muito estreito. Para mim, o que é muito estreito é roubar, deixar roubar, aparelhar o Estado.

O senador Jorge Viana (PT-AP) é um dos raros que defendem abertamente a ação da presidente Dilma:

- Meu sentimento é que a maioria está apoiando as ações da presidente em defesa da ética na administração pública. Por mais que exista sentimento de posse de algumas pessoas quanto aos cargos, algumas mudanças são necessárias, por mais que isso não seja o ideal num começo de governo.

FONTE: O GLOBO

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