domingo, 4 de setembro de 2011

Até hoje, constrangimento ao vir ao Brasil

Severino: "Não me arrependo, ele merecia punição"

RECIFE. O decreto de expulsão, assinado pelo então presidente João Baptista Figueiredo, foi revogado em 1993 pelo presidente Itamar Franco. Mas isso não livrou o sacerdote de constrangimentos quando vem ao Brasil e precisa passar pelo visto da Polícia Federal. Nunca deram baixa do decreto de expulsão na PF. Os agentes lhe perguntam os motivos da expulsão, fazem indagações e ratificam para ele tomar cuidado. Só pode ficar três meses, como turista.

Hoje com 64 anos, o padre não entende por que o governo cria tantas dificuldades para ele, mas concede asilo a Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália.

- São dois casos muito diferentes, mas não consigo ver como ele (o ativista) conseguiu logo a solução do caso. Realmente não entendo essa situação - afirmou ele por telefone, de Andria, onde reside atualmente.

Na próxima semana, seus advogados, Pedro Eurico de Barros e Albézio Farias, vão a Brasília encaminhar a solicitação do padre diretamente ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Caso o impasse permaneça, vão apelar às cortes superiores.

Miracapillo acha estranho não terem dado baixa do decreto de expulsão na PF. Lembra que o Brasil mudou, que o próprio Estatuto do Estrangeiro foi alterado e que os exilados voltaram.

- É o último exilado - ironiza Pedro Eurico, que reclama dos entraves burocráticos e da falta de interesse do governo.

Os dois advogados ressaltam que não vão pedir novo visto de permanência, mas que o anterior seja revalidado.

- Houve revogação do decreto de expulsão, então, que se devolvam a ele as condições anteriores, o status quo que tinha - diz Farias.

A reação foi liderada na época pelo Sindicato dos Cultivadores de Cana. Hoje, o seu presidente, Gerson Carneiro Leão, afirma não temer mais o padre:

- Junto de outras coisas que aconteceram no Brasil, como o MST, ele pode ser considerado um pinto (algo insignificante). É bem-vindo hoje. Na época, éramos aliados do governo militar, e ele insuflava os trabalhadores nos canaviais; gostava dos pobres e era tido como incendiário. Mas a mentalidade hoje é outra. Podem vir dez Vito Miracapillos. A gente tinha medo do governo Lula e ele foi o melhor presidente para nossa categoria. Por que ter medo desse padre?

Responsável pela confusão que terminou em expulsão, o hoje prefeito de João Alfredo, Severino Cavalcanti (PP), também não se opõe ao seu retorno. Mas diz que não se arrepende:

- Já se passaram muitos anos, ele deve ter refletido muito sobre a atitude que tomou, desvalorizando o Brasil. É bom que venha agora para ver como mudou o país que tanto criticou. Não me arrependo do pronunciamento, nem de ter pedido a expulsão, porque ele merecia punição diante da tentativa de desestabilizar o governo.

FONTE: O GLOBO

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