domingo, 4 de setembro de 2011

Falta de comando na base alarma o governo

Desgaste dos líderes partidários leva Planalto a mudar de estratégia e negociar diretamente com os parlamentares

Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Com o racha nos partidos da base aliada e ameaças diárias de assinatura de CPIs e dificuldades nas votações no Congresso, como a prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU), o Palácio do Planalto decidiu mudar de estratégia no seu relacionamento com os parlamentares governistas: a ordem é intensificar o contato individual.

Na semana passada, articuladores políticos do governo fizeram um diagnóstico que preocupou o Planalto: praticamente todos os líderes da base aliada estão esvaziados e enfraquecidos. Resultado: as bancadas dos partidos aliados estão sem comando. E até os líderes do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), perderam a influência no Congresso.

Nos últimos dias, a presidente Dilma Rousseff recebeu recados de que os aliados continuam insatisfeitos. Por isso, a ordem é abrir um canal direto de negociação entre os parlamentares e o Planalto. Diante desse quadro, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, recebeu a missão de atuar para amenizar as queixas. Nas palavras de um auxiliar da presidente, a ordem é conversar não só com os líderes, mas com todas as lideranças partidárias.

Missão de Temer é domar PMDB

Nesse quadro de rebelião permanente, o PMDB passou a ser um foco de preocupações para o Planalto. Dilma decidiu usar mais o vice-presidente Michel Temer e sua influência no partido para conversar com todas as facções. O Planalto quer que Temer enquadre o partido e chame o PMDB à responsabilidade.

- O PMDB também é governo. Por isso, precisa ter responsabilidade de garantir a governabilidade no Congresso Nacional - ressaltou um ministro.

Os líderes temem que essa nova estratégia palaciana enfraqueça ainda mais a influência deles nas bancadas. Mas, num momento em que o Planalto vai precisar muito do Congresso, a ordem é diminuir os riscos. A principal queixa no Congresso é que os líderes perderam o comando de seus liderados por causa da frustração generalizada com o atraso no empenho de emendas, liberação de restos a pagar e no loteamento dos cargos de segundo escalão. Essa rebelião ficou evidente, recentemente, nas rebeliões das bancadas do PMDB, do PP e do PR.

- Há um vácuo nessa relação com os partidos. Mas esse problema começa a ser resolvido. A própria presidente Dilma está gastando mais tempo com isso. A expectativa é que haverá uma execução maior do Orçamento. Esse é o melhor fermento para melhorar a relação política. As demandas do Congresso estavam travadas. Essa primeira fase foi difícil. Mas Dilma vai ganhar lastro, ao começar a liberar as emendas. E isso vai fortalecer os líderes - reconheceu o senador Jorge Viana (PT-AC).

A avaliação no Palácio do Planalto e de parte de seus aliados no Congresso é que Dilma virou refém da limpeza ética iniciada no Ministério dos Transportes, com a demissão de 36 pessoas, que ganhou uma dinâmica própria e saiu do controle do governo. Por isso, Dilma deu um freio na chamada faxina.

- Se por um lado a faxina fez sucesso com a população, e permitiu que a presidente se desvencilhasse logo de ministros que ela já planejava tirar em sua primeira reforma ministerial, por outro desorganizou sua base parlamentar e ganhou vida própria. Para retomar o controle da situação, a presidente já começou a dar marcha a ré, mas corre o risco de ser acusada de conivência com o malfeito - diz um parlamentar da base.

Segundo um auxiliar direto da presidente, o governo quer uma espécie de armistício com a base, pelo menos até a virada do ano, quando deverá ocorrer uma reforma ministerial. O Planalto identificou que, depois das primeiras demissões no Ministério dos Transportes, houve uma avalanche de denúncias.

Dilma procura agenda positiva

Há o reconhecimento de que o ministro das Cidades, Mário Negromonte, já deveria ter caído, após seus ataques aos aliados e à própria presidente. Mas Dilma aproveitou o episódio para interromper a faxina e, com isso, tentar recuperar uma agenda propositiva.

Muitos resistem a admitir publicamente que isso seja um recuo da presidente.

- Não é recuo. Essas coisas (a faxina) não podem ser a primazia da agenda da presidente - pondera o senador Walter Pinheiro (PT-BA).

- A presidente fez e fará qualquer mudança que seja necessária em sua equipe. Mas é preciso que fique claro que não há uma ação deliberada de caça às bruxas - emenda o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Novas pesquisas que estão em poder do Palácio do Planalto identificam que, depois de um primeiro momento de forte aprovação com as iniciativas da faxina, principalmente na classe média, a população deseja ações concretas. Por isso, a estratégia do governo é ressaltar essa ação de boa gestora do governo daqui para frente. Foi isso que justificou o argumento de Dilma de que sua faxina era para erradicar a miséria no país.

Já há consenso no núcleo do governo que a demissão constante de ministros começa a ser mal avaliada pela população. Outra sinalização negativa é de uma paralisia administrativa nos primeiros meses de gestão. Por isso, a tentativa de um armistício com os aliados por alguns meses. A determinação é segurar a briga interna entre facções dentro dos partidos da base.

Para Guerra, não há faxina

Além disso, a pauta da faxina deu munição para o discurso da oposição. Embora o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tenha se manifestado a favor da limpeza deflagrada por Dilma, e tenha mesmo sugerido que o PSDB revisse sua estratégia de criar a CPI da Corrupção, prevalece entre os tucanos a opinião de que a oposição não pode baixar a guarda. Até porque muitos consideram que o governo está fazendo mais marketing do que agindo efetivamente para conter a corrupção.

- A presidente Dilma reagiu nas áreas que explodiram na imprensa. Fez uma intervenção forte no Ministério dos Transportes, contra um partido fraco, o PR, mas se calou diante das acusações de que o Ministério do Planejamento autorizava os aditivos na pasta. Já as ações nas outras pastas foram limitadas. Portanto, não há faxina nenhuma. E a sociedade já começou a perceber isso - avalia o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).

FONTE: O GLOBO

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