quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Dilma, enfim, tem uma meta:: Vinicius Torres Freire

Presidente reconhece em público que seu governo não quer deixar o PIB crescer menos do que 4%

Faz algum tempo que vários ministros e economistas graduados do governo dizem nas internas que o país não pode crescer menos de 4% ao ano. Ontem, a presidente disse explicitamente: é isso mesmo. E daí?

Em quase qualquer lugar do mundo, ainda mais neste mundo caótico, meta de crescimento é algo meio quimérico. Mesmo soltando as amarras do gasto público aqui e deixando a inflação escorrer por ali, é difícil acertar o alvo do PIB.

Ainda assim, a meta anunciada de Dilma parece uma assinatura do contrato da "nova política econômica" de seu governo. Trata-se de crescer 4%, de dar uma relaxada com a inflação, mas não deixar que os preços subam mais de 6,5% ao ano, o teto da meta que o BC deve cumprir.

Dado que o BC está reduzindo a taxa de juros por conta, esperando desaquecimento feio da economia do mundo e no Brasil, os instrumentos restantes do ajuste das metas são o gasto público e intervenções localizadas no crédito e manipulações menores, tal como o governo fez com o preço dos combustíveis.

Por que 4%? Economistas do governo dizem a esta coluna que é o crescimento necessário para que a arrecadação de tributos se mantenha num nível suficiente para manter as contas públicas em ordem.

Em ordem significa cumprir a "meta cheia de superavit" fiscal até o final do governo Dilma. Isto é, poupança de 3,1%, 3,2% do PIB até 2014. Seria o bastante, dizem economistas do governo, para auxiliar o Banco Central a manter a inflação "perto da meta" e, também, para continuar reduzindo o tamanho relativo da dívida em relação ao PIB.

Mas é possível manter o salário mínimo indexado, reduzir tributos para empresas (como prometido no "Brasil Maior"), fazer o "Brasil sem Miséria" (ampliação de programas sociais), reanimar o "Minha Casa, Minha Vida" e parar de contar investimento em infraestrutura, como está sendo feito este ano?

Tudo ao mesmo tempo não vai dar, reconhecem os economistas do governo. O que vai dar? Vai se ver mais para a frente, dizem.

Economistas mais certeiros do mercado dizem que tal arranjo tende a resultar em inflação de cerca de 5,5% a 6% no ano que vem, com crescimento de uns 3,5% do PIB em 2011 e em 2012, afora em caso de desastre na Europa, quando essas contas todas serão ainda mais incertas.

Fechem ou não as contas, sabe-se lá com qual inflação, é esse o esquema com que o governo trabalha.

OS BRICS SOCORREM A EUROPA?

Desde o início da semana, há esse zum-zum sobre a ajuda dos Brics à Europa -a Itália teria pedido um dinheiro à China. Brasil, Índia e Rússia também pensariam em dar uma mãozinha, segundo "fontes" brasileiras -discutiriam o caso na reunião do FMI, no final de semana.

O Brasil não pode botar dinheiro em dívida de país à beira de calote. A Rússia já investe demais na Europa. A China, ontem, tripudiou sobre o desespero euro-americano: pensaria no caso, sob condições.

Se a Europa reconhecer a China como economia de mercado, se os Estados Unidos suspenderem restrições a investimentos chineses, se Estados Unidos e Europa arrumarem suas economias etc., sim, a China poderia pagar a conta da crise. Mas seria preciso o mundo virar de cabeça para baixo, politicamente, para isso acontecer.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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