quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Reforma deve atingir três Pastas do PT

Raymundo Costa

Brasília - Independentemente da demissão do deputado Pedro Novais do Ministério do Turismo, a presidente Dilma Rousseff desenha uma ampla reforma ministerial a ser realizada até fevereiro. Novais já estava "precificado" no Palácio do Planalto, deveria ter saído antes, se o PMDB tivesse aceitado que o ministro perdera condições de permanecer no cargo desde a posse, quando foi revelado que pagara despesas de um motel com dinheiro público.

Novais era um dos nomes de uma lista de ministros "marcados para morrer" que circulou no Palácio do Planalto, após a crise que resultou na saída do governo do ministro Antonio Palocci (Casa Civil). Outro era o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento - a presidente da República queria se livrar da companhia incomoda do PR. Resta o ministro das Cidades, Mário Negromonte, que está sob o fogo cerrado da própria bancada de deputados do PP.

Ontem, os deputados do partido discutiram pedido de explicações ao ministro das Cidades sobre a liberação de R$ 16 milhões para projetos que reduzam acidentes de trânsito: a maior parte do dinheiro foi para o PP, mas, entre os integrantes do partido, Negromonte beneficiou sua própria área eleitoral e a de aliados. Até a cidade de Glória (BA), governada pela mulher do ministro, recebeu R$ 975 mil. Localizada a mais de 400 quilômetros de Salvador, "nos últimos dez anos apenas nove pessoas foram vítimas do trânsito", ironizam deputados do PP.

O pretexto para a reforma que Dilma Rousseff pretende fazer no ministério, no início de 2012, é a saída dos ministros que devem concorrer às eleições municipais de outubro. Pelo menos três ministros do PT encontram-se nesta situação: Fernando Haddad (Educação), cujo cabo eleitoral é o ex-presidente Lula, que deve disputar a Prefeitura de São Paulo, e as ministras Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Iriny Lopes (Direitos da Mulher), que podem ser candidatas em Porto Alegre (RS) e Vitória (ES), respectivamente.

A reforma que Dilma pensa em fazer vai além dos ministérios ocupados por políticos que serão candidatos. Se os critérios que ela pretende adotar na reforma de fevereiro já fossem aplicados ontem para substituir Pedro Novais, provavelmente o novo ministro seria o senador Eduardo Braga (PMDB-AM). É um nome que hoje representa mais o grupo de senadores que saíram em defesa da "faxina" de Dilma do que os antigos caciques pemedebistas como Renan Calheiros (AL), José Sarney (AP) e Romero Jucá (RR).

Isso significa que Dilma não pensa em ministério técnico, mas espera que o político a ser indicado deve ser alguém que não precise que se explicar, no que se refere à moral e aos costumes da vida pública; tenha representatividade efetiva e capacidade para entregar o serviço contratado. O PMDB bem que tentou achar nome que se encaixasse nesses critérios, mas não encontrou.

O fracasso do PMDB da Câmara em sua tentativa de indicar um nome para o Turismo é um golpe na liderança do deputado Henrique Eduardo Alves (RN). Ele e seu grupo indicaram Novais ao Turismo. Ontem tentaram nomear o deputado piauiense Marcelo Castro, mas foram vetados pela bancada. O deputado Lelo Coimbra (ES) foi vetado pela conterrânea Rose de Freitas (ES). O deputado Gastão Vieira (MA) foi descartado sob o argumento de que já chegava "de bigode", numa referência ao patrono José Sarney.

Ás 20h30 de ontem sobrevivia o nome do deputado Leonardo Quintão (MG) - sua nomeação o tiraria da disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte com o prefeito Márcio Lacerda, que terá o apoio de Dilma. Mas o PT mostrava reação ao nome do deputado, reação ainda à campanha eleitoral ao governo de Minas.

O problema de Alves é que ele perdeu a oportunidade de tirar Novais antes, como o vice-presidente Michel Temer fez na Agricultura, com Wagner Rossi, seu afilhado político. Dilma não pensava em tirar o ministro, atingido por denúncias, mas ele e Temer anteciparam-se e já chegaram a Dilma com o nome do substituto: o deputado Mendes Ribeiro (RS). Antes que Dilma indicasse o nome de sua preferência, como fez com o PR nos Transportes.

O PMDB passa por momento de inquietação diante da ameaça de se tornar a terceira bancada da Câmara, com a efetivação do bloco PSB, PTB e PSD, se o registro deste último efetivamente ocorrer. A candidatura de Henrique a presidente da Câmara, fragilizada diante da má vontade de Dilma, ficará sob ameaça.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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