domingo, 23 de outubro de 2011

Crescimento abaixo de 3% este ano compromete meta do governo Dilma

Expansão superior a 4% no ano que vem fica cada vez mais distante

Martha Beck e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. Em meio à crise internacional e à manutenção de uma inflação elevada, a equipe econômica já vê ameaçada a meta informal do governo Dilma Rousseff de mudar o patamar de crescimento da economia brasileira, levando-o para um intervalo entre 5% e 5,5% até 2014. Fontes admitiram ao GLOBO que, embora a previsão oficial oscile entre os 3,5% do Banco Central (BC) e os 4,5% do Orçamento, 2011 corre sério risco de acabar com variação medíocre de Produto Interno Bruto (PIB), abaixo de 3%. Com isso, é praticamente impossível sustentar o discurso de expansão de 5% em 2012 e muito difícil garantir no próximo ano um crescimento igual ou superior aos 4% que Dilma considera o mínimo razoável.

Trabalhar para inverter o quadro de desaceleração é a prioridade no governo. O problema é que diversos fatores dificultam esse esforço. Um deles é a resistência da inflação em ceder. Nos 12 meses fechados em setembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), taxa oficial de inflação medida pelo IBGE, ficou em 7,31%, bem acima do teto da meta para o ano, que é de 6,5%. Com isso, embora o BC já tenha começado a reduzir as taxas de juros, seu poder de fogo ainda está limitado.

Na área fiscal, também não há muito o que fazer. Como Dilma optou por fazer um ajuste fiscal forte em 2011 para permitir ao BC reduzir os juros num momento de inflação elevada, não há espaço para desonerações que incentivem a atividade econômica no ano que vem. Além disso, optando por uma política fiscal mais austera, o governo acabou pisando no freio dos investimentos em 2011.

Isso freou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que também foi prejudicado pela crise política envolvendo principalmente o Ministério dos Transportes. Segundo o deputado Gilmar Machado (PT-MG), as obras do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) estão paradas. Segundo ele, normalmente esses gastos chegam a R$1 bilhão por mês, mas caíram para cerca de R$100 milhões em setembro.

- O empenho mensal caiu para R$460 milhões (em agosto) e agora está em R$120 milhões. Tem muita obra parando - disse Machado.

O PAC 2011 teve um total de R$40,4 bilhões autorizados pela equipe econômica, sendo que R$16,7 bilhões foram empenhados. No entanto, apenas R$4,2 bilhões foram pagos. Isso significa que apenas 10,40% do total previsto no orçamento do ano para o programa foram de fato desembolsados até agora.

Para piorar, o cenário internacional é muito incerto e cada vez mais indica uma desaceleração global mais forte do que se supunha. Técnicos do governo e economistas ouvidos pelo GLOBO admitem que há pouco instrumentos na manga da equipe econômica para salvar o crescimento. Para uma fonte do governo, o que foi feito em 2011 (desonerações, corte de juros) garante no máximo um ritmo de expansão razoável no primeiro semestre de 2012.

- O resultado de 2011 está dado. Não há o que fazer. Já em 2012, o crescimento vai contar com a ajuda de medidas que foram adotadas este ano, como o reajuste do salário mínimo, as mudanças feitas no regime tributária do Simples (que desonerou micro e pequenas empresas) além do corte dos juros que já vem ocorrendo. Mesmo assim, o cenário externo é desfavorável - admitiu um técnico.

Sem instrumento para aquecer economia

Segundo o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, o crescimento de 2011 deve ficar entre 2,5% e 3%, enquanto o de 2012 pode variar entre 3% e 3,5%:

- Essa meta informal do governo é muito difícil de ser atingida. O mundo todo vai crescer menos nos próximos anos e o Brasil não é uma ilha que vai na contramão do resto do mundo. Vamos ter que aceitar um crescimento menor.

De acordo com o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, não há qualquer instrumento que possa funcionar como estímulo à economia em 2011 e muito pouco a fazer em 2012:

- Não há espaço para fazer muito mais desonerações. Os juros já estão baixando. A outra saída é rezar.

Já o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, diz que o governo precisa aumentar com urgência sua taxa de investimento de cerca de 1% para um patamar em torno de 4% do PIB:

- São o motor que pode fazer com que o crescimento seja mais acelerado.

FONTE: O GLOBO

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