terça-feira, 25 de outubro de 2011

Dilma: Orlando não resistiria a nova denúncia

Em inauguração de ponte no Amazonas, presidente demonstra preocupação com ministro; Lula participa de solenidade

Gerson Camarotti* e Natália Lucas**

BRASÍLIA E MANAUS. Numa conversa reservada ontem, em Manaus, a presidente Dilma Rousseff demonstrou preocupação com a situação política do ministro do Esporte, Orlando Silva. Ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros interlocutores, ela admitiu, segundo relato de presentes, que o surgimento de novas denúncias poderia inviabilizar a permanência do ministro no governo.

- Ele não resistiria a mais uma denúncia nova - constatou Dilma, segundo relato de interlocutores que estavam em Manaus.

Em outro momento, foi o próprio Lula quem demonstrou preocupação com a quantidade de denúncias envolvendo o Ministério do Esporte e assessores de Orlando. Mas ressaltou que era preciso ter cautela com a veracidade das denúncias.

- Lula está preocupado com o volume de acusações envolvendo Orlando. Mas ele alertou: "Tem que saber até onde tudo isso é verdade" - revelou ao GLOBO um integrante da comitiva presidencial.

Nos bastidores, o ex-presidente Lula tem sido um dos maiores defensores da permanência de Orlando Silva no governo Dilma, mesmo depois das denúncias. Para surpresa de vários integrantes da comitiva, Lula viajou no avião presidencial com Dilma de Brasília para Manaus e conversaram reservadamente. Ele se deslocou de São Paulo para Brasília para acompanhar a presidente.

Os dois participaram ontem da inauguração da Ponte Rio Negro, que vai ligar Manaus à cidade vizinha de Iranduba. Na cerimônia oficial, Lula também foi cauteloso, evitando ofuscar a presidente. E fez um rápido discurso. Segundo relatos, chamou a atenção o tratamento atencioso que Dilma dispensou ao ex-presidente.

Dilma pede a Lula para que ele "não desapareça"

No aeroporto, ela fez questão de andar com Lula por cerca 800 metros até a porta do jato que o levaria para o México, onde ele receberia o prêmio Amalia Solórzano, concedido por ter se destacado no trabalho pelo desenvolvimento do seu país. Durante todo o tempo, em Manaus, Dilma só tratava o antecessor por "presidente". Na despedida, a presidente Dilma comentou:

- Não desapareça! Você está viajando demais.

Em Manaus, Dilma e Lula foram abordados pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Segundo a senadora, a presidente teria dito que "gostou muito da conversa com Orlando e que ele pareceu estar muito firme". De Lula, ela ouviu que, se os comunistas estiverem seguros da inocência do ministro, que continuassem resistindo.

- Se vocês têm segurança, têm que ir em frente - disse Lula, segundo Vanessa.

Ao GLOBO, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) afirmou, na edição de ontem, que não há posição definitiva e que Dilma ainda avalia a situação para decidir se mantém Orlando Silva. Interlocutor frequente do ex-presidente, foi Carvalho que fez o convite para que Lula fosse a Manaus.

Ontem, o ministro Orlando Silva tentou sair da agenda negativa, e pelo Twitter passou informações de que já está cuidado das demandas da pasta. Uma das principais preocupações no Palácio do Planalto é com a paralisia do Ministério do Esporte. Ele já esteve ausente do evento da Fifa, em Zurique, na semana passada, para o anúncio dos jogos da Copa de 2014.

"Encerrei há pouco uma reunião do Comitê de Responsabilidades, que reúne as cidades da Copa. A pauta foi acessibilidade", escreveu Orlando Silva no Twitter.

Em Manaus, na inauguração da ponte, que começou a ser construída em 2007, a presidente discursou para um público de mais de 50 mil pessoas. O discurso foi interrompido duas vezes por conta da aglomeração da multidão. Alguns grupos aproveitaram a oportunidade do evento para protestar, entre eles o Greenpeace, contra o Código Florestal. O movimento S.O.S. Encontro das Águas também fez protesto no evento contra a construção do Porto das Lajes no encontro das águas no Rio Negro. O grupo pedia da presidente a homologação do tombamento definitivo do Encontro das Águas como patrimônio da Humanidade.

Ex-presidente justifica presença em inauguração

Ao falar também na cerimônia de inauguração da ponte, o ex-presidente Lula fez questão de explicar o motivo de sua presença no ato oficial:

- Quando a Dilma tomou posse, eu falei que faria questão de participar da inauguração da ponte, porque sei dos benefícios que ela vai trazer para o povo desta região, assim como vocês souberam do compromisso dela com o estado - disse.

Lula disse ainda que eleitores vão descobrir, ao fim do mandato de Dilma, que valeu a pena ter dado o voto de confiança na presidente, em 2010.

(*) Colaboraram Cristiane Jungblut e Maria Lima

(**) Especial para O GLOBO

FONTE: O GLOBO

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