terça-feira, 25 de outubro de 2011

Governo teme que crise ameace votações

Para evitar traições na base, Dilma quer acelerar pagamento de emendas parlamentares

Cristiane Jungblut e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff pôs seu time político em campo desde ontem para evitar que a crise no Ministério do Esporte e a insatisfação da base aliada com o atraso no pagamento das emendas parlamentares ao Orçamento ameace a votação da DRU (Desvinculação das Receitas da União), amanhã no plenário da Câmara. Líderes governistas temem que o governo Dilma sofra sua primeira grande derrota no Congresso, com votos dos aliados. A oposição, por sua vez, aposta em novas convocações de envolvidos no escândalo do Esporte e no depoimento de João Dias Ferreira, o delator do esquema.

A despeito do esforço do Palácio do Planalto e da base aliada para desqualificar as acusações de João Dias - os governistas pretendem esvaziar a sessão de amanhã em que ele será ouvido numa comissão da Câmara -, a pressão pela demissão do ministro Orlando Silva ganhou ontem apoio de um parlamentar petista: o deputado Francisco Praciano (AM), presidente da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção.

O Planalto corre contra o tempo porque tem dois meses para aprovar, na Câmara e no Senado, a prorrogação da DRU até dezembro de 2015. Assim, poderá mexer livremente em 20% do Orçamento.

Ontem, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, conversou com secretários-executivos dos ministérios que detêm a maioria das emendas para acelerar o seu pagamento, uma vez que há a decisão política de liberá-las. Depois, ela convocou líderes aliados no Congresso para traçar novas estratégias.

Orientada por Dilma, Ideli tenta adiar novos contenciosos para o final de novembro ou dezembro. Ainda que a bancada do PCdoB, com 15 deputados, não consiga impedir uma votação, o clima de insatisfação dos comunistas podem contaminar outros aliados, caso Orlando seja demitido já.

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), confirmou a intenção de votar a DRU amanhã. A ideia, no entanto, é insistir na votação apenas se houver garantia de que a base votará unida, sem traições.

Reforçando o discurso da oposição contra a permanência de Orlando no ministério, o petista Francisco Praciano disse que as denúncias são graves e deveriam levar o próprio ministro a pedir exoneração:

- Precisamos de ações estruturais, no sentido de organizar e estruturar os órgãos fiscalizadores deste país. Devemos promover o aperfeiçoamento das leis de combate à corrupção - disse ele, propondo o "PAC da moralidade".

Já os líderes do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), e no Senado, Álvaro Dias (PR), apresentaram novos requerimentos convidando o assessor especial Fábio Hansen e o ex-chefe de gabinete da Secretaria Executiva do Ministério do Esporte Charles Rocha para depor nas duas Casas. Os dois foram flagrados em áudio, orientando João Dias a se livrar das irregularidades de um convênio firmado entre a pasta e um de suas ONGs, acusadas de desviar R$3,2 milhões do ministério.

"Posição de ministro não é definitiva", diz líder do PCdoB

Para Álvaro Dias, o mais importante é descobrir para onde foram os recursos:

- Esse escândalo vai muito além desse confronto (entre João Dias e Orlando). O que importa verdadeiramente nesse caso é saber se recursos foram desviados e qual foi o seu destino - afirmou.

- O denunciante João Dias já confirmou que virá à Câmara trazer mais dados. O mínimo que devemos esperar dos demais envolvidos é que também compareçam para explicar o conteúdo das gravações divulgadas - emendou Nogueira, que defende a convocação do ministro da Controladoria Geral da União, Jorge Hage.

O líder do PCdoB na Câmara, Osmar Júnior (PI), minimizou as declarações do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para quem a situação de Orlando não é definitiva:

- A posição de um ministro de Estado não é definitiva, independentemente de haver crise ou não. Esse foi o sentido da afirmação. Dentro de um tempo, a presidente vai fazer uma reforma administrativa: pode ser que um ministro que não esteve em crise, por exemplo, não permaneça.

FONTE: O GLOBO

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