quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Europa, salve-se quem puder:: Vinicius Torres Freire

Secessão na zona do euro começa a entrar em debate; mais bancos passam a fugir da dívida pública italiana

O impensável tornou-se uma hipótese: o euro pode ter entrado em fase de liquidação. Desde ontem, a mídia financeira na Europa passou a noticiar rumores de que o núcleo rico e/ou menos endividado da eurozona pensa na secessão monetária. Ou seja, em se livrar de alguns países-problema, como a Grécia.

Como amputar países-membros? Qual utilidade imediata de tal medida? Mistério. Mas a boataria é ruidosa e confirmada por diplomatas em Bruxelas, Paris e Lisboa.

Faz uns dois meses, surgira uma conversa sobre "euro norte" e "euro sul". O "sul" seria o cercado onde seria posta a Europa do Mediterrâneo, afora a França, e Portugal.

A história não foi levada a sério, dadas as intenções manifestas da Alemanha de manter intacta a zona do euro, o que, em outras palavras, indicava a crença alemã de que conseguiria enquadrar a Grécia e de que a terapia daria resultado.

Mas o pacote de "socorro" (socorro!) à Grécia mal durou de julho a outubro. Os donos do dinheiro grosso, os "mercados", não acreditaram nem que a União Europeia conseguiria arrumar € 1 trilhão para bancar os países semiquebrados nem que o "perdão" da dívida grega daria certo (se é que os "mercados" aceitariam de fato perder mais ou menos metade do dinheiro enterrado na Grécia). Tal descrença e Silvio Berlusconi empurraram a Itália para o abismo. Salvar a Itália, se é que possível, custaria tanto que a impensável secessão do euro entrou no radar.

Antes disso, os líderes de União Europeia, Alemanha, França e o Banco Central Europeu tentam as últimas cartadas: ou seja, intervenção nos governos grego e italiano.

A Comissão Europeia deu um ultimato aos parlamentares gregos, exigindo compromisso com o pacote de julho, sem o que a Grécia não verá a cor da nova parcela do empréstimo. Além do mais, a União Europeia tentou nomear um interventor como premiê, Lucas Papademos, ex-vice presidente do BCE.

No caso da Itália, "sugerem" sem sutileza que o país desista de fazer eleições tão cedo ou antes de se comprometer com o pacote de "reformas" prometido por Berlusconi (privatizações, liberalização do mercado de trabalho, reforma previdenciária etc).
Além disso, tentaram empurrar outro eurotecnocrata para o posto de premiê. Trata-se do ultraliberal Mario Monti, comissário europeu para duas pastas econômicas menores entre 1995-2004.

Ao que parece, os líderes da eurozona talvez consigam fazer gregos e italianos engolir as "reformas", mas não vão nomear os interventores que desejavam. De qualquer modo, vai funcionar?

Apesar de hiperendividada, a Itália não é um caso financeiro perdido, pelo menos não no curto prazo. Mas a inépcia europeia no tratamento da Grécia levou o mercado a fugir da Itália também. O problema italiano agora não é bem o custo alto (os tais 7%) que teria de pagar para refinanciar sua dívida (não está tendo de pagar isso, agora).

Importa mais o impacto dessa desconfiança da dívida italiana sobre a banca. Bancos usam a dívida soberana (do governo da Itália) como garantia para empréstimos que tomam. Se a dívida vale menos, pegam menos dinheiro. Logo, ficam menos dispostos a comprar dívida do governo italiano (a emprestar).

É uma espiral da morte.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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