quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

PMDB e PT disputam controle de R$ 44 bi

Caio Junqueira

BRASÍLIA - A disputa entre PT e PMDB na cúpula da Caixa Econômica Federal tem por objetivo o controle dos bilionários recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), cujo orçamento para investimentos em 2012 é de R$ 44 bilhões.

Os pemedebistas acusam o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, de tentar diminuir o poder de Fabio Cleto, vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias. Ele integra dois conselhos do fundo: o comitê de investimentos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS) e o conselho curador do FGTS.

O conselho é um órgão amplo, com 28 membros que decidem as diretrizes da aplicação dos recursos. Já o comitê é formado por 12 integrantes e é quem de fato decide para onde o dinheiro vai. Trata-se de um nicho importante para fazer política, pois, segundo suas regras, os recursos devem ser aplicados "na construção, reforma, ampliação ou implantação de empreendimentos de infraestrutura em rodovias, portos, hidrovias, ferrovias, energia e saneamento". Cleto faz parte desse comitê, mas seu mandato está para acabar. O PMDB quer que ele seja reconduzido. O PT não.

O argumento dos petistas é de que Cleto não tem o perfil que se espera de um gestor de banco público, caso da Caixa. Toda sua experiência é no setor privado. Formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), com mestrado em modelagem matemática pela USP, Cleto trabalhou em diversos bancos, como ABC Roma, Nacional Multiplic, Dresdner Bank e Itaú. Nos últimos anos, atuava na Aquitaine Investments. Sua indicação à Caixa é atribuída ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Cunha, porém, nega. Diz que se trata de uma indicação do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

O conflito ganhou corpo depois que Cleto se recusou a apoiar um documento redigido por Hereda e pelo vice-presidente de Ativos de Terceiros, Marcos Vasconcelos, ligados ao PT. Nele, argumentam em favor do veto da presidente Dilma Rousseff ao artigo da medida provisória 540, já aprovada pelo Congresso. Patrocinado por parlamentares do PMDB, o dispositivo permite que, até o dia 30 de junho de 2014, possam ser utilizados recursos do FI-FGTS em projetos associados à Copa de 2014 e à Olimpíada de 2016 nas cidades-sede desses eventos, "assim considerados os projetos de infraestrutura aeroportuária, de operações urbanas consorciadas, de transporte e mobilidade urbana, bem como no de empreendimentos hoteleiros e comerciais que direta ou indiretamente sejam necessários para garantir a realização desses eventos".

Para os petistas, um típico caso de visão privada na gestão de um banco público. Para os pemedebistas, uma oportunidade para alavancar investimentos em áreas deficitárias do país. E, principalmente, no Rio de Janeiro, hoje o principal colégio eleitoral sob comando da legenda. Estão à frente tanto do governo do Estado, com Sérgio Cabral, quanto do município, com Eduardo Paes.

Seguindo a linha dos seus padrinhos, Cleto apoia a utilização de recursos do FGTS para essas obras. Recusou-se, então, a referendar a argumentação do presidente da Caixa contra o artigo da MP, o que gerou a revolta de Hereda. Ele passou a atuar para que fosse demitido do cargo por insubordinação. Cleto percebeu e avisou o PMDB. O assunto chegou ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. Na semana passada, Henrique Alves foi até seu gabinete para contar da pressão que Hereda estava fazendo para destituir seu indicado. O ministro prometeu verificar o que estava ocorrendo, mas até ontem não havia dado um retorno. Outro que tem feito essa intermediação é o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Os pemedebistas afirmam ainda que Hereda é responsável por vazar informações de que Dilma teria dado um ultimato a Cleto, informação não confirmada pelo Palácio do Planalto e negada por integrantes do PMDB. "Se deu o ultimato, não chegou a nós", disse um integrante da cúpula do partido.

A "perseguição" alegada pelos pemedebistas ocorre também em outra frente. O vice-presidente de Pessoa Jurídica, Geddel Vieira Lima, pediu vistas do processo que aprovaria o contrato entre a Caixa e o governo da Bahia para comandar a folha de pagamento estadual. Hereda entendeu isso também como insubordinação e passou a criticar Geddel.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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