sábado, 5 de março de 2011

Reflexão do dia – Luiz Werneck Vianna

A floração do constitucionalismo democrático nos países de sistema da "civil law", coincide, não por acaso, com a derrota, em 1945, do nazi-fascismo, e com a convicção, então generalizada na opinião pública internacional, de que um sistema de poder com as características desumanas daquele não deveria se repetir. Como se sabe, na Alemanha de 1933, a ascensão do nazismo ao poder transitou sob a chancela do princípio do voto majoritário. A partir daí, sob a inspiração da Declaração de Direitos Humanos, firmada pela ONU em 1948, as democracias ocidentais passaram a positivar em suas constituições determinados valores, materiais e procedimentais, constituindo o que alguns denominam o núcleo dogmático das constituições, e, como tais, não passíveis de derrogação por eventuais expressões da vontade majoritária.

WERNECK VIANNA, Luiz. O salário mínimo e a judicialização da política. Valor Econômico, 28/2/2011

O risco da bolha :: Míriam Leitão

Em dois anos, o estoque de crédito imobiliário dobrou no Brasil: de R$92 bi para R$189 bi. Em 12 meses, o preço dos imóveis subiu 40% no Rio; 24%, em São Paulo; 17%, em Belo Horizonte. O consumo de cimento cresceu 15% em 2010, com alta de 19% no Nordeste. A Tigre, tubos e conexões, pretende dobrar de tamanho até 2014; a Votorantim Cimentos terá 22 novas fábricas entre 2007 e 2013.

A venda de material de construção, segundo a Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), deve crescer 9% este ano e acumular 60% de alta até 2016. Cerca de 69% dos empresários do setor estão otimistas e 72% pretendem investir nos próximos 12 meses. A indústria opera com 87% da capacidade. O consumo de tinta e verniz subiu 9% em 2010, e desde 2005 o faturamento cresceu 60%, de R$2,2 bi, em 2005, para R$3,5 bi, em 2009.

O déficit habitacional no país calculado pela FGV chega a 6,2 milhões de moradias: 3,6 milhões de famílias vivendo em construções precárias e 2,6 milhões sendo obrigadas a dividir o mesmo teto. Espera-se ainda uma demanda adicional de 17 milhões de jovens que deixarão a casa dos pais até 2020.

Considerado o mercado de crédito mais arriscado da economia, pelos altos volumes e longos prazos, o crédito habitacional e imobiliário teve aumento de 530% de janeiro de 2004 a dezembro de 2010, saindo de R$30 bilhões para R$189 bi. Somente nos últimos dois anos, o volume dobrou: em dezembro de 2009, era R$92 bilhões. Em dois anos, o crédito total da economia saiu de R$1,2 trilhão para R$1,7 trilhão, alta de 41%. O crédito habitacional era 7,5% do total. Agora é 10,68%.

Os números não deixam dúvidas de que o setor imobiliário saiu da estagnação que o perseguiu por cerca de duas décadas, até meados de 2006. Os economistas afirmam que é pequeno o risco de bolhas, mas os consumidores se assustam com a disparada dos preços dos imóveis, principalmente nos grandes centros. A Fipe, em parceria com a Zap imóveis, coletou alta de 40% no Rio de Janeiro; 24%, em São Paulo; e 17%, em Belo Horizonte, nos últimos 12 meses. A economista Monica de Bolle, da Galanto consultoria, avalia que o setor continuará aquecido, mas acha inevitável uma desaceleração.

- A indústria da construção está bem, o crédito foi destravado, que é vital para o setor, e houve alta muito forte. Mas é difícil imaginar que esse ritmo permaneça, até porque o Banco Central está adotando medidas macroprudenciais. Em 2007, o crescimento desse crédito foi de 20%; em 2010, foi de 40%. Dobrou. Não dá para permanecer crescendo assim - disse Monica.

Um freio foi acionado pelo governo, com o corte de R$5 bilhões sofrido pelo programa Minha Casa, Minha Vida para este ano. O crescimento forte tem esbarrado em gargalos e provocado inflação. O INCC (Índice Nacional da Construção Civil) subiu mais que o IPCA: 7,43%, contra 5,99%. Os empresários apontam a mão de obra como principal problema. O custo com trabalhadores disparou 9,73% em 12 meses.

- A falta de mão de obra é o principal gargalo. Ele acontece na edificação e é claramente quantitativo e qualitativo. Para resolver isso, estamos implantando um sistema nacional de certificação e capacitação profissional para a construção civil, para criar um padrão de qualificação e garantir um currículo mínimo para 13 tipos de profissionais - afirmou o presidente da Abramat, Melvin Fox.

As vendas da Tigre subiram 17% em 2010. O vice-presidente da empresa, Paulo Nascentes, diz que o grupo vai aumentar em 25% os investimentos este ano, para dobrar o tamanho da companhia até 2014:

- Todo o setor tem projetos de investimentos. As empresas estão com dinheiro em caixa, há programas do governo, obras de saneamento. O Brasil tem um bônus demográfico, como o que houve nos EUA nos anos 60, quando a população jovem, com idade entre 17 e 45 anos, passa a ser maioria e busca moradia. Esse ciclo vai durar até 2020. Há uma grande sustentação do mercado e ainda regiões com déficits maiores, como o Nordeste.

O consumo de cimento recuou 5,2% de 2000 a 2005. De lá para cá, acumula alta de 58%. Em 2007, o consumo subiu quase 10%. Em 2008, a alta foi 14,5% e até mesmo em 2009, ano de crise, ele se manteve estável. Segundo José Otávio Carvalho, presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento, a alta em 2010 chegou a 15%, e a expectativa para este ano é de mais 8%. Mas admite que haverá um ciclo de ajuste.

- Não temos condições de continuar crescendo a taxas chinesas. Há gargalos na atividade, de logística, infraestrutura. Cerca de 94% do cimento são transportados pela via rodoviária. As ferrovias são muito pouco utilizadas porque a malha é limitada e voltada para siderurgia e mineração. A mão de obra também é gargalo forte. A área habitacional pode ser afetada pela disposição de financiamento, que chegou a um nível tal que não conseguimos prever crescimento no mesmo patamar nos próximos anos. Temos cenário de desaceleração do crédito; inflação em alta; desaceleração do PIB.

A análise é a mesma no sindicato das Indústrias de Tintas e Vernizes do Estado de São Paulo (Sitivesp):

- Acho que o mercado imobiliário vai precisar desacelerar nos próximos anos porque não é possível crescer nessa taxa por muito tempo. Os imóveis já se valorizaram muito. Inclusive o próprio governo tem dificuldade de financiar porque os preços sobem - disse Airton Sicoln, assessor da diretoria da Sitivesp.

Depois das bolhas imobiliárias que derrubaram as economias de Estados Unidos, Irlanda e Espanha, é mais do que saudável crescer a um ritmo mais próximo do PIB. Até porque a percepção de qualquer pessoa é de que o ritmo está forte demais; ambiente propício à formação das temidas bolhas.

FONTE: O GLOBO

Continua solta: Celso ming

Fevereiro, mês mais curto, teve também uma inflação um pouco mais curta do que a de janeiro. O avanço do IPCA, medida do custo de vida, foi de 0,80%, enquanto, em janeiro, foi para 0,90%. No período de 12 meses terminado em fevereiro, o IPCA acumulou 6,01%, número inadmissível no estágio atual da economia que precisa de estabilidade.

A primeira ideia que vem à cabeça dos observadores é a de que a inflação está em desaceleração. De fato, três entre os principais fatores que vinham propulsionando a inflação – a alta dos alimentos, da condução e da educação – já parecem bem mais fracos em fevereiro. Também foi notada menor difusão: atingiu 61,72% dos itens que compõem o custo de vida, ao passo que, em janeiro, eram 69,27%.

Mas é cedo para concluir que a inflação esteja amansando. O setor de serviços continua fortemente pressionado. Apresentou avanço de 2,28%, o maior desde 1999. E, nessa área, não dá para contar com o concurso do produto importado; não dá para importar serviços médicos, encanadores, assistência técnica…

Vem também aí o impacto dos reajustes dos preços administrados sujeitos à indexação pelo IGP-M (aluguéis, financiamentos), que, em 12 meses, atingiu a magnitude de 11,30%. E há o fator inércia, que tende a prolongar a prática de reajustes acima das projeções da inflação futura.

É verdade que o governo e o Banco Central não ficaram parados. Há uma semana foram anunciados cortes orçamentários da ordem de R$ 50 bilhões e o Banco Central impôs restrições ao crédito, já puxou os juros e promete mais aperto monetário. São providências que se destinam a conter a inflação e que, a seu tempo, deverão mostrar algum resultado. E é bom não contar demais com as tais medidas macroprudenciais do Banco Central. A forte demanda por veículos em fevereiro e os números do varejo mostram que o impacto dessas decisões não é imediato e pode não ter a abrangência imaginada.

Convém relembrar que, na atual fase de combate à inflação, o governo não poderá contar com dois importantes coadjuvantes antes presentes e de grande valia na ancoragem dos preços. Não poderá contar com o efeito deflacionário da valorização do real, uma vez que a decisão é de estancar a baixa do dólar. Nem pode contar com o impacto da forte redução de preços no mercado global, uma vez que a crise, que a provocou, tende agora a refluir. Quinta-feira, o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, alertou para as ameaças e deu a entender que em abril abrirá sua caixa de ferramentas.

Outras incertezas continuam minando a estabilidade. Não sabemos até onde vai a cavalgada do petróleo. Além do aumento do consumo de energia, a atual estrutura de oferta está ameaçada por eventual desorganização de importantes áreas de produção em consequência da crise nos países islâmicos. Também não se vê nenhuma trégua na ascensão das cotações das commodities alimentícias. São fatores cujo comportamento não está claro nem a curto nem a longo prazo.

No entanto, grande parte da inflação começa na cabeça dos formadores de preços. Nas próximas semanas, será útil examinar quais serão as projeções que prevalecerão na Pesquisa Focus que o Banco Central divulga semanalmente.

CONFIRA

Carga tributária. Um estudo que a PricewaterhouseCooper preparou para a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) sobre competitividade da indústria automobilística aponta que a carga tributária sobre investimentos no Brasil, que em princípio deveriam ser isentos, é de 25%.

Imposto nas exportações. Não é verdade que as exportações estejam isentas de impostos. Eles incidem em alguma coisa entre 12% e 14% sobre o valor do produto exportado.

O custo logístico. O mesmo estudo mostra que o custo de uma operação de exportação ou de importação por meio de contêiner é de US$ 1,6 mil no Brasil; de US$ 1,3 mil no México; de US$ 700 na Espanha; e de US$ 400 na China.

Custo de produção. Outro fato: o custo de produção do setor automotivo do Brasil é 40% mais alto do que na China e 30% mais do que na Europa.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Quente ou frio?:: Valdo Cruz

Foi só o Banco Central subir os juros pela segunda vez neste ano e já tinha gente, dentro do governo, apostando que o debate em abril será como manter o país crescendo acima de 4%.

Há quem diga que as medidas adotadas pela equipe econômica podem ter provocado um tranco além da conta na economia.

O mês de abril é citado porque terá passado o primeiro trimestre do ano e será possível avaliar com maior segurança como está o ritmo da economia em 2011.

Guido Mantega mantém seu discurso de que a economia deve crescer 5% neste ano. Faz parte de seu estilo. Ele costuma dizer que tem de ser otimista.

O Banco Central é mais conservador e fala em 4,5% de crescimento no primeiro ano de governo Dilma. Avalia que esse percentual é mais compatível com a busca de uma inflação mais baixa.

Essas são estimativas oficiais. Reservadamente, há previsões mais pessimistas dos dois lados. Por enquanto, Dilma prefere falar em crescimento saudável da economia entre 4,5% e 5%.

A presidente, porém, já disse à sua equipe que gostaria de evitar uma taxa abaixo de 4%. É por isso que tem gente, na sua equipe, acreditando que a pisada no freio pode ter sido exagerada e o país estaria caminhando para um ritmo econômico indesejável.

Ou seja, em breve as divergências dentro do governo, hoje manifestadas de forma sutil, podem ficar mais claras e evidentes, tornando mais acalorado o debate sobre a temperatura econômica do país. Como no período lulista.

Do lado de Dilma, resumindo, ela não quer exagerar na contração da economia. Já viu esse filme antes e não deseja repeti-lo. Definiu, porém, como meta principal não perder o controle sobre a inflação no primeiro ano de governo.

Em último caso, garantem assessores, ela será mais conservadora, seguindo o exemplo de Lula, para desgosto de muitos petistas.

FONTE:: FOLHA DE S. PAULO

Futebol e reforma política :: Roberto Romano

Os jogos preservam o aspecto mais sutil da cultura. Com as artes, técnicas, ciências, religiões, eles indicam o refinamento ou o atraso de uma sociedade, com frutos políticos imediatos. É impensável a democracia ateniense sem as maneiras de exercitar o corpo e a mente praticadas pelos jovens guerreiros, depois cidadãos soberanos. A ética, disciplina hoje confundida com um sistema abstrato de valores, na Grécia começava no aprimoramento corporal. Para enfrentar os inimigos, ou deles fugir com honra, era necessário bem usar o corpo. A postura correta na batalha decidia a vitória.

Tal postura (hexis) se aprendia na tenra idade. Com o tempo, o que era somático foi traduzido (por metáfora) à mente. Aos jovens é ensinada a postura correta no pensamento. Nós sabemos: quem não aprendeu aritmética sofre quando precisa calcular. Os que, pelo contrário, bem manipulam números, adquirem automatismos preciosos naquele mister.

Professores de educação física e ortopedistas, em nossos dias, sabem a importância da postura correta. O automatismo mostra ao mesmo tempo o lado sombrio e o mais radioso da ética. Quando se aprende, de maneira errada ou certa, uma postura física ou anímica, ela tende a se repetir sem consciência. Jogador não treinado desde cedo a fazer passes e demais movimentos, mesmo talentoso, atrapalha a equipe. O fominha age de maneira automática, prejudica toda a partida.

A pessoa que aprendeu a bem jogar com o corpo e a alma tem condições éticas de exercer a cidadania com maior vigor. Ela não aceita egoísmo na equipe, mas valoriza os talentos individuais. Os jogos servem, desde longa data, para pensar fenômenos complexos como a guerra (*), a economia, a política.

Eles permitem entender os golpes de Estado e as armadilhas que os poderes imaginam em prejuízo da sociedade. A razão de Estado, sempre invocada quando se trata de enganar a cidadania, se assemelha, segundo um analista de hoje, ao jogo viciado. O governante que a usa age como o mau perdedor: se as regras do jogo não lhe são favoráveis, trapaceia em segredo e quebra a sequência da partida. Ele arranca dos cidadãos o que resta da fé pública, a base do Estado (**).

No exato século 17, em que a razão de Estado se firmou, Blaise Pascal reconstruiu, a partir do jogo, a moralidade, a política, a teologia. Só Deus joga com absoluta certeza. E ganha sempre. No caso humano, tudo é incerto, sobretudo no campo das leis e da política. Tal antropologia, que hoje volta a ser um assunto de interesse filosófico e político, é nuclear na história do pensamento moderno. Nela, importa a ideia do cálculo como elemento básico da política, plataforma da razão de Estado. O governante que sabe calcular as suas oportunidades e as de seus inimigos tem condições de, pelo menos, desrespeitar sem muitos prejuízos as regras normais na diplomacia ou de política interna, como nas escolhas para os dirigentes públicos.

Não por acaso Raymond Aron, no clássico Paz e Guerra entre as Nações (***), compara o trato internacional à estrutura do football association. Em primeiro plano, é preciso ver quantos jogadores são necessários, quais meios lícitos são facultados (podem eles tocar a bola com a mão, ou é proibido?).

Depois vem o modo pelo qual eles se distribuem no campo, como unem esforços e desarticulam o adversário. Tais pontos são primários. Ademais, temos o virtuosismo técnico e a qualidade moral dos jogadores, que não raro decidem campeonatos. Finalmente, o árbitro interpreta as regras e aplica as penalidades.

À diferença do futebol, diz Aron, as relações internacionais, movidas pelas armas e pela diplomacia, não são determinadas com precisão. Sua complexidade aumenta no acúmulo de interesses e na vontade de predomínio que nenhum Estado pode abandonar, pois ali residem a segurança e a sobrevivência para seu povo. É nesse ponto que, julgo, o grande pensador deixa de lado um elemento vital do futebol e do jogo político. Penso na torcida e nos sócios dos clubes. E nos militantes que asseguram a força das agremiações políticas. Sem torcedores não existe futebol. Sem militância, somem os coletivos dedicados à ordem pública. É por tal motivo que o ex-presidente Luiz Inácio da Silva desprezou o povo iraniano, reprimido duramente por uma ditadura policialesca, ao dizer que nas eleições ali ocorridas existiu apenas reclamação de "torcida que perdeu". Para ele, o "time vencedor" (a ditadura) se resumia aos cartolas ou aiatolás. Hoje, vista a revolta geral na região, ele não diria o mesmo.

No Brasil, em prejuízo do Estado e da sociedade, os partidos se assemelham aos clubes de futebol: cartolas açambarcam iniciativas, operam acima dos jogadores e dos que apoiam o clube. A torcida futebolística nada significa para os burocratas que mandam nos recursos financeiros, nos contratos, no elo com as federações, etc. O nome correto para a cartolagem é oligarquia senil.
Também nos partidos temos semelhante oligarquização, prevista desde o século 20 por Robert Michels e teorizada em Max Weber. Se não surgir, na suposta reforma política em debate no Congresso, uma via para democratizar a estrutura partidária (não existe aqui nem sombra das primárias que marcam os partidos democráticos do Ocidente), teremos o reforço dos defeitos éticos, entre eles a corrupção dos intocáveis cartolas políticos, que arrancam toda a beleza de nossos campeonatos e qualquer justiça das nossas eleições.

(*) Cf. Enrico Pozzi, Giochi di guerra e tempi di pace in La critica sociologica (outono/1983) p. 42 ss.
(**) Cf. Christian Lazzeri e Dominique Reynié: La raison d" Etat: politique et rationalité. (Paris, PUF, 1992) página 9 e ss.
(***) Paris, Calmann-Lévy, 2004.

Filósofo, professor de ética e filosofia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é autor, entre outros livros, de "O caldeirão de medeia" (Perspectiva)

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Um episódio político oculto no Carnaval :: Wilson Figueiredo

Do jeito que se apresenta, além de dissipar os restos de campanha eleitoral que poluíram a atmosfera do novo governo, a política brasileira deixa a impressão de sair pela tangente em relação ao modo tradicional de entender o que se passou e o que virá por aí. É fora de dúvida que, sem sair do lugar, Lula passou desta para a próxima sucessão presidencial. Neste momento, a situação não está como pareceu que iria ficar. E daí? A oposição ainda não sabe como proceder, mas – dependendo do que acontecer fora das previsões – tem tudo para atravancar o caminho do governo e criar alternativa para a apatia.

A reflexão atual se reserva para depois do Carnaval, que se afastou da política desde os governos militares e não sentiu condições favoráveis nos governos eleitos pelo voto direto. O Carnaval não toma conhecimento da política e mantém distância dos políticos, ao contrário do que ocorria no passado de que se perdeu a lembrança. Com mais ou menos democracia, e até com ditadura, a política já teve presença bem humorada no reinado de Momo. Mas desistiu sem dar explicação.

O ex-presidente Lula, na pressa de entrar para a História do Brasil, não deixou registro de presença em marchinha carnavalesca. Já o presidente Getulio Vargas, desde o governo exageradamente provisório (1930/34), foi bem tratado pelos compositores, e os tenentes interventores foram personagens de marchinhas e caíram no que se chamava de fuzarca.

Mais tarde, quando voltou – pelo voto – em 1950, Getulio Vargas foi saudado pelo estribilho que recomendava a volta ao “mesmo lugar” do “retrato do velhinho (que) faz a gente trabalhar”. Mudou o Carnaval ou mudou a política? Ambos mudaram, e a política para pior. A música popular se retraiu da política e dos políticos. Nem Lula foi aproveitado.

A esta altura incapaz de sofrer vertigem, Lula já pode desistir de se considerar o mais popular dos presidentes. Quem marcou presença com sentido político em Carnaval foi Juscelino Kubitschek, num episódio que a censura suprimiu da história.

Além de ter muito a ver com o espírito da Bossa Nova, JK foi o personagem de uma noite memorável de Carnaval no Teatro Municipal do Rio. A ida do ex-presidente ao baile não constava do programa nem do noticiário, porque a censura não faria exceção para ele. O SNI não tirava os olhos de JK, depois de voltar ao Brasil disposto a correr riscos. Ninguém podia imaginar que Kubitschek, tendo voltado por não se adaptar ao exílio, poucos dias depois comparecesse ao baile do Municipal, que era onde o Carnaval carioca alcançava a plenitude social.

Pelas tantas, circulou nos corredores do Municipal apinhado de carnavalescos, e se espalhou pelo salão, a informação de que JK estava a caminho. Por ser lugar carregado de eletricidade política, a informação foi entendida como sondagem do SNI para medir o efeito do teor de boato e provocação. O resultado foi que, sem aviso prévio, assim que JK pisou no salão, a orquestra engrenou o Peixe-vivo , e o resto foi uma apoteose. No camarote presidencial, o ministro Mário Andreazza, a figura pública de maior destaque no baile, se portou de maneira politicamente correta: não desviou a cabeça para o lado oposto, nem fingiu não ver o que estava acontecendo. Sorriu com a simpatia de futuro candidato à espera de eleição. O bloco de foliões em torno de JK sustentou um fato republicano sem precedentes.

Na Quarta-Feira de Cinzas, o noticiário das revistas que já sobreviviam para o Carnaval e, mais tarde, sairiam de circulação, não puderam registrar o que se passara no Municipal. Mas não deixou de ser o fato politicamente de maior peso no Carnaval brasileiro.
E só não foi para a história do Brasil porque (como dizia Samuel Wainer), se os jornais não publicaram, o fato não existiu.

FONTE: JORNAL DO BRASIL

O dilema de Sofia na Líbia:: Clóvis Rossi

GENEBRA - Muammar Gaddafi, ao contrário de Hosni Mubarak e Ben Ali, resolveu ficar e lutar, deixando a comunidade internacional sem alternativas realmente atraentes para reagir.

As opções disponíveis só não são zero porque sempre é possível torcer para que o regime se desmanche sem que o resto do mundo precise fazer mais do que condená-lo verbalmente ou impor sanções cujo efeito, se houver, será a médio ou longo prazo.

Enquanto isso não acontece, enquanto o sangue continua correndo e enquanto se arma nas fronteiras uma tragédia humanitária, o dilema de Sofia para o mundo é assim descrito na revista eletrônica "Jadaliyya" (Polêmica), editada pelo Instituto de Estudos Árabes de Washington:

"De um lado, a inação internacional em face das atrocidades na Líbia parece inaceitável. Do outro lado, o deplorável registro de anteriores intervenções internacionais inspira pouco entusiasmo", escrevem Asli Bali, professor de direito na Universidade da Califórnia em Los Angeles, e Ziad Abu-Rish, candidato ao doutorado no Departamento de História da universidade.

O envio direto de tropas está fora do cardápio, a julgar pelo que disse, na semana passada, o secretário norte-americano de Defesa, Robert Gates: "Na minha opinião, qualquer futuro secretário de Defesa que aconselhe o presidente a mandar de novo grande número de tropas americanas a Ásia, Oriente Médio ou África deveria ter sua mente submetida a exame".

Que tal então implementar uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, para evitar que Gaddafi bombardeie os rebeldes e seus territórios ou para impedir que traga mais mercenários para dar continuidade ao banho de sangue?

Respondem Bali e Abu-Rish: "Não protegeria a população civil do aparelho coercitivo do regime (que não é principalmente aéreo)", além de levantar dúvidas sobre a aplicabilidade ("as forças internacionais derrubariam um avião líbio?"). Mais: proibir voos poderia bloquear uma via de resgate de civis líbios e fecharia uma avenida para defecções por membros da Força Aérea.

Mandar armas para os rebeldes? Primeiro, eles precisariam ser treinados para usá-las, e não há instrutores disponíveis no terreno. Segundo, "poderiam cair nas mãos erradas e serem usadas contra nós", escreve James Lindsay, do Council on Foreign Relations.

Lindsay lembra que o pós-Gaddafi pode não ser um regime estável e, sim, "algo que se pareça mais à Somália" (um dos grandes fracassos das tropas norte-americanas).

Por fim, um grave risco político apontado na análise da Economist Inteligence Unit, braço de pesquisa da mitológica revista britânica: "Qualquer ação militar pelos governos ocidentais correria o risco de deslegitimar as rebeliões que já ocorreram e minar possíveis revoltas populares em outras partes".

Há virtual consenso, entre autoridades e acadêmicos, de que a propriedade da democracia que se busca tem que ficar com os locais. Os exemplos de Afeganistão e Iraque mostram que mudanças de regime a bordo de tropas estrangeiras não são um modelo a ser seguido.

A menos que a situação no terreno se resolva logo, a comunidade internacional terá que escolher o menor entre tantos riscos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Lá Vem o Patto! ::Urbano Patto

Voltou à tona, como todo início de nova legislatura na Câmara Federal após a promulgação da Constituição da República de 1988, a tal da reforma política.

Não bastasse tratar-se de uma situação totalmente representativa do que se pode configurar como “legislar em causa própria”, a comissão que cuidará do assunto terá como membros proeminentes, Paulo Maluf, Newton Cardoso, Valdemar Costa Neto, Eduardo Azeredo, Collor, políticos sobejamente conhecidos, ou suscetíveis à Lei da Ficha Limpa, ou “mensaleiros” ou réus em processos de corrupção eleitoral ou coisas parecidas, ou seja, aquilo que se costuma chamar de fichas-sujas, no mínimo, fichas meio-encardidas.

É constrangedora e contraditória essa situação, beirando até a imoralidade, mas não é ilegal.

O pior é saber é que estão lá por inação, irresponsabilidade e subterfúgios na Justiça, que no alto da sua torre de marfim e inebriada pelo juridiquês fluente, dá mais valor aos detalhes formais e chicanas processuais, do que ao mérito das ações e aos fatos. E assim, sem punição, os citados fichas-manchadas chegam onde estão por delegação expressa dos eleitores através das votações obtidas em campanhas também caríssimas - como seus advogados.

Não é uma questão de moralismo, ou udenismo, como costumam dizer no meio político, mas as fronteiras da coerência e da razoabilidade estão sendo explodidas. Está difícil separar o que é real do que é fantasia, o que é notícia do que é piada.

É notícia? O deputado Tiririca foi indicado membro da Comissão de Educação.

É piada? O deputado Tiririca foi indicado membro da Comissão de Educação.

Não que eu não deseje ou espere que o deputado não faça um bom trabalho na comissão. Torço para que tenha uma boa assessoria, se esforce e consiga surpreender a todos, afinal é seu primeiro mandato. Votos ele teve, e muitos.

Diferentemente desse caso do deputado Tiririca, que ainda recebe o benefício da dúvida, é maior a certeza de que os políticos citados no início do artigo, que participam da comissão da reforma política, com todo estudo, experiência e folha corrida acumulados, dificilmente conseguirão surpreender positivamente alguém, pois sua meta única e sempre bem fundamentada por assessores competentísssimos, é a sua própria sobrevivência política e a contínua reprodução de outros da sua espécie.

Urbano Patto, Arquiteto Urbanista e Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, membro do Conselho de Ética do Partido Popular Socialista -PPS- do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com.

FONTE: JORNAL DA CIDADE/ PINDAMONHANGABA/SP

Para além da reforma agrária:: Maria Clara Abalo Ferraz de Andrade

Luiz Flávio de Carvalho Costa (Org.). O Congresso Nacional Camponês – trabalhadores rurais no processo político brasileiro. Rio de Janeiro: Mauad Editora & Edur – Editora da Universidade Rural, 2010. 136p.

Na campanha eleitoral de 2010, um intelectual de tradição há certo tempo esquecida pela atual esquerda brasileira atentou para a ausência de debates acerca do calcanhar de Aquiles de nossa democracia, a espinhosa questão agrária [1], afora os alardes panfletários do candidato Plínio de Arruda Sampaio. Da candidata vitoriosa no pleito pouco se sabe como orientará a política agrária de seu governo, afora a ênfase na regularização fundiária na Amazônia, ainda insuficiente para dar conta da inusitada fronteira agrícola em expansão.

Eis que, finda a eleição, surge esta reedição da memorável coletânea de documentos do Congresso Nacional Camponês, ocorrido em Belo Horizonte em 1961. Com o sugestivo subtítulo “Trabalhadores rurais no processo político brasileiro”, este pequeno livro vem como contraprova de que, muito antes na história desse país, movimentos sociais de trabalhadores e excluídos do agro nacional colocavam o dedo na dolorosa ferida da inconclusa questão agrária brasileira e apontavam — como ressalta Raimundo Santos na apresentação desta 2a edição — o insubstituível lugar da política para sua resolução.

Os jovens entre 18 e 25 anos, que votaram nas últimas eleições presidenciais, embora estivessem nascendo quando de seu surgimento, certamente, conhecem o MST [2]. E os mais atentos à história do país já ouviram falar do massacre de Corumbiara, ocorrido em Rondônia em 1995, do massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará em 1996, e, mais recentemente, do extermínio da missionária Dorothy Stang, assassinada há exatos seis anos por seu ativismo em projetos de desenvolvimento sustentável junto a assentados da reforma agrária no Pará.

O que eles provavelmente desconhecem, e que o livro sobre o Congresso Nacional Camponês vem elucidar, é que — no momento democrático do pré-64, tal como no vivenciado atualmente por esses jovens — a questão agrária já era um tema explosivo, não resolvido, gerador de grandes paixões e ilustrativo do grande sofrimento que é a exclusão. E mais, um congresso que, reunindo forças representativas de diversos setores dos trabalhadores do campo — dos sindicatos comunistas e católicos às Ligas Camponesas do Nordeste —, não se furtou de aprovar uma resolução política sobre o caráter da reforma agrária, que impactou o rumo das decisões governamentais sobre o tema, na época.

Passadas cinco décadas da realização do Congresso, o lançamento da 2a edição deste pequeno livro representa bem mais do que uma coleção de documentos de importância histórica sobre o Congresso de 1961 para os estudiosos do tema agrário. Suas páginas têm uma importância pedagógica ímpar num tempo de esvaziamento da política, principalmente da política de caráter programático e combativo. Em tempo de narcisismo no cenário político, em que o central é estar no poder, abocanhar cargos e aparecer, mais do que agregar opinião forte rumo a mudanças substantivas; em tempo em que não se vê mais heroísmo em “ganhar, perdendo”, as lições tiradas do Congresso Nacional Camponês dão alento àqueles que anseiam por mudanças no caráter efetivamente inclusivo das políticas públicas em curso. Como demonstrado no Congresso de Belo Horizonte, a questão agrária pode ser o estandarte para aprofundar a democracia, fazendo emergir, colateralmente, outras carências da sociedade brasileira e outras políticas [3].

Como bem finaliza o organizador do opúsculo: “[...] essa luta pela reforma agrária assumiu uma dimensão bem maior do que uma simples reivindicação por mudança produtiva e mera divisão de terras visando ao aumento da oferta de alimentos e à liberação da mão de obra para o processo de industrialização. A reforma agrária ganhou alma política porque passou a ser um elemento essencial nas discussões sobre o rumo que o desenvolvimento do País deveria, e deve seguir, colocado que estava o problema de uma nova sociedade, mais justa e igualitária”. Oxalá suas palavras tornem-se proféticas nesta nova década que se inicia.

Maria Clara Abalo Ferraz de Andrade é mestre em Desenvolvimento, Sociedade e Agricultura pelo CPDA – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
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Notas
[1] Ver VIANNA, Luiz Werneck. “Os céus por testemunha”, Valor Econômico, 25/10/2010.

[2] Em 2010, fez exatos 25 anos do Congresso Nacional de fundação do MST, ocorrido em 1985.

[3] Quando questionada, na campanha eleitoral, acerca do acesso à moradia para a população de baixa renda, a atual presidente ateve-se apenas a citar números referentes ao programa “Minha Casa, Minha Vida”. Esqueceu-se de mencionar que um dos maiores programas habitacionais em voga é propiciado pelo Programa Nacional de Reforma Agrária: a baixo custo, apenas R$ 23 mil/ família (em crédito de material de construção e de recuperação de moradia), foram construídas e reformadas, nos 8 anos do governo Lula, 404.721 moradias nos Assentamentos de Reforma Agrária. Ou seja, quase 500 mil famílias foram beneficiadas com habitação digna.

FONTE: GRAMSCI E O BRASIL

Inflação acumula 6,01% em 12 meses

O IPCA, índice usado nas metas do governo, caiu ligeiramente, no mês passado, para 0,80%, contra 0,83% em janeiro. Apesar do recuo, a inflação já acumula 6,01% nos ú1timos 12 meses, preocupando economistas, pois está mais próxima do teto da meta (6,5%). Com isso, o BC deve continuar subindo juros.

IPCA tem leve recuo, para 0,80%, mas inflação ainda preocupa

EXCESSO DE VELOCIDADE: Em 12 meses, preços acumulam alta de 6,01%

Com aumento de 5,81%, o grupo educação puxou índice em fevereiro

Liana Melo

A inflação caiu ligeiramente em fevereiro, em relação a janeiro, mas ainda continua no topo das preocupações dos analistas. O IBGE informou ontem que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, usado nas metas do governo) ficou em 0,80% no mês passado, depois de uma elevação de 0,83% em janeiro. As expectativas do mercado apontavam para um índice maior, de 0,84%. Com este resultado, a inflação já acumula alta de 1,64% ao ano e de 6,01%, em 12 meses, ficando mais perto do teto da meta do governo, 6,5%.

A grande contribuição altista veio da educação, substituindo alimentação, que fora o vilão dos preços em janeiro. O aumento da educação foi de 5,81% contra 0,30% em janeiro.

Alimentos perdem fôlego e sobem só 0,23%

Se não fosse o arrefecimento dos preços dos alimentos, sobretudo os de carnes e de feijão, a inflação teria sido maior. Os preços dos alimentos saíram de 1,16%, em janeiro, para 0,23%, em fevereiro.

- Os preços dos alimentos continuam muito altos - admite a gerente do IPCA, Irene Machado, comentando que é a primeira vez, em seis meses, que o grupo alimentação registra variação menor do que 1%.

Apesar da queda da inflação em fevereiro, o economista da Máxima Asset, Elson Teles, acha que ainda é "cedo para comemorações".

- O quadro inflacionário é bastante preocupante. Os estímulos dados durante a crise talvez tenham sido muito fortes - afirmou Teles.

Ele acrescentou que será inevitável promover um desaquecimento do mercado de trabalho. Já o diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Sabóia, acredita que as medidas macroprudenciais adotadas pelo governo, que incluíram o aumento do compulsório dos bancos, devem surtir efeito para segurar os preços.

Há um consenso no mercado financeiro que a inflação em 2011 dificilmente ficará muito abaixo dos 6%. Mas o centro da meta perseguida pelo governo é de 4,5%.

Já Alessandra Ribeiro, sócia da consultoria Tendências, afirma que o IPCA de fevereiro não foi "nenhuma maravilha". Engrossando o coro dos que defendem alta da Selic, ela acredita que o Banco Central continuará subindo os juros básicos da economia nas próximas duas reuniões de seu Comitê de Política Monetária (Copom). Sua aposta é que a Selic fique em 12,75% ao ano em junho e perdure assim em 2012.

FONTE: O GLOBO

Mês da mulher marcado por ocupações do MST

Ala feminina do movimento realiza marchas em dez estados e critica uso de agrotóxicos

Marcelle Ribeiro


SÃO PAULO. No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, centenas de mulheres do Movimento dos Sem-Terra (MST) ocuparam prédios públicos e estradas e realizaram marchas em dez estados do país. Ontem e anteontem, o edifício do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no bairro de Santa Cecília, na região central de São Paulo, esteve ocupado por cerca de 400 mulheres do MST.

O objetivo é cobrar o assentamento de famílias acampadas e políticas públicas de produção agrícola sem agrotóxicos. Segundo os sem-terra, o Brasil ocupa o primeiro lugar na lista dos países consumidores de agrotóxicos desde 2009.

- Os agrotóxicos são um desastre para o meio ambiente e para a saúde. Em Mato Grosso, a universidade federal fez uma pesquisa na região de Sinop e descobriu que 99% das mulheres tinham resíduo de agrotóxico no leite materno - disse Edite Prates, representante da coordenação nacional do MST.

De acordo com Edite, como o Dia Internacional da Mulher cai na terça-feira de carnaval, os eventos do MST começaram no final de fevereiro. Para o dia 8, está prevista uma manifestação em Salvador, na Bahia.

Segundo a assessoria de imprensa do Incra, a ocupação do prédio do instituto em São Paulo - que ocorreu no final da tarde de anteontem - foi pacífica e não causou danos. O órgão informou que no momento da ocupação o expediente já estava encerrado. Ontem, os únicos servidores que trabalharam foram os seguranças.

Em São Paulo, manifestantes fecharam parte da Rodovia Cônego Domênico Rangoni, mais conhecida como Piaçaguera-Guarujá, perto de Cubatão. A estrada dá acesso ao polo industrial onde se localizam empresas produtoras de fertilizantes.

Ao longo da semana, as mulheres do MST também fizeram manifestações no Rio, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Sergipe, Espírito Santo, Ceará e Santa Catarina.

No Rio Grande do Sul, o MST informou que mil mulheres ocuparam o pátio da empresa Braskem em Triunfo, na região metropolitana de Porto Alegre, na terça-feira.

FONTE O GLOBO

Investigação de dossiê anti-FHC será arquivada

Terminará sem condenados a investigação criminal aberta em 2008 para apurar a responsabilidade pelo vazamento do dossiê montado contra o governo Fernando Henrique Cardoso. Instaurado em 2008, o inquérito será arquivado a pedido do Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF-DF).

Segundo o entendimento do MP, os dados vazados pela Casa Civil durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva não eram sigilosos. Por isso, não seria possível caracterizar como crime o vazamento das informações. O juiz da 12.ª Vara da Justiça Federal no DF, onde tramita o inquérito, deve confirmar o arquivamento.

No âmbito cível, o Ministério Público ainda apura se tiveram fins políticos a compilação das informações e a mobilização da estrutura da Casa Civil no episódio. Se isso chegar a ser comprovado, os responsáveis poderão ser processados por improbidade administrativa.

O material vazado, descoberto durante as investigações da CPI dos Cartões Corporativos, consistia em um dossiê que listava gastos feitos com esses cartões durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

A divulgação dessa lista de gastos dos tucanos teria como objetivo desviar a atenção da sociedade de acusações feitas contra integrantes do governo Lula.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Empresários organizam partido que promete gestão empresarial na política

Bernardo Mello Franco

SÃO PAULO - Com a promessa de levar práticas da iniciativa privada para o governo, um grupo de executivos desiludidos com siglas como PSDB e DEM articula o lançamento de uma legenda "sem políticos.

O projeto já tem nome, Partido Novo, e teve o estatuto publicado no "Diário Oficial da União" no dia 17.

Desde então, empresários e profissionais liberais têm recebido e-mails com um resumo das propostas e um anexo com fichas de adesão.

"Podíamos ter criado uma ONG, mas achamos que um partido teria capacidade de ação muito maior", diz o presidente da futura legenda, o economista carioca João Dionísio Amoêdo, 48.

Integrante do conselho de administração do Itaú BBA e ex-vice-presidente do Unibanco, ele já promoveu reuniões no Rio e em São Paulo para catequizar aliados.

O discurso liberal parece ter inspiração tucana, mas o fundador rejeita comparações com siglas tradicionais.

"Existem 27 partidos aí, mas nenhum deles defende a eficiência e a redução de impostos como principal bandeira", diz Amoêdo, que afirma nunca ter se filiado a uma legenda e não revela o voto em eleições passadas.

"A eficiência é a nossa principal plataforma. Os candidatos do Novo terão metas de gestão e serão cobrados para cumpri-las", promete.

O fundador é sócio da Casa das Garças, centro de estudos que reúne economistas como Edmar Bacha e André Lara Resende, pais do Real, e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.

O vice-presidente da sigla, Marcelo Lessa Brandão, é executivo do grupo BFFC, que controla marcas como Bob"s, KFC e Pizza Hut.

Sem garantia de que a ideia sairá do papel, os fundadores já gastaram cerca de R$ 200 mil com consultoria jurídica e outros serviços.


Publicitários produziram site, perfis em redes sociais e um vídeo promocional, que repete lemas como "Pense no Brasil como uma empresa" e "Se o Brasil fosse uma empresa, você seria o cliente".

Falta reunir as 500 mil assinaturas exigidas pelo TSE para registrar a sigla.

"Não será fácil, mas sempre gostei de desafios", anima-se Amoêdo, ex-triatleta que no ano passado venceu um dos maiores, ao se curar de um linfoma.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PDT e PV ensaiam outro rumo

Legendas vão definir no período pós-carnaval o alinhamento em relação ao Palácio do Planalto

Ivan Iunes

Passados os primeiros testes do governo no Congresso, a configuração política de base aliada e de oposição deve sofrer modificações substanciais no período pós-carnaval. Depois dos desgastes iniciais com questões polêmicas como o reajuste do salário mínimo, Código Florestal e a sucessão nas presidências dos partidos, as legendas aproveitarão os dias depois da festa para acomodar parlamentares descontentes e definir o alinhamento ao Palácio do Planalto. Há uma lista de situações pendentes tanto na Câmara quanto no Senado. Antes oposição, o PV iniciou o governo como partido independente, mas apresenta uma parcela de deputados federais que cada vez mais se alinham à presidente Dilma Rousseff. Em via oposta, setores do PDT tentam se afastar das amarras que o partido impõe para manter alta a cotação com o governo.

A nova configuração eleitoral que surgirá depois do carnaval, segundo cálculo de especialistas, deve incluir até mudanças de partido — mesmo com a Lei da Fidelidade Partidária em pleno vigor e que proíbe trocas para legendas já existentes. Existem pelo menos 50 políticos descontentes com seus partidos, em busca de espaço mais vantajoso em outra sigla.

São senadores, deputados, governadores e prefeitos que estudam saltar do barco atual rumo a novos partidos. “Fosse a troca de legenda permitida agora, pelo menos 200 políticos mudariam de partido, uma quantidade que até a Lei de Fidelidade era comum a cada início de legislatura”, aposta o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Queiroz.

Insatisfeitos

Além da legenda a ser criada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, há pelo menos um novo partido em pauta, para agregar adversários do atual político do DEM, descontentes com sua movimentação recente. A lista dos insatisfeitos inclui Gabriel Chalita (PSB-SP) e Luiza Erundina (PSB-SP). Partido da base governista, o PDT é um exemplo de legenda que ainda busca acomodação na base aliada. Embora tenha como maior ponto de conflito o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).

No caso de Paulinho, o flerte com a oposição serviria para assegurar ao deputado o espaço de interlocutor principal dos sindicatos com o governo. “Desde que começou o governo, o Paulinho e parte do PDT têm adotado uma postura de oposição. Acreditamos que é um caminho equivocado dele procurar o PSDB, mas apostamos que a atitude não ganhará muita adesão. O Giovanni Queiroz (líder do PDT na Câmara dos Deputados) sabe que o melhor para ele é permanecer no partido e no governo”, aposta o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Outra legenda que patina para definir seus rumos é o PV. O partido iniciou a legislatura dividido entre ser governo ou oposição. Os lados carioca e paulista da legenda pretendem abraçar um discurso independente — com um pé na oposição. Já os parlamentares mineiros e o líder na Câmara, Sarney Filho (PV-MA), são simpáticos ao Planalto. Prova da divisão interna foi a decisão de liberar a bancada na votação do mínimo e de não subscrever a ação da oposição pedindo a inconstitucionalidade do reajuste.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Freire prevê crise com volta da inflação e alerta para prejuízo dos trabalhadores

Freire critica privilégios a banqueiros e gastos irresponsáveis do governo

Valéria de Oliveira


O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP) prevê uma grande crise no país por causa da volta da inflação, que pode bater a casa dos 6% ainda neste ano, ultrapassando a meta de 4,5% projetada pelo governo. Ele ressaltou que esse é o resultado da “efetiva herança maldita” que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou.

E Dilma, ressalta Freire, não pode, como Lula, dizer que não sabia de nada. "Até porque ela foi responsável pela formação dessa herança; o inventário que vem aí ela contribuiu, foi principal personagem junto com Lula”, afirmou Freire.

Quem perde, fundamentalmente, com a inflação, disse Freire, é o assalariado brasileiro. “Nós já conhecemos isso, e a grande vitória que teve em 1994 com o governo Itamar e Fernando Henrique foi o fim da inflação; isso foi importantíssimo para o país”. Freire deixa a pergunta: “Vai voltar tudo de novo, pela irresponsabilidade do governo Lula, por Dilma não saber como enfrentar isso?”

Arrocho?

O deputado de São Paulo questiona se ela vai apostar todas as fichas no tradicional discurso do arrocho salarial. “Vai resolver a inflação arrochando o salário dos trabalhadores? Enquanto isso, os juros continuam indecentes, os banqueiros continuam rindo à toa, nada muda, o governo continua com seus gastos irresponsáveis, tendo 38 ministérios e querendo criar mais um; as negociatas estão acontecendo, a Caixa Econômica metida no caso do Banco Panamericano...”.

Para Freire, o governo comete muitos equívocos. “Diz que vai cortar R$ 50 bilhões, mas isso mais parece retórica, para dizer aos mercados que está tomando algumas medidas contra o desarranjo fiscal e os riscos inflacionários”.

Madame inflação

Freire também chamou a presidente Dilma Rousseff de madame inflação, numa alusão ao apelido de madame déficit dado a Maria Antonieta, rainha consorte da França, mulher de Luiz XVI à época da Revolução Francesa de 1789. Os franceses a culpavam pelos enormes gastos da família real.

FONTE: PORTAL DO PPS

Recorde de saques da poupança

Pressionados pelas contas de início do ano, os brasileiros retiraram R$ 96,1 bilhões da caderneta de poupança em fevereiro. Desde abril de 2009, o volume de saques não superava o de depósitos. Despesas escolares puxaram a inflação do mês passado.

Saques da poupança para pagar dívidas

Apertados pelo acúmulo de contas no início do ano, trabalhadores sacrificam investimentos na caderneta, que perdeu R$ 745 milhões

Fábio Monteiro Jorge Freitas

Gastos com viagens, despesas escolares e impostos. O começo de ano do brasileiro é recheado de preocupações com diversas despesas. Para não entrar no vermelho nos primeiros meses, os consumidores juntam as economias com o objetivo de eliminar as dívidas. A caderneta de poupança, tradicional opção para quem quer proteger o patrimônio, é a principal vítima na hora da quitação dos débitos. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, os brasileiros sacaram R$ 96,1 bilhões dessa modalidade de investimento em fevereiro e depositaram R$ 95,4 bilhões. O volume de retiradas não superava o de entradas desde abril de 2009 — a diferença ficou negativa em R$ 745 milhões.

No ano, a caderneta já perdeu R$ 470 milhões, pior resultado desde o primeiro bimestre de 2006. Mesmo com a desesperada tentativa de torrar ativos para equilibrar as contas, o número de trabalhadores pendurados não para de subir. Em janeiro de 2011, o endividamento do brasileiro no sistema financeiro foi de R$ 787 bilhões. No mesmo período de 2010, eram R$ 643,9 bilhões. Em um ano, o salto foi de R$ 143,1 bilhões. Para Júlio Santos, educador financeiro do Instituto DSOP, sacrificar as economias para sanar dívidas é aceitável, mas não atinge a raiz do problema. “O importante é que o consumidor faça uma reflexão sobre as prioridades de gastos. Não adianta limpar as reservas se não houver mudança de comportamento”, disse.

Na avaliação da economista Marianne Hanson, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o endividamento está alto, mas o bom momento econômico facilita o pagamento dos compromissos. “O crescimento do emprego e da renda familiar permite a realização de mais empréstimos a longo prazo, mas que ainda cabem no bolso do consumidor”, explicou. “O nível de inadimplência é baixo. Tudo isso contribui para que as pessoas se sintam mais confiantes e tenham as dívidas sob controle, mesmo que, para isso, precisem gastar suas economias.”

Usar as reservas para pagar dívidas é uma forma de garantir a tranquilidade. No caso de Ana Paula Lima, 26 anos, professora de educação física e estudante de radiologia, o dinheiro retirado da poupança serve para garantir a permanência em Brasília, além de ajudar na preparação para o concurso de oficial da Marinha. “Peguei dinheiro da poupança para pagar a faculdade e o aluguel da minha casa. Gastei metade, mas vou poupar novamente, porque decidi não pular o carnaval, nem viajar nas férias”, disse.

No vermelho

O bancário Rodrigo Abraão, 23 anos, sacou economias para pagar roupas compradas no fim de ano. “Gastei mais da metade da minha poupança. Quase fiquei no vermelho. Agora, pretendo fazer novos investimentos”, disse. Abraão lamentou ter precisado gastar suas reservas. “O certo seria não ter tirado nenhum dinheiro, porque a poupança é segura, apesar de render pouco.”

A estagiária Noele Campos, 22 anos, economiza para concluir os estudos e entrar na carreira profissional com o pé direito. “Tenho poupança e raramente tiro algo de lá, porque não faço muitas despesas, já que moro com meus pais. Mas, às vezes, preciso sacar dinheiro para pagar viagens e livros”, afirmou. De acordo com a pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor, divulgada pela Fecomércio-SP, 53,8% dos consumidores paulistas estão encalacrados. Entre as dívidas mais comuns, estão as contas do cartão de crédito (68,3%), carnês (30,6%) e financiamentos de veículos (12,9%). Na semana passada, a CNC divulgou levantamento segundo o qual 65,3% dos brasileiros têm débitos.

A principal função da poupança, quando foi criada, era financiar projetos de habitação e de saneamento. Na década de 1970, muita gente aplicava todas as sobras na caderneta. Ainda hoje, a modalidade é considerada uma das mais seguras para a posterior aquisição de bens. O servidor público Bernardo Francisco de Moraes Neto, 48 anos, economiza para comprar um apartamento em Águas Claras. “Eu e a minha mulher economizamos para realizar esse sonho”, contou.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Luz amarela para inadimplência

EXCESSO DE VELOCIDADE

Em 2010, atraso em pagamentos cresceu 6,3% e Serasa estima alta de 8% este ano

Wagner Gomes

Depois de um crescimento recorde de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços do país) em 2010, puxado pelo consumo, que colocou mais pressão sobre a inflação, o sinal de alerta agora vem do crédito. Mesmo com as medidas baixadas pelo governo para tentar esfriar a economia, a inadimplência deve crescer 8% este ano e "acender a luz amarela", segundo o economista-chefe da Serasa Experian, Luiz Rabi. O indicador fechou com alta média de 6,3% no ano passado frente a 2009. Nos oito anos do governo Lula, a média de aumento da inadimplência foi de 6,7%.

- Teremos um ano de aperto monetário, sem as mesmas condições de crédito de 2010. Os juros estão subindo, as prestações ficando mais caras e os prazos de pagamento, mais reduzidos. Isso significa aumento de inadimplência, que pode facilmente crescer 8% e acender uma luz amarela - disse Rabi.

No ano passado, a alta de 6,3% da inadimplência ocorreu na esteira da expansão do crédito e das medidas de incentivo ao consumo do governo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos, eletrodomésticos da linha branca e materiais de construção.

- Este ano, a situação muda um pouco. Com as medidas macroprudenciais do governo (de aperto ao crédito), já não é esperada uma retomada rápida da economia. Isso pode influenciar o nível de emprego, a renda do trabalhador e o índice de inadimplência. As portas ainda estão abertas para novas medidas, o que representa risco ao crédito.

Indicador aumentou 25% em janeiro

O economista explicou que, este ano, além de a economia brasileira voltar a crescer em patamar próximo do seu potencial (cerca de 4%, segundo os analistas), os juros estarão maiores e o crédito mais caro, provocando alta da inadimplência acima da média. Um primeiro sinal veio em janeiro, quando a Serasa captou variação de 25% no atraso dos pagamentos, na comparação com o mesmo período de 2010. Esse patamar não deve permanecer durante todo o ano, mas a expectativa é de crescimento frente a 2010.

- A alta em fevereiro deve permanecer no patamar de dois dígitos. Essa é a cara de 2011 - afirmou Rabi.

Segundo o economista, o crédito cresceu muito durante o governo Lula, principalmente após 2004, puxado pelo consignado. Em 2005, a Lei de Falências impulsionou o crédito imobiliário. Rabi explicou que isso fez o endividamento dobrar para a pessoa física nos oito anos do governo Lula. De acordo com o Banco Central, o volume de crédito na economia chega hoje a R$1,714 trilhão - 15% são de consumo. Isso representa 46,5% do PIB. No começo de 2010, o crédito chegava a R$1,4 trilhão.

- Em 2003, o crédito em relação ao PIB era de 20%. Hoje chega a 46,7%. Não há dúvida de que o endividamento sobe também - disse Rabi.

Cláudio Felisoni, presidente do Programa de Administração do Varejo (Provar), explicou que a inflação mais alta este ano deve corroer a renda real e aumentar o endividamento dos consumidores. Segundo ele, os prazos médios de pagamentos já vêm diminuindo, enquanto os juros estão em alta. A taxa de juro média nas vendas de varejo subiu de 39,9% ao mês, em dezembro, para 45% em janeiro.

- O problema é que a volúpia do consumo ainda não acabou - disse.
FONTE: O GLOBO

A carta triste:: Graziela Melo

Era uma
Triste
Carta
As linhas
Choravam
Mágoa
As letras
Pingos de dor
A cada vírgula
Saudade
E sofrimentos
De amor...

A cada ponto
Um desaponto,
Em cada canto
Um desencanto

E quanto
Pranto!
Que desalento
Que sofrimento
Seria maior?

A carta triste
Nem foi
Descoberta
Sem letra
Certa
Sem porta
Aberta
Perdeu-se
No asfalto
Na rua
Deserta...

A carta
Se foi
Perdida
Dos homens
Na noite
Sem luz
Na rua
Sem gente
Como
Semente
Que não
Reproduz.

A carta
Da dor
E do sofrimento
Por um momento
Seguiu
No tempo
No instante
Infinito
Da madrugada.

Surgiu
Do nada
Ao nada
Se foi.

Quando?
Não sei
Pois quando
A encontrei
Já se
Desfolhava.

E o vento
A soprava
Com todo
Furor.

A carta
Triste,
Tristemente
Contava
A sombria
História
Que a vida
Levou...

RJ, dez., 2002