segunda-feira, 25 de abril de 2011

Reflexão do dia – José de Souza Martins


Enquanto o PT se deixa puxar para baixo nas concessões sem alcance histórico da consciência popular, FHC propõe que o PSDB puxe o povo para cima, para o elenco dos valores que afirmam a realidade e a possibilidade da mudança social e política. Nessa perspectiva, o cotidiano de referência do PT é o cotidiano da mera reprodução social, o da mera repetição, o das carências mínimas da sociedade. Enquanto o que FHC propõe ao PSDB é administrar a tensão histórica entre a repetição e a transformação, entre a permanência e a mudança, superando as carências mínimas em favor das possibilidades máximas do momento histórico. Pode-se dizer que enquanto a orientação do PT no poder se configurou como esquerdista, isto é, ritual e ideológica, a que desafia o PSDB é a propriamente social-democrática, isto é de esquerda, histórica e transformadora na circunstância atual.

No artigo de Cardoso, há um retorno à dialética, ou melhor, à sua explicitação, numa proposta de ruptura, e superação, com as tendências do repetitivo na política brasileira. A questão é saber se o PSDB tem condições de superar suas divisões para superar-se.

MARTINS, José de Souza. “Opção pelo emergente”. Aliás/O Estado de S. Paulo, 24/4/2011.
É professor emérito da USP, autor de “A sociabilidade do homem simples” (Contexto)




Agentes da ditadura criam rede de arapongas

Com o fim da ditadura, militares e policiais que integravam a rede de terror que conspirou contra a abertura abriram empresas de vigilância, segurança e contrainformação e se envolveram em escutas ilegais. É o que revela o cruzamento de dados, a partir da agenda do sargento Guilherme do Rosário, morto no atentado do Riocentro.

Um exemplo é o coronel Roza, já falecido. Ele abriu a Newtork Inteligência e teve o nome ligado ao episódio do grampo do BNDES, durante a privatização do sistema Telebras. Wilson Pinna, agente aposentado da PF, foi exonerado da Agência Nacional do Petróleo, acusado de elaborar um falso dossiê contra um diretor do órgão.

Agenda de sargento que morreu no caso Riocentro traz nomes da atual comunidade de informações

Chico Otavio e Alessandra Duarte

Arede de contatos formada pelas anotações do sargento Guilherme Pereira do Rosário em sua agenda de telefones - mostrada em reportagem do GLOBO publicada ontem - aponta para o que hoje é a atual comunidade civil de informações. Militares reformados que, após o fim do regime, partiram para empresas particulares de vigilância, segurança, contra-informação, arapongagem. Rosário morreu na explosão da bomba que carregava no colo, na noite de 30 de abril de 1981, no estacionamento do Riocentro.

Como O GLOBO revelou ontem, o segundo inquérito aberto sobre o caso, em 1999, apontou a existência da agenda de telefones de Rosário. O GLOBO identificou metade dos 107 nomes anotados na agenda. Entre eles havia integrantes de cinco segmentos: o chamado Grupo Secreto, organização paramilitar de direita que desencadeou atos terroristas para deter a abertura política; nomes da Secretaria estadual de Segurança, incluindo do órgão responsável por investigar justamente os atentados a bomba da época; organizações civis, como empresas de construção e de material elétrico; veículos de comunicação; e militares que formariam depois a atual comunidade civil de informações e arapongagem.

A presença de alguns desses militares entre os contatos de um ativo participante de atividades terroristas de direita como Rosário mostra que, quando veio a distensão, esse grupo preencheu o vazio de poder utilizando, para fins civis, os conhecimentos de inteligência que tinham adquirido. Além disso, a agenda de Rosário traz indicações de que, já na época do fim do regime, essa comunidade de informações já começava a se articular.

Na lista, nomes do grampo do BNDES

Sargento paraquedista com 12 anos de experiência na guerra suja, Guilherme do Rosário pertencia, quando morreu, à Subseção de Operações Especiais, unidade de elite do DOI I, especializada em estouro de "aparelhos subversivos com o uso de força". Porém, à medida que as missões foram encolhendo - em decorrência do aniquilamento das organizações de esquerda da luta armada e da nova orientação do governo para os DOIs, que foram reestruturados para seguir uma linha mais de inteligência que de força -, o sargento passou a empregar a sua experiência nas operações clandestinas. Um dos seus principais contatos, na articulação com outros órgãos da repressão, era o coronel Freddie Perdigão Pereira, ex-DOI e na época agente, no Rio, do Serviço Nacional de Informações (SNI) - o grande órgão de inteligência do regime militar.

Frequentador do destacamento da Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, Perdigão tinha encontros periódicos com os agentes de operações especiais no bar Garota da Tijuca, a poucos metros da unidade, que ficou conhecida como o principal centro de torturas do Rio.

Da comunidade de informações, a caderneta de telefones de Guilherme do Rosário trazia, por exemplo, o nome de Wilson Pinna, agente da Polícia Federal aposentado. Entre 1979 e 1985, Pinna trabalhava no Dops, na coleta e análise de informações. Era um dos que, por exemplo, iam a assembleias, protestos, comícios e outras reuniões para ver quem dizia o quê. Pinna chegou a, por exemplo, coordenar a análise de informações do movimento operário da época.

Aposentado da PF em 2003, Wilson Pinna foi exonerado, em 2009, de cargo comissionado que ocupava na assessoria de inteligência da Agência Nacional de Petróleo (ANP), após ter sido acusado pela Polícia Federal como o autor do falso dossiê contra o então diretor do órgão, Victor de Souza Martins, irmão do então ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. Pinna foi denunciado na 2ª Vara Federal Criminal do Rio pelos crimes de interceptação telefônica ilegal e quebra de sigilo fiscal.

Wilson Pinna disse não se lembrar de ter conhecido Guilherme do Rosário, mas, segundo ele, podem ter se encontrado em algum dos cursos da área de inteligência feitos pelo agente federal, como aulas no DOI, no CIE e no Cenimar.

Na lista de contatos de Rosário, havia ainda um "Araujo" - cujo telefone pertencia, na época, a Marcelo Augusto de Moura Romeiro da Roza, já falecido. Trata-se de um coronel do Exército reformado fundador da Network Inteligência Corporativa, empresa do ramo de segurança e espionagem. Nos anos 90, Romeiro da Roza chegou a ter o nome envolvido no episódio do grampo do BNDES, em que foram registradas conversas sobre a privatização do sistema Telebrás do então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, e do presidente do banco, André Lara Resende.

Marcelo Romeiro da Roza foi sócio na Network com outro nome anotado por Rosário em sua caderneta: o coronel reformado do Exército Otelo José da Costa Ortiga. Na agenda do sargento, Ortiga é acompanhado pela anotação "(Luiz)". Pois o coronel Ortiga teria sido conhecido justamente pelo codinome Luiz em órgãos de inteligência como o CIE. Além da Network, o coronel Ortiga também foi sócio de outras empresas de inteligência, como a DFC e a Ciclone Proteção e Segurança.

Mas essa comunidade de informações vinda do meio militar-policial - e que hoje atua sob nomes diversos que vão de "serviços de vigilância" a "assessoria e consultoria em segurança" - já tinha seu embrião na época da distensão. A agenda de Rosário continha anotações que indicavam isso. Ao lado, por exemplo, do nome de José Paulo Boneschi - inspetor da Polícia Civil que chefiou o início do Grupo de Operações Especiais (Goesp) da Secretaria estadual de Segurança, e que consta como um dos principais torturadores da repressão -, havia a anotação "firma" e um telefone.

O número da "firma" era o da empresa de segurança Agents, na qual Boneschi trabalhou, pelo menos, até 1982. O dono da Agents, o comandante Francisco Gama Lima foi acusado de chefiar uma equipe de grampeadores de telefones para a qual trabalhava o técnico da Telerj Heráclito de Sousa Faffe, morto por uma injeção de veneno similar à que teriam aplicado no jornalista Alexandre von Baumgarten.

Gama Lima, que foi do Cenimar entre 1963 e 1967, chegou ainda a ser acusado de envolvimento na morte de Baumgarten. O coronel da reserva da PM Paulo César Amêndola, outro a constar na agenda de Guilherme do Rosário, também chegou a trabalhar na Agents.

A caderneta de Rosário traz ainda telefones do próprio SNI, de contatos do DOI do Rio e também do DOI de Belo Horizonte, e um contato que fez na Escola Nacional de Informações (EsNI) no ano mesmo em que morreria: o do então sargento da Aeronáutica José Pinheiro de Azevedo, que foi da turma de Guilherme do Rosário num curso sobre análise de informações feito em 81, meses antes do atentado no Riocentro.

A rede do sargento era formada, ainda, por outros sargentos paraquedistas, como Flávio Ribas e Laert de Azevedo, este tendo se formado na Brigada Paraquedista na mesma turma de Rosário.

Com a chegada da abertura política, os sargentos paraquedistas passaram a ser arregimentados como braços operacionais de integrantes da linha dura insatisfeitos com o ritmo da distensão. Um desses sargentos a constar da caderneta de Rosário era Magno Cantarino Motta, o "agente Guarani". Motta servia com Rosário na Subseção de Operações Especiais do DOI-I, e, no dia do atentado no Riocentro, ficou responsável por fazer a cobertura fotográfica do evento, de um posto de gasolina.

FONTE: O GLOBO

Aldo no olho do furacão verde

Previsão de semana tensa para o relator do Código Florestal. O deputado ainda busca um mínimo de consenso entre ruralistas e ambientalistas para apresentar, até sexta, o texto final do documento.

Ivan Iunes

O ex-presidente da Câmara dos Deputados Aldo Rebelo (PCdoB-SP) voltará à ribalta durante a semana sob marcação cerrada de ambientalistas. Depois de um ano e meio debruçado sobre o projeto de modificação do Código Florestal, o parlamentar ouviu soar o gongo. Indica que na quinta, ou no máximo sexta, deve finalizar o texto final do relatório que ditará os rumos da preservação ambiental no país pelos próximos anos. Antes, participará de uma última reunião sobre o tema promovida pelo governo federal com várias pastas da Esplanada dos Ministérios. O documento, que será lido em plenário na semana que vem para votação, pretende ser um consenso entre as bancadas ruralista e ambientalista e os diversos setores do governo. Como todo fiel da balança, Rebelo transpira para sair do processo sem encarnar o papel de vilão para ambos os lados.

Em relação ao relatório aprovado pela Comissão Especial que analisou o novo código em setembro passado, Rebelo fará concessões pontuais ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), mas manterá boa parte das exigências feitas pelos ruralistas. Da última reunião no Palácio do Planalto devem fazer parte os ministros Antônio Palocci (Casa Civil), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) e Wágner Rossi (Agricultura), além de parlamentares ruralistas e ambientalistas. A presença da presidente Dilma Rousseff ainda não foi confirmada.

No processo de negociações, o MMA aceitou a possibilidade de liberar os agricultores da necessidade de averbar a área preservada em cartório — bastará, agora, o cadastro da área em sistema na internet. Da mesma forma, a pasta também deixou acertada a possibilidade de recomposição de áreas desmatadas dentro das bacias hidrográficas, o que permitiria ao produtor regularizar sua situação sem mexer no terreno ocupado atualmente — bastaria a compra de área com a preservação exigida na mesma bacia.

O ministério ainda concordou com a possibilidade de plantações em encostas de morros com inclinação de até 45 graus, desde que de espécies lenhosas, como café, uva e maçã, e manteve áreas consolidadas fora da necessidade de preservação às margens de rios. Por fim, o acordo prevê a soma das áreas de preservação permanente no cálculo das reservas legais — porções mínimas do terreno que devem ser preservadas em cada propriedade. Em contrapartida às concessões, o MMA conseguiu manter a área mínima de proteção ao longo dos rios em 30 metros — para as consolidadas, a exigência cai para 15 metros. Outro ponto polêmico é o fim da anistia para os desmatadores. Aqueles que ficaram irregulares por conta da edição do código, em 1965, não serão incluídos na lista dos desmatadores, mas terão de recompor as áreas em um prazo de até 20 anos.

Força da caneta

Entre os pontos polêmicos que ainda restam no relatório, o governo federal tentará fazer prevalecer a força da caneta presidencial para evitar a primeira derrota mais séria no Congresso. Faz parte da lista a necessidade de manutenção de reserva legal para todos os proprietários rurais — Rebelo pretende isentar o pequeno produtor com áreas de até quatro módulos fiscais ou 150 hectares. “Talvez, não fique nada pendente da reunião, mas ainda estamos dialogando sobre a exigência de reserva legal. Quero que seja dispensada para os pequenos agricultores, mas o governo ainda está reticente. Sendo mantida a regra atual, o pequeno produtor será severamente prejudicado”, diz Rebelo.

Mesmo que saia da reunião com o governo sem arranhões e com o texto consolidado, a volta à ribalta do ex-presidente da Câmara terá o primeiro ruído hoje, com a publicação de um estudo sobre as alterações do Código Florestal, feito pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. O documento será divulgado durante a tarde, como forma de pressionar o relator a ser mais econômico nas modificações sugeridas.

Em uma prévia do documento, a proposta de Aldo Rebelo é classificada como “insustentável” e atrasada do ponto de vista tecnológico. Sinal de que, se há chance de consenso com o governo, dificilmente o quadro se repetirá com os ambientalistas.

A pauta

Confira o que está previsto para análise no Congresso e no Supremo Tribunal Federal nesta semana

Senado

» Votação da MP nº 512, que concede benefícios fiscais para empresas automobilísticas instaladas no Nordeste, no Norte e no Centro-Oeste. Emenda da Câmara estendeu a isenção para regiões pobres de Minas Gerais, como o Vale de Jequitinhonha.

Câmara

» Votação da MP nº 513 e da MP nº 514. A primeira permite a subvenção de juros em empréstimos do BNDES. A segunda estabelece novas regras do Minha Casa, Minha Vida, como prioridade para os atingidos por desastres naturais, além de aumentar em R$ 2,5 bilhões um dos fundos de financiamento do programa.

» Apresentação do relatório final de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) sobre o Código Florestal. A matéria foi costurada na última semana com o governo federal. O relator terá uma última reunião com ministros e, provavelmente, com a presidente Dilma Rousseff antes de entregar o texto final.

STF

» A Corte dará, na quarta, a voz final sobre a substituição de deputados licenciados para cargos no Executivo. Hoje, quem assume é o suplente mais votado da coligação, mas o tribunal pode definir como substituto o mais votado entre os suplentes do partido.

» O Supremo também decide, provavelmente na quinta-feira, sobre a validade de uma gravação em inquérito que investiga a participação do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), em esquema de desvio de verbas denunciado à época em que ele era ministro da Previdência (2005).

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Construtora atrasa obra e eleva custo de imóvel em SP

A euforia que tomou conta do mercado imobiliário nos últimos cinco anos fez o preço dos imóveis praticamente dobrar no período. Agora, além de pagar mais caro, o cliente terá de esperar mais tempo para se mudar. Levantamento da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio a pedido do Estado mostra que, no primeiro trimestre de 2007, 25% dos empreendimentos lançados na Grande São Paulo tinham entrega entre 30 e 45 meses, o máximo no setor. De janeiro a março de 2011, esse prazo já subiu para 40% dos lançamentos. Até então, a maioria dos imóveis era entregue em até 15 meses. Com a dilatação dos prazos de entrega, o custo das obras sobe e pode elevar ainda mais o preço dos imóveis. De acordo com o índice FipeZap, o valor do metro quadrado cresceu 82% entre janeiro de 2008 e janeiro deste ano. Parte da alta se deve a inflação do setor de construção civil, medida pelo INCC.

Construtoras esticam prazo de entrega

Comprador de imóvel novo precisa esperar mais por causa da estratégia adotada pelas empresas para evitar desgastes diante dos atrasos nas obras

Naiana Oscar

A euforia que tomou conta do mercado imobiliário brasileiro nos últimos cinco anos pegou em cheio, primeiro, o bolso do consumidor: o preço do imóvel praticamente dobrou no período. Agora, além de pagar mais caro pela casa própria, o cliente terá de esperar mais tempo para se mudar.

Levantamento feito a pedido do Estado pela Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp) mostra que, no primeiro trimestre de 2007, 25% dos empreendimentos lançados na Grande São Paulo tinham prazo de entrega entre 30 e 45 meses, o máximo praticado no setor. Entre janeiro e março de 2011, esse tempo já é estabelecido para 40% dos lançamentos. Até então, a maioria dos imóveis eram entregues em até 15 meses.

A dilatação dos prazos para entrega das chaves está sendo adotada pela maioria das construtoras e incorporadoras, numa tentativa de evitar os desgastes com atrasos de obra, como os que vêm ocorrendo desde o fim de 2009. Um levantamento feito com dados do Tribunal de Justiça de São Paulo dá uma ideia da gravidade do problema: entre 2008 e 2010, o número de processos contra construtoras passou de 202 para mais de 500.

"As obras entregues com atraso foram contratadas com a cabeça de 2007, quando havia mão de obra, insumos e equipamentos disponíveis no mercado", diz o diretor de economia do Sindicato da Construção em São Paulo, Eduardo Zaidan. Naquela época, com dinheiro em caixa para investir, houve uma corrida das incorporadoras para lançar empreendimentos. O resultado não poderia ter sido outro: o que havia em abundância começou a faltar. "Veio uma pressão enorme de falta de gente, máquinas, material e na hora de entregar o imóvel, simplesmente, ele não estava pronto. Não dá mais para prometer no mesmo prazo."

A incorporadora paulistana MaxCap já acrescentou seis meses ao prazo previsto para a conclusão da obra. Além disso, incluiu no contrato uma cláusula em que orienta os compradores a não planejarem compromissos durante o prazo de "carência", que garante à construtora a possibilidade de atrasar em 180 dias a entrega das chaves, por motivos fundamentados, como a incidência de chuva ou mesmo falta de mão de obra.

"Mesmo assim, os atrasos vão continuar, não tem saída", diz José Paim de Andrade Junior, presidente da MaxCap. Dos 40 projetos que a empresa tem em andamento, 70% estão com atrasos superiores a três meses. "Estamos trabalhando com uma mão de obra menos qualificada e, portanto, menos produtiva."

A PDG, maior incorporadora do País, também vai levar mais tempo para entregar seus empreendimentos. Com 200 canteiros de obras em execução atualmente, a companhia estendeu os prazos em quatro meses. "Estamos em regiões diferentes do Brasil que exigem planejamento diferenciado", afirma Milton Goldfarb, presidente da Goldfarb, empresa da PDG.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Indústria pede nova política para o gás

Estudo aponta que redução de 35% do preço do combustível impulsiona setores dependentes, como o vidreiro

Associações criam agenda para pressionar governo e Petrobras a mudar política de preço do gás a partir de 2012

Agnaldo Brito

SÃO PAULO - Crescimento do PIB e do emprego. Redução da inflação e do deficit da balança comercial. Em 2020, um PIB ampliado em R$ 155 bilhões e mais 796 mil empregos.

A indústria consumidora de gás natural decidiu encomendar estudos para montar um dossiê que mostre os efeitos que a mudança na política de preço do gás natural no país poderá produzir.

Governo e Petrobras são os principais alvos.

Para obter esses ganhos descritos acima, o setor industrial quer: 1) equivalência do preço do gás nacional ao valor do gás internacional (hoje mais baixo); 2) redução da tarifa de transporte de US$ 2 para US$ 0,70 por milhão de BTU (unidade de medida do setor); 3) diminuição das margens de operação das distribuidoras, intermediárias entre Petrobras e os consumidores; e 4) corte de PIS e Cofins (de 9,25% para 3,65%) e fim da cumulatividade.

Sete associações industriais, donas de boa parte do consumo de gás no Brasil, financiaram estudos elaborados pela FGV Projetos e pela Andrade & Canellas para demonstrar qual é o impacto econômico que pode ser alcançado ao longo desta década se a Petrobras baratear o custo do insumo em 35%.

PRODUÇÃO PERDIDA

Desenvolvido no âmbito do chamado Projeto Energia Competitiva -bancado pelas associações-, a iniciativa tenta criar um ambiente no país para influenciar a nova modelagem de preço do gás a partir de 2012, quando os contratos entre a Petrobras e as distribuidoras expiram.

Se obtiver sucesso, a indústria promete ampliar os investimentos em projetos para consumo do gás.

Segundo Ricardo Lima, consultor da Andrade & Canellas e responsável pelo estudo que tentou mostrar a viabilidade de redução do preço do gás nacional, a troca da atual política põe a indústria num novo patamar de competitividade, o que viabiliza até grandes projetos petroquímicos, hoje um setor fora dos investimentos para uso do gás natural.

A indústria vidreira afirma que a combinação de dólar desvalorizado e custo da energia no país tem feito o setor perder importante fatia de mercado para os importados.

No segmento de vidros planos, a Abividro (Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro) calcula que 20% da demanda brasileira já é atendida pelos concorrentes internacionais. A nova ameaça é o segmento chamado de conjunto de mesa, principalmente copos.

O setor trabalha em quatro processos antidumping para tentar frear as importações.

O maior temor da indústria é perder a capacidade de disputar o mercado que será criado.

A indústria calcula que o consumo de vidro para carros, eletrodomésticos e outros usos vai dobrar em até 10 anos.

Para Lucien Belmonte, superintendente da Abividro, sem uma nova política de preço para o gás a indústria local não terá condições de ganhar fatia relevante desse crescimento.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O Caso Aécio::Ricardo Noblat

Não tem como esconder, embora ela não possa e nem deva falar, mas Dilma será a candidata do PT em 2014 (Lula)

Ulysses Guimarães, ao mesmo tempo presidente do PMDB, da Câmara dos Deputados e da Assembléia Nacional Constituinte nos idos de 80 do século passado, bebia bem, muito bem.

Assim como Miguel Arraes, Tancredo Neves (menos), Lula e Fernando Henrique Cardoso (discretamente), escreveu ontem, em O Globo, o jornalista Jorge Bastos Moreno. Oportuna matéria.

Mas nela não há registro de que um só desses políticos tenha dirigido após ter bebido além da conta. Ou de que tenha sido detido em alguma blitz. Ou ainda que tenha se recusado a fazer o teste do bafômetro.

Não havia bafômetros na época, embora motoristas embriagados, muitas vezes, fossem parar em delegacias.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi pego por uma blitz no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Dirigia seu Land Rover. Estava acompanhado da namorada.

Aplicaram-lhe duas multas. Uma por dirigir com a carteira de habilitação vencida há um mês. Outra por dirigir alcoolizado. É o que consta no auto de infração do Detran do Rio.

Não foi a recusa de Aécio em se submeter ao teste do bafômetro que levou a autoridade policial a autuá-lo por dirigir supostamente sob efeito de álcool. A recusa apenas fortaleceu a impressão da autoridade de que estava diante de uma pessoa que havia bebido – e que, no entanto, conduzia um veículo. O que é proibido por lei.

Ninguém é obrigado a produzir provas que o incriminem. Está na lei. Aécio, portanto, não era obrigado a soprar no bafômetro. Mas esse tipo de teste equivale mais ou menos ao exame de DNA para comprovação de paternidade.

Quando alguém se recusa a fazer o exame de DNA é porque receia que o resultado seja positivo.

No passado, aqui e em toda parte, a imprensa fingia desconhecer certos comportamentos censuráveis dos políticos e de poderosos em geral.

Prevalecia o entendimento de que a vida privada de homens públicos somente a eles interessava – a mais ninguém. Ao público deveriam interessar os atos derivados do exercício do poder público.

O presidente John Kennedy foi um farrista emérito. Divertia-se com garotas de programa na piscina da Casa Branca sob a proteção de agentes do Serviço Secreto.

Se a primeira dama Jacqueline estava para chegar ao local, ele era avisado a tempo de abandonar a piscina e de dispensar as garotas sem correr o risco de um flagrante.

Não havia um só jornalista importante em Washington que desconhecesse os prazeres desfrutados por Kennedy. Mas quem ousava escrever a respeito?

Esse tipo de cultura mudou por lá – e um pouco em outros lugares. Quantos aspirantes a candidato à presidência dos Estados Unidos não desistiram de concorrer porque foram pilhados traindo suas mulheres?

O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi meteu-se em apuros porque não resiste à tentação de um rabo de saia.

Promoveu festas de arromba em sua mansão. Valeu-se de recursos públicos para isso. Responde a processo por ter atraído uma marroquina menor de idade para uma sessão de sexo coletivo.

Aécio é solteiro. Pode namorar quem quiser. E trocar de namorada quantas vezes quiser. Ninguém tem nada a ver com isso.

Se quiser também pode ficar de porre com frequência – desde que não seja na hora do expediente como senador. Nem em locais públicos para não dar o mau exemplo. Beber muito provoca danos à saúde.

Dirigir depois de ter bebido, isso Aécio não pode. Ninguém pode. Fere a lei. Põe em risco a própria vida e a vida dos outros.

É natural que o bom exemplo seja dado por quem pode mais. E que se cobre de quem pode mais o bom exemplo.

A aplicação da lei não deveria distinguir entre os que podem muito e os que nada podem.

Entre nós, infelizmente, os encarregados de aplicar a lei costumam, sim, distinguir entre o cidadão comum e o que se imagina incomum.

(A categoria dos cidadãos incomuns foi instituída por Lula. E dela faz parte o senador José Sarney.)

O policial que atirou no assassino de crianças em Realengo foi elogiado por seus superiores e promovido. Premiou-se o agente público que cumpriu seu dever.

Por que não fazer o mesmo com o policial que multou Aécio?

FONTE: O GLOBO

O PSD e as origens da infidelidade:: Cristian Klein

O PSD é de direita? É governista? É um "saco de gatos" criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab? Um dos desafios mais intrigantes da política brasileira atualmente é tentar entender qual é a cara do Partido Social Democrático.

A primeira imagem que se formou do PSD é a de uma legenda feita "ad hoc", sob medida, para a mudança de parlamentares que, no plano nacional, querem sair da oposição e aderir ao governo. Seria um partido de adesistas. Egressos da oposição, no entanto, representam 17 dos 32 deputados federais que assinaram sua ata de fundação: 11 estão largando o DEM; três, o PPS; e três, o PMN. E os outros 15 (47%), que são da base aliada? Como explicar a mudança de deputados do PP, do PDT e até do PCdoB, que já desfrutam dos benefícios de apoiar o governo?

A explicação mais óbvia é que este grupo teria em comum o fato de ser formado por gente insatisfeita com os dirigentes de suas legendas. O que os une poderia ser resumido pela expressão geral "falta de espaço político". O PSD, mais uma vez, seria literalmente a "janela partidária" que os descontentes querem para fugir, depois que as portas foram fechadas, em 2007, quando o TSE baixou resolução que prevê a perda de mandato para quem abandona sua sigla.

A criação do PSD é o escape para a insatisfação de boa parte dos trânsfugas governistas. O caso da Bahia - onde o PSD surge com maior força, seis deputados, depois de São Paulo, com sete - é exemplar. Ali, o vice-governador Otto Alencar (PP) encontrou na nova sigla a oportunidade de se livrar dos problemas com a direção do partido, controlado no Estado pelo ministro das Cidades, Mario Negromonte.

O ponto alto da discórdia ocorreu quando o governador Jaques Wagner ofereceu a Otto Alencar a Secretaria de Infraestrutura, mas o PP recusou-se a considerá-lo como de sua cota. Para solucionar o impasse, Wagner manteve a decisão de nomear Alencar e teve de oferecer outra pasta ao PP.

O episódio deixou claro para Otto Alencar que ele não teria vez no partido. Uma rejeição até "natural", dadas as circunstâncias da entrada do vice-governador na legenda. Alencar - que estava fora da política, no Tribunal de Contas dos Municípios - filiou-se ao PP dentro da estratégia de Jaques Wagner de espalhar aliados pelos partidos da base.

O deputado federal José Carlos Araújo é um deles. Saiu do PR, em 2009, foi para o PDT e agora também encaminha-se para o PSD. Araújo se diz satisfeito com o PDT. Mas faz parte do grupo político de ex-carlistas que caracteriza os pessedistas baianos. Dos seis da futura bancada, cinco são oriundos do grupo do ex-governador e senador Antonio Carlos Magalhães (1927-2007). A grande surpresa foi a adesão de Edson Pimenta, do PCdoB, cuja mudança também tem a ver com atritos partidários.

As duas explicações - adesismo ao governo federal e falta de espaço político - são úteis para se entender quem vai para o "partido do Kassab". Mas o fenômeno é um pouco mais complexo e, neste sentido, a resolução do TSE, ao forçar a criação do PSD, deu origem a uma amostra representativa dos políticos mais propensos ao troca-troca partidário.

A grande maioria dos 32 deputados que assinaram a ata de fundação do PSD é do baixo clero e tem poucos votos. Quase 75% deles obtiveram uma votação que os colocou na metade final dos eleitos em seus Estados.

Curiosamente, esse é o perfil semelhante ao dos deputados que tradicionalmente trocam de legenda no Brasil. É o que lembra a cientista política e pesquisadora Andréa Freitas, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), autora de um estudo no qual analisa as migrações partidárias na Câmara entre 1987 e 2009.

"Os que mudam de sigla estão na faixa intermediária de votos. A lógica é que trazer um grande puxador de votos tem um preço maior, o partido tem que pagar mais caro, lhe oferecer mais recursos políticos. Por outro lado, os menos votados lhe são menos atraentes, por serem mais vulneráveis eleitoralmente. Os que estão no meio não são tão caros nem tão ameaçados", diz.

No PSD, há um peso até maior do grupo de baixo. Mas a ausência de deputados de expressão, mais "caros", parece confirmar a hipótese de que há uma espécie de "economia da migração" a reger as mudanças de partido.

O perfil de votação seria apenas um dos indicadores de que o foco principal para se entender o fenômeno, defende a pesquisadora, não deve ser o cálculo particular dos políticos, mas a ação dos partidos.

Mais do que resultado de objetivos individuais - que são vários, desde o adesismo ao governo, a divergência com as cúpulas, até a procura de oportunidade melhor numa nova "empresa" - o troca-troca seria expressão da vontade e do aliciamento dos partidos.

Prova disso, afirma Andréa, é o fato de as migrações terem sempre se concentrado em dois períodos: em outubro do ano anterior às eleições, devido ao prazo de filiação, e em fevereiro do primeiro e do terceiro anos legislativos. Seriam momentos de contratação, utilizados para melhorar o desempenho eleitoral, no primeiro caso, e aumentar artificialmente as bancadas, no segundo - possibilidades abolidas com a resolução do TSE e mudanças no regimento da Câmara e do Senado, também em vigor a partir de 2007.

Outra evidência encontrada pela pesquisadora é que a maioria dos 54 parlamentares que migraram em 2007 receberam cargos de alta relevância no novo partido. Qualquer semelhança com o PSD não é mera coincidência. A abertura de "franquias" do partido pelos Estados garante a políticos que estão a "cinco níveis abaixo das cúpulas de suas atuais legendas" um lugar nobre, de onde poderão controlar o horário eleitoral gratuito e os recursos do fundo partidário. É o caso do deputado licenciado Armando Vergílio, que presidirá a sigla em Goiás.

O movimento de ocupação, de novo, seguiria uma lógica mais partidária do que individual. Andréa Freitas mostra que porcentagem significativa dos deputados "contratados" são de Estados onde as legendas "contratantes" não elegeram representantes, o que é bastante comum. Nenhum partido elege deputados em todas as 27 unidades da Federação. A maioria não chega nem à metade delas.

O ponto de partida dos achados foi tentar entender porque a maioria das mudanças se dá não da oposição para o governo, mas dentro da própria base aliada. "O motivo não é tão óbvio e caricato quanto parece", diz. Só o propalado adesismo não explica o troca-troca. O PSD é o retrato disso.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Além das coincidências:: Melchiades Filho

No início do ano, Aécio Neves despontava como o líder da oposição. Tinha o comando de seu partido, o PSDB, e do principal aliado, o DEM. Preparava a estreia no Senado e o anúncio do novo estilo de atuação do consórcio demotucano: crítico, mas disposto a colaborar com o Planalto. O tal pós-Lula.

No início do ano, Geraldo Alckmin dizia-se "reserva" no xadrez nacional -um jeito de se incluir no tabuleiro. Revigorado pela vitória no primeiro turno, assumia o governo do maior colégio eleitoral do país decidido a repaginar o PSDB paulista e a resgatar projetos e políticos escanteados pelo antecessor.

José Serra, por sua vez, estava liquidado. Pagava pelos erros da campanha presidencial -e pelos erros cometidos antes dela. Era descartado até para a direção do PSDB, um cargo praticamente decorativo.

Deu-se, então, a criação do PSD e a debandada de muitos democratas e alguns tucanos para essa sigla.

Agora, Aécio é líder de uma oposição reduzida e de um DEM em ruínas, na melhor hipótese com 50% da bancada que elegeu. A nova legenda roubou o discurso furta-cor: não é de esquerda, de direita nem de centro, muito pelo contrário.

Alckmin se desdobra para remendar a base de apoio. Foi abandonado pelo vice-governador e por metade de seus vereadores paulistanos. Não tem candidato forte à prefeitura da capital e vê-se pressionado a defender a fusão PSDB-DEM para que o PT não dispare como o maior partido do Estado.

E Serra? Embora alquebrado, ressurge como o nome em tese capaz de reaglutinar a oposição em São Paulo em 2012 e o único tucano ao qual o PSD declara voto em 2014.

Talvez seja exagero atribuir a ele tanta reviravolta. Talvez seja só coincidência, também, o novo partido nascer da ala serrista do DEM (Kassab, Kátia Abreu, Afif, Indio).

Mas alguém ainda acredita que Serra aceitará docilmente o ocaso que lhe impingiram e se recolherá às madrugadas no Twitter?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Jirau, Dilma e a herança maldita :: Ricardo Vélez Rodríguez

Está a se efetivar o maior processo de entropia republicana da nossa História. O fenômeno poderia ser ilustrado com a frase, um tanto esquisita, do prefeito de São Paulo, quando falou da formação de novo partido, mais ou menos nos seguintes termos: não é uma organização nem de direita, nem de esquerda, nem de cima, nem de baixo. A frase do prefeito lembra a definição que do ser fazia o pré-socrático Heráclito de Éfeso: não é nem quente, nem frio, nem branco, nem preto, nem alto, nem baixo. Enquanto a definição heraclitiana ficou nas névoas da metafísica grega, o significado da afirmação de Gilberto Kassab é relativamente simples de ser desvendado: trata-se da ressurreição do velho "centrão", criado na era Sarney para fazer as delícias de políticos de carreira e burocratas de plantão, que não queriam largar o osso das benesses oficiais. Todo mundo com o governo, ninguém contra, que não somos de ferro!

Gravíssima situação que faz lembrar o pesadelo antevisto por Tocqueville para as democracias, efetivado pela onipotência da maioria, banida como desserviço à pátria a presença de qualquer oposição, mesmo que esta se traduza em singelos protestos veiculados pela mídia. É a síndrome chavista da "vontade geral" pura e simples, encarnada no líder e que impede que os cidadãos se expressem pela boca dos seus representantes. É a perversa tendência à anulação de qualquer signo de insatisfação da sociedade por meio da imprensa livre, protagonizada, ao longo da última década, pelo casal Kirchner, nesse tango de mau gosto de um passo para a frente e dois para trás, em que ficou enredada a democracia argentina.

Felizmente, as coisas não chegaram ainda, no Brasil, ao extremo da entropia total, dada a presença no Congresso Nacional de vozes que se erguem contra essa tendência. Mas que a força do rolo compressor oficial está em andamento, disso não há dúvida. O mostrengo mostrou as suas garras ao ensejo da recente visita do presidente americano ao Brasil, quando os policiais cariocas deram tratamento à margem da lei aos jovens que protestavam no centro do Rio, ou no atentado de que foi vítima conhecido blogueiro que se caracterizou por criticar as políticas do governo fluminense. Ensaios de intimidação e de prepotência que em nada ajudam a vida democrática e a defesa dos direitos humanos, tão badalada pela atual presidente.

Porém a sociedade brasileira, felizmente, é mais complexa do que imagina a vã sabedoria oficial. O episódio ocorrido semanas atrás no canteiro de obras da Hidrelétrica de Jirau e que se estendeu como rastilho de pólvora por outros cenários do PAC 2 está a revelar que os estrategistas do governo se esqueceram de combinar os projetos desenvolvimentistas com a própria sociedade. Pior ainda, com os trabalhadores dos canteiros. A insatisfação é clara e não poupou as lideranças peleguizadas ao redor da CUT. Estas ficaram em palpos de aranha para dar uma explicação à sociedade acerca dos violentos protestos dos operários nos canteiros administrados pelo PT e coligados. O rolo compressor não conseguiu abafar os reclamos trabalhistas. Nem conseguirá, com certeza, esconder as perdas que a economia do País terá com a indevida intervenção do governo na gestão da empresa Vale, que está sendo obrigada, com a defenestração do anterior presidente, a praticar políticas econômicas nada rentáveis e atentatórias aos interesses dos acionistas.

Caberia indagar, a esta altura dos acontecimentos, onde está a "herança maldita" de que tanto falava Lula ao longo dos seus dois mandatos-palanque. Hoje, certamente, essa herança não seria identificada com o "neoliberalismo" de Fernando Henrique Cardoso, que garantiu as privatizações (as quais desoneraram o Tesouro Nacional e aumentaram o ingresso de dinheiro nas arcas oficiais) e efetivou o saneamento das contas públicas com a promulgação da Lei de Responsabilidade Fiscal.

A perversa herança é constituída, hoje, pelo reforço da tendência estatizante presente no coração do governo, pelas mãos do lulismo e do petismo, na versão castilhista, que, ensaiada na década passada nos pagos gaúchos, se tornou atuante em nível nacional, no atual momento, por força da identificação do núcleo duro do poder com essa tresloucada propensão. Porque a inflação está voltando, quase descontrolada, às prateleiras da economia não pela mão do saudoso controle dos gastos públicos, mas justamente turbinada pela megalomania lulista do "nunca antes na história deste país" e pelo carnaval de bolsas e subsídios oficiais pagos a eleitores pobres, ongueiros irresponsáveis, burocratas corruptos, companheiros e até a países "amigos", como se tem revelado na recente revisão dos preços da energia vendida ao Paraguai. Tanta gastança tem preço. E essa "herança maldita" afetará os bolsos de quem sempre sai perdendo na história do nosso republicanismo patrimonialista: o contribuinte.

A presidente Dilma regressou há dias da sua visita oficial à China. Tomara que a mandatária tenha aprendido as lições de realismo político do mandarinato e coloque definitivamente nos trilhos do bom senso as nossas relações internacionais, loucamente polarizadas, no ciclo lulista, pelo viés ideológico, que tudo deforma. O Brasil perdeu, no caminho dessa megalomania vácua e irresponsável, a oportunidade de conquistar, com o apoio dos grandes, a cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, bem como a liderança na Unesco e na Organização Mundial do Comércio.

A declaração final dos líderes do Bric na China, referindo-se à necessidade de renovação da ONU, foi vaga demais para as pretensões brasileiras. O Itamaraty precisa voltar ao seio da tradição do barão do Rio Branco, que fez os nossos diplomatas serem respeitados porque punham em prática políticas diuturnamente amadurecidas na análise estratégica do mundo e das necessidades do País.

Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG)

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Fim de coligações é nova ameaça a PSD

Cristian Klein e Vandson Lima

São Paulo - Preocupados em estancar a sangria de deputados que estão os abandonando em direção ao PSD, partidos prejudicados pela fundação da legenda se mobilizam e tentam criar um novo obstáculo para os que pretendem entrar na sigla construída pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

Depois da ameaça de reivindicar os mandatos, o empenho pela aprovação do fim das coligações surge como a nova frente de reação para conter as perdas.

Líder do PPS, que já protocolou uma ação direta de inconstitucionalidade contra o PSD no Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado federal Rubens Bueno lembra que o fim das coligações é uma "luta de muitos anos" do seu partido mas que, se aprovado, o impacto negativo sobre o PSD será merecido.

"Tomara que o bom senso venha a prevalecer e eles [que estão migrando para o PSD] enfrentem as possibilidades de derrota na eleição por este oportunismo", diz.

O fim das coligações significaria um golpe nas pretensões do PSD. O partido, por ser novo e não ter eleito qualquer representante para a Câmara dos Deputados no ano passado, contaria apenas com uma cota mínima de tempo na propaganda eleitoral de rádio e TV, de 21 segundos.

Toda a expectativa de crescimento do PSD nas eleições municipais do ano que vem passa pela articulação de alianças com partidos maiores, com os quais possa formar candidaturas viáveis, com mais tempo de rádio e TV e, portanto, mais potencial de atrair financiadores de campanha.

A mobilização de partidos prejudicados pelo PSD pode dar mais um empurrão ao fim das coligações, criticadas por deturpar a vontade do eleitor nas urnas. No mês passado, a extinção foi aprovada na Comissão de Reforma Política do Senado. A proposta também é debatida na Câmara.

No fim do ano passado, uma interpretação do STF também pôs em xeque o futuro das alianças, ao estabelecer que as vagas de suplentes devem ser preenchidas por substitutos do mesmo partido do titular e não da coligação. A decisão causou um imbróglio na Câmara e nas assembleias estaduais e reforçou o argumento dos que defendem sua extinção.

Os partidos contrariados com a criação do PSD se juntam a eles. O objetivo da ameaça é criar mais um fator de insegurança. Trinta e sete políticos com mandato assinaram a ata de fundação do PSD. Mas outra leva ainda estuda a saída. A dúvida é quanto aos riscos de perder o cargo. Na semana passada, o senador Clésio Andrade (PR-MG) fez uma consulta ao TSE, já que a resolução do tribunal, de 2007, não é clara ao estabelecer até que momento um político pode entrar no novo partido, se até a assinatura da ata de fundação ou da obtenção do registro definitivo.

O PCdoB, aliado habitual do PT e sempre beneficiado pelo coeficiente eleitoral da coligação, já estuda lançar candidaturas majoritárias nas grandes capitais, caso vingue o fim das coligações. Em São Paulo, o partido anunciou a pré-candidatura do vereador Netinho de Paula à prefeitura da capital. Na Bahia, trabalha pela candidatura da deputada federal Alice Portugal à Prefeitura de Salvador.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Lula e FH vão debater sobre a reforma política

Ex-presidentes foram convidados para audiências públicas

Isabel Braga

BRASÍLIA. Com discursos constantes em defesa de mudanças no sistema eleitoral e partidário, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva foram convidados a dar contribuições práticas ao debate na Comissão de Reforma Política da Câmara. Emissários dos dois no Congresso afirmaram que eles estão dispostos a participar, em dias distintos, de audiências públicas na comissão.

Os requerimentos para que sejam ouvidos já foram aprovados na comissão, e seu presidente, Almeida Lima (PMDB-SE), acredita que as sessões com os ex-presidentes possam acontecer nos próximos 15 dias.

Além de Lula e de FH, a comissão aprovou também convite ao vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). Os parlamentares pretendem ouvir os três sobre as mudanças no sistema político-eleitoral brasileiro. Também estão agendados pelo menos dez seminários nos estados para discutir o tema.

Convite para qualificar o debate sobre a reforma

Parlamentares do PSDB e do PT que integram a comissão garantiram que os dois ex-presidentes aceitarão o convite. Um dos autores do convite, Sandro Alex (PPS-PR), argumentou ser preciso qualificar o debate sobre a reforma política.

Na justificativa do requerimento, Alex lembrou que Fernando Henrique afirmou em 2010 que estaria disposto a trabalhar pela reforma política. No requerimento de convite a Lula, o deputado disse que o petista, na comemoração dos 31 anos do PT, em fevereiro, assegurou estar à disposição para contribuir com esse debate.

A proposta de reforma política se arrasta há anos no Congresso Nacional, e o consenso sobre os polêmicos temas é cada vez mais distante, principalmente entre os deputados.

FONTE: O GLOBO

Alckmin: “Temos de investir em todas as classes sociais”


Entrevista - Geraldo Alckmin Governador de São Paulo pelo PSDB

Derrotado pela terceira vez consecutiva na corrida pela Presidência, o PSDB vive uma crise interna. O partido tateia em busca de um discurso para encarar a popularidade do governo petista.

Governador de São Paulo, o Estado mais rico do país, o tucano Geraldo Alckmin aproveitou a convivência de três dias na Ilha de Comandatuba, na Bahia, com alguns dos principais expoentes da iniciativa privada para fortalecer sua aspiração de se transformar em porta-voz da oposição. Em Comandatuba, Alckmin conversou com ZH. A seguir, a síntese:

ZH – Como o senhor avalia o atual momento do PSDB?

Geraldo Alckmin – O partido saiu bem das eleições do ano passado. José Serra foi para o segundo turno e elegemos oito governadores. Não é fácil ser oposição no Brasil, mas é necessário. Temos de perseverar e fazer um bom trabalho onde somos governo. Onde somos oposicionistas, temos de fazer uma oposição séria e responsável.

ZH – Polêmicas recentes demonstram que o partido ficou atordoado depois da derrota de Serra. O senhor reconhece que há uma crise no PSDB?

Alckmin – Isso é normal no processo democrático. Quando ganha tem de ter humildade e, quando perde, tem de ter altivez.

ZH – O senhor concorda com Fernando Henrique, que defende que o PSDB não deve se preocupar em atrair o povão, mas sim as novas classes médias?

Alckmin – Temos de investir em todas as classes sociais. O importante é ter um projeto para o Brasil. Vivemos em um mundo de grande competitividade e precisamos buscar eficiência. O país não pode postergar algumas reformas necessárias, como a política.

ZH – Seu governo anunciou pesados investimentos para as classes C e D, com ampliação de programas de transferência de renda. É uma tentativa de quebrar o domínio do PT nessas faixas?

Alckmin – Vencemos a eleição para o governo de São Paulo pela quinta vez consecutiva. É evidente que somos eleitos com os votos de todas as classes sociais, especialmente dos eleitores mais pobres. Os grandes investimentos do Estado são para a população que mais necessita.

ZH – O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, diz que o DEM e a oposição perderam o discurso e só sabem falar em CPMF. O senhor concorda?

Alckmin – Não vou fazer comentários sobre outro partido.

ZH – O que o partido fará para evitar que as divergências de 2006 e 2010 se repitam na escolha do candidato à Presidência em 2014?

Alckmin – Todo partido grande tem vários líderes. É natural em uma eleição fazer a disputa dentro do partido para depois fazer fora. O PSDB não perdeu a eleição por causa disso. Perdemos em 2006 porque o país tem um sistema que beneficia muito quem disputa a reeleição. Já no ano passado, tivemos um momento econômico excepcional. Não há nenhum problema em ter dois ou três líderes fortes. O que poderia ser aprimorado é ampliação da consulta interna. Em vez de apenas a convenção nacional escolher o candidato, poderia tornar mais abrangente esse processo.

ZH – Em 2014, será a vez de quem: Alckmin, Aécio Neves ou Serra?

Alckmin – Será a vez do PSDB. É importante ter quadros preparados para essa responsabilidade. Mas não se escolhe candidato com três anos de antecedência. O governo atual mal começou.

ZH – O novo partido de Gilberto Kassab, o PSD, virou uma ameaça para o PSDB?

Alckmin – Não vejo nenhum problema. Faz parte da liberdade política abrir partidos.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Em MG, divisão ameaça aliança vitoriosa

Parte do PT quer repetir parceria encabeçada pelo PSB, enquanto outra ala defende confronto aberto com PSDB

Eduardo Kattah

BELO HORIZONTE - Sem nomes fortes para disputar a prefeitura de Belo Horizonte no ano que vem, parte do PT mineiro já trabalha para reeditar a aliança que elegeu Márcio Lacerda (PSB) em 2008. Embora uma ala do partido defenda um confronto aberto com os tucanos, o grupo alinhado ao ex-prefeito e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, se articula nos bastidores pela manutenção da coligação, que inclui o PSDB.

O argumento é que se o partido abdicar da composição com Lacerda estará empurrando o PSB para o colo do senador mineiro Aécio Neves (PSDB). Os tucanos já assediam Lacerda, mas o prefeito está determinado a manter as pontes com os governos estadual e federal, dos quais participa o PSB. "Eu tenho a obrigação de tentar reeditar a aliança", afirmou.

Lacerda tem se equilibrado e feito apelos para tentar viabilizar a repetição da aliança. O prefeito circula com desenvoltura entre tucanos e petistas. De acordo com interlocutores, o prefeito se apoia nos "setores mais responsáveis" dos partidos para jogar para daqui a um ano qualquer definição. O prefeito defende a tese de que a população poderá reagir negativamente em caso de antecipação da disputa.

Os socialistas mineiros lembram também que PT e PSDB não contam com opções reais de vitória na cidade. No caso do PT, o ex-ministro Patrus Ananias tem deixado claro em conversas reservadas que não pretende entrar numa eleição arriscada, avaliando que o partido perdeu muito espaço entre o eleitorado da capital mineira.

O diretório estadual petista saiu ainda mais dividido da eleição estadual no ano passado, quando a chapa Hélio Costa (PMDB) e Patrus (PT) foi derrotada pela coligação encabeçada por Antonio Anastasia (PSDB).

Peso. Os tucanos, contudo, não estão dispostos ao papel de coadjuvante. O presidente do PSDB em Minas, deputado Marcus Pestana, admite negociações, mas afirma que o partido quer um peso maior no próximo pleito, avaliando que Aécio foi "generoso" na composição da aliança e "ganhou a eleição na capital".

Pestana reclama que os tucanos foram recebidos no Executivo municipal de uma forma "não tão acolhedora", mas diz que o partido não terá "nenhum tipo de preconceito" em relação ao PT. Porém, sugere que o PSDB quer a vaga de vice. "Queremos ter uma participação proporcional ao nosso peso", defende.

Para o PSB, o que joga a favor de Lacerda é o receio de derrota entre petistas e tucanos. "Tanto para o PSDB quanto para o PT perder a eleição em Belo Horizonte seria muito ruim", confia um líder socialista.

Contudo, na chamada "esquerda" petista qualquer nova aproximação com os tucanos soa como uma blasfêmia. "Para mim a aliança com o PSDB foi um grande erro. O que não pode haver é a repetição da política que não deixa claro as diferenças entre petistas e tucanos no Estado", afirmou Rogério Correia (PT), líder do bloco oposicionista na Assembleia.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Reforma política na agenda do PT

De olho no peso das novas regras para as eleições de 2012, Diretório Nacional se reúne na sexta

Denise Rothenburg

No debate sobre reforma política que o PT promove na próxima sexta-feira em reunião do Diretório Nacional, em Brasília, um ponto fundamental será a regra para as alianças das eleições municipais de 2012. A intenção é, desde já, amarrar os partidos aliados ao governo, impedindo, assim, que candidatos petistas fiquem isolados. Preocupam os dirigentes do partido, especialmente, os movimentos do PSB — que se aproxima do PSD e do PDT — e os planos do PMDB de lançar o deputado federal Gabriel Chalita, hoje no PSB, candidato a prefeito de São Paulo.

A determinação de colocar logo em pauta a política de alianças é do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com foco no desempenho do partido em 2012. Em todas as conversas com a cúpula partidária, ele pergunta como andam os acertos para as eleições municipais. No aniversário do PT, em fevereiro deste ano, ele foi direto na cobrança: “Não podemos deixar para discutir esse assunto depois”.

As maiores cidades são as que mais preocupam Lula. Hoje, o PT não tem perspectiva de uma aliança sólida em São Paulo. Pode também ter problemas em Belo Horizonte, onde o prefeito, do PSB, mantém aliança com o PSDB, enquanto o vice é do PT. Quanto ao Rio de Janeiro, embora os petistas tenham algumas opções, o aliado Eduardo Paes, do PMDB, é candidatíssimo a mais quatro anos de mandato. Ou seja, se lançar candidato nesses três municípios considerados importantes para formação de uma base rumo a 2014, o PT corre o risco de ficar isolado.

Para não deixar transparecer o medo de isolamento, os petistas pretendem discutir esse tema entre os seis pontos da reforma política que consideram fundamentais (leia quadro nesta página). De saída, o partido tende a acabar com as coligações nas eleições proporcionais — de vereadores, deputados estaduais e federais. Assim, os petistas acham que deixarão de dar “carona” a pequenas legendas.

Outra grande preocupação do PT é quanto ao fortalecimento dos partidos. “Hoje, o voto é muito personalista. É preciso encontrar uma forma de dar à política uma característica mais partidária. Por isso, o PT começa a trabalhar com a lista flexível”, afirma o líder da bancada na Câmara, deputado Paulo Teixeira (SP). Nesse tipo de lista, o partido apresenta sua escolha de candidatos, na ordem de prioridade com que pretende preencher os assentos em disputa. O eleitor pode endossar a ordem proposta ou então mudá-la, votando em nomes que estão colocados no fim da listagem. “É uma forma de valorizar o partido sem tirar do eleitor o direito de escolher o integrante daquele partido que ele quer ver eleito”, afirma Teixeira.

O risco da inflação

A fidelidade partidária e o financiamento exclusivamente público para as campanhas políticas também estarão na ordem do dia dos debates dos petistas. Mas eles decidiram não deixar de lado o debate econômico e a alta nos preços dos combustíveis. O tema será abordado em palestra do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que deve ainda falar sobre inflação e juros.

Os petistas querem saber de Mantega se ele tem segurança de que a economia não vai degringolar, o que jogaria por terra o projeto de poder do partido. Em suas discussões mais reservadas, os dirigentes têm avaliado que só há risco de os planos eleitorais do PT em 2012 e 2014 serem comprometidos se houver algum solavanco forte na economia. Hoje, o vilão nesse cenário é o preço da gasolina. Além de Mantega, os petistas esperam contar na sexta com as presenças da presidente Dilma Rousseff e de Lula. Mas até ontem nenhum dos dois havia confirmado a participação.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Líder do PPS critica uso de recursos de estatais para financiar Dia do Trabalhador


Rubens Bueno critica uso de recursos de estatais
Líder: Luta legítima dos trabalhadores foi abandonada pelas centrais

Nadja Rocha

O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR),criticou o uso de dinheiro de empresas estatais para financiar a festa promovida pelas centrais sindicais em comemoração ao Dia 1º de Maio. O custo estimado do evento será R$ 5 milhões, parte desse dinheiro sairá da Petrobras, da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil, Eletrobras, dentre outras empresas. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) é a principal promotora da festa.

"É um verdadeiro absurdo essa farra ser promovida às custas de recursos públicos", condenou Bueno. Embora classifique a comemoração um "legítimo" direito dos trabalhadores, o parlamentar disse que o "patrocínio" estatal é mais uma demonstração de as entidades sindicais foram cooptadas pelo governo do PT.

"Esse financiamento é um sinal claro de que as centrais se entregaram ao governo. São chapas-brancas, perderam a autonomia. Abandonaram a luta legítima dos trabalhadores por cargos comissionados e benesses, como parte da bolada da contribuição sindical", reafirmou Rubens Bueno.

Bueno lembrou que a rebelião na obra da hidrelétrica de Jirau (RO) é exemplo de que a massa trabalhadora está entregue “à própria sorte”. “Os operários receberam um “pito” das centrais. Ao invés de se unirem no canteiro de obra, as instituições foram se reunir no Palácio do Planalto com os representantes das empreiteiras”, criticou Rubens Bueno.

Lula cooperou com a irregularidade

No ano passado, as seis centrais sindicais receberam juntas cerca de R$ 100 milhões. E não há legislação que as obrigue a divulgar o que fazem com os recursos. Na lei que legitimou o repasse da contribuição sindical às entidades, o presidente Lula vetou o artigo que obrigava as centrais a prestarem contas ao TCU (Tribunal de Contas da União). O PPS é autor de ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a cobrança obrigatória do imposto sindical.

FONTE: PORTAL DO PPS

Fernando Gabeira: “A oposição está em extinção no Rio”

O ex-deputado federal Fernando Gabeira foi candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo PV em 2008, quando obteve o apoio de 49,17% dos eleitores, e a governador em 2010, com 20,68% dos votos de todo o Estado.

Um bom patrimônio eleitoral. Mas ele agora não sabe se vai concorrer a prefeito em 2012. Por dois motivos: a) “saí muito duro da campanha”; b) “o PV do Rio está sendo seduzido a apoiar a reeleição do Eduardo Paes”.

Em entrevista ao Poder Online, Gabeira detalhou melhor a situação:

Poder Online — O senhor será candidato a prefeito do Rio em 2012?

Fernando Gabeira – Não digo que não. Mas acho muito difícil. Saí da campanha muito duro, muito sem grana. Estou tendo que trabalhar muito, tocar a minha vida. Também não sei se pega bem no eleitorado essa coisa de sair candidato em todas as eleições. E, além do mais, o PV está flertando com o prefeito Eduardo Paes (PMDB).

Poder Online – O PV também? O PPS do Rio já está em plena negociação com o PMDB para aderir. Isso não é fruto do racha nacional do PV? O racha não espantou possíveis aliados em 2012?

Fernando Gabeira – Acho que não é isso. O problema aqui no Rio é o Eduardo Paes. Ele está querendo sair candidato à reeleição sem oposição. Está tentando cooptar todo mundo. Não é só o PV ou o PPS, também está atrás do Índio da Costa, do PSD. O Paes quer tudo.

Poder Online — Quem no PV do Rio está indo apoiar o prefeito?

Fernando Gabeira – Não sei se dá para dizer que tem alguém que já está indo. Mas o Alfredo Sirkis (deputado federal e presidente regional do partido) está discutindo o assunto com o Eduardo Paes. Aliás, o prefeito também me procurou. Ofereceu um cargo na organização das Olimpíadas do Rio. Um trabalho mais internacional… Mas eu não aceitei. Não tenho nada contra o Eduardo pessoalmente, mas sou oposição. A oposição aqui no Rio está em extinção e alguém tem que segurar a onda.

Poder Online — Voltamos à questão do racha nacional. Isso não atrapalhou?

Fernando Gabeira – Acho que não teve nada a ver. Foi uma questão local. E, quanto ao racha, já está mais ou menos resolvido.

Poder Online — Como assim?

Fernando Gabeira – Está-se acomodando. Eu sempre achei que essa coisa de racha era desnecessária, e agora estamos começando a nos acertar. É consenso dentro do PV que o partido tem que se democratizar e que tem que haver rodízio no comando, arejar. O problema era apenas uma questão de prazos. A discórdia era sobre quando devemos fazer nova convenção. E já está ficando mais ou menos claro para todas as correntes que isto deve ocorrer até o final de 2011. Então não chega a ser um racha.

FONTE: PORTAL IG, 24/4/2011

Saúde: 'Rolaram cabeças e não foram poucas'

Especialista em gestão conta como Inglaterra tomou medidas extremas para melhorar seu sistema de saúde pública

BRASÍLIA. Há 11 anos, a saúde pública na Inglaterra estava em frangalhos. Pressionado por casos emblemáticos, como o da mãe do Lord Winston, que morreu na fila de espera, o governo se viu obrigado a promover uma traumática revolução no seu sistema, universal como no Brasil. Engenheiro, auditor e especialista em gestão pública, o brasileiro Sérgio Seabra fez do caso inglês a sua tese de doutorado pela Universidade de Bath (Inglaterra). Seabra conta que "rolaram cabeças e não foram poucas" para que a saúde pública ganhasse um rumo novo na Inglaterra. E admitiu que o sistema federativo e a falta de cultura de cobrança sobre os gestores públicos tornam o desafio bem mais complicado por aqui.

Roberto Maltchik

Qual foi o ponto chave da reestruturação do sistema de saúde da Inglaterra?

SÉRGIO SEABRA: Um ponto marcante foi a criação de um mecanismo robusto para o controle do desempenho dos hospitais públicos e uma forte pressão do governo sobre os gestores dos hospitais para que eles buscassem atingir os padrões de desempenho. Entre os padrões de desempenho estabelecidos estavam o tempo de espera na emergência, que deveria ser inferior a quatro horas, e o tempo de espera para operação de no máximo três meses.

Que tipo de controle acompanhou a introdução de metas e indicadores?

SEABRA: Foi criada a Comissão de Auditoria, que auditava o desempenho financeiro dos hospitais, e a Healthcare Commission, que apurava e avaliava, anualmente, o desempenho dos hospitais em relação a metas e indicadores estabelecidos. Um núcleo do governo central monitorava o desempenho dos hospitais em relação a diversos indicadores. Denúncias de manipulação dos dados de desempenho eram investigadas e os responsáveis severamente punidos.

É possível definir indicadores confiáveis sem o controle adequado?

SEABRA: O problema maior não é definir indicadores e metas, mas fazer com que os gestores busquem alcançá-las. Além de definir indicadores confiáveis, é preciso estabelecer um sistema eficiente e confiável de monitoramento, além de mecanismo de incentivos. Sem esses três elementos, um sistema de controle do desempenho tem pouca chance de prosperar.

Quais foram as principais resistências às mudanças?

SEABRA: Nos hospitais, os diretores tiveram que lidar com resistência de grupos de médicos para implementar mudanças na gestão, visando alcançar os padrões de desempenho estabelecidos. A capacidade dos gestores de fazer com que os médicos abraçassem a causa foi um dos aspectos que diferenciaram os hospitais que conseguiram melhorar seu desempenho dos que não conseguiram.

Como a Inglaterra fez para otimizar a gestão de recursos financeiros do sistema?

SEABRA: Os hospitais passaram a receber um orçamento correspondente à quantidade de serviços que prestavam. Era o que foi chamado de pagamento por resultado. Além disso, os hospitais tinham indicadores e metas financeiras a cumprir. Essa disciplina fez com que os hospitais desenvolvessem controles financeiros bastante eficazes, tanto no que tange ao controle dos custos quanto ao planejamento das receitas.

Como foram tratados os gestores que resistiam às mudanças?

SEABRA: Houve uma forte pressão sobre os diretores e presidentes (CEO) dos hospitais públicos para que melhorassem o desempenho. Os que não logravam bons resultados eram frequentemente demitidos. Rolaram cabeças e não foram poucas. Um dos hospitais que analisei teve sete CEOs em sete anos. Os CEOs e diretores sabiam que suas carreiras como gestores de hospitais estavam em risco se não conseguissem melhorar o desempenho.

Quais os primeiros resultados práticos das mudanças?

SEABRA: A lista de espera para internações caiu de aproximadamente 1,3 milhão, em março de 1998, para cerca de 590 mil em dezembro de 2007. Enquanto em março de 1998 mais de 380 mil pacientes esperavam mais de 26 semanas para internação, em março de 2006 só 206 pacientes foram reportados esperando esse tempo. O sistema de controle de desempenho também demonstrou uma notável melhoria alcançada por essa política.

Quais mecanismos adotados na Inglaterra poderiam ser incorporados no Brasil?

SEABRA: A tese de avaliação e controle de desempenho não só pode como deveria ser adotada. O que vai diferenciar é a forma como isso pode ser feito. O complicador da introdução desse sistema no Brasil é o federalismo, o regime jurídico-administrativo, que impõe maior restrição à gestão, e uma cultura ainda pouco arraigada de cobrança dos gestores pelo desempenho das instituições que dirigem. Mas acredito que, a partir de um diagnóstico geral, seria possível estabelecer padrões mínimos de desempenho, desenvolver uma sistemática confiável de monitoramento e avaliação, aproveitando estruturas de controle existentes, bem como mecanismos de incentivo (ou sanções) para a melhoria dos indicadores.

FONTE: O GLOBO

Também já fui brasileiro :: Carlos Drumonnd de Andrade

Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.


Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.


Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.