domingo, 1 de maio de 2011

Reflexão do dia – Paulo Paiva

É possível que a hora para evitar o mal já seja passada. Pagaremos no futuro próximo pela leniência de hoje. Pagarão os mais pobres e vulneráveis que não terão mecanismos para se proteger da inflação. Com o desemprego pagarão os trabalhadores. Não há indexação que garanta o poder de compra dos assalariados. Enfim, não é o valor nominal dos salários que importa, mas seu valor real, que só será protegido com moeda estável. A volta da indexação pode comprometer todo o esforço de estabilidade das últimas duas décadas.

PAIVA, Paulo, ex Ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC. A indexação está de volta. O Estado de S. Paulo, 29/4/2011


Programa de segurança de Dilma não sai do papel

Principal projeto de combate à violência tem corte de R$ 1 bilhão

Apesar de ter passado a campanha eleitoral prometendo priorizar a segurança, a presidente Dilma Rousseff não apenas não tirou do papel as promessas como cortou fortemente o orçamento da área. Só o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) perderá R$ 1,028 bilhão este ano, ou 47% do previsto. O investimento feito nestes quatro primeiros meses de gestão Dilma é inferior ao executado no mesmo período do ano passado. A criação dos postos de polícia comunitária e a modernização de cadeias, por exemplo, são projetos que ainda não receberam qualquer investimento. Apontado como solução para o patrulhamento de fronteiras, o projeto Vant (veículo aéreo não tripulado) também não decolou. O governo alega que a política para o setor foi replanejada.

Investir em segurança ficou só no discurso

Pronasci terá R$ 1 bi a menos este ano, e programas não saem do papel

Fábio Fabrini e Jailton de Carvalho

BRASÍLIA - Contrariando o discurso de campanha, que alardeou mais participação federal na segurança pública, o governo Dilma Rousseffainda não tirou do papel suas promessas para a área. Com os cortes orçamentários, os investimentos para o combate ao crime minguaram eprojetos amplamente explorados na corrida eleitoral não avançaram após quatro meses de gestão. Principal meio de colaboração com estados e municípios, o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) terá menos R$ 1,028 bilhão este ano, o que corresponde a 47% do previsto. Não por acaso, as despesas foram 28,5% menores de janeiroa abril, em comparação com o mesmo período de 2010. O Orçamento prevê R$ 2,1 bilhões para o

Pronasci, mas a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, admite que o Ministério da Justiça terá só R$ 1,25 bilhão para bancar as atividades do programa este ano. Até agora, foram aplicados R$ 279,7 milhões, ante R$ 391,2 milhões no primeiro quadrimestre de 2010. Quase 40% do montante são de restos apagar, ou seja, compromissos assumidos em anos anteriores, mas só quitados agora. Os dados constam do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). Projetos de orçamento vultoso permanecem sem investimento algum, a exemplo daimplantação de postos de polícia comunitária, cuja previsão original era de receber R$ 350 milhões até ofim do ano; e damodernização de cadeias, que poderia consumir até R$ 20 milhões. Outras ações tiveram execução mínima. O apoio à construção de estabelecimentos penais especiais, por exemplo, mereceu até agora R$ 230 mil, de um total de R$ 50 milhões inscritos no Orçamento.

Efeitos do corte já são sentidos nos estados

Os estados já sentem os efeitos da tesoura. Em Minas, os convênios firmados com o ministério em 2010 continuam sem verba. OEspírito Santo, que amarga uma das maiores taxas de homicídio do país, aguarda o repasse de cerca de R$ 1 mi lhão para construir uma nova Delegacia de Tóxicos e um Centro de Instrução para os bombeiros, conforme acordado desde o ano passado. O secretário de Defesa Social do estado, Henrique Herkenhoff, diz que bateu à porta do ministério,mas ouviu que a prioridade são os projetos inscritos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

— Informaram que as verbas do Pronasci estão contingenciadas para este ano — lamenta, acrescentando que, sem colaboração, o jeito é tocar as atividades por conta própria:

— Estamos investindo dentro das nossas possibilidades. Mas, se a União ajudasse, conseguiríamos fazer mais rapidamente. Apesar dos cortes, ogover- no capixaba pretende continuar inscrevendo projetos no Pronasci, tendo em vista os desafios para a segurança no estado.

— Ootimismo éo último que morre —justifica o secretário.

A máxima “fazer mais com menos”, explorada pelo governo, por ora não vale para o Bolsa Formação, braço do Pronasci que dá ajuda financeira a profissionais de segurança. No Rio, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública, o corte nos repasses “impactou significativamente” o projeto. O montante aplicado caiu de R$ 50,2 milhões para R$ 38,4 milhões (23%) nos primeiros quatro meses de 2011, em comparação com o mesmo período de 2010. Com isso, menos gente foi atendida: o número de beneficiários por mês variou de 17,7 mil a 28,4 mil; no ano passado, de 29,4 mil a 32,7 mil. A secretaria também teve de extinguir o módulo Olimpíada do projeto, voltado para a preparação dos profissionais com vista ao evento esportivo, que poderia atender 45 mil profissionais, ao custo de R$ 280 milhões.

Vant ainda não decolou, apesar das promessas

Em fevereiro, o governo chegou a publicar portaria impondo limite de beneficiários por estado e por categoria profissional. Diante da pressão dos estados, voltou atrás e revogou a mudança, mas manteve regras para ajustar o projeto à realidade orçamentária. Uma nova portaria, publicada em março, diz que as bolsas serão distribuídas por categoria e por estado, “respeitadas as disponibilidades orçamentárias”. Os profissionais cujos benefícios venciam antes podiam pedir a renovação em qualquer mês, mas agora precisam esperar o ministério abrir inscrições, uma vez por ano.

— Abolsa de muitas pessoas vai expirar até dezembro e elas vão ter de esperar . Algumas já a perderam.Muita gente conta como dinheiro para alimentação e complemento da educação dos filhos —afirma Aarão José da Silva, gestor es-tadual do Bolsa Formação em Alagoas. A secretária Regina Miki argumenta que a Política Nacional de Segurança Pública foi re- planejada nos primeiros meses de governo.

Por isso, a execução orçamentária de programas como o Pronasci não foi “tão alta”. Segundo ela, o foco das ações, a partir de agora, será a redução de homicídios, o combate ao tráfico de drogas e o patrulhamento de fronteiras. Omecanismo de repasse de verbas também vai mudar. A exemplo do que ocorre com o PAC, serão lançados editais de habilitação para estados e municípios apresentarem seus projetos, que serão selecionados conforme as três prioridades. Nos próximos dias, a nova política deve ser apresentada à presidente Dilma. A promessa é criar um sistema de informações de homicídios, alimentado pelos estados, que ajudará a diagnosticar problemas e identificar desafios.

—Em 15 dias, deve sair o primeiro edital— adianta Miki, que relativiza as limitações de caixa: — Nem sempre o orçamento se traduz em boas políticas públicas. Se ele é menor, temos de otimizar os recursos. O corte no orçamento do Ministério da Justiça também atingiu o Projeto Vant (Veículo Aéreo Não Tripulado), uma das prioridades anunciadas pela presidente Dilma durante a campanha eleitoral. O primeirodos 14 Vants que a Polícia Federal planeja comprar chegou ao país em março, mas está parado num hangar emSãoMiguel do Iguaçu. Pela previsão do governo, até setembro não há condições de o avião decolar. Ele está parado por falta de combustível e de um caminhão usado no transporte terrestre da aeronave. O projeto, orçado em R$ 655 milhões, foi apresentado, durante a campanha eleitoral, como um marco do uso da tecnologia para se intensificar a fiscalização das fronteiras contra o narcotráfico, ocontrabando e otráfico de armas, entre outros crimes. A proposta era vista como uma tentativa do governo de chamar para si o comando das grandes operações de combate àviolência urbana apartir

de ações em áreas remotas do país. Mas, depois de chegar ao Brasil com quatro meses de atraso emrelação à previsão inicial, o Vant deve permanecer ainda um longo tempo sem uso prático.

—Faz tempo que não vejo uma situação como essa. O corte no orçamento tem atrapalhado demais. Não tem dinheiro para nada — reclama um dos superintendentes da

Polícia Federal. O corte também atingiu diárias, compras de passagens e todo o custeio da estrutura da polícia. Segundo um delegado, o efeito da crise financeira é geral. Algumas superintendências já estariam sofrendo com atrasos nos pagamentos das contas de telefone, energia elétrica, combustível e aluguel de prédios. O delegado entende que oarrocho terá reflexos ainda mais fortes nas grandes operações de combate à corrupção nos próximos seis meses, períodomínimo dematuração de uma importante investigação criminal.

— A PF está praticamente parada. Acredito que 80% das operações já estão prejudicadas. A única coisa que anda são os inquéritos, que não precisam de dinheiro. Basta ao delegado

sentar à mesa e despachar — afirma o presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal, Jones Borges Leal. A partir das regras estabelecidas pela equipe econômica, a Polícia Federal terá que cortar este ano R$ 83 milhões em gastos com diárias ao longo deste ano. O valor cor- responde a 25% da média anual de despesas da polícia com o deslocamento de policiais. Os sindicalistas reclamam também do esvaziamento das grandes operações. Segundo eles, a última investigação de impacto foi a Operação Caixa de Pandora, lançada em novembro de 2009. Para os sindicalistas, a Polícia Federal tem se retraído. A assessoria de imprensa da PF confirma que o primeiro Vant a chegar ao país está parado em São Miguel do Iguaçu. A PF diz que vai abrir licitação para a compra do caminhão necessário para otransporte em terra da aeronave. Afirma tambémque o combustível para o Vant será comprado a partir do contrato de fornecimento geral de combustível para a instituição e não mais em contrato exclusivo para os aviões não tripulados. OMinistério da Justiça sustenta que oVant entrará em ação em setembro.

FONTE: O GLOBO

Pico da inflação vai coincidir com disputas salariais

Projeções do governo e do setor privado mostram que a inflação atingirá seu pico em setembro, data-base da campanha salarial de metalúrgicos, bancários e petroleiros. Índices como INPC e IPCA, que balizam negociações e metas oficiais, devem bater os 7,4% em agosto. Neste ano, a série de ganhos salariais obtidos de 2004 a 2010 entrará em choque com a política anti-inflação do governo Dilma.


Inflação terá pico durante disputa salarial

Categorias influentes negociam reajuste em agosto, quando índice acumulado deve chegar a 7,4%, o maior desde 2003


Trajetória de ganhos iniciada em 2004 entra em choque com política anti-inflação conduzida pelo governo federal

Gustavo Patu

BRASÍLIA - Há apenas oito meses, os metalúrgicos do ABC paulista comemoravam o maior ganho de sua história de disputas salariais. O reajuste obtido, de 10,8%, significava um aumento do poder de compra de 6,3%.

Caso queiram -e possam- repetir o feito neste ano, os representantes da categoria terão de pleitear em quatro meses, quando voltarão às negociações com seus empregadores, aumento muito maior, acima de 14%.

Segundo as projeções mais consensuais do governo e do setor privado, a presente escalada da inflação atingirá seu pico justamente quando corporações mais numerosas e influentes no sindicalismo nacional estarão em campanha.

Se o 1º de maio é simbólico, o 1º de setembro é concreto para os trabalhadores do país. Trata-se da data-base de metalúrgicos, bancários e petroleiros, para citar apenas os mais importantes e referenciais para as demais categorias profissionais.

Neste ano, a continuidade da trajetória de ganhos salariais -iniciada em 2004 e com recorde em 2010- entrará em choque com a política anti-inflacionária da administração petista.

Em outras palavras, quanto maior for o sucesso das campanhas salariais, mais difícil será o esperado retorno dos índices de inflação aos patamares desejados a partir do fim deste ano.

Pelas estimativas de investidores e analistas de mercado pesquisadas pelo Banco Central, o INPC, índice que normalmente baliza negociações, e o IPCA, referência para metas oficiais, chegarão a 7,4% no período de 12 meses encerrado em agosto.

Se as previsões se confirmarem, será a maior taxa para o período desde 2003, no primeiro ano de mandato do ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, quando a maior parte das negociações salariais foi incapaz de repor as perdas acumuladas.

Naquela época, a economia vivia estagnação decorrente de medidas tomadas para superar a crise financeira do ano anterior; agora, deixa-se para trás um período de superaceleração econômica, mas o freio é suave.

Não por acaso, a evolução dos salários é uma das preocupações centrais da política de controle da inflação, cujo objetivo é levar o IPCA à meta de 4,5% no próximo ano. Este já é dado como perdido.

"O dinamismo da atividade doméstica continuará a ser favorecido pelo vigor do mercado de trabalho, que se reflete em taxas de desemprego historicamente baixas e em substancial crescimento dos salários", diz a ata da última reunião do Copom, o comitê do BC responsável pela fixação dos juros.

De acordo com o mesmo documento, um "risco importante" é a "concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade e suas repercussões negativas sobre a dinâmica da inflação".

A LCA Consultores divulgou recentemente um estudo no qual estima as chances -ou riscos, do ponto de vista do BC- de reajustes salariais generosos nas próximas negociações salariais.

Segundo a consultoria, os ganhos obtidos pelos trabalhadores nos últimos meses indicam um mercado menos favorável que o de 2010.

"Essa certamente é uma boa notícia no que toca ao cenário prospectivo para a inflação, principalmente em relação aos temores de uma volta da indexação de preços e salários nos moldes da

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Em nota sobre o 1º de maio, PPS critica governo por deixar "fatura" para o trabalhador

O Partido Popular Socialista (PPS) divulgou, ontem (30) véspera do Dia do Trabalho, nota em que alerta o país sobre as condições de emprego, principalmente, em canteiros de obras federais. Também critica os juros e a carga tributária promovidos pelo governo do PT que ajudam no processo de desindustrialização e que resultarão em desemprego. No documento, o PPS também convoca os trabalhadores brasileiros a enfrentarem os desafios da globalização.

Veja abaixo integra da nota:

"Um 1º de Maio de Luta!

Após quase uma década, quando a economia surfou na onda da "exuberância irracionalista" que levou à maior crise do sistema capitalista depois de 1929, repentinamente, apresenta-se a vida real. E o governo Lula/Dilma quer pendurar a conta nas costas dos trabalhadores brasileiros.

À irresponsabilidade fiscal do governo, no enfrentamento da crise em 2009 e 2010, que entre outras coisas, fez ressurgir a inflação, a crise energética - com seus micro-apagões diários - o corte no orçamento. E, agora, a inédita crise de combustíveis. Depois que foi anunciada a autossuficiência de petróleo, começa-se a pagar a fatura desse período. E, quem primeiro sente seus efeitos são justamente os trabalhadores, como evidenciado no debate do salário mínimo deste ano, em que o governo aprovou um aumento abaixo da inflação anual, com a complacência das centrais sindicais e os partidos da base do governo.

Desde o fim do ano passado já estava evidente o descontentamento de trabalhadores nos canteiros das obras do PAC que se insurgiram contra as desumanas condições de trabalho, com mais de setenta mil trabalhadores fazendo greve em vários estados do país. O caos nos aeroportos que só faz aumentar e que, agora, o governo reconhece sua incompetência, ao propor a privatização. O aumento de impostos e o processo de corrosão da renda propiciados pela inflação ameaçam conquistas recentes proporcionadas pela estabilidade econômica e sinalizam que os trabalhadores pagarão a conta pela farra fiscal e pela incompetência gerencial dos governos Lula/Dilma.

Diante de um governo com notória incapacidade de resolver nossos problemas de infra-estrutura física e humana, como demonstra a paralisia de inúmeras obras do PAC, e o precário estado dos serviços públicos da educação, saúde e segurança que vivencia o povo todo dia, também é incapaz de promover as reformas democráticas do Estado que necessitamos para melhor enfrentar os desafios do mundo globalizado.

Pelo contrário, o que assistimos é a velha maneira de governar, em que os maiores beneficiários são os rentistas do sistema financeiro, que absorvem a maior parte do orçamento público - via rolagem da dívida interna -, e as elites políticas tradicionais e novas mantidas pela generosa distribuição de cargos e benesses na máquina pública.

Para os trabalhadores sobra a ameaça do desemprego, fruto da "desindustrialização" que a atual política do governo estimula, e pela crescente possibilidade de ver seus rendimentos sumirem via impostos e inflação.

Neste 1º de maio, a tônica será a luta para garantir e aumentar as conquistas que tão duramente conseguiram. Assim como o desmascaramento de um governo que se diz "dos trabalhadores", mas que objetivamente beneficia seus patrões!

O Partido Popular Socialista - PPS solidariza-se com a luta dos trabalhadores e coloca-se como instrumento de mobilização e organização do povo trabalhador no momento que se aproxima a hora da verdade de suas lutas contra um governo de faz-de- conta!

Roberto Freire – Presidente do PPS"

FONTE: PORTAL DO PPS

Um novo Brasil :: Fernando Henrique Cardoso

Por trás das transformações está o "espírito de empresa"

Décadas atrás havia uma discussão sobre a "modernização" do Brasil. Correntes mais dogmáticas da esquerda denunciavam os modernizadores como gente que acreditava ser possível transformar o país saltando a revolução socialista. Com o passar do tempo, quase todos se esqueceram das velhas polêmicas e passaram a se orgulhar das grandes transformações ocorridas. Até mesmo pertencermos aos Brics, uma marca criada em 1999 pelo banco Goldman Sachs, passou a ser motivo de orgulho dos dirigentes petistas: finalmente somos uma economia emergente!

Na verdade, o Brasil é mais do que uma economia emergente; é uma sociedade emergente ou, para usar o título de um livro que analisa bem o que aconteceu nas últimas décadas, somos um novo país (ver Albert Fishlow, "O novo Brasil", Saint Paul Editora, 2011). Para entender as dificuldades políticas que foram transpostas para acelerar essas transformações, basta ler a primeira parte de um livrinho que tem o instigante título "Memórias de um soldado de milícias", escrito por Luiz Alfredo Raposo e publicado este ano em São Luís do Maranhão.

Embora os livros comecem a registrar o que é este novo Brasil - e há outros, além do que mencionei -, o senso comum, especialmente entre os militantes ou representantes dos partidos políticos e seus ideólogos, ainda não se deu conta por completo dessas transformações e de suas consequências.

Os fundamentos deste novo país começaram a se constituir a partir das greves operárias do fim da década de 1970 e da campanha das Diretas Já, que conduziram à Constituição de 1988. Este foi o marco inicial do novo Brasil: direitos assegurados, desenho de um Estado visando a aumentar o bem-estar do povo, sociedade civil mais organizada e demandante, enfim, liberdade e comprometimento social. Havia na Constituição, é certo, entraves que prendiam o desenvolvimento econômico a monopólios e ingerências estatais. Sucessivas emendas constitucionais foram aliviando essas amarras, sem enfraquecer a ação estatal, mas abrindo espaço à competição, à regulação e à diversificação do mundo empresarial.

O segundo grande passo para a modernização do país foi dado pela abertura da economia. Contrariando a percepção acanhada de que a globalização mataria nossa indústria e espoliaria nossas riquezas, houve a redução de tarifas e diminuição dos entraves ao fluxo de capitais. Novamente os "dogmáticos" (lamento dizer, PT e presidente Lula à frente) previram a catástrofe que não ocorreu: sucateamento da indústria, desnacionalização da economia, desemprego em massa, e assim por diante. Passamos pelo teste: o BNDES atuou corretamente para apoiar a modernização de setores-chave da economia, as privatizações não deram ensejo a monopólios privados e mantiveram boa parte do sistema produtivo sob controle nacional, seja pelo setor privado, seja pelo Estado, ou em conjunto. Houve expansão da oferta e democratização do acesso a serviços públicos.

O terceiro passo foi o Plano Real e a vitória sobre a inflação, não sem enormes dificuldades e incompreensões políticas. Juntamente com a reorganização das finanças públicas, com o saneamento do sistema financeiro e com a adoção de regras para o uso do dinheiro público e o manejo da política econômica, a estabilização permitiu o desenvolvimento de um mercado de capitais dinâmico, bem regulado, e a criação das bases para a expansão do crédito.

Por fim, mas em nada menos importante, deu-se consequente prática às demandas sociais refletidas na Constituição. Foram ativadas as políticas sociais universais (educação, saúde e previdência) e as focalizadas: a reforma agrária e os mecanismos de transferência direta de rendas, entre eles as bolsas, a primeira das quais foi a Bolsa Escola, substituída pela Bolsa Família. Ao mesmo tempo, desde 1993 houve significativo aumento real do salário mínimo (de 44% no governo do PSDB e de 48% no de Lula).

Os resultados veem-se agora: aumento de consumo das camadas populares, enriquecimento generalizado, multiplicação de empresas e das oportunidades de investimento, tanto em áreas tradicionais quanto em áreas novas. Inegavelmente, recebemos também um impulso de fora, com o boom da economia internacional de 2004/2008 e, sobretudo, com a entrada vigorosa da China no mercado de commodities.

Por trás deste novo Brasil está o "espírito de empresa". A aceitação do risco, da competitividade, do mérito, da avaliação de resultados. O esforço individual e coletivo, a convicção de que sem estudo não se avança e que é preciso ter regras que regulem a economia e a vida em sociedade. O respeito à lei, aos contratos, às liberdades individuais e coletivas faz parte deste novo Brasil. O "espírito de empresa" não se resume ao mercado ou à empresa privada. Ele abrange vários setores da vida e da sociedade. Uma empresa estatal quando o possui deixa de ser uma repartição pública, na qual o burocratismo e os privilégios políticos, como clientelismo e corrupção, freiam seu crescimento. Uma ONG pode possuir esse mesmo espírito, assim como os partidos deveriam possuí-lo. E não se creia que ele dispense o sentimento de coesão social, de solidariedade: o mundo moderno não aceita o "cada um por si e Deus por ninguém".

O mesmo espírito deve reger os programas e ações sociais do governo na busca da melhoria da condição de vida dos cidadãos.

Foi para isso que apontei em meu artigo na revista "Interesse Nacional", que tanto debate suscitou, às vezes a partir de leituras equivocadas e mesmo de má-fé. É inegável que há espaço para as oposições firmarem o pé neste novo Brasil. Ele está entre os setores populares e médios que escapam do clientelismo estatal, que têm independência para criticar o que há de velho nas bases políticas do governo e em muito de suas práticas, como a ingerência política na escolha dos campeões da globalização, o privilegiamento de setores econômicos amigos, a resistência à cooperação com o setor privado nos investimentos de infraestrutura, além da eventual tibieza no controle da inflação, que pode cortar as aspirações de consumo das classes emergentes. Para ocupar esse espaço, entretanto, é preciso que também as oposições invistam no espírito novo e sejam capazes de representar este novo Brasil, tão distante do pequeno e às vezes mesquinho dia a dia da política congressual.

FONTE: O GLOBO

Tudo como dantes:: Dora Kramer

Partidos, como se sabe, são pessoas jurídicas de direito privado. Nessa condição, a despeito de custarem aos cofres públicos muitos milhões de reais anualmente entre as cotas do fundo partidário (R$ 301 milhões em 2011) e a renúncia fiscal decorrente da propaganda gratuita no rádio e na televisão, são donos dos próprios narizes.

Em tese, tomam suas decisões internas sem a obrigatoriedade de prestar contas à sociedade, adequando os respectivos custos e benefícios às suas conveniências.

Às vezes dá certo, às vezes não. Quando expulsou José Roberto Arruda depois do flagrante do vídeo em que o então governador recebia dinheiro do operador do esquema de corrupção montando no governo do Distrito Federal, o DEM calculou que com isso reduziria seu prejuízo político.

Não adiantou. A situação do partido já era difícil, só fez piorar e o caso, definitivamente batizado como "mensalão do DEM", contribuiu decisivamente para a derrocada.

Pesou mais a opinião que o público formara ao longo dos anos sobre o partido e sua fragilidade política para reagir.

Com o PT, ocorreu o oposto: teve a direção nacional e a imagem devastadas por denúncias de corrupção, mas recuperou-se tão bem que hoje pode dar-se ao desfrute de ignorar possíveis danos na opinião pública, decretar unilateralmente a absolvição da figura símbolo do mensalão e expor o poder de José Dirceu, elegendo presidente um oficial de seu quartel general.

Quando o PT decide que é chegada a hora de reabilitar Delúbio Soares, o ex-tesoureiro que, como disse a senadora Marta Suplicy ao defender sua reintegração, "segurou tudo calado", trata o assunto unicamente sob a perspectiva do partido, cujo interesse é "zerar" as penalidades e fortalecer sua unidade a fim de consolidar sua hegemonia no governo Dilma Rousseff e enfrentar o processo a ser julgado no Supremo Tribunal Federal.

Aos dirigentes parece pouco importar se vai repercutir mal a concessão de tal recompensa ao silêncio do homem que jurou ser o único responsável pelo esquema de arrecadação e distribuição de dinheiro tido como "criminoso" pela Procuradoria-Geral da República.

Ao contrário, pelas declarações feitas, consideram que, quanto mais cedo, melhor. O cenário, de fato, lhes é favorável.

Não há eleições a não ser em 2012, quando só então o Supremo deve começar a examinar o processo do mensalão.

A oposição encontra-se desmobilizada; problemas decorrentes do agravamento da inflação ainda não tomaram a cena de modo a alterar a confiança no governo, que está com popularidade alta e recolhendo novas adesões naquela parcela da sociedade que não gostava de Lula, mas anda gostando muito de Dilma.

Certamente o PT contabilizou perdas e ganhos e concluiu que o momento permite manobras radicais. Ao mesmo tempo recebe Delúbio e põe Rui Falcão na presidência.

Linha de frente da concepção aguerrida de José Dirceu de fazer política, Falcão ficou no "limbo" durante a campanha presidencial de 2010 por suspeita de ter exposto o esquema de montagens de dossiês contra adversários no comitê em Brasília.

Esses dois movimentos, a reabilitação de Delúbio e a eleição de Falcão, reconduzem o PT à rota anterior ao baque do mensalão. Sinalizam que o partido se sente forte e inimputável perante o eleitorado. Livre, leve e solto para abandonar a promessa de que, daquele ano de 2005 para frente, tudo seria diferente.

Paz de cemitério. A ordem unida no PSDB é água fria na fervura da crise paulista, a fim de que o clima não fique ainda pior nas semanas que antecedem a convenção nacional do partido, a ser realizada no fim de maio.

Na realidade, o tucanato não tem autoridade moral para pôr publicamente o dedo em cima da ferida e dizer que a crise resulta da afirmação de hegemonia regional por parte do governador Geraldo Alckmin, em detrimento da unidade partidária.

Simplesmente porque cada um dos figurões do partido faz exatamente o mesmo: a política do cada um por si e ninguém por todos.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Liberdade de imprensa:: Merval Pereira

Começa hoje em Washington um seminário jornalístico patrocinado pela Unesco para comemorar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Sob o tema geral "21st Century Media: New Frontiers, New Barriers" ("Meios de comunicação no século 21, novas fronteiras, novas barreiras", em tradução livre), durante três dias jornalistas de todo o mundo dedicados à defesa da livre expressão estarão debatendo no Newseum e no National Press Club a liberdade dos meios de comunicação na era digital.

Essa comemoração do Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, a 3 de maio, acontece 20 anos depois da Declaração de Windhoek, onde jornalistas africanos proclamaram que a liberdade de imprensa é essencial para a democracia e o desenvolvimento econômico das nações.

Os debates destacarão as novas plataformas de comunicação que estão transformando a maneira como os cidadãos em todo o mundo recebem e compartilham informações, e também as novas ameaças de censura.

Um público que será alvo especial de debates são os "Digital Natives: The New Media Generation", jovens alfabetizados na era digital que cresceram junto com as novas tecnologias.

Esses jovens constituem a maioria em diversos países, e é preciso saber como eles recebem e compartilham informações na era digital, e como essa nova maneira influenciará no engajamento dessa geração no debate público.

A sessão de abertura constará de uma apresentação do levantamento anual da Freedom House, uma ONG dedicada à defesa das liberdades democráticas, em especial a de informação, sobre a situação da liberdade no mundo, seguida do primeiro debate sobre o estágio atual da liberdade de imprensa no mundo, e de que maneira os meios de comunicação digitais, as redes sociais (como Facebook) e as plataformas móveis (como os Ipads) estão ajudando a expandir o acesso à informação, e quais os bloqueios que estão sofrendo.

O moderador deste painel será o jornalista brasileiro Rosental Calmon Alves, fundador e diretor do Centro Knight para Jornalismo nas Américas.

O jornalista Bob Woodward, editor associado do jornal "Washington Post", famoso pelo caso Watergate, que levou à renúncia do presidente Nixon, vai fazer uma palestra sobre como repórteres e fontes atuam hoje, na era digital, em comparação à época em que sua principal reportagem foi publicada, no início da década de 1970, baseada principalmente em uma fonte anônima que só recentemente foi revelada ao público.

Ainda em plena atividade, Bob Woodward pode ser o exemplo do repórter que liga duas gerações, desde a cobertura do Watergate até a dos recentes movimentos de insurreição nos países árabes, período em que os instrumentos do jornalismo mudaram radicalmente.

A partir da experiência recente, em que documentos secretos são vazados pela internet e as fontes de informação ficam cada vez mais vulneráveis e expostas, alguns pontos fundamentais serão debatidos: o crescente número de plataformas alternativas pode garantir a proteção das fontes?

Jornalistas profissionais e os chamados "jornalistas cidadãos" podem trabalhar em conjunto? A legislação desenhada na era pré-digital está adequada às novas formas de reportagens e à necessidade de transparência?

Outro painel debaterá o papel da mídia tradicional e o da mídia digital na formação do cidadão do século 21, e até que ponto os novos canais de comunicação estão ampliando a liberdade de imprensa.

A censura na era digital será debatida em outro painel, promovido pela agência Associated Press, que reunirá quatro jornalistas de países que enfrentam ameaças à liberdade de imprensa com os governos utilizando-se das novas tecnologias para promover vigilância e ameaças digitais e outras formas de censura.

O painel será conduzido por Kimberly Dozier, um veterano correspondente internacional da AP e especialista em questões de segurança internacional.

Eu serei o mediador de um painel que debaterá o papel da mídia tradicional no novo mundo da informação.

Partindo do pressuposto de que a mídia tradicional, vista como uma plataforma multimídia, continua sendo uma importante distribuidora de notícias e informações, vamos debater como os jornais e as televisões estão integrando as novas tecnologias.

Katharine Zeleski, produtora-executiva para novos produtos digitais do "Washington Post", vai falar sobre a experiência de integração de mídias nos últimos tempos, e se essa operação afetou a qualidade dos serviços.

Mesfin Negash, da Etiópia, hoje trabalhando a partir da Suécia usando a internet e mídias sociais, vai falar de sua experiência de passar de uma publicação impressa para on-line, e como ele interage com etíopes em todo o mundo com sua publicação on-line.

Tatiana Tikhomirova, diretora-executiva de treinamento de mídia na Escola Superior de Jornalismo da Rússia, vai falar sobre como as novas mídias digitais e as novas plataformas de relacionamento social influenciaram o currículo das escolas de jornalismo na Rússia.

É possível ensinar princípios jornalísticos para estudantes que vivem num mundo em que o jornalismo é feito através de blogs? Como ensiná-los a incorporar valores que assegurem jornalismo de qualidade, com responsabilidade na checagem de informações no ambiente de blogs?

Outro debatedor será Larry Kilman, dirigente da Associação Mundial de Jornais e Editores (Wan-Ifra), que falará como os jornais associados estão se adaptando ao surgimento da era digital.

A experiência de editores na América do Norte e partes da Europa Ocidental, que sentem uma erosão na circulação paga dos jornais e a queda da receita publicitária, se repete em outras partes do mundo, ou poderá se repetir à medida em que as tecnologias de comunicação digital forem ganhando espaço?

FONTE: O GLOBO

Sem choro nem vela:: Eliane Cantanhêde

Delúbio Soares deixou de ser tesoureiro e foi expulso do PT porque alguém -além de José Dirceu- tinha que ser sacrificado. Não por um impulso ético, mas por uma premência pragmática: dar uma resposta à sociedade.

Agora, ele é refiliado porque o sacrifício já rendera o que tinha de render. Estava na hora de acabar com a hipocrisia.

Nenhum tesoureiro age por conta própria, ainda mais num partido como o PT. E nenhum Delúbio age por conta própria quando é a sombra de um Lula, ainda mais de um Lula que era presidente da República no "mensalão".

Os que votaram pela expulsão, os que votaram pela refiliação e os que votaram nas duas, todos eles sabem que Delúbio era só uma peça da engrenagem. Foi conveniente para acionar os esquemas, para entregar a cabeça quando alguma cabeça precisava ser entregue e, agora, para que os petistas possam dormir em paz com sua consciência. "Justiça" foi feita em 2005, para o país ver. "Justiça" foi feita em 2011, para aliviar o peso no PT.

Lula traçou o ritual de Delúbio. Vetou a volta em 2010 para não atrapalhar Dilma e avaliou que não seria em 2012 porque a prioridade será tomar a cidadela tucana, São Paulo. Então, que fosse agora, um ano neutro, com Dilma navegando com tranquilidade e o sonho de 20 anos de PT no poder.

Olhando dessa forma, Delúbio torna-se não um agente decisivo do mensalão, mas um mártir em nome do "projeto maior", que era salvar Lula, o mandato e o PT.

No mundo real, prático, ele recupera a filiação, mas sem poder se candidatar em 2012. Além de réu no processo do mensalão, no Supremo, é ficha-suja por improbidade administrativa (recebia como professor da rede pública de Goiás para operar para o PT em São Paulo).

No fundo, sua volta ao PT simboliza o enterro do mensalão. Só falta Dirceu virar ministro. Você duvida? Eu não duvido de mais nada.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A face humana da sociologia

O pensador polonês Zygmunt Bauman reflete sobre a sociedade contemporânea e o desafio de encontrar respostas a problemas que ela mesma criou

Zygmunt Bauman
“Cada nova estrutura com a qual substituímos uma anterior, declarada obsoleta, prefiguramos um arranjo admitidamente temporário, "até nova ordem". Então, a modernidade muda suas formas como o lendário Proteu... O que tempos atrás era apelidado erroneamente de "pós-modernidade", e que prefiro chamar "modernidade líquida", traduz-se na crescente convicção de que a mudança é a nossa única permanência. E a incerteza, a nossa única certeza”, disse Bauman.

Laura Greenhalgh

O polonês Zygmunt Bauman, com a sabedoria extra que os 85 anos de vida lhe conferem, cultiva a virtude da dedicação, a despeito das distrações temporárias. E ao cultivar tal virtude, torna evidente seu apego ao campo de estudos que abraçou há muito tempo: é um sociólogo em tempo integral. Acredita que suas ferramentas de análise da realidade precisam estar sempre à mão, prontas para dar mais uma volta no parafuso das nossas inquietações existenciais. Dias atrás, ao receber um punhado de questões enviadas por email pelo caderno Sabático, este senhor de cabelos brancos e jeito de avô se pôs a escrever obstinadamente de sua casa na Inglaterra, enfrentando uma madrugada (insone, como admitiria) no compromisso de não deixar pergunta sem resposta. Não queria ser superficial, ou "perfunctório", acrescentou em tom solene. O retorno ao questionário não poderia ter sido mais generoso: o célebre criador do conceito de "modernidade líquida" flui em reflexões provocantes, desestabilizadoras, feitas sob o signo do ecletismo e da universalidade, como sempre. Quem lhe conhece a obra, já sabe: pode-se concordar ou não com suas análises sociológicas, mas permanecer indiferente a elas é difícil.

São mais de 20 títulos publicados no Brasil deste professor emérito das universidades de Varsóvia e Leeds, num total em torno de 250 mil livros vendidos. Recentemente chegaram às livrarias Bauman sobre Bauman, longo diálogo com o sociólogo inglês Keith Tester, e Vidas em Fragmentos, conjunto de oito ensaios em torno da sociedade de consumidores; e em junho será lançado 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno, material epistolar assinado por Bauman e publicado na imprensa italiana (todos pela Zahar). Aos admiradores do pensador polonês, vale o lembrete: ele é um dos convidados internacionais da série Fronteiras do Pensamento, tendo duas conferências programadas para Porto Alegre e São Paulo (11 e 12 de julho, respectivamente, mais informações no site www.fronteirasdopensamento.com.br).

A seguir, a versão editada da longa noite de insônia. Ao responder às questões que lhe foram apresentadas, Bauman não toca na influência que Janina, sua mulher, exerceu sobre suas ideias e visão do mundo. Janina Bauman é autora de Inverno na Manhã, o relato impressionante de uma menina judia em Varsóvia, durante a ocupação nazista. Também não chega a citar Gramsci, o pensador que o livrou da ortodoxia marxista, levando-o a ver que a experiência humana é ilimitada e "cultura é a faca que pressiona o futuro". Em compensação, Bauman nomeia um time de pensadores contemporâneos que o ajudam a demonstrar por que, na modernidade líquida, estamos condenados a mudar obstinadamente, carregando e reprocessando incertezas. Notem que o tempo todo ele chama atenção para as novas formas da desigualdade no planeta e faz um alerta: na sociedade global, a justiça será obra de acordos, não de consensos.

FONTE: SABÁTICO/ O ESTADO DE S. PAULO

Leiam a entrevista completa nesse link.:

A inflação no topo da meta:: José Roberto Mendonça de Barros

Em algum momento do início de maio a inflação vai ultrapassar o topo da meta, estabelecido em 6,5%. Mais do que isso, para a maior parte dos analistas e para nós, da MB, a alta dos preços vai seguir se acelerando até ultrapassar os 7% na metade do ano. Na verdade, a ultrapassagem do teto de 6,5% surpreendeu a todos, pois ocorreu antes do esperado, que era julho ou agosto.

Antes de prosseguir, gostaria de chamar a atenção para um ponto. Percebemos em várias manifestações uma tentativa de desqualificar a pesquisa Focus, que o Banco Central realiza semanalmente há muitos anos. Nela, mais de uma centena de bancos, analistas e empresas registram suas projeções e expectativas para a inflação e outras variáveis, com acertos e erros médios semelhantes às estimativas do Banco Central, como vários exercícios realizados por diferentes analistas mostraram.

No período recente, a pesquisa certamente estava correta, pois a inflação de fato vem se elevando de forma importante. Neste espaço, eu mesmo venho alertando desde agosto do ano passado (quando a inflação em 12 meses estava em 4,5%) que a inflação iria subir significativamente.

A pesquisa pode ser, sem dúvida, aprimorada, mas o que chama a atenção é a frequente sugestão que as projeções de inflação seriam sempre viesadas para cima, de sorte a influenciar na elevação da taxa de juros, beneficiando o sistema financeiro em detrimento do chamado lado real. Temos aqui uma má aplicação da teoria da conspiração, pois o que faz com que os bancos ganhem dinheiro, mesmo, é uma forte expansão da carteira de empréstimos, com baixa inadimplência, o que só ocorre quando a taxa de juros está caindo, e não se elevando. Basta olhar os dados recentes da relação crédito/PIB.

Voltando ao debate atual, este pode ser entendido a partir dos seguintes elementos:

1. Diagnóstico da inflação atual: desde julho passado, as autoridades insistem em declarar que a inflação brasileira é fruto apenas de uma elevação nos preços internacionais das commodities e apontam a estabilidade da utilização de capacidade produtiva como uma indicação da ausência de pressão da demanda, derivada do aquecimento da economia. Ora, sabe-se que a forte elevação das importações tem substituído em parte a produção nacional; confunde-se aí uma alteração na composição da oferta (via elevação das compras no exterior) com ausência de pressão da demanda. Esta pode ser facilmente vista no mercado de trabalho e em suas consequências, especialmente na forte inflação de serviços, que caminha para ultrapassar os 9% em bases anuais. A pressão dos serviços e a indexação, ainda existente na economia brasileira, junto com os preços de alimentos, petróleo e matérias-primas, explicam o esticão atual da inflação. Neste sentido, perde muita força o argumento, frequentemente utilizado, de que não teremos pressão na oferta, pois o BNDES vem financiando a expansão da capacidade. Ora, o banco faz muitas coisas, mas certamente não eleva a oferta de mão de obra nos volumes exigidos hoje pelo País. O problema, como se sabe, decorre das enormes limitações de nosso sistema educacional.

O diagnóstico das autoridades ainda deixa de observar a evidente modificação nas políticas de formação de preços na economia. Quando a inflação estava mais próxima da meta, o normal para as empresas era utilizar a política de preços como instrumento de competição e de reposicionamento de produtos. De um tempo para cá, o maior objetivo de muitos setores é repassar custos que têm subido muito aceleradamente. Disse-me um executivo de uma grande empresa que tomou um susto ao preparar a primeira versão de seu orçamento, pois todos os principais itens (salários, matérias-primas, logística, energia, etc) haviam subido mais de 8% durante os últimos 12 meses.

Os níveis relativamente elevados dos índices de difusão da inflação (que medem a cada mês quantas categorias de produtos têm se elevado em relação ao total) refletem, a meu juízo, uma piora na questão inflacionária. Tentei apontar neste espaço a impropriedade do diagnóstico das autoridades já em outubro do ano passado, quando concluí minha coluna dizendo que "o Banco Central ainda vai se arrepender amargamente por declarar vitória prematura no quesito inflação" e também em meu artigo no início de fevereiro.

2. Estrutura da política econômica: como se sabe, ela é constituída de três partes - uma proposta de corte de gastos de R$ 50 bilhões, a utilização de medidas macroprudenciais e uma elevação gradual da taxa de juros básica. Com esta estrutura, espera-se uma convergência para a meta de 4,5% em dezembro de 2012.

Existem, entretanto, várias dúvidas quanto à eficácia de tal arranjo. Em primeiro lugar, há poucas evidências de que o ajuste de despesas esteja mesmo sendo feito, como atestam as discussões com o Congresso quanto ao efetivo corte nos chamados restos a pagar. A despesa é mesmo rígida e o inchaço da máquina torna muito difícil qualquer economia significativa no custeio; como não se deseja reduzir o investimento, a meta fiscal fica mais uma vez, e sem surpresa, dependente da elevação de tributos, onde o IOF vai tendo papel crescente.

Em segundo lugar, existem sérias dúvidas quanto à eficiência das medidas macroprudenciais. Este conjunto de medidas, bem ao gosto do Brasil, nada mais é do que um novo nome para uma velha prática, o controle do crédito. Já vi em minha vida profissional várias rodadas destes controles: estes são em geral ultrapassados por novos tipos de operações ou pela reedição de práticas antigas. Por exemplo, cheques pré-datados e leasing não pagam o novo IOF.

O resultado, em geral, é o seguinte: os efeitos dos controles de crédito não só demoram muito a aparecer como também criam distorções. Para funcionar mesmo, só com doses maciças, o que termina com o que não se deseja, que é a redução drástica do crescimento.

3. Consistência de objetivos e expectativas: finalmente, o que fica claro das declarações das autoridades governamentais é que a política econômica atual tem muitos objetivos, sendo muitos deles conflitantes. O governo quer ao mesmo tempo: (I) trazer a inflação para a meta, mas manter o crescimento em 5%; (II) quer reduzir o aumento do consumo, mas manter os gastos com investimento, que, a despeito de seus efeitos positivos sobre a inflação no médio prazo, no curto prazo, implicam em aumento da demanda; (III) quer fazer ajuste fiscal, mas com cortes pequenos nas despesas de custeio e sem aumento nos impostos; (IV) quer controlar o crédito, mas de forma extremamente seletiva; (V) quer ainda evitar uma maior apreciação da taxa de câmbio. Enfim, uma tarefa impossível, cujo efeito na verdade é uma piora no ambiente econômico. Já vimos no passado, no período de alta inflação, que quanto maior a incerteza sobre o desempenho futuro da economia, menor é a eficiência da política monetária, pela maior utilização de mecanismos formais e informais de indexação.

Assim, controlar a inflação exigirá mais esforço e, antes de tudo, a aceitação, por parte das autoridades, de que não será possível controlá-la apenas com medidas pontuais ou de pequena envergadura, que não limitem de fato a expansão da demanda. Neste aspecto, uma política fiscal mais severa seria fundamental.

Economista

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Cansado de ser líder:: Rubens Ricupero

O iminente fracasso da Rodada Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio), depois de dez anos de laboriosas negociações, é sintomático de tendência inquietante. Não existe mais uma potência hegemônica capaz de fazer as coisas acontecerem.

Durante mais de 60 anos, esse papel coube aos EUA, responsáveis pela ordem política e econômica construída sobre as ruínas da Segunda Guerra Mundial.

Essa ordem de inspiração liberal refletia a visão e os interesses americanos, mas gozava da crescente aceitação consensual da maioria dos outros países. Assentava-se nas grandes organizações internacionais criadas para administrar a ordem: as Nações Unidas, o FMI, o Banco Mundial, a OMC e seu antecessor, o Gatt.

Nasceram da evolução da consciência humana nas sociedades americana e europeia as principais ideias-força que ganharam forma nos tratados e programas promovidos por tais entidades: os direitos humanos, a democracia, o ambiente, a igualdade entre mulheres e homens, o desenvolvimento econômico, o Estado de bem-estar social, a economia de mercado, a liberalização econômica e comercial.

De algum tempo para cá, notavam-se certo esgotamento e perda de fôlego no avanço desses temas. A persistente crise do Conselho de Direitos Humanos da ONU, a falta de consenso para a reforma do Conselho de Segurança, a constante frustração em atingir as metas para o combate ao aquecimento global são alguns desses indícios da paralisia do impulso criador nas questões mundiais.

Até agora, porém, nunca se havia assistido ao que ameaça ocorrer na OMC: uma década de esforços jogados fora. Preocupados com o desgaste cumulativo de adiamentos em série, alguns propõem que se fixe data definitiva e inadiável para concluir a rodada com êxito ou para declará-la um fracasso.

Há muitas razões para o impasse nas negociações, mas a primeira delas é que lhes falta o fator decisivo em todas as oito rodadas anteriores: a liderança insistente e flexível dos americanos.

Desta vez, enfraquecidos pela interminável crise econômica e pelas dificuldades de se libertar de guerras impopulares no Iraque e no Afeganistão, desmoralizados pela estridência selvagem das divisões domésticas, os EUA revelam apetite cada vez menor para a liderança. Suas propostas irrealistas para a conclusão de Doha parecem mais manobras para transferir a outros a culpa pelo fiasco do que intentos sérios de edificar consenso.

O problema é que ninguém se dispõe a ocupar o vazio criado pela retração de Washington, a começar pela China que, fora dos negócios de seu direto interesse, demonstra inapetência ainda maior que a americana pelos assuntos globais.

Não era diferente a atitude do Japão na época em que parecia destinado a rivalizar com os EUA. O que impõe pergunta perturbadora, ainda que a deriva do eixo do mundo em direção à Ásia demore décadas: como seria uma ordem internacional pós-ocidental?

A não ser quando é imposta pela força, a hegemonia tem de ser cultural e moral, cimentada por ideais e valores partilhados por culturas e países diversos. Sabemos quais são os valores e ideais universais do Ocidente. Quem é capaz de dizer quais seriam os da China?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Centrais disputam espaço e verbas no governo

Repasses de R$246,5 milhões do imposto sindical distribuídos nos últimos três anos estão em jogo

Leila Suwwan

SÃO PAULO. As festas de 1º de maio das centrais sindicais viraram palco para o início de uma guerra velada por poder e dinheiro entre sindicalistas. Depois de um curto namoro durante as eleições do ano passado - selado pela "pauta unificada" de reivindicações como a jornada de 40 horas e o fim do fator previdenciário -, as seis organizações já disputam publicamente uma queda de braço para ganhar espaço no governo Dilma Rousseff e manter suas estruturas de base e de financiamento.

Em jogo, estão os R$246,5 milhões do imposto sindical que foram distribuídos para CUT, Força, UGT Nova Central, CTB e CGTB nos últimos três anos.

CUT e Força divergem sobre fim do imposto sindical

De um lado, a CUT encampa o fim da contribuição obrigatória e da unicidade sindical. Do outro, Força, UGT, CTB, Nova Central e CGTB denunciam o que chamam de hipocrisia e arrogância da empreitada.

A CUT já celebra a indicação de seu vice-presidente, José Lopes Feijóo, para um cargo na Secretaria-Geral da Presidência. Na missão de interlocução entre Planalto e movimento sindical, esvaziaria o espaço do ministro Carlos Lupi (PDT) e, consequentemente, da Força Sindical. Na ausência da intermediação direta de Lula, Feijóo será uma voz cutista próxima à presidente. Ele aguarda apenas a confirmação no Diário Oficial da União.

- O imposto sindical é nocivo, responsável pela imensa pulverização de sindicatos. É ele que garante financiamento para sindicato que não funciona, porque tem recursos independentes e garantidos. Hoje é mais fácil fundar sindicato do que abrir uma microempresa - disse Feijóo.

A CUT também aposta na sua organização e primazia para desidratar as demais centrais. Ao encampar o fim da unicidade sindical como uma das bandeiras de seu 1ºde maio, por meio da ratificação da convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho, poderá ocupar espaços que hoje já são cativos, por lei, de sindicatos filiados a outras centrais.

Hoje, a legislação permite apenas um sindicato por categoria e cidade.

- O fim da unicidade na base é uma ideia ultrapassada, que vem da pós-guerra na Europa, quando havia uma situação sindical de muita divergência ideológica. Não é o caso no Brasil. Pode virar uma grande confusão, e prejudicar o trabalhador - disse João Carlos Gonçalves, o Juruna, da Força Sindical.

O secretário de Organização da CUT, Jacy Afonso, escreveu, em informe aos filiados, que a entidade é a "melhor" central e deve retomar a meta de ser a "única" representante dos trabalhadores no Brasil. Hoje, segundo dados do governo, tem 38% da representatividade do setor.

Colaborou: Geralda Doca

FONTE: O GLOBO

Entidades não prestam contas de imposto

Estatais também ajudam a patrocinar festas de centrais

SÃO PAULO. De acordo com dados do Ministério do Trabalho, as seis centrais arrecadaram R$102 milhões de imposto sindical no ano passado. A cifra cresceu em média 27% ao ano desde 2008, quando as entidades repartiram R$63,4 milhões. Para líderes da Força, a CUT teme o vertiginoso crescimento da rival, que dobrou o número de sindicatos filiados em apenas um ano e abocanhou uma fatia do imposto de quase R$29 milhões neste ano - a CUT ficou com R$32 milhões. Em 2008, a diferença das cotas era de R$5 milhões. Não há prestação de contas pública sobre esses recursos.

As festas de 1º de maio são feitas com patrocínio. Ambas as festas, da CUT e das outras centrais "unificadas", são em parte custeadas por Petrobras, Eletrobrás, Caixa Econômica e Banco do Brasil, além de empresas privadas. A Petrobras bancou R$300 mil para cada lado.

A CUT defende que o financiamento ocorra exclusivamente por meio da contribuição "negocial", aquela descontada da folha após a negociação coletiva da categoria. Essa fonte, segundo as demais centrais, é considerada precária, já que é alvo constante de resistências patronais e questionamentos do Ministério Público. A contribuição obrigatória equivale a um dia de trabalho, ou cerca de 3% do salário do mês. Já a assistencial é de 10% a 12% do salário.

- A única divisão entre as centrais é essa questão do fim do imposto sindical. Achamos que é um erro da CUT, que encampa uma batalha da elite para acabar com a estrutural sindical. Terão que rever esse erro por pressão da própria base deles - disse o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força.

"Se a CUT é contra, deveria devolver", diz sindicalista

A impressão é compartilhada pelas demais centrais, que avaliam que os sindicatos filiados à CUT não concordarão com a ideia.

- Sabemos que a maioria dos sindicalistas da CUT são a favor do imposto sindical. Acho que essa ideia não terá muito fôlego - disse Wagner Gomes, presidente da CTB.

De acordo com Sebastião Soares, da Nova Central, quarta maior entidade, a CUT busca avançar no terreno deles:

- Se a CUT é contra, deveria devolver. A CUT procura ter espaço, quer crescer em cima das outras centrais.

Em seu "jornal" do 1º de maio, o presidente da CUT, Artur Henrique, provoca as demais centrais: "O que defendemos é uma forma de sustentação que passe pelo crivo dos trabalhadores. Certamente, os sindicatos representativos, que têm atuação e defendem sua base, não têm o que temer".

Segundo Juruna, da Força, não haveria problema em abrir mão do imposto, desde que a contribuição assistencial (da negociação coletiva) venha a ser protegida em legislação.

FONTE: O GLOBO

Companhias aéreas querem ampliar jornada da tripulação

As companhias aéreas querem aumentar a carga horária das tripulações – pilotos e comissários – por considera-la uma das mais baixas do mundo e pouco produtiva nos vôos domésticos. A ideia é tratada entre os diretores das empresas como “flexibilização”. Estudos das companhias avaliam que o limite das atuais 85 horas/mês deveria subir para cerca de 100 horas/mês, relata a repórter Tânia Monteiro. A carga horária das tripulações brasileiras é regulamentada por lei de 1984, segundo a qual, nas rotas domésticas, o limite é permitido para “uma jornada (diária) é de 9 horas e 30 minutos de vôo e cinco pousos”. As empresas temem a reação do Sindicato dos aeronautas.

Aéreas planejam ampliar a jornada de trabalho de pilotos e comissários

Empresas argumentam que carga horária de 85 horas/mês causa perda de eficiência e propõem aumentar período para 100 horas/mês

Tânia Monteiro

As companhias aéreas querem aumentar a carga horária das tripulações - pilotos e comissários - por considerá-la uma das mais baixas do mundo e pouco produtiva para o negócio da aviação civil nos voos domésticos.

Estudos das empresas, dentro e fora do País, avaliam que o limite das atuais 85 horas/mês deveria subir para algo em torno de 100 horas/mês.

A carga horária das tripulações brasileiras é regulamentada por uma lei que tem quase 30 anos (7.183/1984). Diz a legislação que, nas rotas domésticas, "os limites de tempo de voo não poderão exceder 85 horas por mês, 230 horas por trimestre e 850 horas ao ano". A lei estabelece que "o limite de voo e pousos permitidos para uma jornada (diária) é de 9 horas e 30 minutos de voo e cinco pousos."

Nos últimos meses os passageiros da Gol e da Webjet sofreram com atrasos e cancelamentos em série porque as tripulações se recusavam a trabalhar além da jornada legal. A Gol alegou falha no software responsável pelas escalas. A Webjet disse ter enfrentado uma debandada de pessoal para concorrentes.

Formalmente, o Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) não comenta o aumento da carga horária, que é tratado entre os diretores das companhias aéreas como "flexibilização". Mas o Snea tem estudos sobre o assunto. A reportagem do Estado teve acesso a um deles, que compara as cargas horárias do Brasil com outros países.

As empresas, com exceção da Azul, temem as reações corporativas do Sindicato dos Aeronautas. Avaliam que o momento trabalhista não é propício, depois dos últimos acidentes aéreos. O Snea informou que "ainda não está discutindo o assunto".

Produtividade. O diretor de Recursos Humanos, Johannes Castellano, e o vice-presidente de tecnologia, Miguel Dau, ambos da Azul, lembraram que embora a legislação fale em um limite 85 horas/mês, a média mensal é, na prática, de 76 horas/mês - a tripulação não voa o trajeto seguinte para evitar o estouro da carga horária. "Isso torna a produtividade das empresas brasileiras muito baixa", disse Castellano.

O ideal, para os executivos da Azul, brigadeiros da ativa e da reserva e consultores ouvidos pela reportagem, é que a carga horária, além de subir para algo em torno de 100 horas/mês, acabe com o limite de cinco pousos diários e aumente o número de horas diárias de 9,5 para 11 ou até 12 horas, como é nos EUA.

Castellano diz que esse novo padrão aumenta a produtividade das empresas e dos pilotos, beneficiando os passageiros. Ajudaria também a reduzir os problemas de tráfego aéreo. "Hoje, um piloto que faz a rota Campinas-Rio, só pode fazer cinco pernas de voo para não estourar a hora regulamentada. Com isso, é obrigado a dormir no Rio, que não é a sua base. Se ele puder fazer a sexta perna, com pouco mais de uma hora de trabalho ele poderá dormir em casa.".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Jornada maior vai causar greve, diz sindicato

Para aéreas, resistência dos trabalhadores estimula a contratação de estrangeiros

Tânia Monteiro

O presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Gelson Fochesato, "repudia" a ideia de aumentar ou flexibilizar a carga horária das tripulações, como sugerem estudos das companhias aéreas. Ele diz que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) não pode "ser conivente" com os interesses das empresas aéreas.

"Estamos trabalhando no limite, voando três, quatro, cinco dias seguidos na madrugada. Isso não acontece nos Estados Unidos, onde os aeronautas têm de 10 a 12 dias de folga por mês, contra os oito dias no Brasil, os salários são mais decentes, e o aeronautas têm uma vida social mais saudável, bem diferente daqui", disse Fochesato ao Estado.

Nos últimos meses os passageiros enfrentaram uma reprise dos piores dias do caos aéreo, quando as empresas Gol e Webjet chegaram a cancelar voos porque a tripulação passou a seguir rigorosamente a legislação que fixa jornada máxima de 85 horas por mês. A Anac chegou a intervir e suspendeu a venda de bilhetes da Webjet.

Greve. "Qualquer mudança na lei é um crime inaceitável por causa do estresse que estamos vivendo, com privação de sono e extrapolando nossa capacidade física", protesta o sindicalista Gelson Fochesato. Ele adverte ainda que a mudança poderá provocar uma greve nacional.

Enquanto as empresas brasileiras querem jornada maior, nos Estados Unidos, a Administração Federal de Aviação estuda reduzir as atuais 190 horas mensais nos voos domésticos para 100 horas/mês. Na prática, as empresas já não operam com a carga horária legal, de 190 horas por mês.

O vice-presidente da Azul, Miguel Dau, afirma que o problema tem de ser resolvido com "bom senso". Segundo ele, as ameaças do sindicalista podem ressuscitar a discussão sobre a contratação de pilotos estrangeiros para voar no Brasil. O tema está em discussão na tramitação do Código Brasileiro de Aviação (CBA), no Congresso. O CBA voltou à pauta legislativa com a MP 527, que cria a Secretaria de Aviação Civil (SAC), onde foi acrescentada uma emenda que autoriza a ampliação de 20% para 49% o capital estrangeiro nas companhias aéreas. Uma emenda autoriza a contratação de pilotos e comissários estrangeiros.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Sindicatos pressionam por norma para dificultar demissões

Centrais sindicais pedem aprovação de convenção da OIT, mas indústria diz que isso criaria um grande ônus trabalhista

Marcelo Rehder

A taxa de rotatividade no mercado de trabalho formal brasileiro aumentou para 39,96% no ano passado, ante 36,9% em 2009. Foi um sinal para as centrais sindicais reforçarem a pressão sobre o Congresso Nacional para que a Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) seja aprovada.

Os sindicalistas alegam que a rotatividade no País é alta porque as empresas têm liberdade para demitir e contratar quando bem entenderem. A Convenção 158 dificulta as demissões sem justa causa.

O presidente da Comissão de Trabalho da Câmara, deputado Silvio Costa (PDT-PE), ainda não nomeou o relator, mas diz ter pressa para colocar o projeto em votação. "Nomeado o relator, com cinco sessões, o que demora no máximo 15 dias, eu coloco o projeto em votação", afirma Costa. Ele argumenta que a escolha está difícil porque todos os 25 parlamentares titulares da comissão, e os 25 suplentes, querem a relatoria.

"É uma coisa escandalosa", afirma o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), referindo-se à rotatividade. Só no ano passado, segundo ele, houve mais de 15 milhões de demissões. "As empresas reclamam muito do custo da demissão, mas eu acho que elas se acostumaram, para mandar tanta gente embora assim."

O diretor sindical da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Della Manna, diz que as empresas vão lutar até o fim. "O País não suportaria um negócio desses, pois criaria um ônus trabalhista enorme", diz. Para ele, a eventual aprovação da Resolução 158 garantiria estabilidade no emprego. "Se a empresa não pode demitir, então é estabilidade."

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, retruca: "Não é garantia de emprego. Na verdade, ela estabelece regras para que as empresas tenham de justificar a demissão de trabalhadores para o sindicato, com antecedência".

Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que o preço da rotatividade está mais caro. No ano passado, o salário médio dos novos contratados foi de R$ 829, valor 7,5% inferior ao salário dos demitidos no mesmo período. Em 2009, a diferença era bem maior, de 11,3%.

À margem da disputa das empresas por profissionais qualificados, a faxineira Cleide Marcone Marcelino, 42 anos, está desempregada desde o início do ano. Viúva, com um casal de filhos, Cleide não se encaixa nos padrões exigidos pelas empresas, porque não concluiu o ensino médio.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Tabuleiro eleitoral é montado para 2012

Criação do PSD, ida de Chalita para o PMDB e troca de comando do PT aceleram negociações às prefeituras. Lula avisa Dilma que o melhor é isolar o Planalto

Denise Rothenburg

A criação do PSD antecipou para o primeiro semestre deste ano todas as articulações dos partidos em busca de candidatos para as eleições municipais de 2012. A começar por São Paulo, onde o novo partido balançou mais a política, a ponto de levar todas as legendas a organizar o seu jogo na tentativa de conquistar o direito de administrar o terceiro maior orçamento do país. O primeiro movimento mais forte veio do PMDB, que, no próximo dia 28, colocará Gabriel Chalita no grid de largada como pré-candidato do partido à prefeitura da capital paulista. Com o tempo de TV do partido, o neopeemedebista acredita que pode surpreender na eleição.

Chalita será o primeiro candidato colocado oficialmente à sucessão de Kassab, que não pode concorrer a mais um mandato. O deputado, que deixa o PSB, assistirá de camarote a guerra instalada entre os tucanos e petistas pela escolha de candidatos. Entre os tucanos, o governador Geraldo Alckmin lançou o nome de José Serra para concorrer. Mas, a alguns amigos, o ex-candidato a presidente da República tem dito que é cedo para tratar disso, e dá sinais de que não deseja entrar na disputa. Entre os aliados de Serra há quem suspeite que a sugestão de Alckmin é uma manobra para deixar o ex-governador fora da disputa do governo do estado e da Presidência em 2014. Para se contrapor a esse movimento, surgiu dentro do PSDB a ideia de lançar um nome novo, como o de Bruno Covas.

Enquanto os tucanos acertam o passo, o PT observa (leia mais detalhes nesta página). Embora o partido tenha até montado ontem uma comissão para cuidar das alianças para 2012, seus líderes consideram que é preciso ter candidato próprio em São Paulo, já que em cidades como Rio e Belo Horizonte a pressão dos aliados para que o partido feche o apoio aos atuais prefeitos é grande.

Em Belo Horizonte, o prefeito Márcio Lacerda, do PSB, é candidato a mais um mandato e há, no governo federal, a vontade que essa parceria seja mantida, embora o PT mineiro deseje lançar candidato próprio de forma a fortalecer uma base para concorrer ao governo estadual em 2014. Se o PT recusar a aliança, Lacerda pode se voltar ao PSDB e conquistar um segundo mandato sem o apoio dos petistas. O PMDB, por sua vez, já avisou que terá candidato próprio, o deputado Leonardo Quintão. Esses fatores somados podem resultar num isolamento do partido de Dilma Rousseff na sucessão estadual em 2014.

No Rio, a situação é mais confortável para o atual prefeito, Eduardo Paes, candidatíssimo a mais quatro anos no cargo. O PT planeja apoiá-lo e, em troca, tentar desde já um compromisso do PMDB em aceitar lançar um nome petista à sucessão de Sérgio Cabral em 2014. O problema é que fechar acordos com dois anos de antecedência em política é sempre arriscado e o PMDB do atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão, é considerado um nome forte para suceder Cabral e não há perspectiva de abrir mão disso para entrar num jogo incerto com o PT.

Enquanto os partidos preparam seus cenários, a ordem no governo federal é cuidar para que as disputas locais não terminem por minar a base de Dilma. Nesse ponto, ela contará com a ajuda do ex-presidente Lula. Quando os dois jantaram em Brasília na semana passada, Lula chegou a mencionar na conversa a necessidade de a presidente estar preparada para formar um cerco que deixe seu governo fora da guerra inevitável entre os partidos em algumas cidades.

Por enquanto, pelo cenário montado, apenas o Rio não deve ser alvo de uma disputa acirrada entre os aliados de Dilma. Não é à toa que Lula pediu ao PT que decida logo suas candidaturas e alianças. Afinal, onde o partido conseguir pacificar a base, melhor para o governo federal. O problema é que, a esta altura do campeonato, todos se acham credenciados para concorrer e ninguém quer abrir mão, vide o caso de Belém, onde todos os partidos ensaiam candidaturas próprias.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Entrevista - Sérgio Guerra: "PSD é a direita do governo"

Entrevista Sérgio Guerra

Para o presidente do PSDB, partido criado por Kassab é de ocasião e atende interesses dos petistas

Candidato a mais um mandato como presidente do PSDB, o deputado Sérgio Guerra (PE) ataca o PSD de Gilberto Kassab, a quem chama de “a direita do governo federal” e, pela primeira vez, declara em público que José Serra não precisa presidir o partido para ter espaço nobre na legenda. “Marina Silva foi candidata e continua relevante. Geraldo Alckmin, depois de ser candidato, foi estudar nos Estados Unidos. Serra continua como um de nossos principais líderes”, diz, empenhado em acabar com a disputa entre Serra e Aécio pela candidatura de 2014. “Deveríamos ter feito prévias lá atrás. Nada nos impede que façamos no futuro”, afirma, defendendo um PSDB mais aberto e moderno. “Quem defender isso com mais vigor terá mais apoio no futuro”, diz. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O PSD tirou deputados do DEM e começa a atingir o PSDB. É grave a crise, há muita gente saindo do partido?

Vamos aos fatos: o PSD é um partido que tem apoio oficial. A iniciativa é do prefeito Kassab e tem o apoio da máquina do governo Dilma Rousseff e da base de sustentação. Evidente que há constrangimentos em vários partidos e, por muitas razões, setores pleiteiam um deslocamento. E essas pessoas são em grande parte da base do governo e, em parte, dos partidos de oposição. Nessa oposição, de uma maneira especial no Democratas, origem do prefeito Kassab. É natural que ele tivesse ali maiores chances de mobilizar gente para seu projeto. Mas nem foi isso que se deu. Hoje, há mais filiados no partido de Kassab vindos de outras legendas da base do governo do que propriamente do DEM.

Mas o DEM sentiu o baque. Tanto é que estão falando em fusão com o PSDB. Essa fusão vai sair?

A criação do PSD implica prejuízo relevante para o DEM. Eles perderam mais de uma dezena de parlamentares, mas um partido da base, como o PP, perdeu seis. Essa ação tem levado alguns filiados ao DEM a sugerir um processo de fusão. No PSDB também, em muitas áreas, se defende a mesma fusão. Mas há ressalvas preliminares. Primeiro, o PSDB nem sequer elegeu a nova Executiva Nacional. Segundo, as eleições para prefeito estão desenhadas, os candidatos estão fixados em grande parte. Falar de fusão agora desestabiliza pleitos para as eleições de prefeitos daqui a um ano e meio. Terceiro, a fusão implica procedimentos que exigem providências legais de alguma complexidade. Portanto, não se pode dar de uma hora para outra.

Então, antes das eleições municipais, não haverá fusão…

É improvável que a fusão venha a se consumar antes disso. Nesse instante, a estratégia é de fortalecer os partidos e não de criar um ambiente para a fusão.

Por quê?

Porque é o projeto que nos parece mais óbvio e é importante para a democracia brasileira a existência de um partido como o Democratas, que ocupa um espaço evidente no cenário político. É bom recuperar nesse sentido o discurso do presidente (do DEM), José Agripino Maia, na sua posse. O Democratas é parte da composição político-ideológica do Brasil. Não é um partido de ocasião. Nem um partido que resulta de procedimentos irregulares como, por exemplo, esse que deu origem ao PSD.

Há quem diga que a fusão não sai porque no DEM hoje há mais aliados de Aécio do que de Serra.

Todos os aliados de Aécio no DEM foram aliados de Serra há três meses. Portanto, isso não tem relevância nesse momento.

Por falar em Aécio e Serra, existe uma disputa de bastidores entre os dois por espaço no partido. Como administrar isso?

Pessoalmente, sou candidato a presidente do partido. A eleição deve ser daqui a 30 dias. Entre os que me apoiam há muita gente que apoiaria Aécio para presidente e muita gente que apoiaria Serra para as candidaturas que ele desejasse. É claro que essa visão de disputa é inoportuna e, além de inoportuna, desestruturante. Sempre defendi que essa pauta fosse deletada, destruída. Essa discussão sem conteúdo só faz acumular dificuldades e produzir um ambiente que não ajuda a promover as reformas que o partido deve promover. A nova executiva fatalmente terá que tratar disso. E é bom que trate, porque não vamos resolver a escolha de nosso candidato a presidente da República como resolvemos na última vez. Vamos resolver com antecedência e por processos mais abertos.

Então, o senhor acha que deveriam ter tido prévias lá atrás?

Se tivéssemos filiados, cadastros regulares, autorização legal, deveríamos ter feito prévias. Não há nada que nos impeça de construir isso agora e trabalhamos para que o partido seja o mais aberto possível. Se houver necessidade, que as prévias sejam feitas.

Embora o senhor diga ser contra essa pauta, ela insiste em permanecer e volta e meia a gente escuta de tucanos algo a respeito. Como estancar isso?

Nos últimos três ou quatro anos só atuei contra essa pauta. Ela será confrontada nas eleições de presidente do PSDB. Quem vota conosco não quer a pauta.

Essa semana houve um zum-zum-zum de que Serra poderia seguir para o PSD por não ter espaço no PSDB. Isso tem fundamento?

De jeito nenhum. O PSD é a direita que estava faltando ao governo federal. O apoio da direita que o governo não tinha, terá com o PSD. E Serra está longe da direita. Não tem nada com isso.

O que sobra para a oposição se a base do governo ocupa todo o espectro político: esquerda, centro, direita?

A base do governo , tão “ampla”, é limitada do ponto de vista prático. A solidariedade ao governo se deve não a um certo componente de coerência político-ideológica, mas a processos indevidos e não republicanos de cooptação. Essa base, formada desse jeito, foi responsável pela crise do governo Lula. Todas as crises do governo anterior tiveram origem, forma e desenvolvimento nessa base construída por meios em grande parte ilegais e isso não sustenta nada nem coisa alguma. O Brasil de fato, independentemente do número de parlamentares eleitos por um ou por outro partido, representa aquele componente de quase 50% dos brasileiros que votaram contra Dilma.

Serra, desde a eleição, se movimenta, ou seus aliados se movimentam, para que ele ocupe um espaço nobre no partido. Ele terá?

Ele sempre teve e sempre terá. É um de nossos três ou quatro principais líderes. E se estiver sentado na Executiva, será um deles. Se for se reunir com parlamentares, será um deles. Terá sempre o reconhecimento de seu enorme papel no partido.

Isso não quer dizer que deva ocupar a Presidência do partido?

Evidentemente que não. Não é o mesmo caso, mas a ministra Marina Silva foi candidata a presidente da República e continua relevante do ponto de vista da política. Geraldo Alckmin, quando deixou de ser candidato a presidente da República, foi estudar nos Estados Unidos.

O senhor está sugerindo que Serra faça o mesmo?

Não, o papel que Serra tem no partido é forte. É inquestionável que ninguém mais do que ele terá condições de liderar o processo de oposição. Isso não quer dizer que ele seja presidente do partido ou não. O Serra terá do PSDB o que ele quiser, o partido já o escolheu três vezes candidato à Presidência.

E terá a próxima?

O futuro a Deus pertence. Tudo tem que se desenvolver de forma natural e há vários desafios. O primeiro é dar rumo à oposição. Outro é colaborar para que o PSDB seja democrático, novo, que não esteja subordinado a decisões de cúpula.

A oposição tem condições de angariar mais quadros?

O que falta é resolver seu conflito interno, eleger uma executiva adequada, liderar um processo de reforma interna, de ajuste com a sociedade, como Fernando Henrique indica. Isso temos que fazer e vamos fazer.

Então, Fernando Henrique está certo quando diz que a oposição precisa se dedicar mais?

Fernando Henrique está sempre certo. A oposição tem que fazer seu papel: fiscalizar o governo e comparar o discurso da presidente com os fatos. Eles vão mostrar que há um abismo entre o que ela fala e o que ela faz.

Mas houve gente no PSDB que considerou o artigo de FHC um fato negativo para os tucanos.

Tem gente para tudo, inclusive para dizer besteira.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE