terça-feira, 3 de maio de 2011

Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso: ‘Um novo Brasil’

É inegável que há espaço para as oposições firmarem o pé neste novo Brasil. Ele está entre os setores populares e médios que escapam do clientelismo estatal, que têm independência para criticar o que há de velho nas bases políticas do governo e em muito de suas práticas, como a ingerência política na escolha dos campeões da globalização, o privilegiamento de setores econômicos amigos, a resistência à cooperação com o setor privado nos investimentos de infraestrutura, além da eventual tibieza no controle da inflação, que pode cortar as aspirações de consumo das classes emergentes. Para ocupar esse espaço, entretanto, é preciso que também as oposições invistam no espírito novo e sejam capazes de representar este novo Brasil, tão distante do pequeno e às vezes mesquinho dia a dia da política congressual.

HENRIQUE CARDOSO, Fernando. Um novo Brasil. O Globo, 1/5/2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

EUA jogam corpo de Bin Laden no mar para sepultar o mito

FOLHA DE S. PAULO

Morte de Bin Laden desencadeia medo de onda global de atentados

O ESTADO DE S. PAULO

Após a morte de Bin Laden, EUA mantém guerra ao terror

CORREIO BRAZILIENSE

O mundo pós-Bin Laden

ESTADO DE MINAS

A década que enfim acabou. E agora?

ZERO HORA (RS)

O mundo sem Bin Laden

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Homicídios em alta outra vez em Pernambuco

VALOR ECONÔMICO

Exportadoras já acumulam bilhões em créditos de ICMS

BRASIL ECONÔMICO

Morte de Bin Laden beneficia dólar e fortalece reeleição de Obama

'Inquérito do Riocentro é repleto de omissões'

Trinta anos após o Riocentro, Júlio Bierrenbach, ministro aposentado do Superior Tribunal Militar, diz que o governo do presidente Figueiredo deixou de apurar o atentado para proteger oficiais, entre eles o general Octávio Medeiros, então chefe do SNI. "Era omissão de todos os lados."

"Não apuraram porque não quiseram"

Ministro aposentado do STM afirma que atentado no Riocentro deixou de ser investigado para proteger altos oficiais

BRASÍLIA. Trinta anos depois do atentado do Riocentro, um dos casos mais emblemáticos da fase final da ditadura militar, o ministro aposentado do Superior Tribunal Militar (STM) Júlio de Sá Bierrenbach sustenta que a investigação foi abafada para inocentar altos oficiais vinculados ao crime. O ministro aponta o dedo para o general Octávio Medeiros, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), e até para o ex-presidente João Baptista Figueiredo, já falecido. "Figueiredo, na ocasião, declarou que (os militares envolvidos no atentado) não estavam subordinados a ele. Estavam subordinados ao ministro do Exército. Mas aí faço uma pergunta: o I Exército não estava subordinado ao presidente da República?" O atentado ocorreu em 30 de abril de 1981. Reportagens publicadas pelo GLOBO na semana passada mostram que a agenda do sargento Guilherme Pereira do Rosário - um dos autores do ataque, morto na explosão - revela a rede de terror envolvida no episódio, mas jamais foi usada nas investigações.

Jailton de Carvalho

O caso Riocentro completou 30 anos. O senhor acha que falta muita coisa ainda para ser esclarecida? O que faltou apurar?

JÚLIO BIERRENBACH: Deram um jeito no espaço e no tempo. Primeiro, ao insistir em que a bomba não estava no colo do sargento. Era um absurdo. Depois deram um jeitinho no tempo com a emenda constitucional de 1985. Deixaram de botar o parágrafo segundo da emenda, que limitava a coisa ao período da Anistia concedida pelo (presidente João) Figueiredo até 1979. Quando o Hélio Bicudo era presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, me convidou para ir a Brasília prestar declarações. Tinha 12 representantes lá, e tudo isso veio à baila. É desagradável. A decisão do meu tribunal no segundo inquérito foi completamente errada, um absurdo (o STM incluiu o atentado entre os casos protegidos pela Lei de Anistia).

Por que era absurdo?

BIERRENBACH: A segunda vez em que o caso foi julgado, baseado na emenda votada pelo Congresso em 1985. O período era o mesmo, até 1979. E o Riocentro foi depois de 79.

Ou seja, o caso Riocentro não foi alcançado por essa emenda?

BIERRENBACH: Não, absolutamente, a emenda não protegia (os responsáveis) pelo caso do Riocentro.

Então o senhor acha que deveria haver punição?

BIERRENBACH: Deviam julgar, deviam apurar. Ninguém apurou nada. Não apuraram porque não quiseram apurar. É pena você não ter em mãos o meu livro ("Riocentro: quais os responsáveis pela impunidade?"). Eu cito as declarações do Figueiredo).

Tudo indica que os dois militares estavam no Riocentro cumprindo ordens superiores. Por que essas pessoas não foram chamadas, não foram investigadas e não foram punidas?

BIERRENBACH: Que pessoas?

Tudo indica que o crime foi planejado por um grupo maior e não apenas por dois.

BIERRENBACH: Um morreu e outro nunca foi ouvido. Até comento no meu livro que o Ministério Público Militar ficaria desacreditado se o capitão que foi ferido não comparecesse à auditoria para prestar declaração. Ele nunca declarou nada. É cheia de falhas a coisa.

O então capitão Wilson Machado nunca foi chamado para depor?

BIERRENBACH: Ele nunca depôs. Evitaram de todo jeito que ele depusesse.

Quem estava acima desses dois militares, o capitão Wilson Machado e o sargento Rosário?

BIERRENBACH: Figueiredo, na ocasião, declarou que não estavam subordinados a ele. Estavam subordinados ao I Exército, ao ministro do Exército. Isso era o Figueiredo livrando o pessoal do SNI (Serviço Nacional de Informações). Mas aí faço uma pergunta: o I Exército não estava subordinado ao presidente da República? Eles não apuraram porque não quiseram, porque não convinha. E o negócio todo foi feito para liberar o chefe do SNI.

Estavam protegendo o chefe do SNI por quê?

BIERRENBACH: Porque o general (Octávio) Medeiros era um possível candidato a substituir Figueiredo. De modo que Figueiredo fez tudo dizendo que aquilo foi coisa de tenentinho, capitão. Tirado tudo de cima, como se eles não fossem subordinados ao presidente da República.

Então o senhor acha que houve envolvimento do presidente da República também?

BIERRENBACH: Omissões, omissões. Deviam ter tomado outras providências. Era omissão de todos os lados. Eu tive luta no Superior Tribunal Militar com alguns ministros. Queriam reunião secreta. Mas depois, Cabral Ribeiro prestou declarações em sessão aberta e deu (entrevista) à imprensa. Aí eu respondi em nota à imprensa.

E essa falha na investigação e no processo, o senhor acha que desacreditou a Justiça Militar?

BIERRENBACH: A Justiça Militar não, mas alguns ministros saíram desacreditados. Disso não há dúvida nenhuma. Por exemplo, ninguém viu como é que foi sorteado o relator. Eu digo abertamente no livro. Se eu tivesse mentindo, podiam vir para cima de mim. O relator foi escolhido, a imprensa esperou até o fim do expediente e ficou para o dia seguinte. No dia seguinte, os jornais já publicavam o nome do relator escolhido pelo presidente do tribunal.

Houve manipulação?

BIERRENBACH: Houve manipulação, não tenho dúvida nenhuma. Agora, a esta altura, estou eu criticando atos do meu tribunal. Como é que vou me defender? Sou aposentado, tenho 92 anos, vão dizer que estou gagá. O negócio é esse.

Quando o senhor era ministro do STM, foi pressionado por alguém do governo, do Exército?

BIERRENBACH: De jeito nenhum. Se viessem me pressionar eu botava a boca no mundo. Eu tinha bom contato com a imprensa. O meu voto, que foi longo, os principais jornais publicaram a íntegra.

FONTE: O GLOBO

Mídias complementares:: Merval Pereira

A notícia da morte de Osama bin Laden é um excelente exemplo de como as chamadas novas mídias e a mídia tradicional se complementam em vez de umas anularem as outras. Foi uma representante da mídia tradicional - assim entendidos os jornais, as revistas, as televisões e os rádios -, a rede de televisão CNN, quem primeiro informou o fato, que imediatamente foi colocado no noticiário da internet e retransmitido pelo Twitter mundo afora.

Como a notícia só foi divulgada tarde da noite, jornais impressos tiveram papel importante nesse episódio, pois provavelmente muitos cidadãos acordaram sem saber da notícia-bomba, divulgada depois que já haviam ido dormir.

As manifestações de júbilo patriótico em frente à Casa Branca, mesmo antes do anúncio oficial do presidente Barack Obama, foram possíveis por causa do Twitter, que retransmitia a notícia e atuava como instrumento de organização.

A reunião promovida pela Unesco para comemorar o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, que estou acompanhando em Washington, foi realizada ontem no Newseum, um museu dedicado ao jornalismo em suas diversas formas, mas que começou baseado nos jornais e ainda hoje tem neles sua principal marca, como foi possível constatar ontem.

O Newseum exibe todas as primeiras páginas dos principais jornais do mundo e dos EUA, e ontem tinha na calçada da entrada principal as primeiras páginas de jornais de cada estado americano. Nessa coleção podia-se ver refletido o sentimento uniforme de exaltação patriótica, como constatar que os jornais impressos, na repetição de suas manchetes ou forma gráfica, têm limitações que devem ser superadas pela qualidade da informação e pela profundidade das análises.

Na edição de ontem, o que raramente acontece nos últimos anos desde o surgimento das novas mídias e do noticiário 24 horas do rádio e da TV, os jornais foram, para grande parte dos cidadãos, o primeiro informante dessa notícia tão dramaticamente importante.

A maioria dos jornais americanos optou pela manchete informativa, o que se justifica pelo fato de ter sido divulgado tarde da noite: "Bin Laden está morto" (Bin Laden dead) ou no máximo "Bin Laden foi morto" (Bin Laden killed). Uma boa parte deu mais ênfase política à notícia, afirmando de diversas maneiras que "Estados Unidos matam Bin Laden".

O "Idaho Statesman" sofisticou um pouco mais e manchetou: "Comandos americanos matam Bin Laden". O Oklahoman tentou ser mais criativo: "EUA têm o corpo de Bin Laden". E o "New York Post" optou pelo popular: "Pegamos ele". E, em pequenas manchetes abaixo, reforçou a tentativa de refletir o que achava ser o espírito do povo: "Vingança afinal" e "EUA pegaram o bastardo". Um ou outro ainda usaram frase do presidente Obama na manchete: "Foi feita justiça".

Em um dos painéis do seminário, que discutia a importância das chamadas mídias sociais - Facebook, Twitter, Orkut - na divulgação de notícias, houve um consenso: as mídias sociais são meios de informação para os próprios jornalistas e instrumentos para os ativistas se organizarem.

O exemplo das revoluções ainda em curso nos países árabes foi repetido em todos os painéis, à exaustão. Andy Carven, do National Public Radio, que coordena o setor de mídias sociais e ficou famoso por sua atuação nas revoltas de Tunísia e Egito, disse considerar o seu trabalho semelhante ao dos âncoras dos noticiários de TV, pondo as notícias dentro de um contexto que facilita o entendimento e acompanhamento.

Lauren Indvik, editor do Mashable, um agregador de conteúdo de mídias sociais, lembrou que é cada vez menos inusual que uma notícia seja divulgada primeiro pelo Twitter, mas ressaltou que é preciso checar as informações antes de lançá-las na rede.

Um debate paralelo, mas muito relevante, foi o ocorrido em painéis que discutiram as novas formas de censura dos governos autoritários sobre a internet e os meios de relacionamento social. Houve consenso sobre a necessidade de auxiliar os lugares onde a internet não está desenvolvida, como na África, por exemplo.

Quem chamou a atenção para que é preciso dar atenção aos países que não têm acesso à internet foi Oscar Morales Guevara, criador no Facebook de uma página chamada "Um milhão de vozes contra a das Farc" na Colômbia.

No Vietnã, por exemplo, a internet ainda é transmitida por rádio, e Quan Niugyen, que tem um blog em defesa da democracia, diz que uma vantagem desse atraso tecnológico é que é mais difícil para o governo rastrear o usuário.

Ermini Milli e Adnan Hajizada, líderes jovens de movimentos a favor da democracia no Azerbaijão, ficaram 17 meses na prisão por defender seus ideais. Disseram que não há políticas de censura dos novos meios, mas quem é ativo na rede social é perseguido pelo governo.

Representantes de Índia, Haiti, Somália e Ilhas do Pacífico descreveram o baixo índice de acesso aos meios digitais em um painel dedicado ao tema. Shubhranshu Choudhary, um estudante bolsista de jornalismo da Índia pela Fundação John S.Knight, disse que apenas 7% dos cidadãos indianos têm acesso à internet, enquanto o telefone celular é acessível a cerca de 70% da população.

De manhã, Eric Newton, assessor da presidência da mesma fundação, havia remarcado que existem no mundo cinco bilhões de celulares para uma população de sete bilhões de pessoas, o que transforma esse aparelho na mais poderosa arma de comunicação existente hoje. A diferença de acesso na Índia fez nascer uma experiência bem-sucedida, relatada por Choudhary: as pessoas podem usar seu celular para chamar um número que liga diretamente a uma página da internet.

As informações podem ser passadas a voluntários, que as divulgarão. As comunidades rurais usam esse sistema para avisar às áreas urbanas suas necessidades, e receber ajuda. Celulares também permitiram aos cidadãos reagir em horas de crise, como aconteceu no Haiti depois do terremoto.

Michele Montas, que trabalha na missão da ONU naquele país, disse que mensagens de texto foram muito úteis para passar informações sobre a situação e receber auxílio on-line. Na Somália, o celular é parte integrante da vida do cidadão comum, disse Abdikadir Ahmed. Um ponto negativo nas Ilhas do Pacífico, que se beneficiaram muito com a internet, é a ilha de Tokelau, que se transformou num centro do crime cibernético internacional, apesar de só ter 1.400 pessoas habitantes.

FONTE: O GLOBO

E eu com isso? :: Eliane Cantanhêde

Reação do chanceler Antonio Patriota à morte de Bin Laden: "Acho que é um desenvolvimento que não deixa de ter uma dimensão interessante e positiva, no momento em que o mundo árabe se manifesta, do Marrocos ao Golfo, por mais liberdade de expressão, por mais democracia e melhores oportunidades".

Ótimo. E o que isso significa? Absolutamente nada, a não ser que Patriota, Dilma e o governo brasileiro inteiro não têm nada a dizer sobre uma ação militar dos EUA no Paquistão para matar Bin Laden.

Quando foi da Colômbia no Equador e o alvo era um terrorista das Farc, o Brasil fez, aconteceu, articulou uma condenação praticamente unânime da OEA contra o governo colombiano. Agora, não tem sequer o que declarar.

A diferença de reações pode ser pelas circunstâncias e pela questão geográfica: os EUA já estavam no país, e o Paquistão e a Al Qaeda ficam do outro lado do mundo, enquanto o Equador e as Farc ficam aqui nas nossas barbas. Ou pode ser questão de estilo: Colômbia-Equador foi na era Lula-Amorim, EUA-Bin Laden, na Dilma-Patriota.

Mesmo em "off" (quando autoridades não querem seus nomes publicados), as frases foram curiosas. Um condenou o terrorismo, outro lamentou as mortes nas torres gêmeas e nada mais disseram.

Quem foi um pouco além disse que o Brasil condena o terrorismo, se solidariza com as famílias do 11 de Setembro e compreende o grande alívio com o fim de Bin Laden, mas não concorda com o método. Tentar conter o terrorismo pela força tende a ter efeito bumerangue: uma sensação momentânea de segurança e um recrudescimento de dimensões imprevisíveis.

A questão é como a operação norte-americana vai ser assimilada no peculiar mundo árabe: como um ataque só a Bin Laden ou uma demonstração de força para o islã? Disso dependem e realização, a força e a dinâmica da contraofensiva.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Desordem unida:: Dora Kramer

A movimentação de políticos entre partidos sempre foi intensa e constante, mas nunca provocou tantos abalos como vem ocorrendo desde que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, resolveu sair do DEM.

Em tese não haveria motivo para tanta afobação e repercussão, pois o que se vê não é nada muito diferente do tradicionalíssimo e corriqueiro troca-troca de partidos, prática habitual entre políticos insatisfeitos com as respectivas legendas por quaisquer razões. Muito raramente doutrinárias.

Transposições de posições que se davam de maneira até imperceptível, pois dificilmente ultrapassavam as fronteiras das legendas em jogo, não obstante contribuíssem decisivamente para torná-las irrelevantes.

O que alterou a cena e fez o troca-troca passar de ato trivial para fato essencial foi a decisão tomada em 2007 pela Justiça Eleitoral e corroborada pelo Supremo Tribunal Federal, de que os mandatos pertenciam aos partidos e não aos políticos.

Estava de volta a fidelidade partidária que havia sido derrubada pelo mesmo TSE 23 anos antes, em 1984, quando aceitou que os dissidentes do PDS poderiam abandonar o candidato do partido ao colégio eleitoral de 1985 para formar a Frente Liberal (depois PFL) e votar em Tancredo Neves, candidato vitorioso do PMDB.

A nova composição dos tribunais houve por bem entender que quem mudasse de partido estaria sujeito à perda do respectivo mandato. A menos que houvesse uma justa causa: perseguição política grave, alteração programática importante, fusão ou criação de um novo partido.

A intenção da Justiça obviamente era a de contribuir para o fortalecimento dos fragilizados partidos brasileiros e pôr um fim à liberdade dos trânsfugas que se elegiam por um partido e trocavam de legenda ao sabor de interesses injustificados, discutíveis, quando não francamente escusos.

A decisão foi tomada com o objetivo de ordenar o desordenado, mas não resultou assim. Os partidos e os políticos, no lugar de se adequarem à regra, passaram a se ocupar da invenção de novas formas de burlar a fidelidade partidária por meio de estratagemas como o da criação de legendas com o único objetivo de acomodar a conjugação de interesses contrariados pela decisão judicial.

Fosse outra a mentalidade, simplesmente os insatisfeitos mudariam de partidos abrindo mão daquilo que não lhes era mais de direito (os mandatos), reconhecendo a legitimidade da lei, aderindo à ideia original de fortalecimento sem acrescentar mais artificialismo e desordem ao já suficientemente artificial e desordenado quadro partidário brasileiro.

Depois da queda. A morte do terrorista Osama Bin Laden trouxe pouquíssimas certezas e inúmeras dúvidas ao mundo. De certo mesmo só a importância do fato como desfecho do atentado de 11 de setembro de 2001.

As dúvidas vão desde as mais esquisitas até as mais consistentes. São pertinentes as questões a respeito do efeito concreto da execução de Bin Laden no combate do terrorismo no mundo, da possibilidade e intensidade de retaliações, da capacidade de articulação da Al-Qaeda e redes terroristas similares.

Impossível, contudo, levar a sério a hipótese de a operação de captura ser uma armação do governo americano com vistas a fortalecer o presidente Barack Obama e o "império do Norte". Surpreende que alguém pense que os Estados Unidos iriam colocar sua credibilidade em jogo assim e lembra um pouco as dúvidas sobre a veracidade do desembarque norte-americano na Lua há mais de 40 anos.

Olho por olho. Implicações políticas à parte, o carnaval de rua em comemoração pela morte do chefe terrorista Bin Laden pode até simbolizar um alívio na dor, mas não deixa de ser uma forma incivilizada de manifestação.

Desconfortável de se ver, entre outros motivos, pela desconexão entre o peso das consequências do terror e a alegria meramente vingativa dos festeiros.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Mais real que o casamento Real:: Cláudio Gonçalves Couto

Antes que a morte de Osama Bin Laden nos brindasse com mais uma notícia bombástica na política internacional, grande parte da cobertura da mídia mundial na última semana ficou voltada ao casamento do herdeiro do trono britânico, príncipe William, com a plebeia Catherine Middleton. Por um lado, boa parte dessa atenção não passa de uma amplificação do oba-oba habitual que alguns setores da imprensa devotam ao jet set; e nisto, a preocupação do público e dos jornalistas não é muito diferente daquela que eles normalmente dedicam às peripécias de figuras como Paris Hilton, Elton John ou Adriano. Por outro lado, é impossível não reconhecer a relevância da monarquia como uma instituição de Estado que tem operado de forma bastante eficaz para conferir estabilidade às democracias mais avançadas do planeta - tema analisado com maestria por Renato Janine Ribeiro no "Eu &" deste fim de semana.

A despeito de sua importância histórica e da popularidade que a monarquia ainda goza entre muitos súditos britânicos, é fato que os questionamentos e, sobretudo, a indiferença a uma instituição de funções meramente protocolares só fazem crescer. De tal modo que se a monarquia acabasse hoje, quase nada mudaria na forma como o Reino Unido é governado e como a efetiva representação dos cidadãos se dá. Mais reais do que a realeza (pois realmente afetam a vida dos cidadãos) são as regras de eleição dos membros do Parlamento, isto é, de sua Câmara dos Comuns (os plebeus), já que a Câmara dos Lordes tem hoje funções apenas residuais e quase tão protocolares quanto as da Rainha. E apesar dessa relevância efetiva muito maior da política parlamentar britânica do que de sua realeza, pouquíssima atenção tem sido dada pela imprensa mundo afora a um fato importantíssimo em curso: o plebiscito sobre o sistema eleitoral parlamentar que ocorrerá no dia 5.

Nessa data os cidadãos do Reino Unido decidirão se continuarão a eleger seu Parlamento com base no sistema distrital de maioria simples (the-first-past-the-post) ou se adotarão um sistema igual ao da Austrália, de voto alternativo. É uma decisão crucial, pois pode por abaixo o mais tradicional sistema de representação em vigência no mundo, que se tornou modelo para um grande número de democracias mundo afora - o assim chamado Modelo de Westminster. Essa discussão é de particular interesse para nós, já que no Brasil o cerne do debate sobre uma eventual reforma política centra-se na mudança do sistema eleitoral e uma das opções de mudança reiteradamente apresentadas é o chamado "voto distrital" que nada mais é do que o sistema hoje adotado no Reino Unido, ora questionado. O voto alternativo proposto no plebiscito sequer é considerado em nosso debate, embora também seja um tipo de "voto distrital" - razão pela qual ele (e não opções de sistema proporcional) foi proposto pelos partidos historicamente minoritários no Reino Unido. Ele manteria a lógica "distrital" do voto (um representante por circunscrição territorial), mas tornaria a disputa menos hostil às preferências dos grupos minoritários, pois permitiria que suas segundas preferências fossem consideradas no cômputo dos votos.

No atual sistema, ganha o mais votado, ainda que com menos de 50% dos votos e mesmo que uma maioria absoluta dispersa entre outras alternativas esteja contra essa escolha. É como se num grupo de dez amigos, sete preferissem tomar cerveja, mas divergissem quanto ao pub ao qual ir, dividindo-se entre quatro opções, enquanto três pessoas preferissem ir tomar café num certo lugar. Se votassem sobre aonde ir com base no atual sistema britânico, a maioria dos cervejeiros acabaria tomando café, mas teriam ido tomar cerveja se suas segundas escolhas fossem consideradas. Essa imagem bem-humorada foi usada pelos defensores do voto alternativo para demonstrar a iniquidade do sistema em vigor (ver o link www.opendemocracy. net/ourkingdom/anthony- barnett/vote-yes-for-change).

Pelo voto alternativo, gera-se um "segundo turno instantâneo", pois após indicar sua primeira preferência, o eleitor indica ordinalmente suas segunda, terceira alternativas e assim por diante. Ao iniciar-se a apuração dos votos contam-se inicialmente apenas as primeiras preferências de todos os eleitores e, se algum candidato obtiver mais que 50% dos votos, será eleito; caso contrário, eliminar-se-á o último colocado e as segundas preferências de seus eleitores serão contadas. Se ao computarem-se esses votos um candidato atingir os 50% mais um, então haverá um eleito; caso contrário, elimina-se sucessivamente os piores colocados, computando-se as segundas preferências de seus eleitores até obter-se uma maioria absoluta para alguém, que será eleito. Tal como no atual sistema britânico, um representante será gerado por distrito, mas evita-se a eleição de candidato rejeitado por uma maioria dividida, assim como se dá mais espaço a grupos hoje sistematicamente excluídos do Parlamento, apesar de preferidos por contingentes significativos do eleitorado.

Os opositores à mudança alegam que o sistema atual é mais simples, facilmente entendido pelo eleitor, faz parte das tradições britânicas copiadas mundo afora, assegura estabilidade ao sistema e garante a governabilidade, pois cria maiorias claras, evitando a necessidade de coalizões gerada por parlamentos divididos - como, excepcionalmente, é o caso hoje. Tal argumentação despreza o fato de que os eleitores abdicam de expressar-se sinceramente na eleição, tendo de sacrificar suas primeiras preferências em prol de um voto útil naquilo que para eles é um mal menor. Todavia, esta deverá ser a posição vencedora no plebiscito, pois as pesquisas de opinião têm mostrado um eleitorado muito reticente em arriscar-se numa mudança de instituições tão tradicionais, ainda mais para um sistema de maior complexidade que os desatentos, de fato, terão dificuldade de compreender. Sobretudo ao terem sua atenção capturada por outras coisas, como o casamento Real. Hora ruim para fazer um plebiscito sobre algo tão importante. Ou terá sido uma hora ruim para casar celebridades?

Cláudio Gonçalves Couto é cientista político, professor da FGV-SP

FONTE: VALOR ECONÔMICO

É preciso fazer política :: Marco Antonio Villa

Se o país mantém sua economia em um ritmo razoável, que permite aprovação raspando, com nota cinco; a política vai muito mal. É curioso o descolamento da política em relação à economia. Lembra um pouco, guardadas às devidas proporções, o período do milagre brasileiro, durante o regime militar. E se a ausência da política - devido a repressão - acabou mostrando que sem discussão não há nenhum crescimento sustentável da economia (basta recordar a crise do milagre), o mesmo caminha para acontecer na Presidência Dilma.

A economia dá sinais de que o ciclo iniciado em 2005 deu tudo o que tinha de dar. Caminhamos, caso nada mude, para dar um grande salto para trás. Como em um jogo de ludo, devemos voltar para a "casa" 1994, antes do Plano Real. Gastos públicos sem controle, falta de um projeto econômico e inflação, combinado com taxas espasmódicas de crescimento.

O mercado está descrente. Recebe cada declaração do ministro Guido Mantega com a mesma confiança quando a ministra Zélia Cardoso de Mello dizia, no governo Collor, que tudo na economia estava caminhando bem. E quanto mais o governo insiste que a inflação está sob controle - desmentindo a realidade - maior a desconfiança.

Apesar da falta de rumo na economia, dos sucessivos escândalos - mantendo a média da Presidência anterior, diga-se -, da incompetência administrativa, da inexistência de uma política estratégica e de tantas outras coisas, a presidente Dilma governa absolutamente tranquila. Entregou para os oligarcas, sempre sedentos para saquear o Erário, rendosos cargos; usa e abusa do BNDES, oferecendo, como uma rainha absolutista, fortunas ao grande capital parasitário; soldou uma aliança com as grandes construturas - importantíssimas para financiar os partidos da base governamental, especialmente o PT - danosa ao interesse público, e cooptou as centrais sindicais, que foram adquiridas por um valor baixo, comparado ao que custou o apoio do grande capital.

Se durante o auge econômico do regime militar a repressão impedia a existência da política, hoje o quadro é distinto. A primeira diferença é que o país caminha a passo de tartaruga, a segunda - e mais importante - é que vivemos em um regime de plenas liberdades democráticas. Agora é o abandono da política que não possibilita uma saída para a economia. O mais incrível é que o governo agrega apoio não pela sua competência política ou econômica, mas pela recusa consciente da oposição ser oposição. O mérito, portanto, não é produto da eficiência da presidente. O problema da oposição reside nela própria.

Fernando Henrique Cardoso escreveu um longo ensaio propondo a discussão pública dos rumos da oposição. Como, especialmente, o PSDB, seu partido, recebeu o desafio? Negando-se a discuti-lo. O autoproclamado líder da oposição parlamentar, Aécio Neves, disse: "Vejo o futuro da oposição numa ótica mais otimista." Pela declaração é possível concluir que o senador não leu o ensaio. Ou confundiu o tema com um livro de autoajuda. O mais triste é que ele se julga, desde já, o candidato oposicionista à Presidência em 2014. Como? O que pensa sobre o Brasil? Consegue debater seriamente os principais pontos do ensaio do ex-presidente? A resposta é óbvia: não. Ele é a mais fiel representação do primarismo da oposição brasileira: personalista, vazia de ideias e pouca disposta a combater o governo.

O desafio para qualquer oposição em um regime democrático é ter votos. A oposição brasileira, no segundo turno, teve 44% dos votos válidos. Isso após uma campanha errática e despolitizada. O problema, portanto, não é ter votos. A oposição tem - e muitos. A questão é outra: quer agir como na República Velha, garantir um canal privilegiado com o governo e só no momento eleitoral se apresentar para os eleitores. Essa estratégia pode até dar certo, mas na esfera estadual e onde não existe debate político. No campo federal está fadada ao fracasso.

Em meio a este vazio, os eleitores oposicionistas mais politizados ficam sem saber para onde ir. Não têm representação partidária. Seus representantes no Congresso Nacional estão silenciosos. Como explicar que o senador mais votado do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, até hoje não tenha feito um pronunciamento analítico sobre os rumos da oposição? E como justificar que José Serra, que recebeu 44 milhões de votos, continue em uma espécie de silêncio obsequioso? Se a oposição não tem líderes, como fazer oposição?

Em política não existe vazio. O PT sabe muito bem disso. E vai ocupando todos os espaços na máquina pública e desde já estabelecendo alianças eleitorais para 2012. Age profissionalmente, sem piedade ou sentimento. O que vale é ampliar o poder, custe o que custar. E custa muito, como sabemos. As empresas e os bancos estatais estão entregues aos partidos da base. O PT reservou para si o que é mais lucrativo, e que permita estabelecer a conexão com o grande capital, negócio muito bom para ambos os lados e péssimo para o Brasil.

Para o governo, quanto menos política, melhor. Quer banalizar o debate. Não precisa convencer politicamente ninguém. Para os parlamentares usa o método delubiano. Quem tem de fazer politica é a oposição. Não é possível assistir um governo destruindo o que foi edificado com tanto sacrifício. Não é plausível recusar a construir canais efetivos de participação da sociedade civil nos partidos (que sequer ocorre nos momentos pré-eleitorais). É inadmissível que 44 milhões de eleitores não tenham voz no Congresso Nacional.

Marco Antonio Villa é historiador.

FONTE: O GLOBO

Os desafios do crescimento sustentável:: Aécio Neves

Alcançamos um patamar em que "mais do mesmo" é insuficiente para sustentar um necessário ciclo de novos avanços para o nosso país

O Brasil conquistou, na primeira década deste novo século, avanços sociais e econômicos importantes.

A desigualdade de renda vem caindo em um ritmo intenso, graças ao crescimento do emprego e à expansão dos programas sociais instalados e adensados no curso de diferentes governos.

Não teríamos chegado até aqui sem acabar com a inflação, sem reestruturar as dívidas de Estados e municípios e sem estabelecer uma política consistente de geração de superavit primários.

Da mesma forma, não aproveitaríamos a crescente demanda internacional por produtos brasileiros (agrícolas, pecuários, da indústria extrativa e petrolífera, entre outros) se não tivéssemos feito as reformas dos anos 90, entre elas a privatização, que atraiu novos capitais e tecnologias, democratizou serviços e aumentou a competitividade da indústria e da agricultura nacionais.

Alcançamos, agora, um patamar em que "mais do mesmo" é insuficiente para sustentar um necessário ciclo de novos avanços.

Há importantes desafios a serem vencidos e uma nova agenda a ser enfrentada. O primeiro deles, de médio prazo, que perpassa todos os demais, é recorrente: precisamos melhorar a qualidade da educação básica no Brasil.

É inconcebível que o destino de uma criança seja ainda determinado pelo local do seu nascimento e pela condição de renda da sua família. O amplo acesso à educação de boa qualidade é o único caminho para a transformação social, para a maior distribuição de renda e de oportunidades.

Nosso segundo desafio é fazer a reforma tributária. A sociedade não aceita mais a abusiva carga de impostos sobre assalariados e a produção e, na esfera dos Estados, a perversa guerra fiscal, que coloca em lados opostos aqueles que deveriam ser parceiros do processo de desenvolvimento.

O Brasil precisa reduzir o número de impostos, desonerar as exportações e o investimento produtivo, reduzir contribuições que incidem na folha de salários, melhorar a progressividade da arrecadação e rediscutir a repartição de recursos entre as esferas de governo.

Nosso terceiro desafio imediato é a redução gradual do gasto público, para que o Estado possa aumentar o investimento e avançar na agenda de desoneração tributária já mencionada.

No modelo atual, os gastos públicos mais relevantes estão sendo financiados pelo crescimento da carga tributária ou por um endividamento crescente do Tesouro Nacional, emblematicamente simbolizado pelos repasses de mais de R$ 300 bilhões para o BNDES financiar obras públicas e privadas.

Nosso quarto desafio é a reforma do Estado. Não a incluo entre as nossas prioridades por mera preocupação fiscalista, mas para estabelecer mecanismos permanentes de avaliação da eficiência de políticas públicas, análise de custos e benefícios e melhoria da produtividade do setor público.

Sem esses instrumentos, os recursos já escassos tornam-se ainda mais insuficientes, gerando mais demanda por mais impostos ou saídas estranhas, como a chamada "contabilidade criativa".

Minas Gerais, assim como alguns outros Estados, nos mostra que a boa governança é o primeiro degrau para a superação do atraso social que vivemos, sem recorrer à sanha arrecadatória.

Acredito que esses são os primeiros itens da ampla agenda de trabalho a que precisamos responder para nos habilitarmos a uma trajetória de crescimento verdadeiramente sustentável. Fazer avançar essa agenda, com os olhos voltados para o futuro, nos exigirá escolhas difíceis e um profundo debate de propostas que o governo já deveria ter enviado ao Congresso Nacional.

Os sinais na economia são claros.

Até quando vamos esperar?

Aécio Neves, economista, é senador pelo PSDB-MG. Foi governador de Minas Gerais (2003-2010), deputado federal pelo PMDB-MG (1987-1991), pelo PSDB-MG (1991-2002) e presidente da Câmara dos Deputados (2001-2002).

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A fragmentação das cotas :: Sérgio C. Buarque

O Brasil está se tornando o país das cotas com diversos grupos de interesse disputando percentuais de participação nas universidades, nos empregos e até na política. Na tentativa de compensar as desigualdades sociais, as cotas dividem os espaços institucionais e políticos em pedaços para mulheres, idosos, deficientes físicos, afrodescendentes e homossexuais. Comemorada com enorme exagero, as chamadas políticas de "ação afirmativa" com seu sistema de cotas, não atacam a essência das desigualdades recorrendo a critérios que distorcem a base dos problemas sociais brasileiros, as desigualdades sociais não são de gênero, nem de idade, nem de cor e, menos ainda, de opção sexual.

Na verdade, as cotas podem, ao contrário, ampliar e criar novas fragmentações na sociedade brasileira, além da divisão em classes e níveis de renda, as cotas dividem os brasileiros - e as instituições em que se implantam - por grupos de gênero, de cor da pele, de idade e de opção sexual, quebrando a nação em reservas de direitos e mesmo privilégios. Cotas para universidades e para empregos públicos, cotas para programas na televisão e na publicidade, cotas para candidaturas e mesmo para mandatos parlamentares, reservam percentuais diversos das vagas por critérios que não têm nada a ver com as desigualdades sociais estruturais, além de serem de muito difícil avaliação e julgamento.

Dependendo da quantidade de grupos beneficiados e do tamanho das respectivas cotas, a maioria dos espaços será ocupada sem critério de competência e qualificação universal, o reconhecimento do mérito fica, portanto, restrito ao percentual que sobrar depois da divisão dos cargos cotizados entre os beneficiários do sistema.

Como princípio central, contemplando apenas exceções especiais, a distribuição de cargos e espaços nas instituições, nas empresas e nos órgãos públicos deve ser feita com base no critério universal do mérito e da qualidade técnica e profissional dos candidatos. Para enfrentar as desigualdades sociais (e não dos segmentos de cotistas) o Estado deve ter ação afirmativa para eliminar as suas causas, oferecendo educação pública de qualidade e oportunidades de qualificação. Se todos tiverem oportunidades educacionais, o mérito de cada um será resultado da combinação de talento e esforço pessoal independente de gênero, cor da pela ou orientação sexual.

Como o Brasil continua com enorme desigualdade de oportunidades - péssimas escolas públicas - que não estão sendo enfrentadas, os governos e os movimentos sociais inventam um arremedo de política que desvia a questão e cria novas desigualdades. Como ocorreu com os negros nos Estados Unidos, segundo pesquisa de Walter William, o sistema de cotas tende a ampliar as desigualdades internas nas categorias beneficiadas pelo sistema, os que tiveram mais oportunidades (leia-se escolas melhores negadas aos pobres brasileiros em geral) ocupam os espaços reservados e se distanciam da grande massa. Conclusão: fragmentação social e novas desigualdades.

Sérgio C. Buarque é economista e consultor

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

As masmorras da liberdade :: Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo

"Estou à espera, em dias não muito remotos, da maior mudança que já ocorreu no âmbito material da vida, para os seres humanos em seu conjunto. Vejo-nos livres para voltar a alguns dos mais seguros e tradicionais princípios da religião e da virtude tradicional - de que a avareza é um vício, a usura uma contravenção, o amor ao dinheiro algo detestável. Valorizemos novamente os fins acima dos meios e preferiremos o bem ao útil. Honraremos os que nos ensinam a passar virtuosamente e bem a hora e o dia, as pessoas agradáveis capazes de ter um prazer direto nas coisas, os lírios do campo que não mourejam nem fiam."

John Maynard Keynes - As Possibilidades Econômicas de Nossos Netos - 1930

As perspectivas que se desenhavam nos albores da economia industrial moderna despertaram nos pensadores utópicos do século XIX a esperança do aumento do tempo livre desfrutado de forma enriquecedora por indivíduos autônomos.

Essa utopia foi desmentida pela evolução real das sociedades pós-industriais (como querem alguns). A mudança nas condições de concorrência observadas nas últimas três décadas suscitaram alterações profundas na organização interna das empresas. Entre as décadas dos 40 e dos 70 do século passado, o padrão de concorrência estava fundado na estabilidade das estruturas de mercado oligopolizadas. Eram oligopólios concentrados, dominantes na produção de bens homogêneos ou oligopólios diferenciados prevalecentes nos setores de intensa inovação tecnológica.

A esse modelo de concorrência correspondia uma organização empresarial burocrática, rigidamente hierárquica, fruto da separação entre propriedade e controle, iniciada nas três últimas décadas do século XIX. O administrador profissional era o principal protagonista do processo de gestão ancorado na burocracia. A administração por objetivos surge como a forma de conferir aos administradores as condições adequadas para a tomada de decisões.

Nas camadas inferiores da pirâmide burocrática, a definição da carreira - incluída a escala salarial - era guiada por critérios meritocráticos. A ascensão aos cargos superiores desempenhava papel de mecanismo de controle, disciplina e, ao mesmo tempo, de incentivo aos funcionários dos escritórios e aos trabalhadores do chão de fábrica.

As transformações financeiras e organizacionais recentes foram acompanhadas de mudanças na governança corporativa. A dominância da "criação de valor" na esfera financeira expressa o poder do acionista, reforçado pela nova modalidade de remuneração dos administradores, efetivada mediante o exercício de opções de compra das ações da empresa. Essa lógica financeira suscitou surtos intensos de re-engenharia administrativa, flexibilização das relações de trabalho, enfim, a obsessão com a redução de custos e com os julgamentos dos mercados financeiros.

Luc Boltanski, em seu livro "The New Spirit of Capitalism", demonstra que nas modernas relações de trabalho não se trata mais de seguir as ordens de chefes hierárquicos, marca registrada do período anterior. Na nova modalidade de concorrência, o que importa é a motivação do funcionário. São essas virtudes que garantem aos trabalhadores o compromisso com os resultados, sem o recurso aos critérios hierárquicos.

O envolvimento no projeto - seja um programa de qualidade, de redução de custos, aumento de vendas ou a busca de um novo produto - supõe que o trabalhador esteja disposto a assumir riscos. "Risk taking" é uma inclinação motivacional valorizada na formação de jovens candidatos a um emprego nas empresas submetidas à compulsão da concorrência na economia de mercado contemporânea.

O avanço da produtividade social do trabalho não se traduziu no esperado enriquecimento humano e cultural dos cidadãos. Muito ao contrário - descontada a liberdade do desemprego aberto - o avanço do subemprego e da precarização determinaram a criação de condições de trabalho mais duras, ainda que menos visíveis às vítimas. As relações de subordinação e dependência contemporâneas permitem a flexibilidade de horário, temperada com as delícias do trabalho "em casa", onde trabalhador está permanentemente disponível para responder às exigências do empregador ou contratante.

O admirável mundo das novas atividades e das relações de trabalho fundadas na concorrência entre os subordinados e não mais na carreira hierarquizada impôs, ademais, aos dependentes o jugo das novas tecnologias de informação. Esses instrumentos, decisivos para os movimentos libertários e de contestação das ditaduras transformam-se, no mundo do trabalho, em meios de dominação e controle. Servem para agrilhoar as vítimas da economia contemporânea e mantê-las sob a vigilância permanente da empresa ou dos contratantes, prolongando a jornada de trabalho muito além do que seria admissível para um fanático manchesteriano do século XIX.

Essa "onda de inovações" na esfera das relações de trabalho foi acompanhada de uma agressiva campanha conservadora contra os direitos econômicos e sociais constituídos sob a égide do Estado do Bem-Estar. A crise deflagrada na segunda metade de 2007 foi, sem dúvida, obra dos gênios da finança desmiolada e de governantes cúmplices, fautores da crescente desigualdade social que acompanhou os desatinos da bolha imobiliária.

Na contramão das lições extraídas na posteridade da II Guerra Mundial, os governos cúmplices deixam os responsáveis à solta e apertam as tenazes nas jugulares das vítimas. Na Europa e na América, governantes de todos os matizes cuidam de imolar a saúde, a educação, a aposentadoria de seus súditos mais frágeis no cadafalso dos mercados restabelecidos em seu orgulho e poder. Não se trata de perversidade, apenas negócios.

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Serra minimiza saída de parlamentares da sigla

Cristiane Agostine

São Paulo - O ex-governador de São Paulo José Serra negou ontem que o PSDB esteja em crise. O tucano minimizou a saída de parlamentares do partido e afirmou que só pretende se pronunciar sobre os problemas enfrentados pela oposição quando "tiver algo a dizer".

"Não acho que o PSDB esteja em crise. Uma coisa é o problema do PSDB no município de São Paulo, outra é a questão nacional", disse ontem depois de dar uma palestra sobre reforma política em São Paulo.

"Que eu saiba, nenhum deputado saiu do PSDB", desconversou. Há poucos dias metade da bancada tucana da Câmara Municipal de São Paulo deixou o PSDB.

Apesar de tucanos reclamarem do silêncio de Serra sobre a crise enfrentada pelo partido, o ex-governador comentou que não pretende debater o tema. "Falo sobre aquilo que me parece relevante e quando tenho algo a dizer", afirmou Serra.

Ao fazer a palestra sobre reforma política o ex-governador foi interrompido por uma pessoa que quis saber se ele estava no PSD com o prefeito Gilberto Kassab ou se continuava no PSDB. Serra respondeu prontamente: "Não. Não estou [deixando o PSDB em direção ao PSD]. Isso qualquer pessoa sabe. Se é uma ironia, pensa em uma melhor."

Pouco depois de terminar a palestra, promovida pelo Colégio Santa Cruz, na zona oeste da cidade de São Paulo, Serra disse que não está preocupado com a criação do PSD.

O ex-governador defendeu mudanças no sistema político-partidário brasileiro por quase uma hora e meia na noite de ontem. O candidato derrotado à Presidência na eleição do ano passado afirmou ser contra o financiamento público de campanha e a criação de uma constituinte exclusiva para a reforma política.

Serra defendeu, ainda, o voto distrital e disse que essa experiência deveria começar na próxima eleição em 2012 em municípios com mais de 200 mil eleitores.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

''PSD é um balcão de negociação'', critica Tasso Jereissati

Apesar de ter anunciado que se afastaria da política, tucano participou de convenção do partido e alfinetou adversários

Carmen Pompeu

O ex-senador Tasso Jereissati (PSDB) fez críticas pesadas ao novo partido político, o PSD, criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. "Isso não é um partido, é um balcão de negociação. É o que está virando a política no Brasil e a gente fica triste por causa disso", disse o tucano no sábado, durante convenção do partido em Fortaleza (CE) que elegeu o empresário Pedro Fiúza como presidente do diretório municipal da legenda.

Tasso também comentou sobre a possibilidade de fusão entre os três partidos da oposição: PSDB, DEM e PPS. "Acho que é uma coisa que tem de ser analisada. Acho muito precipitado fazer isso nesse momento. Mas, provavelmente, é uma boa ideia que ela se realize."

Logo após as eleições de 2010, nas quais não conseguiu a reeleição como senador, o tucano disse que se afastaria da política para "cuidar dos netos". Apesar de reafirmar que não disputará nenhum cargo eletivo, ponderou que tem responsabilidade com o PSDB, com a juventude e com Fortaleza, que, segundo ele, vive um momento muito difícil.

Tanto que defendeu a criação de uma oposição "forte e de qualidade" e não poupou críticas ao PT, partido que governa a capital cearense. Tasso considera "um crime" o retorno de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, acusado de envolvimento no escândalo do mensalão. "Um ladrão confesso do dinheiro público, É um crime. Um absurdo e um desrespeito ao povo brasileiro", afirmou. "A volta dele é uma consagração do roubo e da corrupção. Um tapa na cara da nossa dignidade."

Padrinho. E continuou: "A Presidência da República deve dar exemplo. No momento em que o partido da Presidência e a Presidência dão um exemplo desses, estão liberando para que todo mundo seja esperto e que se locuplete da maneira que quiser, desde que tenha um padrinho. Um homem, que deu esse show de corrupção para o Brasil inteiro e que manchou a história política do Brasil, não volta assim para um partido político sem ter um padrinho muito, muito forte".

O ex-senador aproveitou para criticar a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), e o governador Cid Gomes (PSB), seu ex-aliado. Condenou o fato de as obras da Copa de 2014 se arrastarem e citou como exemplo a demora na reforma do aeroporto da capital cearense, construído no governo Fernando Henrique.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Aécio se aproxima do novo PSD de Kassab

Aécio se aproxima do novo PSD para consolidar candidatura à Presidência

Hoje principal nome do PSDB para 2014, senador mineiro conta com auxílio do ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen para se aproximar de Kassab; movimento visa neutralizar José Serra, que é o padrinho político do prefeito de São Paulo

Christiane Samarco

Até agora mero espectador do inchaço do PSD e do definhamento do DEM, o senador tucano Aécio Neves (MG), aspirante a candidato do PSDB à Presidência em 2014, colocou o partido criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, no centro de seu radar de alianças. Com isso, o mineiro, que já tem o "espólio" do DEM, busca alargar sua rede de segurança política.

Ontem, um dia depois de criticar ataques de tucanos ao PSD e de defender a tese de que é preciso "conversar e manter vínculos" com os líderes do novo partido, o senador deu um passo concreto para se aproximar da cúpula da legenda. Jantaria em Uberaba com o ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen, linha de frente do prefeito de Kassab nas articulações para criar o PSD.

"Todos os que têm pretensão política devem manter as portas abertas. Acho inteligente a posição de Aécio de evitar críticas ao PSD", disse o ex-senador Bornhausen ao Estado no final da tarde de ontem, quando se preparava para o jantar na casa do deputado Marcos Montes (DEM-MG), parlamentar aecista. "A gente pode amanhã estar junto. Então, por que fazer crítica mais ácida?", emendou o ex-senador.

Com o incentivo de Bornhausen, Aécio se movimenta para fincar um pé na nova legenda, evitando que seu concorrente no PSDB - o ex-governador José Serra, que também tem um pretensões presidenciais em 2014 - tenha um canal exclusivo de diálogo com os dissidentes do DEM que estão migrando para o PSD, já que Kassab é afilhado político do ex-governador paulista.

O que abriu espaço para a aproximação em meio ao tiroteio de tucanos contra o PSD foi a declaração de Aécio na comemoração do 1.º de Maio em São Paulo. Ele aproveitou a festa organizada pelas centrais sindicais para falar do "apreço" por Kassab, embora observando que o novo partido "nasce sem identidade".

Com Alckmin. Anteontem Aécio conversou com o governador, Geraldo Alckmin, sobre a crise no PSDB paulista, intensificada pela criação do PSD. Os dois se encontraram antes do evento e seguiram juntos para o encontro dos sindicalistas. Apesar de ter minimizado o racha no partido, o governador teria demonstrado desconforto com a ação de tucanos que estariam atuando contra a unidade.

Anfitrião do jantar de ontem em Minas, o deputado Marcos Montes informou que a senadora Kátia Abreu (TO), outra que está trocando o DEM pelo PSD, também era aguarda. Embora a lista de convidados fosse extensa - em torno de 60 pessoas - ele adiantou que Bornhausen e Aécio seriam acomodados à mesma mesa. "Eles são bons amigos. Bornhausen tem grande admiração pelo Aécio", justificou.

Mais do que afirmar que, hoje, Aécio está "naturalmente" melhor posicionado do que Serra no PSDB, com vistas ao projeto presidencial de 2014, Bornhausen diz que não vê "nenhum impedimento de natureza ideológica nem de ordem ética" para uma parceria futura.

O ex-presidente do DEM já saiu da legenda, mas deixará a tarefa de se filiar ao PSD reservada ao filho e deputado federal, Paulo Bornhausen (SC), hoje licenciado da Câmara para comandar a Secretaria de Desenvolvimento Econômico sustentável do governo de Santa Catarina.

"O futuro é deles. Eu serei um torcedor", afirmou o ex-senador, hoje apontado como braço direito de Kassab. "Participamos de uma etapa importante do País, com a redemocratização, e depois compartilhamos o bem sucedido governo Fernando Henrique, de mudanças. Minha função terminou", despista.

Nos bastidores, porém, sua atuação mostra que ele está bem longe da aposentadoria. No último fim de semana, acompanhou o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, a uma visita ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para tratar do PSD. As conversas sobre fusão entre as duas legendas encerraram, mas o descarte desta hipótese não significa afastamento entre as siglas.

Muito ao contrário, Campos e Colombo acertaram parceria nas eleições municipais de 2012. O grande desafio do PSD é garantir a sobrevivência sem o tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, que é calculado de acordo com o desempenho da legenda nas eleições anteriores e o tamanho de suas bancadas no Congresso.

Em Santa Catarina, os candidatos a prefeito pelo PSD deverão disputar em aliança com os socialistas de forma a poderem contar com o tempo de televisão do PSB na campanha.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Aécio e Alckmin se unem para sucessão no PSDB

Tucanos decidem apoiar recondução de Sérgio Guerra à presidência do partido

Líderes tentarão acordo para que ex-governador Serra ocupe outro cargo; para ele, problemas na sigla estão restritos a SP

Daniela Lima

SÃO PAULO - O governador Geraldo Alckmin e o senador Aécio Neves (MG) apoiarão a recondução do deputado Sérgio Guerra (PE) à presidência nacional do PSDB.

Guerra trava uma batalha surda com aliados do ex-governador José Serra, que manifestara desejo de comandar a legenda. Para aliados, Aécio e Alckmin têm posição fechada sobre a reeleição de Guerra. Líderes do partido buscarão agora uma composição para Serra ocupar outro posto na Executiva Nacional. Estudava-se a saída de dar ao ex-governador a chefia de um conselho político do partido, mas a tese arrefeceu.

Alckmin e Aécio participaram de evento em comemoração ao Dia do Trabalho na capital paulista, anteontem. Há relatos de que os dois tenham, após o ato, jantado no Palácio dos Bandeirantes. Ambos negam a reunião.

Alckmin diz ainda não ter tratado sobre a composição da Executiva Nacional durante a festa do 1º de maio. Em janeiro, aliados do governador e de Aécio fizeram um abaixo-assinado na Câmara pela recondução de Guerra. A movimentação esfriou depois que a articulação foi divulgada.

Os dois líderes do PSDB combinaram unificar o discurso em defesa da oposição e do partido em São Paulo. Já ontem, na posse do novo secretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia (DEM-SP), Alckmin defendeu o papel da oposição, num momento em que seu partido enfrenta uma crise e perde quadros para o PSD do prefeito Gilberto Kassab.

"É tão patriótico ser governo como ser oposição. O Brasil não é vocacionado para um partido único", disse. A cerimônia foi usada pelos dois partidos para tentar demonstrar resistência às investidas de Kassab. "Estamos sofrendo ataques dos que querem destruir a oposição. Mas faço um aviso aos navegantes: resistiremos até o limite", disse o presidente nacional do DEM, senador Agripino Maia (RN).

PROBLEMA LOCAL

Serra disse ontem que a crise no partido é um problema localizado em São Paulo.

"Não acho que o PSDB esteja em crise. Tivemos 44 milhões de votos na última eleição. O fundamental é honrar esses votos", afirmou, no final de uma palestra sobre reforma política num tradicional colégio da capital. Ele negou que esteja se omitindo de discutir a cizânia interna. "Só não vou ficar tratando de fofoca", disse.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dedo de Serra em baixas no DEM

Baptista Chagas de Almeida e Juliana Cipriani

A crise aberta no DEM com a debandada de parlamentares rumo ao PSD teria como pano de fundo uma articulação do ex-governador José Serra (PSDB). Fontes ligadas aos tucanos dão conta de que o candidato derrotado ao Planalto seria um dos operadores da criação da legenda.

Já caciques do DEM atribuem a derrocada a manobras do governo federal.

Na mesa, a sucessão presidencial de 2014. Serra, primeiro, trabalhou para fazer do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o sucessor dele na Prefeitura de São Paulo, derrotando Geraldo Alckmin, do PSDB. A saída de Kassab para fundar o PSD, agora, seria para esvaziar o DEM, simpático à ideia do tucano Aécio Neves como candidato à Presidência.

Entraram ontem na lista de baixas do DEM o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, e o vice-presidente do partido, Paulo Bornhausen, filho do ex-senador Jorge Bornhausen, aliado de Serra. Pelas contas do DEM, o saldo final deve ser de até 15 transferências. O novo presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), não se intimida. “A essência, os melhores talentos e convicções permanecem. Quem sai é porque teve razões de governismo ou oportunismo.”

Agripino e líderes como os deputados ACM Neto e Rodrigo Maia são defensores da candidatura de Aécio à Presidência. As baixas no DEM foram de nomes mais ligados aos serristas. O deputado federal Ronaldo Caiado (DEM) acredita que o governo Dilma Rousseff (PT) esteja usando o poder para sangrar a oposição. “O governo está fazendo jogo desleal, usando pessoas de má-fé acertadas com ele para tirar integrantes da oposição”, disse.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Mercado eleva previsão para juros e inflação

Pela pesquisa Focus, a expectativa para o juro básico no fim do ano subiu de 12,25% para 12,50%: para a inflação, passou de 6,34% para 6,37%

Fabio Graner

Com a sinalização dada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) de que pretende alongar o ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), o mercado financeiro já começou a promover ajustes nas suas projeções para a Selic no fim deste ano e também para o fim de 2012.

Segundo a pesquisa semanal Focus, divulgada ontem pelo Banco Central, a expectativa central do mercado para o juro básico no fim de 2011 subiu de 12,25% para 12,50% ao ano, o que pressupõe mais duas altas de 0,25 ponto porcentual.

Para o encerramento de 2012, a projeção para a Selic subiu de 11,75% para 12% anuais. Isso significa que os analistas não só esperam que o juro suba mais nos próximos meses, mas também que trabalham com um cenário em que a Selic permanecerá em níveis elevados por mais tempo, para garantir o controle da inflação. Dessa forma, a flexibilização da política monetária, na visão do mercado, acontecerá bem mais lentamente.

Com as mudanças nas taxas previstas para os finais de ano, as expectativas para a taxa média também foram alteradas.

Para 2011, a projeção para a média da Selic subiu de 12,06% para 12,16%, enquanto para 2012, de 12,13% para 12,25% anuais.

Inflação. Apesar de prever juros maiores, o mercado ainda não mudou o rumo de seu cenário inflacionário. A expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza a condução da política monetária, em 2011 subiu mais uma vez e atingiu 6,37%. Na semana passada, estava em 6,34%. Foi a oitava alta seguida nessa projeção.

Para 2012, a projeção central ficou estável em 5%, pela quarta semana consecutiva, o que seria um indicador positivo para o BC, que está calibrando os juros para colocar a inflação de volta ao centro da meta (4,5%) só em 2012.

O problema é que ainda há uma dispersão muito grande das estimativas dos analistas, com boa parte do mercado esperando mais que 5% de inflação e apenas um pequeno grupo espera menos: 4,8% para o IPCA de 2012.

Dispersão. A economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro avalia que essa dispersão nas projeções para 2012 revela que o Banco Central ainda não foi bem sucedido em seu esforço para "ancorar as expectativas".

Ela acredita, inclusive, que a tendência é que a projeção central do mercado em 2012 suba em algum momento nas próximas semanas, refletindo o fato de a maioria prever mais de 5% de inflação no ano que vem.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Minhas ansiedades:: Fernando Pessoa

As minhas ansiedades caem Por uma escada abaixo.

Os meus desejos balouçam-se
Em meio de um jardim vertical.


Na Múmia a posição é absolutamente exata.


Música longínqua,
Música excessivamente longínqua,
Para que a Vida passe
E colher esqueça aos gestos.