sábado, 4 de junho de 2011

Opinião – Merval Pereira

No Brasil atual, de amplo espectro partidário que abriga nada menos que 27 legendas com registro nacional, sendo que 22 delas com atuação no Congresso, não há partidos "de direita", muito menos de "extrema-direita", e nem partidos de "extrema-esquerda". Todo mundo quer ser "de esquerda" e, quando não dá, no máximo, "de centro".

Sem falar no 28º partido em gestação, o PSD, que não é "de centro, nem de direita, nem de esquerda", segundo a indefinição de seu criador, o prefeito paulistano, Gilberto Kassab.

Essa geleia geral de siglas - a maioria delas abrigada sob uma aliança governista, a mais ampla e diversificada já vista no país - esterilizou a prática política, retirando conteúdos programáticos ou ideológicos dos partidos, transformando-os em meros instrumentos a serviço do governo e de interesses pessoais.

Merval Pereira, escritor, jornalista, eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Saco de Gatos. O Globo, 3/6/2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

Palocci fala, mas não revela clientes nem melhora crise
Em livro de matemática do MEC, 10 – 7 = 4
Supremo cancela 5 milhões de multas
PIB cresce, mas famílias gastam menos
Verbas para as obras na Serra, 5 meses depois

FOLHA DE S. PAULO

Dilma não sabe quem foram os meus clientes, diz Palocci
Planalto já analisa nomes para lugar de chefe da Casa Civil
"A grande imprensa é o principal partido de oposição no país, disse o ministro Alexandre Padilha
Economia do país cresce no 1º trimestre, mas se desacelera
10-7=4, ensina livro distribuído pelo governo

O ESTADO DE S. PAULO

PMDB reclama de ‘monólogo’ do Planalto
Consultoria ‘não atuou junto a órgãos públicos’, diz Palocci
Livro pago pelo MEC ensina que 10 – 7 = 4
A ‘agenda positiva’ de Dilma
PIB trimestral cresce 1,3% mas consumo desacelera

ESTADO DE MINAS

Crescimento do país bate no teto
Palocci volta a negar tráfico de influência

CORREIO BRAZILIENSE

Aceleração do PIB força o aumento dos juros
Palocci fala, mas pressão continua

ZERO HORA (RS)

Fala de Palocci não estanca pressão
A receita da cidade mais alfabetizada do Brasil

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Palocci não responde principais perguntas
Estado ainda tem um milhão de miseráveis

Palocci fala, mas não revela clientes nem melhora crise

Ministro nega tráfico de influência e diz que conta com boa-fé das pessoas

Após 19 dias de silêncio diante das suspeitas sobre a evolução de seu patrimônio, o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) falou pela primeira vez sobre seus negócios como consultor, entre 2006 e 2010, como determinara a presidente Dilma. Em entrevista ao “Jornal Nacional”, da Rede Globo, Palocci assegurou que não praticou tráfico de influência como ex-ministro da Fazenda e não assessorou empresas que têm negócios com o governo. Mas não revelou a lista de clientes nem o faturamento da consultoria. Disse que conta com a boa-fé das pessoas porque não tem como provar que não fez tráfico de influência. Agradou ao Planalto ao dizer que a responsabilidade no caso é só dele, e não do governo. Para os aliados no Congresso, o ministro se explicou; para a oposição, agravou sua situação.

Ainda silêncio sobre clientes

Palocci fala pela 1ª vez sobre suspeitas, mas não revela nomes nem faturamento de consultoria

BRASÍLIA - Exatos 19 dias após a revelação de que seu patrimônio deu um salto nos últimos quatro anos, o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, veio a público ontem, pela primeira vez, falar sobre seus negócios de consultor, cumprindo determinação da presidente Dilma Rousseff, mas ainda deixou muitas perguntas sem resposta. Sua fala não deve mudar o clima de crise política no governo. Ele não revelou os nomes de seus clientes, nem o faturamento de sua empresa, a Projeto, quando atuou como consultor, entre 2006 e 2010. Em entrevista ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, Palocci negou ter praticado tráfico de influência e garantiu que não fez negócios que envolvessem o governo e empresas públicas. Disse também que os negócios de sua empresa não se misturaram às doações para a campanha presidencial do PT de 2010, onde ele exerceu função de coordenador.

Em 15 de maio, a "Folha de S. Paulo" revelou que Palocci comprou, ano passado, um apartamento por R$6,6 milhões e um escritório por R$882 mil, ambos em São Paulo. O negócio foi feito pela Projeto, da qual o ministro tem 99,9% do capital. Em 2010, a empresa de Palocci teria faturado R$20 milhões. Ao GLOBO, a assessoria da Projeto admitiu que os contratos tinham cláusula de sucesso, considerado por especialistas e políticos pagamento por tráfico de influência. Na entrevista, Palocci reconheceu, ainda que de forma indireta, que alguns contratos previam taxa de sucesso.

As denúncias envolvendo o principal ministro de Dilma abriram a maior crise política do atual governo. A base aliada aproveitou a fragilidade do governo no Congresso para chantagear o Planalto. Palocci deve continuar sangrando pelo menos até que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, decida se abre ou não investigação para apurar suspeitas de tráfico de influência e enriquecimento ilícito.

Os principais trechos da entrevista ao "Jornal Nacional":

Sobre o faturamento da Projeto entre 2006 e 2010: "Todo o faturamento foi registrado nos órgãos de controle tributário tanto da prefeitura de São Paulo quanto da Receita. Todo o serviço prestado foi feito a partir de emissão de notas fiscais regulares e todos os impostos foram recolhidos. Era uma empresa privada, que prestava atividades privadas (...) Portanto, não tive atividade reservada, tive uma atividade pública. Agora, os números da empresa, eu gostaria de deixar reservados porque não dizem respeito ao interesse público. Agora, os contratos, sim, aquilo que fiz, serviço que prestei, as empresas que atendi, as empresas que tinham contrato com a Projeto, posso falar perfeitamente sobre eles".

Sobre o faturamento de R$20 milhões no ano eleitoral, sendo R$10 milhões em novembro e dezembro: "Os valores podem ser aproximados, não tenho neste momento. Mas o que ocorre é que no mês de dezembro encerrei as atividades da empresa, dado que ia assumir um cargo na Casa Civil. Promovi um encerramento das atividades todas de consultoria da empresa, todos os contratos que eu tinha há dois, há cinco, três anos, foram encerrados e eles foram quitados. (...) Por isso que há arrecadação maior nesse final de ano, mas são contratos de serviços prestados. Hoje a empresa não tem mais nenhum contrato, nenhuma arrecadação, nenhum valor."

Sobre a relação da Projeto com órgãos públicos: "Tenho esclarecido, e reafirmo aqui pela oportunidade, que minha empresa jamais atuou junto a órgãos públicos, ou diretamente prestando consultoria a órgãos públicos ou representando empresas nos órgãos públicos".

Fez negócios com o poder público?: "Nunca participei. Quando uma empresa privada tinha negócio com o setor público, nunca dei consultoria num caso como esse. (...) Pude esclarecer casos concretos que me foram apresentados, mas em nenhum momento eu participava de um empreendimento, vamos dizer, que envolvesse um órgão público e um privado. Um fundo de pensão de empresa pública com uma empresa privada, nunca participei disso. O que eu fazia era consultoria para empresas privadas. Se a empresa tinha necessidade junto a um órgão público, ela tinha lá seu departamento ou sua prestação de serviços para isso. Eu não fazia isso porque isso, a lei não me permitia."

Qual a relação entre o faturamento de 2010 e dos anos anteriores?: "Foram valores inferiores. A empresa foi ampliando sua atuação, ampliando seu faturamento naturalmente. Comecei a empresa em 2006, antes mesmo de ser deputado. E aí comecei a estabelecer os contratos da empresa. Mas insisto com você que isso é muito importante. Todos os contratos da minha empresa, que era um empresa privada, (foi) com empresas privadas. Nunca que uma empresa privada precisou de uma atividade pública ou de um órgão público, minha empresa tenha atuado nesses casos. Porque aí eu tinha clareza que isso não poderia se realizar."

Por que não divulga a lista de clientes? "Veja, semana passada, uma empresa admitiu que teve contratos comigo. O que aconteceu? Deputados da oposição foram imediatamente apresentar acusação grave contra essa empresa, que teria conseguido restituição de impostos, em tempo recorde, por minha intermediação. Veja a gravidade da afirmação. Não sou eu que nego. Duas horas depois, a Receita divulgou relatório mostrando que a Receita tomou a decisão em relação a essa empresa, quase dois anos depois de requerida a devolução do imposto e por determinação judicial."

Por que não divulgar os clientes? "Não posso expor contratos que tive com empresas privadas renomadas nas suas áreas num ambiente de conflito político. Acho que não tenho o direito de fazer a divulgação de terceiros. Eu acho que devo assumir os esclarecimentos relativos à minha empresa."

Em quais setores atuou como consultor? "Trabalhei na consultoria para vários segmentos de indústria, serviços financeiros, mercado de capitais, bancos e empresas, fundos de mercado de capitais. E trabalhei em empresas de serviços em geral. É um conjunto de empresas que pouco tem a ver, por exemplo, com obras públicas, investimentos públicos. São empresas que vivem da iniciativa privada e consideraram útil o fato de eu ter sido ministro da Fazenda, acumulado experiência na área econômica, conhecer a área. Depois que deixei o ministério, fiquei quatro meses respeitando a quarentena e só depois passei a prestar consultoria. (...) Meu papel é cumprir rigorosamente a lei. Não estou acima da lei. Por isso, quando criei a empresa segui todas as providências no sentido de ter licenças legais. Tudo está literalmente registrado e adequado. Quando vim para o governo, entreguei à Comissão de Ética da Presidência todas as informações das medidas que tomei. Encerrei as atividades de consultoria. Não atuo na empresa e cumpri aquilo que a lei dizia que eu devia como ministro. A Comissão de Ética recebeu todas as informações e disse que não havia nada de errado. A Procuradoria Geral pediu informações e mandei todas que pediram. Então vamos ver a avaliação desse organismo. Quando a Receita diz que não tem pendência da minha empresa na Receita, tenho certeza de que você considera isso informação relevante. Quando o Coaf diz que não há investigação sobre minha empresa, tenho certeza que se considera isso informação relevante."

Por que não divulga o faturamento?: "Respeito todas as suas perguntas. Respeite o direito de eu não falar em valores. Nenhuma informação da minha empresa é secreta. Não estou dizendo que não darei informações aos órgãos de controle."

Consultoria e doações para campanha: "Não existe nenhum centavo que se refira a política ou campanha. Nenhum centavo. Minha atividade na campanha foi política".

Crise no governo?: "Não há crise no governo, há uma questão em relação à minha pessoa, prefiro encarar assim e assumir plenamente a responsabilidade que tenho de prestar informações aos órgãos competentes e dar minhas explicações. Isso é uma coisa que cabe a mim. Não há crise no país, no governo."

Interferência da crise no trabalho?: "Não, de forma alguma, o governo toca sua vida, trabalha intensamente. Há, sim, não vou negar, questão dirigida à minha pessoa. Com forte intensidade, com forte conteúdo político."

Chantagem pública do deputado Anthony Garotinho, que se referiu a Palocci como "diamante de R$20 milhões": "Não acredito que o deputado tenha dito isso, porque não é um procedimento.... nem perto do adequado....Tenho dito aos meus colegas do Congresso que aquilo que me couber explicar, devo explicações e vou fazê-lo. Jamais posso dentro do governo trocar um assunto por outro ou misturar um por outro. O governo está tocando sua vida, as coisas estão acontecendo normalmente. Enfrento uma questão agora, uma polêmica. Agora, vou fazê-lo pessoalmente, vou trazer isso para minha responsabilidade, informando aos órgãos de controle e dialogando sobre essas questões."

Pôs o cargo à disposição da presidente? : "Olha, a presidente tem o meu cargo e o de todos os ministros. Não chegamos a conversar sobre esse assunto, mas não é isso que me prende ao governo. Estou aqui para colaborar com a presidente. Tudo que fiz na iniciativa privada, prestei contas, e estou tranquilo e seguro em relação aos procedimentos que tive."

O futuro, caso seja denunciado pelo procurador-geral da República: "Não posso responder em hipótese. Temos de ter tranquilidade de estar certos do que fizemos e oferecer as explicações adequadas. Não há coisa mais difícil do que você provar o que não fez, porque não há materialidade no que não fez. Digo a você: não fiz tráfico de influência, não fiz atuação junto a empresas públicas representando empresas privadas. Aí, como eu te provo isso?"

Como provar?: "Tem que... tem que existir boa fé nas pessoas. Por isso a lei diz que, quando há acusação, que é legítima haver, deve vir acompanhada de provas ou no mínimo indícios. Por isso precisamos acreditar na boa fé das pessoas. Eu te digo: não há problema estar em questão minhas atividades . Mas quero que as pessoas tenham boa fé, escutem as explicações, vejam as documentações enviadas aos órgãos públicos e que eu seja avaliado com Justiça, os meus direitos e os meus deveres".

FONTE: O GLOBO

"A grande imprensa é o principal partido de oposição no país, disse o ministro Alexandre Padilha

Imprensa age como oposição, diz Padilha

Sem citar Palocci, ministro da Saúde afirma que mídia é principal partido opositor e deveria tratar de temas "positivos"

Críticas foram feitas em encontro com dirigentes estaduais do PT; Jaques Wagner pede coesão em época de "turbulência"

Ministro Padilha fala a petistas ao lado do presidente do PT, Rui Falcão (à esq.), e do governador da BA, Jaques Wagner

Cíntia Kelly

SALVADOR - O ministro Alexandre Padilha (Saúde) afirmou ontem, em encontro com dirigentes petistas em Salvador, que o principal partido de oposição do país é a "grande imprensa". No discurso, ele não citou diretamente a crise política que envolve o ministro Antonio Palocci.

Para Padilha, a imprensa deveria fazer reportagens sobre assuntos "positivos", como o plano do governo federal de erradicação da pobreza extrema, em vez de tratar apenas de "problemas".

Depois do ministro, o governador da Bahia, Jaques Wagner, falou da importância da coesão do PT, que reuniu 25 dos 27 presidentes estaduais, mesmo em "momento de turbulência".

Na semana passada, Wagner disse, a uma rádio de Salvador, que a evolução patrimonial do titular da Casa Civil "chama a atenção".

Questionado pela Folha sobre a crise envolvendo Palocci, Padilha disse: "Não falo sobre isso". Em seguida, o ministro deixou o local sem responder a outras perguntas. Seguranças impediram que a imprensa tentasse se aproximar dele novamente.

As críticas à imprensa se assemelham aos ataques do ex-presidente Lula durante as eleições no ano passado.

Lula disse, em setembro de 2010, que "quem faz oposição neste país [...] é determinado tipo de imprensa". Durante o encontro, considerado tenso entre os presentes, outros culparam a imprensa pela crise.

"Palocci tem um histórico de competência que não vai ser manchado com denúncias que não passam de orquestração da oposição, que vem naufragando, e com o apoio da grande imprensa", afirmou Eliezer Tavares, secretário de comunicação do PT do Espírito Santo.

A reportagem entrevistou 13 presidentes de diretórios estaduais do PT sobre um possível afastamento de Palocci do governo. Nenhum deles defendeu o ministro.

O presidente do PT gaúcho Raul Pont afirmou, que o seu pedido de afastamento encontrou o apoio de "diversos dirigentes de todo o país".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Planalto já analisa nomes para lugar de chefe da Casa Civil

Apesar de manter seu apoio ao ministro Palocci, a presidente Dilma Rousseff já analisa nomes para substituí-lo e estuda mudanças no perfil do chamado “núcleo duro” do Planalto.

Para o lugar de Palocci iria uma “Dilma da Dilma”, alguém de perfil “técnico”.

Os nomes citados são os da ministra Miriam Belchior (Planejamento) e de Maria das Graças Foster, diretora da Petrobrás. Paulo Bernardo, das Comunicações, também é cotado.

Dilma já discute como será governo sem Palocci

Reações às explicações dadas pelo ministro podem selar seu futuro no governo

Paulo Bernardo, Miriam Belchior e Maria das Graças Foster são nomes cotados para possível troca-troca na Casa Civil

Valdo Cruz

BRASÍLIA - Diante do agravamento da situação do ministro Antonio Palocci (Casa Civil), a presidente Dilma Rousseff passou a analisar não só nomes para substituí-lo como a estudar mudanças no perfil dos titulares do cargos núcleo-duro do Palácio do Planalto.

Segundo a Folha apurou, ela cogita, num cenário de queda de Palocci, trocá-lo por um ministro de perfil "técnico", o que assessores da presidente tratam reservadamente como escalar uma "Dilma da Dilma".

Os nomes citados são o da ministra Miriam Belchior (Planejamento) e de Maria das Graças Foster, diretora da Petrobras. Foster, no início do ano, durante a montagem do governo, constou da lista de ministeriáveis.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, também é cotado entre assessores presidenciais como possível substituto de Palocci.

Apesar de considerar o momento delicado e grave, Dilma mantém seu apoio ao ministro, mas avalia que o futuro dele vai depender da repercussão das entrevistas dadas à Folha e à TV Globo.

Caso a repercussão seja negativa e a crise se agrave, Dilma, segundo assessores, espera que Palocci peça demissão, principalmente se a Procuradoria-Geral da República decidir abrir inquérito para investigá-lo.

Na hipótese de Palocci sair e a Casa Civil voltar a ser mais técnica, a presidente também deverá trocar o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais) por um nome com mais trânsito político.

Nesse caso, o ministro Alexandre Padilha, hoje na Saúde e que já comandou a pasta no governo Lula, é considerado o nome ideal.

Outro cotado é o líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza (PT-SP), abrindo espaço para uma composição interna dentro do PT, em guerra desde o início do ano por conta da disputa pela presidência da Câmara.

Outra hipótese, defendida por aliados, é a presidente entregar a articulação política a outro partido da base que não o PT. A pasta poderia ser entregue ao PMDB, na busca de evitar que o aliado trabalhe contra o governo como ocorreu na votação do Código Florestal na Câmara.

Essa solução esbarra na desconfiança de Dilma em relação aos peemedebistas, mas é considerada a ideal por alguns aliados para comprometer de vez o PMDB com o governo no Congresso.

Segundo assessores, a presidente sente falta de um ministro voltado para o comando do dia-a-dia do governo, papel que ela desempenhou no governo Lula.

Dilma confidenciou a assessores ter ficado surpresa com as informações sobre os negócios de Palocci, reveladas pela Folha há 21 dias -o patrimônio do ministro multiplicou por 20 nos últimos quatro anos por conta de seus trabalhos de consultor.

Em conversa reservadas, diz que foi avisada da existência da empresa de consultoria, mas não da dimensão dos negócios de Palocci, que faturou R$ 20 milhões apenas em 2010, ano da campanha presidencial. Por isso, ela tende a se preservar e evitar defesas enfáticas do ministro da Casa Civil.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PMDB reclama de ‘monólogo’ do Planalto

Independentemente da tentativa do ministro Antonio Palocci (Casa Civil) de se explicar, a base aliada cobra mudanças no relacionamento político com o governo. Para dirigentes do PMDB, nunca houve diálogo de verdade, só um “monólogo”. Os aliados reclamam que não conseguem nem prevenir o Planalto sobre riscos em votações no Congresso.

PMDB reclama de ‘monólogo’ na articulação política

Para dirigentes, problema de comunicação entre Planalto e Congresso é sério e revolta da base não se restringe a atrasos na distribuição de cargos

BRASÍLIA - Independentemente do sucesso ou não do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, na tentativa de explicar o aumento de seu patrimônio, a base aliada cobra mudanças no modelo de relacionamento político com o governo federal. Segundo um dirigente do PMDB, o governo nunca estabeleceu um diálogo de verdade com os partidos da base. "O que houve até agora foi um monólogo", define o pemedebista.

Obviamente, os aliados cobram pressa do governo nas nomeações para o segundo escalão e atendimento de pleitos, mas reclamam que o problema não é só esse. Não conseguem sequer prevenir o Palácio do Planalto em relação aos possíveis impasses em votações polêmicas dentro do Congresso.

Dirigentes do PMDB lembram que alertaram previamente o governo várias vezes sobre problemas que surgiriam durante a votação do Código Florestal e que o clima do debate estava ficando cada vez mais tenso. Apesar disso, nada foi feito para impedir que a discussão se transformasse num desgastante confronto.

Reclamam ainda que o episódio não serviu de lição para o governo. E citam a derrubada de duas medidas provisórias no plenário do Senado, esta semana, como resultado, novamente, dessa falta de negociação prévia.

"O processo de aprovação de medidas provisórias vai se transformar em outra confusão e nada está sendo feito, apesar dos avisos", alerta esse dirigente.

A própria sequência da votação do Código Florestal no Senado já mostra, na visão dos pemedebistas, a insistência do Planalto em tentar impor sua vontade sem debater com a base.

Para retomar a posição do governo, cancelando a emenda do PMDB que anistia produtores rurais que desmataram, foi indicado o senador Jorge Viana (PT-AC) como relator do texto no Senado. Além de ser próximo da presidente Dilma Rousseff, Viana é ligado aos principais políticos ambientalistas, como a ex-senadora Marina Silva (PV).

Surpreendido, o PMDB reagiu imediatamente indicando o senador Luiz Henrique da Silveira (SC), ligado aos produtores rurais, para relatar o texto nas comissões técnicas do Senado. Com isso, poderá se repetir o choque de posições entre governo e PMDB.

Apesar da insatisfação com a coordenação política, o PMDB descarta ter interesse em assumir a coordenação política do governo, hoje chefiada pelo ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, do PT. Na verdade, até quer a posição, mas não nas atuais circunstâncias.

O partido não deixou de ambicionar cargos. Simplesmente seus líderes acham que não adianta assumir o posto enquanto todas as negociações com o Congresso forem centralizadas pelo ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, ou por algum eventual substituto.

Além disso, sabem que se assumirem o ministério agora, com o clima pesado de animosidade, serão torpedeados pela bancada do PT, que não aceita perder o espaço para o partido aliado.

Por conta disso, o PMDB só se interessa em ocupar a pasta numa reforma ministerial ampla promovida por Dilma, que pode ser deflagrada caso Palocci seja afastado. Nesse caso, outros ministérios poderiam ser redistribuídos entre a base e o PMDB poderia herdar a coordenação. Mas, até agora, o governo não deu sinais de que promoverá uma mudança tão ampla.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Presidente do PT justifica silêncio sobre Palocci

Para Rui Falcão, crise não afeta sigla nem paralisa União, mas Wagner admite: situação obriga governo a mudar pauta

Tiago Décimo

SALVADOR - Em reunião com presidentes estaduais do PT em Salvador, o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, justificou a decisão da Executiva Nacional da sigla de se negar a divulgar uma nota oficial em defesa do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e reiterou que a crise na Casa Civil não desgasta o PT.

"A Executiva tomou conhecimento de que o ministro enviara informações adicionais ao procurador-geral da República, esclarecendo as consultorias que prestou, e foi informada que ele já tinha feito isso, também, junto à Comissão de Ética Pública da Presidência, que não viu nenhum conflito ético entre suas atividades e o exercício do mandato de deputado", disse Falcão.

"Nós vamos aguardar essas entrevistas (de Palocci, sobre o tema) e o pronunciamento do procurador-geral para depois ver se há necessidade de um pronunciamento oficial do partido", argumentou ele.

Para o governador da Bahia, Jaques Wagner, já existe impacto das acusações sobre Palocci no andamento do governo. "A situação impõe uma pauta que não é a pauta do governo", avalia. "Então, quanto antes as explicações forem dadas, melhor."

Segundo Rui Falcão, não há nenhum indício nem prova de enriquecimento ilícito do ministro. "Portanto, não há nenhuma razão para imaginar que isso possa manchar a imagem do partido."

Para o presidente do PT, as acusações contra Palocci são uma tentativa da oposição de desestabilizar o governo da presidente Dilma Rousseff. "A oposição, que não tem tido condições de manifestar um projeto claro e que ficou sem rumo depois das derrotas sucessivas que sofreu, busca se apegar a esse episódio."

Falcão discorda do governador Jaques Wagner de que a crise envolvendo Palocci afeta as ações de governo. "O ministro está no exercício pleno de suas competências e o governo continua com suas atividades, seguindo sua trajetória positiva", afirmou.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Sem convencer:: Merval Pereira

A entrevista do (ainda) ministro Antonio Palocci ao "Jornal Nacional" ontem não melhorou sua situação e esgotou sua capacidade de dar explicações à opinião pública, coisa que, aliás, ele acha que não precisa fazer.

Ele se declarou mais preocupado com as eventuais consequências para as empresas a que prestou "consultoria" do que com os prejuízos para o governo brasileiro que sua atividade dupla como político e "consultor" poderia ter causado.

A insistência em não apresentar as empresas atendidas por sua empresa mostra que ele se considera dispensado de revelar ao público a que serve como membro do governo os detalhes de sua atividade.

Alegou Palocci que todas as informações detalhadas foram encaminhadas aos órgãos públicos controladores, como a Procuradoria-Geral da República ou o Conselho de Ética do governo.

E a decisão que eles tomarem deve ser acatada pela opinião pública, sem mais discussões.

Não passa pela cabeça do (ainda) ministro que, sem que seja revelado exatamente para que tipo de empresas ele trabalhou, e que "consultas" deu, não se pode ter certeza de que não houve tráfico de influência.

Quando diz que é preciso ter boa-fé na discussão política, Palocci pede que o cidadão comum se convença de que não existe tráfico de influência no governo, em qualquer governo, e que servidores públicos de posse de informações privilegiadas não têm que ser vigiados pela opinião pública porque, em princípio, todos são sérios e honestos.

Infelizmente, a nossa História recente registra inúmeros exemplos de uso de informações privilegiadas que não justificam uma atitude de boa-fé cega.

Ainda mais com tantos milhões envolvidos em tão poucos anos.

Não é razoável que o (ainda) ministro Palocci peça à opinião pública que confie em suas palavras e não se impressione com o formidável faturamento de sua empresa de "consultoria", que supera o de outras empresas muito mais tradicionais no ramo.

A insistência de Palocci quanto à legalidade das atuações de sua empresa de "consultoria" parece uma tentativa de desviar a atenção das acusações mais graves, pois em nenhum momento discutiu-se alguma ilegalidade fiscal, e nem mesmo ilegalidade formal de sua atividade dupla de "consultor" e deputado, permitida por uma legislação que só não é revogada porque é dos interesses dos parlamentares que fique como está.

O que se discute na atividade de Palocci é que ele precisa provar que não usou as informações internas que tinha, sobretudo quando já era coordenador da campanha da candidata oficial Dilma Rousseff, para orientar seus clientes.

Por mais que tenha se destacado como ministro da Fazenda, o médico Antonio Palocci não tem conhecimento técnico suficiente para dar conselhos sobre investimentos ou fusões e aquisições.

Ou pelo menos teria competidores mais bem aparelhados tecnicamente para essa tarefa.

Sua farta remuneração, incluída aí uma "taxa de sucesso" que parece altamente discutível, parece muito mais consequência das suas relações dentro do governo, mesmo depois de ter saído do Ministério da Fazenda, do que de seus conhecimentos econômicos.

Palocci alegar que, quando estava na campanha de Dilma Rousseff, exercia um papel político, e não na área econômica, é puro diversionismo.

Também na campanha de Lula em 2002, sua função nada tinha a ver com a economia até ser indicado como ministro da Fazenda.

Ele era o que sempre foi, um articulador político altamente competente e eficiente por seu relacionamento pessoal com Lula e sua história dentro do PT.

Sua indicação para a área econômica, portanto, foi uma decisão política de Lula para indicar que um homem de sua confiança estaria à frente da economia, garantindo a continuidade da política de controle da inflação e equilíbrio fiscal.

Foi na prática que ele foi aprendendo os segredos do ofício e teve a sensatez de ouvir pessoas adequadas, como o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, e convocar para sua equipe técnicos competentes, mesmo que ligados historicamente a governos tucanos.

No governo Dilma, o fato de ele estar no comando da chefia do Gabinete Civil nunca o impediu de dar sugestões na área econômica, e seria risível afirmar que o governo abriria mão de sua "consultoria" na área econômica, tão valorizada pelo setor privado.

O (ainda) ministro Palocci revelou, desta vez à "Folha de S. Paulo", que não entrou em detalhes com a presidente Dilma sobre sua empresa de "consultoria" e, portanto, não revelou a ela quais seus clientes e que tipo de "consultas" produziu tanto dinheiro.

Fica a sensação de que ele não teve a exata noção do risco político que sua atividade privada poderia produzir, ou não quis entrar em detalhes justamente porque sabia o grau de periculosidade política.

Dizer, como cansou de repetir, que a ética é regulada por decisões burocráticas que ele seguiu à risca chega a parecer um deboche.

Não há alguém que pense que um político experiente como Antonio Palocci atuasse no ramo de "consultoria" à margem da lei explicitamente.

O que está em discussão é a obrigação de um político, especialmente poderoso como Palocci, de exibir comportamento idôneo e evitar conflitos de interesse mesmo que eles não sejam previstos pela legislação.

É o caso, por exemplo, do período em que ficou trabalhando como "consultor" e ao mesmo tempo coordenador da campanha da candidata oficial.

De quantas reuniões de trabalho Palocci não terá participado em que se discutiram medidas econômicas futuras que poderiam ter impacto nas empresas que o contrataram?

FONTE: O GLOBO

Nem em Alfa Centauro :: Fernando Rodrigues

Quem já assinou um contrato na vida sabe. É possível romper o acordo a qualquer tempo e época. Paga-se uma multa.

Em raras ocasiões, negocia-se uma redução da pena. O que não existe na natureza é um prêmio para quem rescinde um contrato provocando prejuízo ao contratante. Por exemplo, um inquilino informa ao locador que sairá do imóvel e em troca ouve o seguinte: "Que bom, vou te dar R$ 1 milhão de prêmio como taxa de sucesso".

Antonio Palocci foi deputado federal e coordenador da campanha de Dilma Rousseff em 2010. Tinha contratos de consultoria com várias empresas. Nomeado ministro, encerrou seus serviços. Causou um problema. Os clientes estavam felizes e tendo lucro com os bons conselhos recebidos do petista.

Aí operou-se algo inusitado. Em vez de multa, recompensa. Até outubro de 2010, Palocci tinha faturado R$ 10 milhões. Com Dilma eleita para o Planalto e ele nomeado, embolsou mais R$ 10 milhões.

A Folha quis saber se os contratos rompidos tinham multa rescisória. "Os termos de seu encerramento foram ajustados com os clientes", respondeu Palocci.

Muito bem. Que termos foram esses? O ministro não responde. É um direito dele. Assim como os 190 milhões de cidadãos brasileiros têm também o direito de inferir que Antonio Palocci não pagou multa por encerrar antes da hora os serviços prestados a um punhado de empresas. Ao contrário, parece ter recebido uma gorda bolada.

Faz sentido. Qual empresário no planeta Terra ou em Alfa Centauro ousaria cobrar uma multa do futuro ministro-chefe da Casa Civil? Se tal benemerência não configurar uma relação imprópria, o governo de Dilma Rousseff estará estabelecendo um novo padrão ético e moral na política em Brasília.

Mais detalhes não se sabe. Afinal, como diz Palocci, "a confidencialidade é uma praxe em contratos dessa natureza".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Família Soprano:: Fernando de Barros e Silva

Não é muito comum que um partido aliado do governo use seu programa de TV para fazer ameaças veladas ao (ou à) presidente. Menos comum ainda quando esse partido ocupa a Vice-Presidência. O PMDB não só fez isso anteontem à noite, em cadeia nacional de TV, como colocou Lula no ar para elogiar o grande aliado.

Com o depoimento generoso do "ex", mais presente do que nunca, e nenhuma imagem de Dilma, a intenção foi clara: demonstrar força e constranger a presidente. Endereçados ao Planalto, saltavam da tela os recadinhos do PMDB: "Ser grande é ser grato"; "quem ganha junto governa junto"; "no regime democrático, tamanho é documento".

Isso, uma semana depois que Dilma mandou Palocci fazer o telefonema desastrado a Michel Temer, ameaçando-o com a demissão dos ministros se o PMDB roesse a corda na votação do Código Florestal.

A presença de Lula no programa soou também como um recado dele próprio à sucessora. Como se dissesse: "Olha, Dilminha, esses são os seus parceiros de carteado. Goste deles ou não, você vai ter que sentar e jogar. Fique esperta".

Mas a graça do programa está ligada ao seu formato. O PMDB decidiu gravar ao ar livre, num imenso jardim com um lago bem azul ao fundo, provavelmente o Paranoá.

Nesse cenário idílico -que poderia ser tanto a mansão de Palocci como um resort-, iam surgindo, sucessivamente, os figurões do partido, de Sarney a Temer, passando por Valdir Raupp, Renan Calheiros, Edison Lobão, Garibaldi Alves, Eunício Oliveira, Henrique Eduardo Alves...

Entre cabelos pintados de acaju e bigodes tingidos, assistimos a um desfile de canastrões a serviço do Brasil. Fossem bons atores, alguém poderia até confundi-los com os personagens da Família Soprano.

Palocci não revelou quanto ganhou, não disse para quem trabalhou nem que tipo de serviço fazia. Sem nada explicar, deve cair.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dois tempos:: Míriam Leitão

O PIB cresceu mais no primeiro trimestre do que no último do ano passado, mas a economia está desacelerando como queria o Banco Central quando apertou o crédito e elevou os juros. E ele fez isso exatamente para reduzir o passo e conter a inflação. Nos Estados Unidos os esforços para a criação de emprego não estão funcionando. O desemprego aumentou para 9,1%.

O crescimento no Brasil nos últimos quatro trimestres caiu de 7,5% para 6,2%, apesar de o primeiro trimestre deste ano ter crescido 1,3%, mais do que o ritmo do último do ano passado, que foi 0,7%. Quando se contar em gráfico a história do crescimento de 2011 a linha vai mostrar que no segundo trimestre o ritmo será menor do que no primeiro, no terceiro bem menor, para estabilizar no quarto. A melhor notícia é que o investimento, que tinha crescido apenas 0,4% no último trimestre de 2010, voltou a acelerar e cresceu 1,2%.

O Brasil vive a discussão sobre como e quanto reduzir o ritmo do crescimento para conter a inflação elevada pelo excesso de gasto público durante a eleição de 2010. Nos EUA, vive-se a discussão sobre o que fazer para elevar o PIB, estimular a confiança das empresas para que elas possam recontratar. Com mais emprego, as eleições presidenciais de 2012 acontecerão num ambiente mais favorável a Obama. Segundo o "New York Times", desde Franklin Delano Roosevelt nenhum presidente foi reeleito com o desemprego acima de 7,2%. A taxa está em 9,1% e ninguém acredita, nem os assessores econômicos do presidente Barack Obama, que ela possa cair substancialmente até as eleições. Ele será o primeiro, deste o mítico FDR, a testar este limite estatístico.

As empresas americanas estão demitindo menos, mas estão criando pouco emprego. Vinham criando 220 mil vagas por mês nos últimos dois meses mas em maio criaram apenas 54 mil. E mesmo em abril, que teve um desempenho melhor, 13,7 milhões de americanos procuraram emprego e não encontraram. O tempo para encontrar trabalho está ficando mais demorado. Milhões de americanos estão ficando desanimados de procurar porque quanto maior o tempo de desemprego, mais difícil é reinserir-se no mercado, segundo estudos citados pelo "NYT". Vários indicadores mostram que o ritmo da economia americana está piorando, depois de pequena melhora, entre outros motivos por causa do tsunami no Japão. Várias cadeias produtivas estão sendo afetadas, como se temia, pela falta de peças que são produzidas na área atingida pelo terremoto, tsunami e desastre nuclear. As indústrias automotiva e de eletrônicos têm sentido isso.

No Brasil a transição de um ritmo superquente para outro menos quente tem ocorrido com sinais contraditórios. Esta semana saiu um dado péssimo para a indústria, queda de 2,1% em abril. Vários setores começam a se inquietar com a queda da demanda. Mas o varejo comemora números fortes. Entrevistei na Globonews o presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo, Fernando de Castro, e o presidente da Nielsen, Eduardo Ragasol. Os dois estão otimistas com as perspectivas de curto e longo prazos do varejo. Segundo Fernando de Castro, o varejo deve crescer este ano 8%, bem acima do PIB. Esta tem sido a constante nos últimos anos e ele disse que o varejo que hoje representa 15% do PIB vai ter uma fatia cada vez maior. Ragasol acha que o grande motivo desse avanço é a soma das mudanças positivas que aconteceram no Brasil nos últimos tempos e que incluíram mais consumidores na classe média. Segundo ele, que é mexicano, isso está acontecendo em todos os países da região, exceto Venezuela e Argentina. Nestes dois, a inflação tem subido: "A inflação é veneno para a economia", disse.

No mundo inteiro os índices subiram neste começo do ano pelo impacto das commodities que se elevaram, principalmente o petróleo, por causa dos acontecimentos do Norte da África. No Brasil havia outros fatores determinantes da alta, como o excesso de demanda, os gastos públicos e resquícios da indexação. Nos próximos meses a taxa ficará bem mais baixa, mas o setor de serviços ainda está com inflação acima de 8%. Nada no entanto se compara aos absurdos que estão acontecendo na Venezuela e na Argentina em termos de inflação. Por isso eles estão fora da festa que está ampliando a classe média no continente; porque estão permitindo a alta dos preços.

Um dos problemas que estão preocupando a indústria atualmente é a queda do dólar. Mas isso tem a ver mais com a política monetária americana. Para tentar reavivar a economia e reduzir a taxa de desemprego o governo americano recomprou títulos públicos para jogar mais dinheiro na economia. Essa é uma das razões da queda da moeda americana em relação à maioria das moedas do mundo. A indústria brasileira diz que assim não consegue competir. Fernando de Castro afirma que o diferencial de preço de alguns produtos é muito maior do que se supõe que seja a defasagem do dólar:

- Imagine que o dólar suba 20%. Alguns produtos têm diferença de preço de 50%.

Com a desaceleração do PIB, a tensão entre indústria e varejo vai aumentar. Nos EUA, os próximos 18 meses serão de queda de braço político, e a taxa de desemprego jogará um papel fundamental.

FONTE: O GLOBO

Venezuela 2012 :: Eduardo Graeff

Há eleição presidencial marcada para 2 de dezembro de 2012 na Venezuela. É a chance de um reencontro pacífico do país com a democracia. Hugo Chávez é candidatíssimo, claro. Não mostra a menor disposição de passar o poder aos "inimigos", como trata todos os que não estão do lado dele. Mas a oposição está se preparando para ganhar e levar. Sabe das arbitrariedades que tem sofrido e vai sofrer, mas aposta na sua própria unidade e no cansaço dos venezuelanos com 14 anos de "socialismo bolivariano". Não vai repetir o erro de 2005, quando desistiu de participar das eleições parlamentares.

Três jovens militantes e uma deputada da oposição venezuelana estiveram em São Paulo recentemente. Fui ouvi-los no Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC). Falaram da crise econômica e política em que seu país está mergulhado, da sua luta para renovar, ampliar e unificar as forças de oposição, dos desafios que veem pela frente de uma Venezuela democrática. E deixaram um apelo: que nós, brasileiros, ajudemos a garantir a limpeza da eleição e respeito ao seu resultado.

A crise econômica é profunda. Como é que o país dono das maiores reservas de petróleo do mundo conseguiu arruinar a sua economia enquanto o preço do barril de petróleo ia às nuvens? Chávez rompeu contratos, expropriou e afugentou investidores privados do setor petrolífero e sucateou a estatal PDVSA. Resultado: hoje a Venezuela exporta um sexto do petróleo que exportava há 60 anos, em termos per capita. E a fatia do petróleo no total das exportações, que já foi cerca de 70%, subiu para 95%, porque a indústria e a agricultura também foram sucateadas a golpes de expropriação e intervenção arbitrária. Idem a infraestrutura: estradas esburacadas, pontes desabando, apagões de energia elétrica. Proezas do socialismo, bolivariano ou não.

Os serviços públicos essenciais de saúde, educação e segurança pública foram pelo mesmo caminho. Os homicídios na capital, Caracas, chegam a 210 por 100 mil habitantes - na cidade de São Paulo, para ter um parâmetro de comparação, esse índice caiu recentemente abaixo de 10 por 100 mil, que ainda é alto, mas considerado suportável pelos padrões internacionais. Autoridades da União Europeia estimaram que metade da cocaína que chegou à região em 2010 passou pela Venezuela. Os tentáculos do narcotráfico envolvem a polícia e penetram nas Forças Armadas venezuelanas.

Chávez fechou emissoras de rádio e de televisão "inimigas" - quer dizer, independentes - e fala sem parar nos veículos "amigos", persegue opositores, reprime protestos, mas não consegue tapar o sol com a peneira. Sua popularidade vem caindo, dando alento a uma nova geração de ativistas e políticos democráticos. Nas eleições parlamentares de 2007 a oposição teve maioria dos votos populares, embora o chavismo, por artifícios legais, tenha mantido maioria do Legislativo. A chance de uma virada em 2012 é real.

O descalabro do "socialismo bolivariano" facilita a tarefa dos oposicionistas de se porem de acordo sobre a alternativa, pelo menos em suas linhas gerais: eles querem liberdade, democracia, um ambiente que incentive a livre empresa, em vez de criminalizá-la, e políticas de efetiva proteção e inclusão social. Nada muito diferente de uma receita que parece dar certo no Chile e no Brasil, para tomar dois exemplos próximos. Sabem, é claro, que terão enormes dificuldades para reconstruir o país segundo essas diretrizes. Apostam para isso na integração com a América Latina, o Mercosul incluído, e veem com bons olhos a liderança do Brasil na região.

O que eles não veem com bons olhos, nem entendem, é o modo como o governo de Lula jogou o peso dessa liderança para legitimar o chavismo. Afinidade ideológica? Difícil compreender isso, quando as opções econômicas e políticas do Brasil nos últimos 20 anos lhes parecem o oposto das da Venezuela chavista. Vá-se tentar explicar a eles a ambiguidade da relação de Lula e seu partido com a "herança maldita" de Fernando Henrique Cardoso... Interesses econômicos? Eles sabem dos bons negócios de empresas brasileiras em seu país. Põem alguns na conta dos maus negócios para a Venezuela que Chávez, por trás da retórica populista e nacionalista, fez com vários países. Mas acreditam que isso é uma fração pequena do que pode render uma parceria equilibrada do Brasil com uma Venezuela estável e em crescimento sustentado.

Integração econômica, sim, mas baseada em quais valores permanentes? Essa é a pergunta que a Venezuela democrática nascente faz à liderança emergente do Brasil.

Em 2006, quando a oposição venezuelana lutava para renascer das cinzas, teve de ouvir Lula dizer, numa visita oficial, que "Chávez é o melhor presidente que a Venezuela teve nos últimos cem anos". A última coisa que essa oposição quer é uma reprise disso na reta final para a eleição de 2012.

Mas os jovens que ouvi no iFHC esperam algo mais que neutralidade do Brasil: esperam atenção, não para interferir no processo eleitoral, mas para garantir que ele chegue a bom termo. A oposição vai pedir o envio de observadores internacionais para acompanhar as eleições venezuelanas. Parece pouco, mas pode significar a diferença entre o impasse e uma transição pacífica para a democracia. Como a diplomacia brasileira responderá a esse pedido?

Dos brasileiros sinceramente democratas os venezuelanos merecem solidariedade ativa. Dados os antecedentes do governo Lula, alguma pressão interna parece mais do que oportuna para levar o nosso Congresso Nacional e o Poder Executivo brasileiro a, desta vez, fazerem a coisa certa em relação aos nossos vizinhos.

Cientista político, foi secretário-geral da presidência da república (governo FHC)

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dia mundial do Meio Ambiente:: Anivaldo Miranda*

Em 2011 o Brasil vai comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) sob o signo do retrocesso. A acabrunhante aprovação, pela Câmara Federal, de modificações que mutilam o Código Florestal, deu o tom da ofensiva conservadora que vem, nos últimos anos, impondo duros golpes à legislação e às políticas públicas ambientais.

É certo que medidas absurdas como a anistia para desmatadores e a diminuição do espectro das áreas protegidas, como é o caso das matas ciliares, ainda serão objeto de grandes disputas no Senado Federal e de possíveis vetos anunciados pela presidenta da República. Mas, independente dessas possibilidades restauradoras, a simples sinalização negativa dada pela maioria dos deputados federais é já o bastante para aumentar a preocupação em torno do futuro imediato da política ambiental brasileira.

Em outra ocasião pude ressaltar que o Código Florestal não é a uma espécie de Bíblia Sagrada ou de Alcorão. Se debatido com seriedade e bons propósitos, poderia ser aperfeiçoado para atender a certas realidades da pequena agricultura familiar, sem necessariamente redundar em sacrifício das áreas florestadas e da vegetação de topos de morros, encostas e margens de rios, que são fundamentais para maior regularidade da oferta de água, melhor regime de chuvas, melhor qualidade do solo e outras condicionantes essenciais à própria agricultura.

A pressa suspeita e os métodos impositivos que cercaram a votação na Câmara, impediram que o debate do Código incorporasse princípios, tais como pagamentos ou subsídios por serviços ambientais, que poderiam trazer a discussão para os termos em que a questão ambiental está sendo debatida no mundo inteiro, nesse começo de século. Ao invés, portanto, de conduzir essa discussão, como terminou acontecendo, para os estreitos marcos do suposto dilema entre preservar ou produzir, poderíamos ter caminhado, em alguma medida, para a solução do verdadeiro impasse atual, estimulando modelos e legislações capazes de preservar e conservar mais a natureza e, ao mesmo tempo, produzir também mais, um desafio extremamente complexo, mas possível de ser enfrentado através da junção da ciência e da tecnologia com as boas práticas produtivas e mudanças significativas de comportamento.

Ao contrário dessa nova agenda mundial, proposta pela economia verde, o Brasil, notadamente através do setor público e do setor privado, ainda insiste numa agenda produtivista insustentável, que nos coloca em novo ciclo de dependência como exportadores de commodities baratas, produzidas sob altíssimos custos ambientais e sociais, em função de um retorno financeiro que, para a nata do ruralismo, é, hoje, sedutor, mas para a maioria do povo brasileiro, inalcançável, além de futuramente impraticável.

Isso explica, como subproduto ideológico dessa maneira de pensar e agir, a insistência recorrente com que grande parte dos governos, empresas, políticos, mídia e ruralistas alimentam continuamente a falsa incompatibilidade entre políticas ambientais e as atividades da economia, escondendo da opinião pública a incompatibilidade verdadeira, que não é outra senão aquela existente entre a velha maneira de produzir e as novas necessidades de ajustar a produção e o consumo humanos à capacidade de suporte do ecossistema planetário, sob pena de aprofundarmos uma crise ambiental que, no limite, poderá mostrar-se muitíssimo mais adversa, do que é hoje, para a própria espécie humana.

Essa é a razão pela qual a questão ambiental continua a ser tratada como assunto apenas de ambientalistas. E também o motivo pelo qual as políticas ambientais continuam a ser relegadas a um segundo plano ou restringidas aos guetos de especialistas e vistas como estorvo ao chamado progresso e ao crescimento, o que posterga a necessidade inadiável de torná-las transversais a todos os governos e todas as sociedades.

Na esteira das mudanças que a Câmara aprovou golpeando o Código Florestal, há uma longamente orquestrada campanha que vem desmontando a legislação e a política ambientais no Brasil, baseada em falsos diagnósticos e falsas premissas. Tal fato não somente agrava os perigos de maiores desequilíbrios e degradação da natureza, como também compromete seriamente a possibilidade de utilizarmos as políticas ambientais como um potente instrumento de indução à modernização, racionalização e eficiência da economia.

Se quiser consolidar efetivamente um papel de liderança mundial duradoura, o Brasil deve seguir a sua vocação de potencia política pacifista e perseguir o ideal de tornar-se uma sociedade mais igualitária e mais democrática, um centro referência mundial da ciência e da tecnologia, além de abraçar a possibilidade de ser vanguarda da economia verde, sustentável e descarbonizada

do futuro. É ilusão saudosista e reacionária imaginar que seremos grandes copiando o modelo militarista, hegemonista e predatório que caracterizou o perfil das grandes potências até o advento da crise ambiental planetária. O futuro nos aponta outro destino e outro caminho. É pegar ou largar!

(*) Anivaldo Miranda é jornalista e mestre em meio ambiente e desenvolvimento sustentável pela Universidade Federal de Alagoas.É membro da direção nacional do PPS

Lá vem o Patto!::Urbano Patto

Talvez o nosso mundinho seja muito pequeno, nossos horizontes de vida sejam muito reduzidos, nossas perspectivas profissionais sejam modestas demais ou nossas capacidades empresariais limitadíssimas, mas acho que ganhar R$ 10 ou 20 milhões de reais em alguns poucos meses não é algo simples e fácil como faz parecer a empresa de consultoria do ministro Palocci.

Ainda mais sabendo que a empresa tinha um único empregado e o sócio principal, o próprio Palocci, além de tocar a empresa, que funcionava em São Paulo, exercia o mandato de Deputado Federal e o cargo de coordenador da equipe de transição do governo em Brasília.

Sabendo dessa façanha e dessas incomensuráveis disposição e vocação para o trabalho e para os negócios a presidente cometeu uma tremenda injustiça nomeando-o ministro da Casa Civil, o cargo mais importante da Esplanada dos Ministérios, impossibilitando-o de integrar a Liga da Justiça, ao lado do Super-Homem, da Mulher Maravilha e outros super-heróis do mesmo quilate.

Lá na Liga o médico Palocci, além das atividades rotineiras combatendo o mal, obviamente também se responsabilizaria pelas finanças do grupo que, além de defender o mundo de perigosos alienígenas e de Lex Luthor, prestaria consultoria nas mais diversas áreas. Se com um empregado Palocci conseguiu R$ 20 milhões, imaginem só com vários super-heróis trabalhando sob sua coordenação ...

Agora dizem que o ministro virá a público explicar sua evolução patrimonial, vou prestar muita atenção para ver se aprendo alguma coisa para ser mais profícuo no meu trabalho ou me iniciar no mundo dos negócios.

Urbano Patto é Arquiteto Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional e membro do Conselho de Ética do Partido Popular Socialista - PPS - do Estado de São Paulo. Críticas e sugestões: urbanopatto@hotmail.com

PM invade quartel do Corpo de Bombeiros para reprimir manifestantes em protesto por salários

Athos Moura, Paulo Roberto Araújo e Simone Cândida

RIO - O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) invadiu pouco antes das 7h deste sábado o QG do Corpo de Bombeiros, que estava há cerca de 13 horas ocupado por militares da corporação em protesto por melhores salários.

Os PMs explodiram o portão dos fundos do quartel, na rua do Senado, deram tiros de efeito moral e jogaram bombas de gás lacrimogênio que atingiram os manifestantes e jornalistas dentro quartel e na rua. Pessoas saíram sangrando e a situação é muito tensa no local.

Houve barulho de tiros de fuzil que, segundo os bombeiros, foram tiros dados para o alto. Três dos líderes do movimento foram presos e encaminhados para o Batalhão de Choque. Alguns bombeiros saíram feridos do quartel com marcas de tiros de balas de efeito moral.

Segundo os manifestantes que ocuparam o QG do Corpo de Bombeiros, cinco crianças saíram feridas devido ao gás lacrimogênio e estão sendo medicadas no Hospital Souza Aguiar. Uma das crianças pediu aos policiais que parassem de jogar o "gás maldito".

Ainda segundo eles, há feridos dentro do quartel.

Os manifestantes se queixaram da violência usada pela PM para dissolver a manifestação na manhã deste sábado e informaram que 12 manifestantes foram presos e estão sendo levados para o Batalhão de Choque. O protesto deve seguir daqui a pouco para uma nova manifestação na porta da Alerj.

No momento, policiais do Bope, do Batalhão de Choque e da cavalaria estão no local. As ruas no entorno do QG estão bloqueadas e a Praça da República está cercada por PMs. Manifestantes que protestavam junto à grade em frente ao QG dos Bombeiros, dentro do Passeio Público, estão sendo dispersados por policiais da cavalaria da PM.

No momento seis micro-ônibus com bombeiros presos estão saindo de dentro do quartel para o Batalhão de Choque.

O governador Sérgio Cabral reúne-se com equipe de seu Governo nesta manhã, no Palácio Guanabara (prédio anexo), onde, em seguida, por volta das 8h30, deve acontecer uma entrevista coletiva.

Manifestantes dizem que cinco crianças ficaram feridas na invasão da PM ao QG dos Bombeiros

Segundo os manifestantes que ocuparam o QG do Corpo de Bombeiros, cinco crianças saíram feridas e estão sendo medicadas no Hospital Souza Aguiar. Ainda segundo eles, há feridos dentro do quartel.

Os manifestantes se queixaram da violência usada pela PM para dissolver a manifestação na manhã deste sábado e informaram que 12 manifestantes foram presos e estão sendo levados para o Batalhão de Choque. O protesto deve seguir daqui a pouco para uma nova manifestação na porta da Alerj.

FONTE: O GLOBO ONLINE

Os últimos raios:: Graziela Melo

Às vezes,
à hora do
sol poente,


como uma
alma doente,


sinto
uma certa
euforia...


E,
como se
fosse
aquele,


o último
dia,


corro,
a ver
os raios
que seriam


os derradeiros...


Os momentos
verdadeiros
da beleza


já tardia


de um
sol,
em
agonia!!!


Rio de Janeiro,12/07/2006