terça-feira, 7 de junho de 2011

Opinião - Roberto Freire

Só a Procuradoria da República pode investigar um ministro neste caso. Ao abrir o inquérito, ele não estaria condenando Palocci. É lamentável, até porque trata-se de uma decisão tomada por um procurador que está no limbo, aguardando uma decisão da presidente Dilma sobre sua recondução ao cargo,

Ao se omitir ele está afrontando toda a sociedade brasileira que considera que o ministro está sob suspeita. O procurador não procura nada, só quer esconder.

Roberto Freire, deputado federal e presidente do PPS, sobre o arquivo do pedido de investigação contra o ministro Antonio Palocci

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

Procurador arquiva caso e Lula tenta manter Palocci
Dono de apartamento alugado a Palocci é do PT
Com ‘fuerza’, mas sem força
Peru: Humala derruba a Bolsa e o sol
Bombeiros colam fitas até na farda do Choque
Voto da Alerj pode facilitar improbidade

FOLHA DE S. PAULO

Procurador-geral poupa Palocci de investigação
Dilma e ministro chegaram a acertar carta de demissão
Garçom do Planalto
Anvisa prepara alerta e proíbe o uso do termo ‘ração humana’

O ESTADO DE S. PAULO

Procurador manda arquivar denúncias contra Palocci
Punição a Jaqueline
Novas usinas dependem do Congresso

VALOR ECONÔMICO

UE tenta garantir oferta de matérias-primas do Brasil
Estímulos à tecnologia nacional
Aneel aponta irregularidade no uso do RGR
Cobrança amigável

ESTADO DE MINAS

Congelou
Denúncia contra Palocci arquivada
Reciclagem? Aqui, não...
Romário vistoria o Mineirão

CORREIO BRAZILIENSE

Procurador-geral rejeita denúncia contra Palocci
Entre os galanteios e os negócios
Poupança paga dívida do brasileiro

ZERO HORA (RS)

Procurador-geral poupa Palocci de investigação

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Ações contra Palocci arquivadas
Aliados elevam o tom das críticas a Palocci
Convocação será cancelada hoje

Procurador arquiva caso e Lula tenta manter Palocci

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, arquivou o pedido de investigação contra o ministro Antonio Palocci apresentado pelos partidos de oposição. Gurgel disse que não viu indícios dos crimes de enriquecimento ilícito nem tráfico de influência. Não descartou ter havido improbidade administrativa, mas afirmou que essa investigação não é de sua competência. Graças ao argumento de Gurgel – que está a um mês de renovar seu mandato por mais dois anos -, Palocci, cuja situação é muito delicada, pode ter conseguido uma sobrevida, como vinha sendo defendido pelo ex-presidente Lula. O grande desafio é buscar, inicialmente, apoio dentro do PT ao ministro. Ontem à noite, depois de conversar com Lula por telefone, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com o presidente do PT, Rui Falcão. A informação era que, apesar da pressão dos aliados, a presidente fora convencida a segurar Palocci

Depois do arquivamento...

Dilma discute se tira Palocci para conter crise ou se o mantém, como pediu Lula

Maria Lima, Adriana Vasconcelos, Luiza Damé e Cristiane Jungblut

Oprocurador-geral da República, Roberto Gurgel, arquivou ontem os pedidos da oposição para investigar o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) e sua consultoria, argumentando não ter visto indícios dos crimes de enriquecimento ilícito e tráfico de influência. Com isso, Palocci aposta que tem condições de virar o jogo e continuar no cargo, o que foi alimentado por ele próprio e seus aliados, ontem à noite. A primeira providência será procurar apoio no próprio PT e fazer uma grande mobilização no Congresso em busca de fatos favoráveis ao ministro, no rastro da decisão de Gurgel. Mas a presidente Dilma estudava ontem pelo menos duas alternativas: tirar o ministro e conter a crise política ou mantê-lo no cargo, como recomendou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Depois da decisão do procurador, Palocci divulgou nota em que afirma: "Prestei todos os esclarecimentos de forma pública. Entreguei à Procuradoria Geral da República, órgão legalmente competente para avaliar a apuração dos fatos, todos os documentos relativos à empresa Projeto. Espero que esta decisão recoloque o embate político nos termos da razão, do equilíbrio e da Justiça".

Com a decisão do procurador-geral, Palocci espera outros fatos favoráveis à sua permanência: a decisão do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), de anular a convocação de Palocci aprovada semana passada pela Comissão de Agricultura, que pode ser anunciada hoje; a oposição conseguir apenas 24 das 27 assinaturas necessárias para uma CPI no Senado; e evitar a aprovação de novos requerimentos de convocações.

- O estado de espírito dele é o de ficar no cargo - disse um interlocutor do ministro à noite.

Com a decisão do chefe do Ministério Público, Dilma estuda o que fazer, pressionada também pela dificuldade de, se optar pela saída de Palocci, desatar o grande nó da substituição na Casa Civil. Havia uma guerra de versões sobre o futuro que Dilma dará a Palocci. De qualquer forma, ele continuou sangrando com a pressão por sua demissão crescendo entre os aliados do governo, inclusive entre os petistas.

Lula desiste de ir a Brasília

A hipótese de manter Palocci no cargo, com a alegação de que o procurador-geral o inocentou, foi defendida ontem pelo ex-presidente Lula em conversas por telefone com a presidente Dilma. Lula desistiu de ir a Brasília hoje, como previsto inicialmente, mas deu suas sugestões à sucessora. Ontem à noite, depois de articular com Lula por telefone, Dilma se reuniu com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e a informação era que, apesar da pressão dos aliados, a presidente fora convencida a segurar Palocci.

O argumento de Lula para essa solução é que, neste momento, o estrago seria menor com a permanência de Palocci no governo do que com uma mexida que afetaria todo o núcleo do governo. O problema é que sem investigação do Ministério Público, a oposição pode contar com assinaturas de muitos governistas para instalar no Congresso uma CPI para apurar as suspeitas que pesam sobre o ministro.

À noite, confiantes na versão de que o parecer de Gurgel é favorável, o clima entre líderes e interlocutores do Planalto e do PT era de recuo.

- Com o arquivamento do processo pelo procurador, Palocci fica. Ele sai fortalecido. Não era o que Dilma queria. Mas entre querer e dar conta de fazer é outra coisa. Não tem saída, não tem ninguém para colocar no lugar de Palocci agora - disse um interlocutor do grupo lulista pouco antes do anúncio do arquivamento do pedido de investigações na PGR.

Outras fontes, ligadas ao Planalto, davam informações contrárias, de que a situação de Palocci era insustentável e ele caíria entre hoje e amanhã. Depois de anunciada a decisão de Roberto Gurgel, o que se ouvia nos arredores do gabinete presidencial era o seguinte: vamos ver como o mundo político acorda nesta terça-feira. O próprio Palocci telefonou a líderes governistas para falar da decisão de Gurgel, e agradecer o apoio.

Para os setores do PMDB que vêm defendendo Palocci até mesmo contra o fogo amigo petista, a decisão de Gurgel é importante e pode dar sobrevida ao ministro. Mas, para isso, diziam, a presidente Dilma precisa vir a público e dar uma manifestação clara de que considera a crise superada, e que o ministro conta com seu apoio. Ainda assim, isso daria apenas uma sobrevida ao ministro.

- Ela tem que resolver isso. Sem uma posição dela, ele fica sangrando. A questão é a quantidade de sangue que ele pode perder. Um dia, o sangue acaba - comentou ontem um parlamentar governista.

Um dirigente petista, menos otimista em relação aos efeitos da decisão do procurador geral, dizia que fora informado que as assinaturas pela CPI no Senado chegariam a 24 hoje mesmo. Para chegar as 27 necessários, não demoraria muito.

- É muito difícil ele ficar. A situação do Palocci não está fácil e as pressões vão crescer a cada dia - disse esse petista.

Mais cedo, até o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu entrou no circuito. De São Paulo, mantinha conversas com Lula e outros petistas. Estava na mesma posição de Lula, de que mudanças não aconteceriam:

- (A permanência de Palocci) não paralisa o governo e não vejo mudanças - avaliou Dirceu após a conversa com Lula.

Ao longo dia, enquanto o meio político especulava sobre o futuro de Palocci, a Comissão de Ética Pública da Presidência reabriu o debate sobre a evolução patrimonial do ministro da Casa Civil. Na última reunião, dia 16 de maio, a comissão decidiu que não havia o que investigar pois o ministro havia consultado o presidente do órgão, Sepúlveda Pertence, a respeito de sua empresa e informado a respeito da Projeto Consultoria.

Sepúlveda não participou da reunião de ontem, mas o conselheiro Roberto Caldas disse que na próxima reunião, dia 1º de julho, a comissão deverá discutir a não divulgação da agenda de Palocci, uma prática também questionada.

- Qualquer cidadão, inclusive os jornalistas, podem trazer à Comissão de Ética eventuais falhas. Neste momento, você me dá uma informação que eu, como membro da Comissão de Ética, posso verificar e trazer na próxima reunião. Se você me diz em relação à agenda, nós examinaremos a compatibilidade com a lei de divulgação. Isso na próxima reunião, evidente, eu como membro da comissão posso traquilamente levar - afirmou.

FONTE: O GLOBO

Dono de apartamento alugado a Palocci é do PT

Dono do apartamento alugado ao ministro Antonio Palocci, o advogado Gesmo Siqueira dos Santos é filiado ao PT de Mauá, no ABC paulista, há 23 anos, segundo o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Palocci diz que não conhece o advogado, que, por sua vez, afirmou não se lembrar de ter se filiado ao PT. O PT de Mauá informou que Gesmo já foi filiado ao partido, mas que a inscrição foi cancelada

Dono do apartamento alugado é filiado ao PT

CRISE NO GOVERNO

Palocci reafirma não conhecer advogado, que dissera não ter assinado ficha de filiação do partido: "sou apartidário"

Germano Oliveira

SÃO PAULO. O advogado Gesmo Siqueira dos Santos, proprietário do apartamento alugado pelo ministro Antonio Palocci, é filiado ao PT de Mauá, no ABC paulista, há 23 anos, segundo informou ontem ao GLOBO o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). Por e-mail, o TRE informou diz que "sua situação é regular no PT com data de filiação de 16 de abril de 1988".

- O ministro reafirma que não conhece Gesmo Siqueira dos Santos. Nunca esteve com ele, nunca o viu no PT ou em qualquer outro lugar. O ministro não pode ser responsável pelos atos de Gesmo - disse Thomaz Traumann, assessor especial de Palocci, ao ser informado sobre a filiação.

O presidente do PT de Mauá, Leandro Dias confirmou, por meio de sua assessoria, que Gesmo já foi filiado ao partido, mas informou que a inscrição foi cancelada. Leandro não informou a data do cancelamento. Mas, segundo o TRE, a filiação de Gesmo ao PT "é regular".

Leandro é filho do prefeito petista de Mauá, Oswaldo Dias. Ontem, a assessoria do prefeito e do presidente municipal do PT, que é a mesma, disse que a administração petista da cidade do ABC não tem qualquer envolvimento com Gesmo ou com seu sobrinho, Dayvini Costa Nunes.

Laranja teria trabalhado na prefeitura de Mauá

Em entrevista à revista "Veja", Dayvini disse ser laranja no caso do aluguel do apartamento a Palocci. Afirmou que morava num casebre e que chegou a trabalhar na prefeitura de Mauá.

A assessoria do prefeito e do presidente do PT confirmou que Dayvini trabalhou na prefeitura - de 7 de julho de 2008, na administração de Leonel Damo, adversário do PT, até 5 de janeiro de 2009, quando foi exonerado da chefia de uma unidade de saúde. Dayvini, segundo a assessoria, foi demitido pelo prefeito Oswaldo Dias.

Gesmo disse ontem não se lembrar de ter se filiado ao PT.

- Não tenho nada com o PT. Sou apartidário. Nunca atuei no partido. Não me lembro de ter assinado a ficha de filiação - disse Gesmo, que responde a 35 processos por falsificação de documentos e adulteração de combustíveis em postos de gasolina de sua propriedade.

Gesmo só fala por celular. Todos os endereços fornecidos em documentos oficiais por ele são frios e suas empresas são de fachada. Até o endereço dado por ele à OAB, seção de São Paulo, é frio. Nesse endereço, em Moema, funciona uma clínica veterinária; o veterinário não conhece Gesmo.

O advogado disse que não pode aparecer para não sofrer ações e retaliações de seus credores, razão pela qual também passou seus bens para os filhos e sobrinhos. Disse que não conhece Palocci e que, ao firmar os contratos de aluguel do apartamento, o fazia por meio de motoboys, que levavam os contratos até os escritórios de Palocci e sua mulher Margarete, que os devolviam aos motoboys, após assinados.

Colaborou Lino Rodrigues

FONTE: O GLOBO

Com ‘fuerza’, mas sem força

Em visita a Brasília, o venezuelano Hugo Chávez encontrou-se ontem com o ministro Antonio Palocci e, depois de um abraço, recomendou: "Fuerza, fuerza." Mais cedo, a Força Sindical, central aliada do governo, pediu em nota a saída de Palocci. "O imediato afastamento do ministro só trará benefícios para o país, que vive um bom momento econômico, mas começa a sentir a paralisia política do governo", diz a nota

"Fuerza, fuerza", diz Chávez ao ministro

Chico de Gois e Luiza Damé

BRASÍLIA. Depois das entrevistas dadas na última sexta-feira, o ministro Antonio Palocci, esforçou-se ontem para deixar a impressão de que nada o abala e que as explicações que deu seriam suficientes. Ontem, todo sorrisos em evento público no Palácio do Planalto, antes de o procurador-geral da República anunciar o arquivamento do caso, ele voltou a adotar o silêncio. A falta de resposta também se estendeu à presidente Dilma Rousseff toda vez que jornalistas lhes perguntaram sobre o futuro do chefe da Casa Civil.

O incômodo era visível. Sem o apoio dos petistas e até mesmo de Dilma, Palocci acabou ganhando o incentivo do controverso presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que em visita ontem ao Brasil lhe sugeriu "fuerza" para aguentar as pressões. Incomodada com a situação, a presidente não falou publicamente do assunto.

De manhã, depois de cumprimentar ministros brasileiros e venezuelanos no Planalto, a presidente Dilma se dirigia ao final da rampa que dá acesso ao Palácio para esperar Chávez quando foi provocada pelos jornalistas sobre Palocci. Ela apenas sorriu e deu meia-volta, sem responder à pergunta. À tarde, no Itamaraty, ao chegar para o almoço com o presidente venezuelano, Dilma acenou para repórteres, mas novamente não respondeu se o ministro continuará no cargo.

O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, foi outro que se recusou a comentar a situação do ministro da Casa Civil:

- Não tenho a menor informação e não quero dar opinião sobre isso. Perguntem ao Palocci.

Mas Palocci não atendeu aos chamados da imprensa, e, na saída do Itamaraty, seu carro procurou de todas as maneiras fugir dos repórteres. O único apoio lhe chegou com o abraço de Hugo Chávez, que se equilibra em uma muleta depois de ter machucado o joelho no mês passado.

- Fuerza, fuerza - disse o venezuelano.

Foi a primeira visita de trabalho de Chávez ao Brasil depois da era Lula. O venezuelano derramou-se em declarações elogiosas à presidente Dilma Rousseff, a quem acusou, de brincadeira, de lhe ter roubado o coração. O "amor" por Dilma começou, segundo afirmou, na Venezuela, quando a presidente ainda era ministra de Minas e Energia. Brasil e Venezuela assinaram ontem dez memorandos de cooperação em várias áreas, como agricultura, habitação e energia. No entanto, nenhum acordo foi assinado sobre a refinaria Abreu e Lima, que seria construída em parceria pelos dois países, mas que, por causa da demora por parte da Venezuela a investir recursos na obra, tem sido tocada somente pela Petrobras.

- Dilma me roubou o coração em Caracas - declarou Chávez, esclarecendo que ele teria se encantado com ela no encontro na Venezuela.

O venezuelano, ao lembrar dos oito anos de mandato de Lula, elogiou os ministros que, em sua análise, ajudaram o ex-presidente a desenvolver o Brasil e citou nominalmente Dilma e Palocci.

FONTE: O GLOBO

Sair ou sair:: Merval Pereira

Para se ter uma ideia de como a situação do chefe do Casa Civil, Antonio Palocci, está se deteriorando, basta ouvir as especulações políticas que se fazem em torno de seu destino, mesmo depois de o procurador-geral da República ter decidido arquivar o pedido de inquérito contra ele, por considerar que não há indícios suficientes.

Continua sendo majoritária a sensação de que Palocci tem que sair, pois as acusações de que a decisão oficial foi tomada a seu favor através de conchavos de bastidores não deixarão que a sombra da suspeição o abandone.

Principalmente porque a recondução de Roberto Gurgel ao cargo de procurador-geral da República está para ser decidida pela presidente Dilma e desafortunadamente deve ser anunciada nos próximos dias, uma coincidência no mínimo desagradável politicamente.

Ainda mais depois que a Caixa Econômica Federal apontou oficialmente o Ministério da Fazenda como o mandante da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, anulando moralmente a decisão do Supremo de livrá-lo dessa acusação.

No entanto, no despacho do procurador-geral há o registro de que, "não competindo ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar atos de improbidade administrativa atribuídos a autoridades com prerrogativa de foro, não detém o procurador-geral da República atribuição para a análise das representações sob tal perspectiva, incumbindo-lhe o seu exame exclusivamente no aspecto penal".

Com isso, o procurador retirou sua responsabilidade sobre uma eventual improbidade administrativa cometida pelo ministro Palocci, lembrando que "tramita na Procuradoria da República no Distrito Federal inquérito civil instaurado para apurar, sob a ótica da improbidade administrativa, os mesmos fatos".

Palocci começou tendo o apoio velado até da oposição, e seu silêncio nos primeiros dias era sinal de que considerava que a questão seria superada com o tempo, caindo no esquecimento.

Hoje, o próprio PT já puxou o tapete sob os pés de Palocci - negando-lhe apoio formal -, o PCdoB pede uma solução rápida que fortaleça a autoridade da presidente, e a Força Sindical pediu seu afastamento.

Vários companheiros seus já dão declarações contra a permanência no cargo, e ele mesmo, na entrevista que concedeu à Rede Globo, colocou-se à disposição da presidente Dilma para ser afastado, afirmando que a crise política não tem nada a ver com o governo, mas apenas com ele mesmo.

Parece disposto a se sacrificar para não contaminar o governo da presidente Dilma.

Tenho a forte impressão de que Palocci se afastará do governo, mesmo com a decisão do procurador-geral da República.

Sairá respaldado pela decisão do procurador-geral, mas poderá permanecer afastado até que o inquérito civil termine. Haverá uma razão concreta para a atitude, e a possibilidade de reeditar nesse caso a emblemática decisão do então presidente Itamar Franco, que afastou seu chefe do Gabinete Civil Henrique Hargreaves, diante de acusações menos graves até, e reconduziu-o tempos depois, quando o inquérito concluiu por sua inocência.

Sem contar com a possibilidade de fatos novos surgirem, no campo político, com a assinatura de membros da base aliada para a abertura de uma CPI, como já fez ontem a senadora Ana Amélia e prometem fazer outros, que só esperam a palavra do procurador. Na falta de inquérito, pelo menos o senador Pedro Simon já anunciou que assinará o pedido de CPI.

No campo pessoal, fatos novos surgem todos os dias, como essa estranha empresa laranja que é dona do apartamento onde a família Palocci reside de aluguel, apesar de ter outro belo apartamento fechado na mesma cidade de São Paulo.

Para complicar ainda mais a situação política, a presidente Dilma deixa escapar que se aconselhará com o ex-presidente Lula antes de tomar uma decisão.

Não poderia dar maior demonstração de que é tutelada, como a oposição acusava durante a campanha presidencial.

A presença de Lula no centro das negociações políticas na semana anterior, reunindo-se com os senadores da base aliada na casa do presidente do Senado, José Sarney, e dando orientações sobre como superar a crise, já havia corroído a credibilidade da presidente.

Os registros de que ela havia ficado aborrecida com o tamanho da intromissão e a falta de cuidado de preservar sua autoridade por parte de Lula pareciam demonstrar que, afinal, a presidente reagiria para recuperar o lugar que é só seu no posto de comando das ações políticas do país.

Qual o quê. Na primeira decisão grave que tem que tomar, foi se aconselhar com o padrinho, que havia indicado Palocci para o cargo mais importante do governo.

Dilma não apenas ficou impossibilitada de nomear uma pessoa de sua confiança pessoal para a Casa Civil como agora, quando pode ter essa chance, rifando quem fora nomeada para tutelá-la, não tem segurança política para fazê-lo e vai buscar apoio naquele que parece ser a última instância em todas as tomadas de decisão dos governos petistas.

A presidente Dilma, desta vez por escolha própria, está se apresentando ao eleitorado como um fantoche de Lula, confirmando o que a oposição dizia na campanha eleitoral.

A situação é mais grave politicamente porque tanto o PT quanto o próprio Palocci trataram de tentar isolar o caso da atuação do governo.

Se não é uma crise partidária, a consulta a Lula tem um caráter totalmente privado, entre criatura e criador, com a presidente tendo cautelas excessivas para demitir Palocci sem melindrar Lula.

As mesmas cautelas que Lula não teve quando interveio na crise política para tentar salvar seu protegido.

Ou a mesma prudência que Palocci não teve quando preferiu proteger o sigilo das empresas que o contrataram em vez de preservar o governo a que está servindo.

Preferiu proteger os interesses privados, que lhe renderam grossa remuneração, ao interesse público.

FONTE: O GLOBO

Sem mais delongas:: Dora Kramer

Na primeira semana cobraram-se explicações, na segunda discutiu-se a demissão e agora, na terceira semana desde a descoberta de que o ministro da Casa Civil enriqueceu ao ponto de pagar R$ 6,5 milhões por um apartamento só "para investir", o que se tem é uma presidente à frente de um governo refém das circunstâncias e das pressões.

Ora espera a chegada de Lula a Brasília, ora aguarda a manifestação do procurador-geral, ora tenta pesar e medir se há alguma chance de o caso esfriar. Fato é que a presidente Dilma Rousseff vai perdendo a chance de chamar a si a decisão sobre o destino de Palocci e, com isso, prolonga a crise.

Daqui em diante a cada dia aumenta o risco de o caso deixar de ser uma questão pessoal para dar margem a questionamentos mais gerais.

Até agora a boa-fé geral tomou como verdadeira a justificativa de que o enriquecimento, notadamente o faturamento de R$ 10 milhões nos dois meses que antecederam ao encerramento das atividades de consultoria da empresa Projeto, deveu-se à prestação de serviços de aconselhamento empresarial.

Não demora essa hesitação toda dará margem à dúvida sobre a origem do dinheiro: terá sido mesmo de consultorias? Antonio Palocci não quer revelar a lista de clientes. Prefere cair a fazê-lo.

Considerando a incompatibilidade existente entre a confidencialidade de contratos privados e a transparência exigida ao agente público, Palocci deveria ter tomado a iniciativa de sair no momento em que escolheu preservar a clientela.

A menos que essa clientela simplesmente não exista, que esse argumento da confidencialidade esteja escondendo uma impossibilidade de explicação maior ainda e que o dinheiro tenha outra origem. Sobras de campanha, por exemplo, como registram algumas suspeitas vocalizadas por oposicionistas.

Aí o problema não seria mais de natureza pessoal. Diria respeito à coletividade envolvida no projeto político que propiciou a arrecadação. É só uma hipótese, como várias outras que proliferam no pantanoso terreno das incertezas.

Primeiro foi Palocci quem alimentou as dúvidas ao demorar a se manifestar e agora é a própria presidente quem dá ensejo a toda sorte de versões ao titubear na tomada de uma decisão que, em tese, é intransferível.

Sua autoridade já havia sido seriamente abalada quando o ex-presidente Lula desembarcou em Brasília para tentar organizar a confusão resultante do silêncio do ministro-chefe da Casa Civil somada à desordem nas relações do Planalto com o Congresso.

Ao se deixar pautar pela volta de Lula à capital e pelo parecer do Ministério Público, Dilma Rousseff torna um pouco mais inconsistente o capital de credibilidade que vinha conseguindo amealhar nesses meses desde a posse.

Abre mão da chance de retomar o comando de seu governo, justamente no momento em que perde seu principal anteparo. Não cabe, ou pelo menos não deveria caber, a Lula essa decisão.

Tampouco uma resolução que diz respeito ao funcionamento do governo pode ser transferida ao procurador-geral, Roberto Gurgel. Ele decidirá sobre a abertura ou não de investigações no âmbito do Ministério Público.

Quem está apta a deliberar sobre a permanência ou não de um ministro é a presidente, baseada em critérios próprios de julgamento a respeito das condições que esse mesmo ministro reúne para prosseguir na posse de suas atribuições.

Ela é o árbitro dessa questão. Com todos os ônus e bônus daí decorrentes. Se não é capaz de pesar e medir levando em conta as balizas da lógica, da política, da ética e daquilo que espera dela a sociedade, não será capaz de levar a bom termo a Presidência da República.

O segundo desembarque de Lula em Brasília só confirmará as piores expectativas de que Dilma seria uma presidente de direito tutelada pelo ex-presidente que exerceria por intermédio dela um terceiro mandato de fato.

Aos navegantes. Margareth Palocci manda avisar a quem interessa: seu marido espera do PT e do governo o mesmo tratamento que tiveram José Dirceu, Delúbio e companhia.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A crise e a sombra :: Fernando de Barros e Silva

O procurador-geral arquivou o caso Palocci. É uma decisão que diz mais sobre Roberto Gurgel do que sobre os negócios do ministro. Ou alguém acredita que agora está tudo explicado?

Não se sabe que uso Dilma fará dessa decisão, de resto previsível. Não parece que ela altere o ambiente polítco. É possível que Dilma ainda não tenha demitido Palocci porque não sabe quem pôr no lugar nem como redesenhar o governo.

Uma figura como o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, o leva e traz, não chega a ser nem mesmo decorativa. Alguém assim só pode funcionar (ou deixar de fazê-lo sem causar problemas) ao lado de um ministro como Palocci, que ocupava os espaços.

Entre as opções disponíveis para a Casa Civil, Paulo Bernardo é o que, em tese, teria mais chances de ser um "Palocci cover", uma versão em aquarela do nosso consultor número 1. Petista convertido ao mercado, tarefeiro, tipão pragmático e responsável, Paulo Bernardo, no entanto, dificilmente faria a função de elo entre Lula e Dilma, desempenhada por Palocci. Ele não é da cota de "confiança pessoal" do ex.

Gilberto Carvalho, pelo contrário, é uma espécie de fantoche de Lula. Sua eventual ida para a Casa Civil seria uma renúncia branca.

Restariam, ainda, as apostas um tanto improváveis em Miriam Belchior (Planejamento) ou Maria da Graça Foster, a técnica da Petrobras amiga da presidente. Nos dois casos, Dilma estaria moldando a Casa Civil à sua imagem, esvaziando-a de sua dimensão política e transferindo o problema hoje mal resolvido para outra esfera do governo.

Com Palocci morto-vivo e nenhuma opção óbvia para substitui-lo, há uma grande interrogação sobre a capacidade de operação política deste governo. Dilma parecia ter afastado de si a imagem de que era tutelada por Lula. No último mês, as evidências de que isso não era verdade foram muito fortes. Veremos como a "presidenta" vai se virar com a crise e com a sombra.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A crise está no governo:: Raymundo Costa

É pouco provável que a demissão do ministro Antonio Palocci e sua substituição por outro petista encerre a crise política pela qual passa o governo. Isso exige a mudança de postura da presidente da República em relação ao Congresso, o que ela mesma já reconheceu, mas também a conciliação de interesses do PT e da imensa e heterogênea base de sustentação parlamentar do governo, especialmente do PMDB, o maior partido da base, a cada dia menos cúmplice da presidente que ajudou a eleger.

Para os pemedebistas é irrelevante se Palocci sai ou fica, se não houver uma efetiva divisão de poder, o que era o pressuposto da aliança eleitoral de 2010.

Do ponto de vista pemedebista, longe de ser um "problema pessoal" de Palocci, como caracteriza o chefe da Casa Civil, a crise está no governo e somente se resolve com a efetivação no poder do partido do vice-presidente da República, Michel Temer. O PMDB se ressente do alijamento de Temer nas decisões de governo. Insatisfação antiga, forjada na constituição do ministério.

Dilma, que teve um pemedebista como candidato a vice, reduziu o papel do PMDB em relação ao que o partido tinha no governo anterior do presidente Lula, ao qual aderiu tardiamente.

A crise com o PMDB estava em gestação, portanto, é certo que houve muito cálculo político quando Michel Temer reagiu ao célebre telefonema de Palocci cobrando a fidelidade do partido na votação do Código Florestal. Foi a "deixa" aguardada para o vice expressar o descontentamento partidário.

Poucos foram os partidos, nesses 25 anos ininterruptos de democracia, que souberam tirar proveito das crises tão bem quanto o PMDB. Talvez o antigo PFL com a sua política de morde (Antonio Carlos Magalhães) e assopra (Marco Maciel). E o PMDB está apresentando a fatura a presidente Dilma.

Partido que carrega a tatuagem do fisiologismo, o PMDB agora toma o cuidado de dizer que não é movido pelo desejo de cargos, mas de formulação e participação efetiva no exercício de poder. A rigor a cúpula partidária estaria 99,9% atendida no que se refere às nomeações, apesar de ainda ter correligionários de peso na chuva, casos de José Maranhão (PB), Hélio Costa (MG) e Orlando Pessuti (PR).

O exemplo que os pemedebistas gostam de apresentar é a completa ausência dos ministérios do partido na execução daquele que é anunciado pela própria presidente da República como sendo o principal programa de seu governo, o Brasil Sem Miséria. Os pemedebistas não foram envolvidos nem na elaboração nem na execução de um programa que tem tudo para render bons dividendos eleitorais, se for bem sucedido.

O Ministério de Minas e Energia e o de Agricultura poderiam ser facilmente engajados no esforço para a erradicação da pobreza no país, mas o Brasil Sem Miséria ficou caracterizadamente petista, apesar da escalação do Ministério da Integração Nacional, comandado pelo PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

A avaliação crua do PMDB é que o mais importante programa de Dilma foi definido sem a participação de seu sócio-proprietário e que Michel Temer é um vice-presidente sem qualquer influência no governo, quando não deveria ser considerado um vice comum, igual a seus antecessores na função.

O atual senador Itamar Franco, vice de Fernando Collor, não tinha partido (filiara-se ao minúsculo PRN por uma conveniência eleitoral). O ex-senador Marco Maciel não foi a primeira opção do tucano Fernando Henrique Cardoso e foi escolhido por causa de uma denúncia contra um assessor de Guilherme Palmeira, o nome preferido do PSDB. O último vice, José Alencar, era um empresário bem sucedido que entrou na chapa de Lula da Silva para sinalizar a inflexão programática do PT.

A cúpula do PMDB alega que Temer tem um trânsito institucional diferente dos demais: foi três vezes presidente da Câmara e está no efetivo comando do PMDB, partido majoritário no Senado e a segunda maior bancada da Câmara. Basta observar a unidade demonstrada pela sigla em votações importantes para o governo - os pemedebistas não consideram que houve traição na votação do Código Florestal. A dissidência se estendeu por toda a base de apoio ao governo.

A fatura pemedebista tem créditos da campanha eleitoral. Um exemplo é o empenho da cúpula pemedebista para resolver problemas espinhosos, como a retirada da candidatura à reeleição do governador Orlando Pessuti, no Paraná, importante, à época, para o esquema eleitoral da candidata Dilma no Estado.

No entanto, dirigentes pemedebistas consideram que o vice-presidente, a principal referência da aliança do partido com o PT, está restrito à articulação parlamentar na Câmara dos Deputados. Temer nem mesmo é chamado para solenidades político-administrativas que lhe permitiriam aparecer bem na foto, ao lado de Dilma Rousseff.

Na ótica do PMDB, a ausência do partido do núcleo de poder é que deixou a presidente Dilma vulnerável ao "fogo amigo" petista. A avaliação corrente é que a hegemonia atiçou a cobiça dos vários grupos e correntes que disputam o controle do PT.

Dizem os pemedebistas que não se trata de fazer ameaça, mal querência ou má vontade, mas se a presidente não resolver a situação do PMDB, será irrelevante manter ou afastar Palocci da Casa Civil. A crise política continuará rondando o Palácio do Planalto, até porque, além deles, há insatisfação nos outros partidos da base com a hegemonia petista.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Solidão :: Eliane Cantanhêde

A crise e o enriquecimento súbito de Antonio Palocci não atingem a imagem do próprio Palocci, que não é primário desde a história das malas de dinheiro e da quebra do sigilo do Francenildo.

Também não pioram a corrosão da imagem do PT desde a chegada ao poder, com mensalão, aloprados, dossiês, cuecões.

E, enfim, também não agravam a deterioração da Casa Civil da Presidência depois de Waldomiro Diniz achacando bicheiro; seu chefe Zé Dirceu despencando sob o peso do mensalão; Erenice Guerra abrindo as portas para a família.

Quem mais perde com o escândalo, pois, é Dilma Rousseff. Na campanha, houve um acordo velado para descolá-la de Erenice, seu braço direito tanto no Minas e Energia como na Casa Civil. Já no governo, tentam afastá-la das labaredas que consomem Palocci. Mas como não sair chamuscada?

A crise remete às fragilidades de Dilma que Lula tratou de minimizar e a oposição não soube explorar na eleição: inexperiência, falta de gosto político, de intimidade com o PT e de autoridade sobre o PMDB. Afinal, nunca fora eleita para nada. Mas a principal fragilidade da presidente é outra: solidão.

Dilma engoliu uma equipe de campanha com a qual não tinha proximidade, convivência, confiança. Ficou na mão dela, particularmente de Palocci, e montou um governo que não é seu. Está só.

PT e PMDB esfregam as mãos. Ela vai ter de reconstruir sua coordenação política, peça por peça, a partir das mesmas deficiências: a falta de equipe técnica, que fez emergir Erenice, e de liderança política, que desembocou na força de Palocci. Ou escolhe Miriam Belchior e Maria da Graça Foster, que entendem de política tanto quanto ela própria, ou cai novamente nas mãos de um espertalhão.

Força Sindical, PC do B e senadora do PP pulam do barco, enquanto a PGR joga uma boia furada para Palocci, e Chávez sopra: "Fuerza, fuerza". Glub, glub, glub.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Ocaso de Palocci:: Míriam Leitão

O governo Dilma ficou mais fraco desde o começo da crise de Antonio Palocci. O que ficou claro é que a presidente Dilma perdeu uma peça importante que não só era o melhor interlocutor para a economia, como também uma pessoa com experiência de articulação política. Aos cinco meses de vida o governo parece sem rumo, ao sabor das pressões e tutelado pelo ex-presidente.

A ideia de que a solução é ter uma Dilma da Dilma é evidentemente falta de entendimento da complexidade dos riscos a que o governo está exposto neste momento. De um lado, a capacidade gerencial da presidente na Casa Civil foi mais produto de marketing eleitoral do que comprovação dos fatos, como se vê hoje pelas várias descobertas de que, passada a maquiagem eleitoral, os projetos estão emperrados por falta de capacidade de execução dos empreendimentos. Por outro, porque até Palocci, que era mais experiente, foi encurralado pelo excesso de demandas de um voraz PMDB e pelos interesses fragmentados de uma base difícil de administrar.

O que cai por terra nessa crise é a análise superficial que sustentava, no início da administração, que Dilma seria ainda mais forte do que Lula porque tinha uma coalizão mais ampla. Contavam-se números de parlamentares como se fossem comprovações de unidade. Mas cada partido do país é um aglomerado de interesses muitas vezes paroquiais. Os mais de 75% de deputados que são da base governistas vão se organizar de maneira diferente a cada votação ou dependendo do contexto das nomeações feitas por seus indicados.

O sistema político brasileiro é intrincado e exige a liderança presidencial. Os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula puderam ter chefes da Casa Civil com perfil técnico, como Clóvis Carvalho e Pedro Parente ou a própria Dilma, porque tinham capacidade de negociação com as suas disformes bases políticas. Mas, no cotidiano, o governo tem que enfrentar coalizões em torno de interesses que podem derrotá-lo, como no Código Florestal, ou em torno de demandas pessoais ou de grupos, como nas nomeações para cargos.

Palocci nos últimos dias se tornou o centro de toda a discussão em torno do governo, e quando isso acontece, ao contrário do que disse na entrevista à TV Globo, a crise não é pessoal, mas do próprio governo. Ele passou de ponto forte a calcanhar de aquiles; de ministro poderoso a ponto de chantagem política. A cada aborrecimento uma parte da base reagia ameaçando convocar Palocci para depor, como forma de pressionar para o atendimento de demandas, em geral, descabidas. Uma pessoa com esse grau de fragilidade não pode comandar a Casa Civil.

Palocci não é um outro caso Erenice Guerra. A ex-chefe da Casa Civil do presidente Lula foi indicação direta da então candidata Dilma Rousseff, que, ao indicá-la, mostrou falta de capacidade de avaliar uma pessoa com a qual trabalhou com total proximidade. Palocci é quadro do PT. Os dois haviam se desentendido antes e ele foi conquistando espaço durante a campanha eleitoral.

Palocci tem serviços prestados ao PT, ao ex-presidente Lula e à presidente Dilma. Ele foi o primeiro a entender, no entorno do então candidato Lula em 2002, a importância de se fazer uma transmutação do discurso do "contra tudo o que está aí" para a "Carta aos brasileiros". Foi ele que lutou internamente para que a carta não fosse uma promessa vazia, mas um esforço de fato para manter a estabilidade da moeda. Se ele não tivesse sido firme - inclusive enfrentando brigas intestinas no PT - a história do governo Lula seria bem outra. O país não queria a inflação de volta e ele entendeu isso antes do grupo dos economistas do PT.

No início da campanha eleitoral de Dilma Rousseff, Palocci foi de empresa a empresa, de banco a banco, sustentando que a candidata manteria as bases da política econômica anterior. A grande desconfiança vinha do fato de que as teses que ela tinha defendido - inclusive na briga com Palocci em 2005 - mostravam tendência à ampliação do gasto público e da estatização. A partir das garantias dadas por Palocci aumentaram as contribuições à campanha da candidata.

Mas os erros de Palocci sempre são devastadores. Ainda que o Supremo Tribunal Federal o tenha excluído da ação sobre a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, as suspeitas continuaram. Até porque a ele é que interessava a informação que se buscou indevidamente naquela ação ilegal. Era de Palocci que Francenildo falava quando dizia que confirmaria até a morte a frequência na casa do lobby de Brasília. Foi o que levou à queda do ministro em 2006.

Agora, o crescimento rápido do patrimônio era um indício de algo estranho. Seu silêncio longo demais só aumentou a desconfiança em relação ao salto patrimonial. Suas explicações quando vieram nada explicaram. Qualquer pessoa com mediana informação sobre como funciona o mercado de consultoria não se convence com aquelas explicações de que no último mês de funcionamento da empresa ela faturou muito mais porque rompeu os contratos. Mal preparada e atrasada, a defesa não convenceu. E a crise é sim do governo.

FONTE O GLOBO

Bombeiros: Salário 5 vezes maior no Distrito Federal

Bombeiros na ALERJ
Estado desautoriza secretário que endureceu discurso. Cariocas civis aderem ao movimento e doam até dinheiro

Rio - Com salário inicial de R$ 4,6 mil — pode chegar a R$ 4,8 mil —, bombeiros do Distrito Federal ganham quase 5 vezes mais que os do Rio. E nos estados de São Paulo e Minas Gerais, o valor pago a quem ingressa na carreira — R$ 2,17 mil e R$ 2,01 mil, respectivamente — é o dobro do que recebe o bombeiro fluminense.

A manifestação da categoria reivindica aumento do soldo para R$ 2 mil — hoje é pouco mais de R$ 1 mil bruto e R$ 950 líquidos. Mesmo com o aumento, o salário dos militares, ao fim do governo, será inferior ao praticado em Sergipe, que é de R$ 3 mil.

Governo admite negociar com os bombeiros

O governo voltou atrás e já admite negociar com os bombeiros. Em nota oficial, o estado desautorizou o secretário estadual da Casa Civil, Régis Fichtner, que dissera que o canal de negociação fora fechado “por causa da invasão” no Quartel-Central, sexta-feira. “O governo sempre esteve aberto ao diálogo”, afirmou o comunicado. Ontem, o movimento conquistou a adesão dos cariocas, que penduraram faixas em janelas e nos carros e até doaram dinheiro aos militares acampados na porta da Alerj.

“Existe um canal de comunicação aberto. Já mandei recado para as lideranças do movimento: quero recebê-los”, disse o novo comandante da corporação, coronel Sérgio Simões.

Já a liberdade dos 439 bombeiros está nas mãos da Auditoria de Justiça Militar. Ontem, o subcorregedor da PM, coronel Ronaldo Menezes, entregou a comunicação de prisão em flagrante à juíza Ana Paula Monte Figueiredo Pena Barros, que a encaminhou ao Ministério Público. O governo do estado divulgou que o promotor Leonardo Souza, da Auditoria Militar, já teria dito que não há irregularidade nas prisões e que os militares cometeram crime ao invadir o QG. A Associação de Cabos e Soldados deve entrar com pedido de habeas corpus hoje.

Ontem, membros da Comissão de Direitos Humanos da OAB vistoriaram os locais do Rio e Niterói onde os militares estão presos. A presidente da comissão, Margarida Pressburger, disse que não foram encontradas irregularidades, mas ela ouviu queixas sobre a violência de PMs na retomada do QG, sábado.

FONTE: O DIA

Governo do RJ rejeita libertação de bombeiros

O novo comandante do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, coronel Sérgio Simões, disse ontem que a soltura dos 439 presos por invadir o quartel da corporação na sexta-feira é inegociável. Simões disse que o futuro dos bombeiros presos depende agora da Justiça Militar.

– O governo não pode fazer essa interferência. É um rito na esfera da Justiça Militar – disse ele.

Três dias após a prisão dos bombeiros que reivindicam melhores salários e condições de trabalho, o impasse com o governo não dá sinais de arrefecimento. O secretário-chefe da Casa Civil do governo Sérgio Cabral, Régis Fichtner, disse que a invasão fecha qualquer canal de diálogo.

O deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP) se uniu a cinco deputados da Assembleia Legislativa numa frente que pretende trancar a pauta de votações até que o governo solte os bombeiros. Até o começo da noite de ontem, porém, a Auditoria Militar não havia sido oficialmente notificada das prisões. Só a partir da notificação, a Promotoria poderá decidir se apresenta denúncia contra os bombeiros.

Num processo independente, a juíza Clarice de Matta e Fortes negou pedido de habeas corpus de nove bombeiros detidos. "Os atores eram, espantosamente, bombeiros militares enfurecidos, ensandecidos, buscando com força bruta alcançar intentos que consideravam justos", afirmou a juíza em sua decisão.

Ontem, durante todo o dia, centenas de manifestantes permaneceram em frente à Assembleia pedindo a libertação dos bombeiros presos no sábado. Também houve pequenos protestos espalhados por outros bairros da cidade.

Segundo a corporação, o atendimento à população, porém, não foi afetado. Na tarde de ontem, bombeiros controlaram com sucesso um incêndio no prédio do Juizado Especial Cível, na Gávea (zona sul do Rio).

Entenda o caso

OS BOMBEIROS DO RJ

- Efetivo: 17 mil

- Guarda-vidas: 1 mil

- Salário líquido: R$ 950 (soldados), R$ 8 mil (coronéis)

O QUE REIVINDICAM

- R$ 2 mil líquido

- Vale-transporte

- Melhores condições de trabalho: protetor solar, óculos de sol

O QUE O GOVERNO DO RJ PROPÕE

- Aumento de 1% ao mês, parcelado em 48 vezes, para bombeiros e policiais militares

OS PROTESTOS

- Em abril, a categoria começa a fazer manifestações e caminhadas nas ruas do Rio de Janeiro.

- Por duas vezes, em maio, eles fazem passeatas no Centro, interrompendo o trânsito

- No dia 13 de maio, a Justiça decreta a prisão dos cinco líderes do movimento, acusados de incitamento à prática de crimes militares, como descumprimento de missão. Uma semana depois, são soltos

- Na quinta-feira, 36 salva-vidas são transferidos para o Interior. A medida é vista como retaliação

- Na sexta, os bombeiros saem em caminhada até o Quartel Central dos Bombeiros. Na porta, os policiais do Batalhão de Choque dão passagem aos 3 mil manifestantes

- No sábado, 439 bombeiros são presos pelo Bope e levados para uma unidade da PM

FONTE: ZERO HORA (RS)

Comando não negocia soltar bombeiros

Novo comandante da corporação no RJ diz que rebelados que invadiram quartel dependem agora da Justiça Militar

Impasse entre o governo estadual e os bombeiros continua; Defensoria diz que vai pedir hoje a libertação dos presos

Marco Antonio Martins, Rodrigo Rötzsch e Fábio Grellet

RIO - O novo comandante do Corpo de Bombeiros do Rio, coronel Sérgio Simões, disse ontem que a soltura dos 439 bombeiros presos por invadirem o quartel da corporação na sexta-feira é inegociável.

Simões se colocou como único interlocutor do governo com os manifestantes.

Em entrevista à TV Globo, ele afirmou que o futuro dos bombeiros presos depende agora da Justiça Militar. "O governo não pode fazer essa interferência", afirmou.

Dois dias após a prisão dos bombeiros, que reivindicam melhores salários e condições de trabalho, o impasse com o governo continuou.

O secretário-chefe da Casa Civil do governo Sérgio Cabral (PMDB), Régis Fichtner, disse que a invasão fecha qualquer canal de diálogo.

A Defensoria Pública afirmou que vai apresentar hoje à Justiça Militar o pedido de libertação dos bombeiros.

"Até hoje [ontem], a PM não comunicou a prisão à Defensoria nem à Justiça. Se amanhã [hoje] esse comunicado não for feito, vamos pedir o relaxamento de prisão. Se as prisões forem informadas, a medida será a liberdade provisória", disse o defensor Nilson Bruno Filho.

A Auditoria Militar, no entanto, não havia sido notificada das prisões.

Num processo independente, a juíza Clarice de Matta e Fortes negou pedido de habeas corpus de nove líderes dos bombeiros. "Os atores eram, espantosamente, bombeiros militares enfurecidos, ensandecidos, buscando com força bruta alcançar intentos que consideravam justos", afirmou a juíza.

MANIFESTAÇÕES

Ontem, centenas de manifestantes permaneceram em frente à Assembleia Legislativa em apoio aos bombeiros. Eles distribuíram um cartaz em que Cabral era caracterizado com o bigode e o penteado de Adolf Hitler.

No sábado, o governador chamou os bombeiros rebelados de "vândalos".

Também houve pequenos protestos, organizados por bombeiros, espalhados por outros bairros da cidade.

Nos quartéis, plantonistas informam que o efetivo está reduzido, mas, segundo a corporação, o atendimento à população não foi afetado.

O apoio aos manifestantes chegou ao plenário da Assembleia. Seis deputados estaduais pretendem trancar a pauta de votações, a partir de hoje, até que os bombeiros sejam libertados.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Apagando incêndios :: Carlos Heitor Cony

RIO DE JANEIRO - Quando o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália, em 1942, pelo menos aqui no Rio houve uma campanha para formar bombeiros voluntários: medo de ataques aéreos que não chegaram a acontecer. Um vizinho meu, um tal de Bezerra, recebia inscrições de pessoas acima de 50 anos.

Desconfio que meu pai, clandestinamente, foi um dos voluntários, atitudes heroicas combinavam com ele. O fato é que, mesmo sem guerra à vista, os bombeiros sempre foram benquistos pela população, até hoje é assim.

Arriscam a vida, são chamados para grandes incêndios e pequenas aporrinhações domésticas, portas que não abrem, fogões que explodem etc. Ganham uma miséria, menos que uma faxineira que trabalha três vezes por semana.

Revoltados, fizeram um movimento que descambou para uma violação da hierarquia militar a que estão submetidos. Muitos foram presos e deverão responder processo e serem expulsos da corporação.

Tudo bem, ou melhor, tudo mal. Acontece que o caso deles merece uma reflexão e um tratamento especial. Creio que não apenas no Rio, mas em todo o Brasil, da ponta visível do grande iceberg que é o Estado, eles são, de longe, os mais benquistos pela população.

Nem sempre dispõem de equipamentos nem mesmo de água em alguns casos. Mas basta chamá-los e eles aparecem e fazem o que podem, em geral salvando vidas e socorrendo feridos.

Isso ocorre não apenas no Brasil. Em Nova York, no atentado às torres do World Trade Center, os bombeiros locais foram heróis e muitos deles morreram tentando salvar o que era possível.

Agora, por falar em bombeiros voluntários, lembro a piada de um humorista português cujo nome esqueci. Um pai com voz autoritária diz para o filho: "Queiras ou não queiras, meu filho, serás bombeiro voluntário!".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Também já fui brasileiro :: Carlos Drumonnd de Andrade

Eu também já fui brasileiro

moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.


Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.


Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.