sábado, 9 de julho de 2011

Opinião – Aécio Neves: Escândalos

O que eu vejo é uma tentativa de setores do PT de lavarem as mãos e dizerem que não temos nada com isso. Isso é o maior dos mundos. O governo federal e a Presidência da República é que são responsáveis não apenas pelas nomeações dos ministérios, sejam eles do PT, sejam eles dos partidos aliados, e do que ocorre em cada um desses ministérios.

O que me parece é que há uma certa passividade no governo federal, ou para não dizer uma certa cumplicidade, com alguns malfeitos. Se não houver denúncias da imprensa, fica tudo como está.

Esses fatos não são de agora, vêm do governo do Lula, são as mesmas pessoas. Não adianta saber apenas que a Dilma demitiu essas pessoas, é fundamental saber quem as nomeou.

Aécio Neves, ex-governador de Minas Gerais e atual Senador. O Globo, 8/7/2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO


Procurador: mensalão foi pior ataque à democracia
Enquanto isso ...
Pagot: Paulo Bernardo recebia as empreiteiras
Planos de saúde ficarão 7,69% mais caros

FOLHA DE S. PAULO

Gol compra Webjet e assume 40% do setor
Mensalão teve R$ 75 milhões em empréstimo falso, diz Gurgel
BC limita apostas de quem investe contra o dólar
Governo mantém edital e leilão do trem-bala na 2ª
Agência limita reajuste para os planos de saúde a 7,69%


O ESTADO DE S. PAULO

Blairo recusa ministério e PR admite escolha de Dilma
Expectativa no Planalto
Cade negocia suspensão de produtos da Perdigão
Procurador vê Dirceu à frente de 'suborno'
Gol compra Webjet por R$ 311 milhões

ESTADO DE MINAS

Ladrões de café
Planos de saúde têm reajuste de 7,69%
Gol compra a rival Webjet por R$ 96 mi
PR indica dois nomes para Transportes

CORREIO BRAZILIENSE

Mensalão corre risco de nunca ser julgado
Crise nos Transportes
Gol compra a Webjet e chega perto da TAM
Planos de saúde têm alta de 7,69%

ZERO HORA (RS)

Planos de saúde têm reajuste de até 7,69%

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Plano de saúde mais caro
Pedida a condenação de 36 mensaleiros

Procurador: mensalão foi pior ataque à democracia

Pena de Dirceu pode somar 111 anos de prisão, e a de Valério, 1.727 anos

Cinco anos depois do início da ação contra os envolvidos no mensalão do governo Lula, a Procuradoria Geral da República reafirma que uma quadrilha chefiada pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu, usou dinheiro público para comprar apoio no Congresso. "Foi um plano criminoso voltado para a compra de votos no Congresso. Trata-se da mais grave agressão aos valores democráticos que se possa conceber", afirmou o procurador-geral, Roberto Gurgel, nas alegações finais ao Supremo Tribunal Federal. Gurgel pediu a condenação de 36 pessoas. A pena de Dirceu pode ir a 111 anos de prisão, e a de Marcos Valério, a 1.727 anos.

"A mais grave agressão aos valores democráticos"

NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS

Demétrio Weber, Fabio Fabrini e Andre de Souza

Cinco anos depois de pedir a abertura de ação penal para punir os envolvidos no escândalo do mensalão do governo Lula - e após ouvir a defesa de todos os acusados -, a Procuradoria Geral da República manteve a convicção de que uma quadrilha chefiada pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu, saqueou os cofres públicos para comprar apoio político no Congresso, no primeiro mandato do ex-presidente. A acusação está presente nas alegações finais do Ministério Público, apresentadas anteontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que pede a condenação de 36 pessoas, a maioria políticos do PT e de partidos aliados do governo petista.

"A instrução comprovou que foi engendrado um plano criminoso voltado para a compra de votos dentro do Congresso. Trata-se da mais grave agressão aos valores democráticos que se possa conceber", escreveu Gurgel. A denúncia inicial tinha sido feita pelo então procurador-geral Antônio Fernando de Souza.

A nova peça de acusação vai contra a versão de Lula, que prometeu, repetidas vezes, "desmontar a farsa do mensalão". Ontem, ele não quis comentar. Em 390 páginas, o procurador-geral sustenta, com base em depoimentos e provas periciais, que dinheiro público irrigou um esquema de apoio ao governo Lula no Congresso e financiamento ilegal de campanhas, entre 2003 e junho de 2005.

O procurador-geral descreve sofisticada triangulação de recursos. Ele diz que R$73,8 milhões foram desviados da Visanet, subsidiária do Banco do Brasil, a empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, operador do esquema. Paralelamente, R$75,6 milhões dos bancos Rural e BMG - acusados de integrar o esquema para obter favores do governo - foram transferidos ao grupo de Valério, por empréstimos supostamente fictícios, e ao PT.

Somadas, as penas pedidas pelo procurador para todos os 36 réus vão de 4.110 a 16.203 anos de prisão. Só o ex-ministro Dirceu pode pegar de 19 a 111 anos por corrupção ativa e formação de quadrilha - ele é denunciado várias vezes pelos dois crimes dos quais é acusado, formação de quadrilha e corrupção ativa. Valério pode ser condenado de 429 a 1.727 anos.

As alegações finais são o último pronunciamento da Procuradoria Geral antes que o Supremo julgue o caso. O procurador-geral reitera as acusações a 36 réus acusados de sete crimes: corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas e peculato (uso de cargo ou função pública para obter vantagem indevida). Ele excluiu o ex-ministro petista Luiz Gushiken e Antonio Lamas, irmão de Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do ex-PL.

Gurgel diz que a quadrilha tinha três núcleos: o político, o operacional e o financeiro. Treze pessoas são acusadas de participação direta nesses núcleos: além de Dirceu, apontado como o cabeça do esquema, e Valério, acusado de operá-lo, a peça menciona o então presidente do PT e hoje assessor do Ministério da Defesa José Genoino, Delúbio Soares e o então secretário-geral petista, Sílvio Pereira, entre outros.

"Como dirigentes máximos do PT, tanto do ponto de vista formal quanto material, os réus estabeleceram engenhoso esquema de desvio de recursos de órgãos públicos e de empresas estatais, e de concessões de benefícios diretos ou indiretos a particulares em troca de ajuda financeira. O objetivo era negociar apoio político ao governo no Congresso, pagar dívidas pretéritas, custear gastos de campanha e outras despesas do PT", diz a acusação.

O procurador é taxativo ao falar de Dirceu: "As provas coligidas no curso do inquérito e da instrução criminal comprovaram, sem sombra de dúvida, que José Dirceu agiu sempre no comando das ações dos demais integrantes dos núcleos político e operacional do grupo criminoso. Era, enfim, o chefe da quadrilha".

Em relação à denúncia apresentada em 2006, Gurgel reduziu de 40 para 36 o número de acusados. A lista já tinha diminuído de 40 para 38. Sílvio Pereira, denunciado por formação de quadrilha, aceitou cumprir pena alternativa e foi excluído da ação. O ex-deputado José Janene (PP) morreu. Dos 38 restantes, Gurgel pediu agora a absolvição de Gushiken e Antonio Lamas.

Gushiken era acusado de peculato, mas Gurgel entendeu que não há sequer indícios de seu envolvimento. Lamas teria agido como intermediário de outro acusado, Valdemar Costa Neto (ex-PL). Mas Gurgel concluiu que não há provas de que Lamas tivesse consciência da "ilicitude do seu ato".

Colaborou: Joelma Batista

FONTE: O GLOBO

Mensalão corre risco de nunca ser julgado

Ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos pelo Correio temem que o desfecho do maior escândalo de corrupção da história do país seja a impunidade. Isso pode ocorrer caso dois dos 38 réus - os deputados federais João Paulo Cunha (PT-SP) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) - renunciem ao mandato. A manobra empurraria o processo para a primeira instância, os crimes prescreveriam e todos ficariam impunes. No parecer em que pede a condenação de 36 dos acusados, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, descreve o mensalão como "a mais grave agressão aos valores democráticos". E sobre o papel do ex-ministro José Dirceu no caso, chega à mesma conclusão do ministro Joaquim Barbosa, do STF. "Era o chefe da quadrilha", diz.

Mensalão sob risco de impunidade

Supremo e MP acendem luz de alerta para o julgamento dos 36 réus. Possível renúncia de dois deputados levaria o caso à primeira instância

Izabelle Torres e Diego Abreu

O pedido de prisão de 36 réus no processo do mensalão apresentado pelo Ministério Público ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última quinta-feira deu um novo passo em direção à punição dos envolvidos no maior caso de corrupção política do país nos últimos anos, mas não reduz os riscos de impunidade que ameaçam o cumprimento das penas. Três ministros ouvidos pelo Correio dizem que o maior temor gira em torno da possibilidade de os dois acusados com mandatos parlamentares — os deputados federais Valdemar Costa Neto (PR-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP)— renunciarem ao cargo, forçando o envio do processo para a primeira instância e condenando o caso à prescrição.

Para o ministro da Corte, Marco Aurélio Mello, há uma ameaça real de prescrição, inclusive no que se refere à acusação pelo crime de formação de quadrilha, atribuído a 22 pessoas, cuja possibilidade de punição acaba no mês que vem. Se os dois parlamentares renunciarem, o ministro acredita que seria difícil manter o caso nas mãos do Supremo. "Esse processo deveria ser desmembrado, mas não foi. Só aqueles que detêm a prerrogativa são julgados pelo STF. Seria forçar uma barra muito grande julgarmos o processo sem que houvesse detentores da prerrogativa de foro. O Supremo é um tribunal compromissado com princípios", diz ele.

Para outro integrante da Corte, o problema está na atual legislação, que ainda permite as idas e vindas de processos a depender da aquisição ou não da prerrogativa de foro privilegiado. "O jeito será encontrarmos interpretações para evitar que esses casos sejam enviados para as instâncias inferiores, se esses parlamentares deixarem seus mandatos. Aí, sim, seria a impunidade oficializada. Torcemos para que isso não aconteça, mas admitimos que esse risco existe", afirma o magistrado.

Celeridade

O ministro relator do mensalão, Joaquim Barbosa, vem defendendo que o processo não deixe o STF em nenhuma hipótese. Uma das armas usadas por ele é uma decisão da própria Corte, que em outubro do ano passado entendeu que a renúncia ao mandato não retira a competência dos ministros para julgar a ação. Na ocasião, o deputado federal Natan Donadon (PMDB-RO) renunciou ao cargo de deputado federal às vésperas do julgamento, no qual acabou condenado por formação de quadrilha e peculato. A decisão foi polêmica e causou divergência entre os próprios ministros. Segundo alguns deles, o procedimento não pode virar regra porque a Corte vai terminar enfrentando o texto das leis, em vez de aplicá-lo ou interpretá-lo.

Para o procurador-geral, Roberto Gurgel, a saída para evitar que o caso fique impune seria a celeridade no julgamento feito pelo STF. Na avaliação dele, o ideal seria que o processo fosse decidido ainda este ano ou no início de 2012. Na última quinta-feira, Gurgel mandou as alegações finais sobre o caso para a Corte e pediu a prisão de 36 dos 38 réus. No relatório, o procurador sugere a absolvição do ex-ministro Luiz Gushiken e do ex-tesoureiro do PR Antônio Lamas "por insuficiência absoluta de provas". "Trata-se da mais grave agressão aos valores democráticos que se possa conceber", resumiu.

No relatório, ele acusa o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de comandar o esquema e classifica o ex-deputado federal como o "chefe da quadrilha". O adjetivo significa um pedido de condenação para o petista que chega a 111 anos de cadeia. Caso condenados por todos os crimes, os 36 réus somariam 4 mil anos de cadeia. As assessorias de João Paulo Cunha e Valdemar Costa Neto negaram a hipótese de os dois deputados renunciarem aos mandatos para engavetar o processo.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Enquanto isso ...

Até hoje sem dono nem origem identificados, o R$ 1,7 milhão apreendido com os "aloprados" petistas poderá ter destino nobre: o Ministério Público Federal pediu à Justiça que o valor seja doado a uma entidade filantrópica. Na campanha de 2006, o dinheiro seria usado para comprar um dôssie contra tucanos.

Quase R$2 milhões abandonados

Ninguém pede de volta dinheiro dos aloprados, que deverá ser doado

Anselmo Carvalho Pinto

CUIABÁ. Após quase cinco anos sem que ninguém reclamasse sua propriedade, a montanha de dinheiro apreendida com os "aloprados do PT" em setembro de 2006 deverá, enfim, ter uma destinação. O Ministério Público Federal encaminhou esta semana uma petição à Justiça Federal para definir o que fazer com o R$1,7 milhão, em valores da época, que seria usado para comprar um suposto dossiê contra o então candidato ao governo de São Paulo José Serra (PSDB). O dinheiro foi apreendido pela PF em poder de Gedimar Passos e Valdebran Padilha.

Se a Justiça aceitar, as autoridades devem nomear uma entidade filantrópica a ser beneficiada - ainda não se sabe se em São Paulo, onde ocorreu a apreensão, ou em Cuiabá, onde o caso é investigado. Como o inquérito está em sigilo, procuradores e delegados envolvidos no caso não quiseram se pronunciar.

A apreensão aconteceu em 15 de setembro de 2006, em plena campanha eleitoral. Na manhã daquele dia, policiais federais entraram no hotel Íbis, em São Paulo, flagrando Valdebran e Gedimar com duas grandes malas carregadas de dinheiro.

No apartamento 479, onde estava Gedimar, os agentes encontraram US$139 mil e R$410 mil. No apartamento 475, eles surpreenderam Valdebran com US$109,8 mil e R$758 mil. Em depoimento, ambos disseram que estavam apenas "guardando" as malas para terceiros.

As investigações da PF descobriram que o dinheiro seria para pagar um dossiê com informações comprometedoras a respeito de aliados de Serra. O material havia sido produzido pelos empresários Luiz Antônio e Darci Vedoin, donos da empresa Planam, acusada de ser o centro de uma organização criminosa que vendia ambulâncias ao poder público a partir de emendas parlamentares e licitações fraudadas.

Nos primeiros dias, a direção da Polícia Federal não liberou imagens da montanha de dinheiro, mas, duas semanas depois, a fotografia das notas sobre uma mesa estava em toda a imprensa. Restavam apenas dois dias para o primeiro turno da eleição e o caso contribuiu para que a disputa entre Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) fosse decidida em uma segunda votação.

No dia 18 de setembro daquele ano, a PF depositou o montante em moeda nacional, totalizando R$1.168.000, em duas contas judiciais na Caixa Econômica Federal. Já os dólares foram acautelados no Departamento de Meio Circulante do Banco Central, no mesmo dia.

FONTE: O GLOBO

Depoimentos deixam Planalto sob ''tensão pré-Pagot''

João Domingos

O Palácio do Planalto está muito preocupado com o que Luiz Antonio Pagot vai dizer no Senado, na terça-feira, e na Câmara, na quarta. O ainda diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) tem feito afirmações que o governo entende como claras ameaças, uma espécie de antecipação do que poderá dizer no Congresso na semana que vem. Formalmente, Pagot está de férias e só deverá ser afastado assim que voltar ao trabalho, no mês que vem.

Entre as declarações do diretor do Dnit que têm deixado o Planalto com uma espécie de tensão pré-Pagot estão as insinuações de que todas as obras tocadas pela estatal eram aprovadas antes pelo Ministério do Planejamento, cujo titular é o hoje ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, um dos homens de confiança da presidente Dilma Rousseff.

Diante do receio do que poderá dizer Pagot, ontem a presidente Dilma Rousseff tinha dúvidas sobre quando poderá nomear o novo ministro dos Transportes. Ela quer efetivar o interino, Paulo Sérgio Passos, e até já tem alguns acenos do PR para que faça isso. Mas teme que Pagot fale alguma coisa a respeito de seu preferido nas audiências que terá no Senado e na Câmara, o que poderá provocar constrangimentos e aumentar a crise nos transportes.

Outra preocupação diz respeito à própria estrutura do Dnit. Pagot tem afirmado que nada do que o Dnit fazia era fruto de uma decisão solitária, mas de uma aprovação da diretoria colegiada. E que o diretor de Infraestrutura Rodoviária, Hideraldo Caron, mandava tanto quanto ele.

Caron é filiado ao PT do Rio Grande do Sul desde 1985. Trabalhou com Dilma Rousseff em Porto Alegre e foi posto no Dnit pelo PT.

Quando a presidente da República decidiu afastar a cúpula do Ministério dos Transportes, entre eles Luiz Antonio Pagot, chegou-se a falar no nome de Caron para substituir o diretor-geral. Mas, diante da reação do PR, partido que dá sustentação a Pagot, Dilma recuou e desistiu de insistir na nomeação do petista para o Dnit.

De acordo com informação de bastidores do governo, a esperança do Planalto era de que o senador Blairo Maggi (PR-MT) aceitasse o convite para ser o ministro dos Transportes, em substituição a Alfredo Nascimento (PR-AM), que não resistiu no cargo após denúncias de cobrança de propina divulgadas no fim de semana. Maggi é padrinho de Pagot e, uma vez no ministério, poderia aconselhar seu afilhado a ficar de boca fechada.

Acontece que Blairo Maggi recusou o convite para entrar no governo de Dilma Rousseff. Maggi está magoado com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais), por considerar que foram desleais em relação ao PR, a Pagot e a ele próprio quando a crise no setor de Transportes estourou. Para Maggi, os ministros preferiram condenar Pagot, sem aguardar sua primeira defesa.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Costa Neto diz ter pedido a Dilma diretoria de banco

Réu no mensalão levou pleito ao então ministro Nascimento; nomeação ajudaria a liberar verba para reduto eleitoral

Fernando Gallo

O deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP) revelou em entrevista a uma rádio de Mogi das Cruzes (SP), seu reduto eleitoral, ter usado o então ministro dos Transportes Alfredo Nascimento para pressionar a presidente Dilma Rousseff a entregar ao PR uma diretoria de banco estatal para obter o apoio do bloco liderado pelo partido no Congresso.

O deputado explicou que a barganha tinha como objetivo abrir espaço no governo para o bloco de partidos nanicos que compõem, com o PR, um grupo de 65 deputados no Congresso - o PR conta com 41 e PRB, PRTB, PT do B, PHS , PSL e PRP têm 24.

"O nosso ministro chegou na Dilma outro dia e falou: "Olha, o Valdemar tá com um problema com o bloco. Ele fez o bloco, acertou com o (então ministro Antonio) Palocci pra aumentar o espaço do partido no governo. Nós (PR) já temos muito espaço. Mas precisávamos aumentar o espaço do bloco, porque são 24 deputados a mais", contou Costa Neto à Rádio Metropolitana AM, na sexta-feira da semana passada.

O deputado disse ter pedido uma diretoria na Caixa Econômica Federal ou no Banco do Brasil - nomeação que Dilma ainda não anunciou - para que prefeitos aliados possam liberar verbas federais mais rapidamente.

"O que eu quero? Uma diretoria na Caixa Econômica Federal, no Banco do Brasil, pra quando o Bertaiolli (Marco Bertaiolli, prefeito de Mogi das Cruzes) precisar de algo coisa. Por exemplo, eu consigo empréstimo pra Santa Isabel - de R$ 2 milhões - que o Helio Buscariolli (prefeito de Santa Isabel) está precisando. Ele precisa pavimentar a cidade. Mas eles não assinam com ele na Caixa. Eu tendo um diretor, sai na hora".

"Inferno". Costa Neto chamou de "canalha" o presidente do PTB, Roberto Jefferson, que o denunciou no processo do mensalão e disse que não lhe estendeu a mão quando este tentou cumprimentá-lo em um aeroporto.

"O inferno na minha vida foi o Roberto Jefferson, mesmo. Ele já veio me cumprimentar. Encontrei-o no aeroporto, mas não dei a mão e nem olhei na cara dele. Aliás, olhei feio. Fiquei olhando pra cara dele e ele com a mão estendida. Vai pro inferno! Um canalha!"

Na entrevista, Costa Neto sustentou que voltará a presidir o PR e a conceder entrevistas à mídia nacional depois que o processo do mensalão for julgado no Supremo Tribunal Federal.

"Desde 2005 não dou uma entrevista a um jornal ou revista nacional. Quero esperar meu julgamento no Supremo pra depois voltar à mídia. Porque ao ficar dando entrevista parece que a gente não se incomoda com o problema que tem. Parece que a gente despreza", disse.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Sem partido, Marina diz que torce por Dilma

Depois de se desfiliar do PV, ex-senadora afirma que sociedade deve apoiar presidente se ela mostrar disposição de ir a fundo na luta contra corrupção

Roldão Arruda e Daiene Cardoso

Em seu primeiro dia fora do PV, a ex-senadora Marina Silva disse ontem ao Estado que torce pelo sucesso do governo da presidente Dilma Rousseff e que a sociedade deve apoiá-la e resistir ao seu lado no caso de ela mostrar disposição de esclarecer as denúncias e escândalos que envolvem políticos ligados a seu governo.

"Trabalhei com a Dilma durante cinco anos, ela é a primeira mulher presidente da República e eu torço para que o seu governo dê certo. Estou preocupada com o que está acontecendo, como a perda de dois ministros no início de governo e todas essas denúncias gravíssimas", afirmou. Para a ex-senadora, o melhor caminho seria esclarecer os fatos: "Quais são os vínculos, os enraizamentos dessas denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes? As pessoas envolvidas estão politicamente ligadas a quem? Essa leitura precisa ser feita. Essas ramificações precisam ser encontradas. Não se encontra uma folha que não tenha raiz."

Para Marina, a sociedade precisa apoiar iniciativas nessa direção. "Se a Dilma resistir, é claro que temos de resistir com ela."

A ex-senadora, que ficou em terceiro lugar na eleição presidencial do ano passado, com 19,6 milhões de votos, não concorda com a ideia divulgada por partidos de oposição de que os problemas de Dilma constituam uma herança maldita deixada por seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. "O que acontece com Dilma já aconteceu com o Lula, com o Fernando Henrique Cardoso, com o Collor de Mello. Historicamente falando, essa herança maldita faz parte da cultura política que foi se estabelecendo no Brasil."

Mobilização. Ela acredita que a situação do País, com o descrédito cada vez maior dos partidos, pode abrir espaço para grandes mobilizações públicas fora do espaço institucional. "Não é de duvidar que essa situação caótica, na qual estamos metidos, em termos políticos, abra espaço para grandes mobilizações a favor daquilo que eu definiria como um sol na nossa realidade, capaz de criar bases para que a presidente tenha oxigênio para fazer uma gestão voltada para os interesses do País, em vez de ficar voltada para a agenda miúda dos cargos, dos interesses pequenos."

Marina anunciou sua desfiliação do PV na quinta-feira, em São Paulo, durante evento que reuniu simpatizantes e colaboradores de sua campanha. Ela deve se dedicar agora à organização de um movimento suprapartidário em defesa de propostas para o desenvolvimento sustentável do País e a articulações políticas que podem resultar ou não na criação de um partido. Além de integrantes do PV descontentes com a atual situação do partido, ela citou entre seus interlocutores os deputados Alessandro Molon (PT-RJ), José Antônio Reguffe (PDT-DF) e Luiza Erundina (PSB-SP). Ela mencionou ainda o senador Pedro Taques (PDT-MT) e a ex-senadora e vereadora de Maceió Heloísa Helena (PSOL).

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Crime hediondo:: Merval Pereira

A boa notícia para o ex-ministro Luiz Gushiken, que foi retirado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, do rol dos acusados pelo mensalão, é uma má notícia para José Dirceu, outro ex-ministro de Lula, confirmado como "chefe da quadrilha" montada a partir do Palácio do Planalto para comprar apoio político no Congresso.

Dirceu alardeava em conversas em Brasília que não havia contra ele qualquer prova nos autos e estava certo de que seria absolvido.

O procurador-geral, ao admitir que não encontrou provas que ligassem Gushiken ao uso de verbas públicas no esquema do mensalão, dá uma demonstração de imparcialidade que faz com que as acusações contra os demais 36 réus, especialmente Dirceu, ganhem peso técnico e moral.

O tempo, ao contrário do que esperavam, conspira contra o PT e sua principal liderança, o ex-ministro José Dirceu.

Nada poderia ser pior para os dois do que o retorno ao centro do noticiário político de escândalos de corrupção, sejam os "aloprados", sejam os mensaleiros.

A coincidência de as alegações finais do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, serem divulgadas no mesmo período em que novas denúncias de corrupção surgem contra o PR do mensaleiro deputado Valdemar Costa Neto, e pouco depois de novas revelações sobre a compra de dossiês por parte do PT na eleição de 2006, coloca por terra a tentativa dos últimos meses de reabilitar os petistas envolvidos no mensalão.

A manobra de José Dirceu parecia bem arquitetada. Um a um, os principais líderes petistas estavam sendo reabilitados, a começar por ele próprio, que, mesmo sem assumir um cargo oficial no PT, faz questão de exibir seus poderes políticos e influência no governo, e anda pelo país de jatinho particular no papel de "consultor".

O principal acusado no processo do mensalão, ao lado de Dirceu, é o ex-tesoureiro Delúbio Soares, que foi reincorporado ao PT com o apoio de 70% do Diretório Nacional.

O deputado João Paulo Cunha, mesmo sendo réu no mensalão, foi indicado pelo partido para presidir a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

O ex-deputado José Genoino, que presidia o PT na época do mensalão, perdeu a eleição, mas foi nomeado assessor especial do Ministério da Defesa.

Mas esses fatos consumados apresentados à opinião pública como uma maneira de constranger o procurador-geral da República e o próprio Supremo Tribunal Federal não surtiram o efeito desejado.

Bem ao contrário, o procurador chama a atenção em suas alegações finais de que José Dirceu continua muito poderoso no esquema petista, como a ressaltar que ele se considera acima da lei.

No seu documento, Roberto Gurgel não aliviou as acusações a Dirceu, chamando-o formalmente de "chefe da quadrilha", como já o havia classificado o ex-procurador-geral Antonio Fernando de Souza, que iniciou o processo no Supremo:

"As provas coligidas no curso do inquérito e da instrução criminal comprovaram, sem sombra de dúvida, que José Dirceu agiu sempre no comando das ações dos demais integrantes dos núcleos político e operacional do grupo criminoso. Era, enfim, o chefe da quadrilha", afirma Gurgel.

Sobre Dirceu, afirmou ainda: "Foi o mentor do esquema ilícito de compra de votos e, como líder do grupo, determinou as ações necessárias à consecução do objetivo que justificou a união de todos os agentes, seja no que dizia respeito às negociações travadas com os parlamentares e líderes partidários, seja na obtenção dos recursos necessários ao cumprimento dos acordos firmados. Exercia notória ascendência sobre os demais agentes, especialmente os dirigentes do Partido dos Trabalhadores que integravam a sua corrente política."

O acordo que o então secretário do PT, Sílvio Pereira, fez com a Justiça para sair da relação dos réus - ele está prestando serviços comunitários - é uma admissão de culpa, pois ele continuou sendo incluído como membro da quadrilha pelo procurador-geral, porque pela legislação penal só se tipifica o crime de formação de quadrilha com mais de três participantes.

Segundo Roberto Gurgel, ele também participava das negociações com políticos. "Sílvio Pereira atuava nos bastidores do governo, negociando as indicações políticas que, em última análise, proporcionariam o desvio de recursos em prol de parlamentares, partidos políticos e particulares."

Sobre a "quadrilha" em si, Gurgel não tem dúvidas: "As provas que instruem a presente ação penal comprovaram que os acusados associaram-se de modo estável, organizado e com divisão de trabalho, para o cometimento de crimes contra a administração pública, contra o sistema financeiro, contra a fé pública e lavagem de dinheiro."

Os novos-velhos escândalos do Ministério dos Transportes, onde quem manda e desmanda é o PR do deputado Valdemar Costa Neto, trouxeram à tona novamente os mesmos esquemas que foram a origem do mensalão.

Na encarnação anterior no PL, o deputado protagonizou a primeira venda explícita de apoio político para, em troca de R$10 milhões, assumir a vice-presidência na chapa de Lula em 2002 através do empresário José Alencar.

Fica cada vez mais difícil a tarefa que o ex-presidente Lula bravateou ser sua prioridade ao deixar o Palácio do Planalto: provar que o mensalão nunca existiu, foi uma armação política contra seu governo.

Ele, que no auge da crise em 2005 chegou a dizer-se traído e pediu desculpas pelo acontecido, com o passar do tempo recuperou o sangue-frio e tentou, apenas na base do discurso, apagar da História o que o procurador-geral da República classifica como "um plano criminoso voltado para a compra de votos dentro do Congresso Nacional. Trata-se da mais grave agressão aos valores democráticos que se possa conceber".

FONTE: O GLOBO

Na lama com Pagot :: Fernando de Barros e Silva

Muito antes de descobrir o potencial político de Tiririca, seu campeão de votos, o PR já havia revelado sua vocação humorística. Chamava-se Jacinto Lamas o tesoureiro do então PL. Era, na prática, o homem que fazia a entrega das malas de Marcos Valério aos nobres mensaleiros do partido.

O chefe do Dnit que acaba de cair atende por Pagot. Só faltava se chamar Pagot Levot. Ontem, na Folha, ele disse que o PT era sócio das decisões que tomava e ameaçou arrastar o aliado para a lama (sem trocadilhos) se for muito contrariado.

A ligação entre PR e PT é mais orgânica do que parece. Um exemplo local: o suplente da senadora Marta Suplicy é o vereador Antônio Carlos Rodrigues, o chefe do famigerado "centrão" na Câmara paulistana. Se a petista for disputar a prefeitura, o prócer do PR assume sua vaga.

Mas voltemos: Dilma Rousseff convidou Blairo Maggi (PR-MT) -o milionário padrinho de Pagot- para ocupar o lugar de Alfredo Nascimento. Recebeu um não como resposta. E Ideli Salvatti, a ministra da articulação que não existe, disse, para completar o vexame, que Nascimento tem, sim, todas as condições de "fazer sugestões, indicações, dar opinião" sobre o seu substituto. Que tipo de opinião a ministra espera de seu ex-colega? Seria uma questão de "know-how"?

Do PR já se sabe o que esperar. O partido não disfarça, inclusive, que não quer a manutenção do ministro interino no cargo. Apesar de filiado à legenda, Pedro Passos talvez seja ético demais para exercer a função.

Mas o que esperar de Dilma? Entre a intervenção moralizadora num dia e a capitulação logo a seguir diante dos mesmos personagens terá havido algum ganho republicano? Em português: haverá redução da roubança sistêmica ou apenas o aumento das chantagens da base aliada sobre o Planalto?

Dilma dá a impressão de que não tem força para enfrentar o problema no atacado nem habilidade política para lidar com ele no varejo. E está sufocada pela herança de Lula.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Erva daninha :: Valdo Cruz

Um detalhe do novo escândalo envolvendo o Ministério dos Transportes é revelador sobre a que ponto chegamos na prática do fisiologismo no Brasil.

Alfredo Nascimento, o ministro que caiu, tinha um chefe de gabinete, Mauro Barbosa, que não era de sua confiança. Foi obrigado a aceitar o nome para retornar ao ministério que já havia ocupado.

Isso mesmo, aquele que deveria ser o assessor mais próximo do ministro não era do seu grupo. Resultado: foram criadas administrações paralelas, gerando disputas pelo comando da pasta.

Segundo quem conhece de perto o caso em questão, aí estaria a origem do esquema de irregularidades -que já existiria, mas passou a ser disputado e compartilhado por mais de um grupo.

O fato é que essa divisão até dos cargos do gabinete pessoal do ministro mostra como anda o apetite de deputados e senadores por boquinhas federais.

Cabe agora ao mesmo governo que foi célere no afastamento dos supostos responsáveis pelos desvios descobrir e punir quem, de fato, era o mentor do esquema. Sob o risco de ele se repetir.

Por sinal, a melhor punição seria banir esses personagens e seus aliados de todo e qualquer posto no governo federal. Exatamente para evitar novos escândalos, patrocinados pelos mesmos atores.

Afinal, nunca é demais lembrar, o PR de hoje, totalmente enrolado no caso do Ministério dos Transportes, é o mesmo PL de ontem, que participou do esquema mais tarde batizado de mensalão.

Esquema que, no mesmo momento em que o novo caso é descoberto, assim foi definido pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, nas alegações finais antes do seu julgamento pelo STF:

"Um plano criminoso voltado para compra de votos dentro do Congresso Nacional. Trata-se da mais grave agressão aos valores democráticos que se possa conceber". É preciso dizer algo mais?

FONTE; FOLHA DE S. PAULO

Lula agora recorre ao silêncio sobre mensalão

NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS

Ex-presidente passou a campanha eleitoral dizendo que escândalo era farsa montada pela oposição contra o PT

Germano Oliveira

SÃO PAULO. Depois de dizer na campanha eleitoral do ano passado que o mensalão era "uma farsa montada pela oposição" para prejudicar o PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quis comentar ontem a decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de pedir ao Supremo Tribunal Federal a condenação de 36 dos 38 réus do mensalão. Segundo a assessoria do ex-presidente, Lula não tem o que dizer sobre o caso porque não é réu.

- Lula está mais interessado hoje (ontem) em discutir a pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) que fala sobre a expansão da classe C - disse a assessoria do ex-presidente.

Em maio de 2005, quando o escândalo estourou, Lula negou a existência do mensalão, dizendo que a denúncia era uma "peça de ficção". Meses depois, já com o avanço das investigações que comprovaram a denúncia feita pelo então presidente do PTB, Roberto Jefferson, ele insistiu em negar a existência.

- Eles categoricamente disseram que isso era uma peça de ficção, que não existia mensalão dentro do Congresso. E pelo que consta, até agora, não foi provado que tem mensalão. Até agora, o que foi cassado (Jefferson), foi cassado porque contou uma inverdade sobre o Congresso Nacional - disse Lula na época.

Caixa dois para campanhas

Lula afirmou que o dinheiro foi usado pelo PT para saldar dívidas de campanhas eleitorais (2002 e 2004) e que os recursos eram de caixa dois e que todos os partidos faziam o mesmo. Sobre a iminente cassação do então deputado José Dirceu, seu ex-ministro da Casa Civil, Lula disse que "fatalmente" aconteceria "por motivações políticas" de adversários.

Lula não mudou a versão nem após o STF, em agosto de 2007, iniciar julgamento dos 40 denunciados pela Procuradoria Geral da República, incluindo José Dirceu, apontado como chefe do esquema. O STF recebeu praticamente todas as denúncias contra os acusados. Meses depois, a Justiça excluiu alguns nomes, como o de Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT. Agora, o ex-ministro Luiz Gushiken foi excluído pelo STF. A ministra Carmen Lúcia entendeu que ele nada tinha a ver com desvios na diretoria de marketing do Banco do Brasil, que seria um dos abastecedores do mensalão.

Depois, em 2008, descobriu-se que o banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity, foi uma das fontes dos recursos do mensalão, embora o banqueiro negue. As investigações apontaram que as empresas de telefonia do grupo injetaram R$127 milhões nas contas da DNA Propaganda, de Marcos Valério, o homem que fazia os pagamentos do esquema ilegal. Em 2011, após os dois mandatos de Lula, relatório da PF confirmou a existência do mensalão.

Lula e a direção do PT sempre disseram que as denúncias eram falsas e criadas por inimigos políticos. Com o aparecimento de documentos e testemunhas que confirmaram as denúncias, o PT passou a defender a tese de que não houve pagamentos de propina a deputados, mas acertos de campanhas com empréstimos não declarados à Justiça Eleitoral. Ao ser ouvido no processo do mensalão no ano passado, Lula defendeu Dirceu e disse que soube do mensalão no primeiro semestre de 2005, por meio de Jefferson.

FONTE: O GLOBO

Planalto tenta acalmar chefe do Dnit

Se falar demais em depoimento no Senado, Pagot dará munição para CPI

Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. O nervosismo está tomando conta da Esplanada. Preocupado com um depoimento explosivo no Senado na terça-feira, o Palácio do Planalto passou a monitorar o humor do diretor afastado do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, braço direito do senador Blairo Maggi (PR-MT). O governo escalou bombeiros para acalmar Pagot, que tem demonstrado muita mágoa e revolta com o afastamento do cargo, depois de denúncias de corrupção envolvendo a cúpula do Ministério dos Transportes.

Emissários palacianos querem evitar que ele saia do governo atirando, o que daria munição suficiente para a instalação da CPI do Dnit. A oposição ainda não conseguiu o número de assinaturas necessárias para a criação da CPI. Na terça-feira, Pagot dará depoimento em sessão conjunta da Comissão de Infraestrutura (CI) com a Comissão de Fiscalização e Controle (CMFC). Na quarta-feira, vai falar na Câmara.

- Não sei como será o depoimento do Pagot. Eu me encontrei com ele e achei que estava muito triste - disse o líder do PR, Lincoln Portela (MG).

Na quinta-feira, Pagot chegou a afirmar ao GLOBO que tudo o que fez no comando do órgão foi realizado conforme as "instruções recebidas". Ontem, o Planalto tentou medir o humor de Pagot em relação ao governo. As ameaças veladas de representantes do PR de vincular o atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, com as denúncias que pesam sobre a gestão do partido à frente do Ministério dos Transportes, não surtiram o efeito esperado.

A interlocutores, Paulo Bernardo contou que recebeu uma ligação de Luiz Antônio Pagot, que negou ter citado seu nome em qualquer conversa com parlamentares do PR. O ministro, por sua vez, teria se solidarizado com Pagot e dito que entendia sua indignação com o afastamento do cargo, além de reconhecer que, se havia alguém correto no Dnit, certamente era o ex-diretor do órgão.

- Vamos ver o que o Pagot tem a dizer. Mas não há qualquer problema com o PT e com a presidente Dilma em relação ao Ministério dos Transportes - disse o líder do PT, senador Humberto Costa (PE).

Licença do Senado,depois da volta

Em outra frente, para esfriar a crise política envolvendo seu nome, o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento pediu licença do Senado. Com isso, só retomará o seu mandato de senador pelo Amazonas em agosto, após o término do recesso parlamentar. Ele tirou licença para tratar de assuntos particulares de 7 a 18 de julho, mas como o recesso começa em 17 de julho, terminando apenas em 31 de julho, a volta ao Senado se dará apenas no próximo mês.

O ex-ministro reassumiu seu mandato no Senado automaticamente após deixar a pasta. Mas não apareceu na Casa desde então. Segundo colegas de partido, a estratégia de Nascimento foi de evitar dar explicações e prestar depoimentos nas comissões da Câmara e no Senado. Ao mesmo tempo, o Planalto avalia como positivo o fato de ele ter se afastado também das negociações sobre o seu substituto.

Ontem, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, chegou a ligar para lideranças do PR. A avaliação feita por ela é que o ex-ministro está muito contaminado, por isso, causaria desconforto tê-lo no processo de escolha de seu sucessor.

FONTE: O GLOBO

Oposição condena a reabilitação de réus do mensalão

NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTE PAÍS

Parlamentares e presidente da OAB criticam a permanência de mensaleiros no governo Dilma

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. A denúncia final do Ministério Público Federal sobre o escândalo do mensalão durante o governo do ex-presidente Lula levou representantes da oposição e o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcanti, a criticarem o PT e o governo Dilma por terem se antecipado em reabilitar parte dos chamados mensaleiros. A expectativa entre os líderes da oposição é que os 36 envolvidos no esquema que tiveram a acusação confirmada por Gurgel sejam efetivamente punidos.

- Muitos dos denunciados estão sendo premiados dentro do governo e do PT. Algo que causa perplexidade. O que a sociedade espera é que os responsáveis pelo mensalão sejam punidos. Pois a impunidade com que vivem desde a descoberta desse esquema é inexplicável e injustificável - afirmou o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).

Delúbio voltou ao partido em abril deste ano

Com o aval da executiva do PT, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, um dos réus do mensalão, foi refiliado ao partido com grande festa em abril passado. Já o ex-presidente nacional do PT e ex-deputado José Genoino, que também faz parte dos acusados da denúncia final, ganhou um cargo de assessor especial do Ministério da Defesa, depois que não conseguiu se reeleger para a Câmara dos Deputados.

A despeito de seu envolvimento no escândalo do mensalão, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) foi designado para presidir a mais importante comissão permanente da Câmara, a de Constituição e Justiça.

- Quero saber agora como o PT vai reagir, depois de ter recebido de braços abertos parte desses réus dos mensalão. Alguns sob aplausos - provocou o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

A sensação de impunidade que reina hoje no país, na opinião do líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), acaba estimulando a repetição do mal feito. Ele cita como exemplo as denúncias que derrubaram esta semana toda a cúpula do Ministério dos Transportes, incluindo o ministro Alfredo Nascimento, em que um suposto esquema de cobrança de propina poderia ser comparado ao mensalão.

- Quanto mais o tempo passa, a sensação de impunidade aumenta. E a impunidade é a alma da corrupção. A punição exemplar é a única forma de se restabelecer a confiança da sociedade brasileira em torno das investigações envolvendo escândalos. Há o sentimento de que as coisas não dão em nada, e isso é extremamente prejudicial ao país e às instituições - advertiu o parlamentar do PSDB.

O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), elogiou a atuação do Ministério Público federal. Ele também avalia que a denúncia de Gurgel serve de alerta para os maus políticos.

- Isso sinaliza que o Ministério Público está funcionando e de maneira atuante. Então, que botem as barbas de molho os malfeitores dos governos Lula-Dilma. A possibilidade de julgamento e condenação dos malfeitores do mensalão passa a ser algo concreto. Mais do que isso, acaba com essa estapafúrdia ideia do ex-presidente Lula de que o mensalão era uma farsa montada pela oposição. Sabe ele agora que a marca no seu governo será indelével. Foi um dos governos mais corruptos do Brasil - afirmou Freire.

OAB diz que decisão de Gurgel derruba tese do PT

Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a decisão de Gurgel derruba definitivamente a tese do PT de que o mensalão não existiu, além de deixar o PT numa situação bastante delicada.

- A decisão do procurador coloca o PT numa situação difícil, porque parece que, para a sociedade, ética é uma coisa e para o PT outra - afirmou Ophir.

FONTE: O GLOBO

O código de Cabral::Editorial/Folha de S. Paulo

Um trágico acidente aéreo no litoral baiano revelou, nas últimas semanas, relações pessoais estreitas entre o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), e empresários agraciados com obras públicas e renúncias fiscais do governo fluminense.

Com a notícia da queda do helicóptero, em que morreram pessoas próximas à família do governador, soube-se que o empresário Eike Batista emprestara o jatinho em que Cabral se deslocou até um polo turístico baiano. O objetivo da viagem era comemorar o aniversário de Fernando Cavendish, dono da construtora Delta.

A Delta tem negócios no valor de ao menos R$ 1 bilhão com o governo estadual. A maioria dos contratos firmados em 2010 entre empreiteira e poder público foi feita em caráter emergencial, o que dispensa licitações. Obras urgentes na região serrana, atingida pelas chuvas, justificaram a dispensa, segundo o governo.

Empresas do grupo EBX, de Eike Batista, auferiram nos últimos anos milhões de reais em renúncia fiscal. É bem verdade que os empreendimentos do grupo figuram entre os muitos contemplados com isenção de tributos pelo governo Cabral: entre 2007 e 2010, cerca de 5.000 empresas deixaram de recolher R$ 50 bilhões aos cofres do Estado fluminense.

A reação inicial de Cabral foi argumentar que sabe separar o exercício da função pública das atividades de sua vida privada. Mas o mandatário reconheceu implicitamente o conflito de interesses ao anunciar, nesta semana, a criação de um novo código de conduta para si próprio, bem como duas comissões de ética estaduais para fiscalizar seu cumprimento.

Os integrantes dos novos órgãos de vigilância, contudo, serão nomeados pelo próprio governador. De toda maneira, a medida parece redundante e inócua, pois o estatuto dos servidores do Rio já proíbe "exigir, solicitar ou receber vantagens de qualquer espécie em razão do cargo ou função".

O comportamento ético e o bom senso prescindem de códigos demagógicos como esse. Mais que gravar preceitos óbvios em papel, Cabral deveria imprimi-los em sua conduta de todos os dias.

Marina busca fórmula para não submergir

Fora do PV, ex-senadora diz que não usará "melancia no pescoço" para ficar em evidência

Bernardo Mello Franco e Italo Nogueira

SÃO PAULO - Sem partido e sem mandato pela primeira vez em 30 anos, a ex-senadora Marina Silva afirma ter deixado o PV sem uma fórmula para não submergir na cena política.

Ela reconhece que deve perder visibilidade, mas diz não estar "ansiosa" para se manter em evidência.

O problema preocupa aliados da ex-presidenciável, que planeja fundar uma sigla para concorrer novamente ao Planalto em 2014.

"Temos que abaixar a ansiedade com essa coisa de ser visto. Não vou ficar com uma melancia no pescoço, fazendo cambalhota para ser vista", disse Marina à Folha.

Ela deixou claro que continuará a militar na área ambiental em Brasília, mesmo após romper com o PV.

"Vou entrar nas causas que são importantes e justas, mesmo que sejam causas perdidas", disse, citando a luta contra as mudanças no Código Florestal. "Estou nessa agenda há muito tempo e jamais deixaria de estar por não ter a certeza do sucesso."

Sem gabinete, Marina quer usar órgãos ainda incipientes, como o IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade) e o fórum de ex-ministros do Meio Ambiente, para dar respaldo institucional às suas aparições públicas.

O Instituto Marina Silva, que segundo ela será dedicado a ações de educação ambiental, ainda não tem sequer uma sede própria.

"É algo pequeno, como uma tenda. As pessoas não conseguem entender isso. Depois de ter 20 milhões de votos, acham que você deve ir para uma torre, um palácio. Eu estou indo para uma tenda, uma coisa modesta."

MESSIANISMO

Após criticar todos os partidos no ato que marcou sua saída do PV, anteontem, Marina demonstrou incômodo com as críticas contra uma suposta tendência messiânica -que ela descreve como um "rótulo" a evitar.

Mas afirmou ter dificuldade em "administrar o carisma" com os seguidores.

"A coisa mais difícil que tem é administrar o carisma. Porque as lideranças carismáticas podem pensar que podem tudo. E isso é uma ilusão, não podem. A melhor forma é saber que o carisma não deve ser usado de qualquer forma", disse. "As lideranças carismáticas, messiânicas, talvez tenham cumprido um papel na História."

Em outro momento da entrevista, Marina, que foi a única presidenciável evangélica em 2010, citou lição de Jesus Cristo sobre o tema.

"Jesus nunca se deixou aprisionar pelas armadilhas nem do seu carisma nem do seu poder", afirmou.

A ex-senadora sugeriu que seu "sofrimento" por abandonar o PV foi menor do que o da saída do PT, em 2009. "Seria hipocrisia dizer que foi maior agora. São sofrimentos diferentes", disse.

Ao ser questionada sobre os novos capítulos do processo do mensalão, ela ficou com os olhos marejados e disse estar "triste" com o pedido de prisão para ex-colegas de sigla como o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil).

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Um país no bueiro :: Guilherme Fiuza

A Light vai ter que pagar R$100 mil por bueiro que explodir ferindo alguém. Se o próximo bueiro voador aterrissar na cabeça de quem teve essa ideia, talvez a vítima não tenha tempo de perceber como saiu barato o seu prejuízo.

O Rio de Janeiro não precisa da al-Qaeda. As explosões em série que se espalham pela cidade transformaram uma população inteira em refém. Um ano depois de ver uma turista americana voar pelos ares em Copacabana com 80% do corpo queimados, as autoridades não têm um plano contra esse terrorismo de esgoto. Nem um plano, nem um diagnóstico decente, nem um laudo conclusivo, nem ao menos um pouco de vergonha da sua própria inoperância.

Que personalidade famosa terá que ser fulminada por um bueiro para que se reconheça a situação de emergência? Que comediante terá que mostrar que uma multa de R$100 mil é o seguro de vida mais estúpido que já se inventou? Entre outras declarações surrealistas, o presidente da Light disse que bueiros já explodiram em cidades americanas. Quem terá que avisá-lo de que isso não fará a menor diferença se um bueiro explodir debaixo dos pés dele?

No meio da confusão, já apareceu até gente dizendo que a culpa é das privatizações. Falta ainda culpar o neoliberalismo, o Fernando Henrique e a imprensa burguesa. Uma outra corrente atribui a epidemia de explosões subterrâneas a uma ardilosa conspiração entre o gás metano, os fios desencapados e as fagulhas oportunistas. Os ratos e as baratas foram inocentados. Por enquanto.

Mas a crise dos bueiros não é uma piada. Piada é o que se tornou a administração pública no Brasil. As grandes cidades estão explodindo ? de gente, de trânsito, de insegurança, de infraestrutura precária e cheia de remendos. Depois da estabilização monetária e da elevação da renda da população, que projeto governamental surgiu para organizar essa sociedade emergente e cada vez mais urbana? Ninguém sabe, ninguém viu.

Depois do reinado mitológico de Luiz Inácio da Silva, iniciou-se um novo governo supostamente voltado para a gestão. Até agora, foram seis meses de gestão dos interesses parasitários do PMDB, do PT e do PR - a nova estrela do poder no Brasil. Ato contínuo à queda do ministro dos Transportes e de sua equipe acusada de corrupção, o ministro demitido assume a presidência do PR e comanda a escolha do seu próprio sucessor no ministério. Um belo exemplo de gestão da infraestrutura nacional.

Vale notar que, antes da queda do ministro, a presidente da República fez questão de defendê-lo e prestigiá-lo publicamente. Aliás, quando era ministra-chefe da Casa Civil - e supostamente coordenadora de todos os projetos do governo -, Dilma nunca se incomodou com os métodos do ministro dos Transportes. Até fez questão de mantê-lo em seu governo. Gestão é isso aí.

No caso Erenice, sua amiga e sucessora na Casa Civil, Dilma também fez questão de apoiar publicamente a ministra demitida - denunciada por várias modalidades de tráfico de influência em favor de parentes e amigos. A taxa de sucesso de 6%, no caso Erenice, e as comissões de 4%, no caso do Ministério dos Transportes, não parecem constranger a presidente. Só falta contratar a consultoria de Palocci para ajudar a escolher o próximo ministro do PR.

Com tanto trabalho para administrar cargos e verbas entre os companheiros, não deve mesmo sobrar tempo ao governo Dilma para pensar o país real - esse onde os bueiros explodem.

Não é preciso muita ciência para constatar que, se a escalada dos problemas urbanos ficar só nas mãos das prefeituras, o colapso será inevitável. O Estado brasileiro só tem força, de fato, na esfera federal. E a esfera federal está muito ocupada com o PR e seus sócios para tratar de problemas que estouram tão longe de Brasília.

Nunca antes na história deste país um governo assumiu, de forma tão desinibida, que não tem projetos. E é o país que, por acaso, vai sediar a próxima Copa do Mundo, seguida pelos Jogos Olímpicos no Rio. Mesmo para um governo varejista que marca passo sonhando com a volta de Lula, os dois megaeventos seriam no mínimo um pretexto para um projeto nacional de organização urbana.

Mas, para o governo Dilma, parece que a Copa e as Olimpíadas vão acontecer na Argentina. Não é com ele. No máximo, uma forcinha para aprovar o sigilo dos preços das obras dos estádios - uma inovação que, aliás, é a cara desse governo. E o caos viário de Rio e São Paulo, por exemplo? Quanto mais terá que se agravar para virar uma preocupação nacional?

Bem, em termos de transportes, o país acaba de ver qual é a preocupação do governo Dilma.

As explosões dos bueiros no Rio são uma caricatura patética da falência das grandes capitais brasileiras. Uma ameaça idiota e letal, à qual a sociedade assiste inerte. Talvez a vida não esteja mesmo valendo mais do que os R$100 mil da multa da Light.

Guilherme Fiuza é jornalista.

FONTE: O GLOBO

Perigos na estrada:: Míriam Leitão

Há vários perigos nas mudanças no Ministério dos Transportes. O principal é deixar tudo como está. O Brasil tem uma logística deplorável, o ministério tem casos recorrentes de corrupção, não investe o que pode do orçamento por ineficiência, e o número de mortes em estradas do país equivale à queda de dois aviões de 160 passageiros a cada três dias. O maior risco é mudar um pouco para ficar tudo como está.

Um levantamento feito pelo site Contas Abertas para a coluna mostra que o Ministério dos Transportes deixou de investir R$47 bilhões desde 2002. Até o primeiro semestre de 2011, o Ministério investiu em média 57% do que estava no orçamento. O pior ano do período foi 2003, com apenas 29%. O melhor ano foi 2010, quando chegou a 78%. Veja o quadro que postamos no blog.

O Brasil precisa de um renascimento no Ministério dos Transportes. Uma nova forma de gerir, planejar, pensar, agir, contratar. A presidente Dilma Rousseff criou uma oportunidade para seu governo, sua biografia e o país quando reagiu às denúncias. Pode perder a chance, se nomear um escolhido com a ajuda do mesmo ministro que caiu. A presidente não pode se deixar intimidar pelas ameaças de votos contrários no Congresso. Se fizer isso, com seis meses de governo, pode ficar sentada esperando o dia da entrega da faixa presidencial porque não governará o Brasil. Ou ela comanda sua base, ou será prisioneira dela.

Os números são inclementes. Eles revelam que, pela falta de estradas decentes no Brasil, morrem 33 mil pessoas por ano em acidentes, se forem somados os dados da Polícia Rodoviária Federal - das vítimas fatais no local - e os do Ministério da Saúde, de acidentados que chegam aos hospitais mas não resistem aos ferimentos. A ineficiência e a corrupção do Ministério dos Transportes não só desperdiçam e desviam dinheiro público, mas também matam.

O órgão não tem sido nem a sombra do que o Brasil precisa. Não tem visão estratégica na economia dos transportes. O impacto econômico da falta de visão integrada na logística mina a produtividade das empresas e a competitividade do Brasil no mercado global. As denúncias da "Veja", O GLOBO e "IstoÉ" provocaram demissões de autoridades suspeitas. O que o vídeo da revista "IstoÉ" mostra é doloroso. O então ministro aprova uma estradinha feita para agradar um político que vai para o seu partido e diz: "Rapaz, tu num tá nem no partido e já está conseguindo arrancar coisas aqui, imagina quando estiver no partido." Ao seu lado, no mesmo conluio, estava o notório Valdemar Costa Neto. Ele não aparece, é a voz que se ouve ao fundo. Tem tido voz naquele ministério. Como Nascimento já exerceu o cargo três vezes, 5,5 anos no total, perdendo apenas para Mário Andreazza em tempo no cargo, pode-se imaginar quanta coisa foi "arrancada" do órgão, pelos mais variados motivos que não o interesse público. O que o atraiu ao posto foi fazer uma estrada para lá de controversa, a BR-319, no seu estado do Amazonas, apenas para pavimentar suas eleições.

O Ministério dos Transportes não pode empilhar obras de estradas; precisa saber aonde o país quer chegar. Tem que ter uma visão gerencial de qual a melhor forma, o melhor modal, a mais eficiente integração entre os modais, mirando dois objetivos: estradas mais seguras para garantir vidas; logística mais eficiente para a economia. Nos últimos 10 anos, o comércio exterior brasileiro deu um salto de 238%. Aumentou também o trânsito de mercadorias para consumo interno. A ineficiência logística vai para o preço, vira inflação que é paga pelos consumidores. A incompetência do Ministério dos Transportes pesa no bolso do consumidor.

O Brasil quer ser grande, eficiente e competitivo. Como fazer isso? Não é protegendo os interesses da família Diniz com R$4 bilhões para a fusão do Carrefour com o Pão de Açúcar. Não é também despejando bilhões sobre a família Batista, dona do JBS-Friboi. Agora que ela é a maior empresa de carnes do mundo e sócia do BNDES, um dos batista quer dar novo passo: o "Júnior" vai virar político para tentar ser governador de Goiás. O BNDES acredita que irrigando alguns com dinheiro subsidiado formará os campeões nacionais, que conduzirão o capitalismo brasileiro na globalização. O Ministério dos Transportes drena a competição de todas as empresas, as que têm ou não benção do banco estatal. Para que o Brasil, como um todo, seja um campeão, é estratégico que tenha boa logística.

O Brasil tem 212 mil quilômetros de estradas pavimentadas enquanto a Índia tem 1,5 milhão, segundo o Instituto Ilos. O Brasil tem 29 mil quilômetros de ferrovia, e a Índia, 63 mil. A Índia tem 38% da extensão territorial do Brasil. Vou poupar o leitor de outras comparações que nos humilham mais.

O senador Blairo Maggi falou a palavra errada antes de recusar o cargo: "continuidade". Tudo o que o Ministério dos Transportes não precisa é "continuidade". Precisa de rupturas. Quem tem o poder de fazer este corte chama-se Dilma Rousseff.

FONTE: O GLOBO