quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Opinião – Fernando Henrique Cardoso: o papel da oposição


 Diante deste quadro, o que podem fazer as oposições? Definir o público a ser alcançado
Em primeiro lugar, não manter ilusões: é pouco o que os partidos podem fazer para que a voz de seus parlamentares alcance a sociedade. É preciso que as oposições se deem conta de que existe um público distinto do que se prende ao jogo político tradicional e ao que é mais atingido pelos mecanismos governamentais de difusão televisiva e midiática em geral. As oposições se baseiam em partidos não propriamente mobilizadores de massas. A definição de qual é o outro público a ser alcançado pelas oposições e como fazer para chegar até ele e ampliar a audiência crítica é fundamental. Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo “aparelhou”, cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias.
Sendo assim, dirão os céticos, as oposições estão perdidas, pois não atingem a maioria. Só que a realidade não é bem essa. Existe toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à TI (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de “classe C” ou de nova classe média. Digo imprecisamente porque a definição de classe social não se limita às categorias de renda (a elas se somam educação, redes sociais de conexão, prestígio social, etc.), mas não para negar a extensão e a importância do fenômeno. Pois bem, a imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc. É a estes que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente, sobretudo no período entre as eleições, quando os partidos falam para si mesmo, no Congresso e nos governos. Se houver ousadia, os partidos de oposição podem organizar-se pelos meios eletrônicos, dando vida não a diretórios burocráticos, mas a debates verdadeiros sobre os temas de interesse dessas camadas.
Mas não é só isso: as oposições precisam voltar às salas universitárias, às inúmeras redes de palestras e que se propagam pelo país afora e não devem, obviamente, desacreditar do papel da mídia tradicional: com toda a modernização tecnológica, sem a sanção derivada da confiabilidade, que só a tradição da grande mídia assegura, tampouco as mensagens, mesmo que difundidas, se transformam em marcas reconhecidas. Além da persistência e ampliação destas práticas, é preciso buscar novas formas de atuação para que a oposição esteja presente, ou pelo menos para que entenda e repercuta o que ocorre na sociedade. Há inúmeras organizações de bairro, um sem-número de grupos musicais e culturais nas periferias das grandes cidades, etc., organizações voluntárias de solidariedade e de protesto, redes de consumidores, ativistas do meio ambiente, e por aí vai, que atuam por conta própria. Dado o anacronismo das instituições político-partidárias, seria talvez pedir muito aos partidos que mergulhem na vida cotidiana e tenham ligações orgânicas com grupos que expressam as dificuldades e anseios do homem comum. Mas que pelo menos ouçam suas vozes e atuem em consonância com elas.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República. O papel da oposições. Revista Interesse Nacional, nº 13 – abril – junho, 2011

Jucazinho, o retrato do fisiologismo brasileiro

Irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá, Oscar Jucá Neto, o Jucazinho, fez uma gestão tão desastrosa num restaurante da família que a casa fechou. Mas, para o governo, ele servia: o irmão senador lhe arranjou um cargo na Infraero, no governo Lula, e uma diretoria da Conab, na gestão Dilma, Nos dois casos, acabou criando problemas e teve de ser demitido, expondo os males do loteamento político do Estado



Assucar na receita do fisiologismo



De gerente de restaurante falido a cargos no governo, Jucazinho expõe males do loteamento

Letícia Lins

Noves fora delitos criminais, a crise nos Transportes e na Agricultura tem origem no loteamento político das funções do Estado, sustentado por compadrio, fisiologismo, nepotismo e interesses partidários inconfessáveis. E a carreira de Oscar Jucá Neto, o Jucazinho, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-PR), é a cara desse loteamento.

Demitido dia 27 passado do cargo de diretor financeiro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sob suspeita de desvio de verba pública, Jucazinho ficou pouco mais de duas semanas no cargo, depois de ter sido nomeado pela presidente Dilma Rousseff após intensa pressão do líder do governo. Não foi o primeiro emprego que Jucá, o Romero, arrumou para o irmão Jucazinho no governo.

De 2006 a 2009, na gestão Lula, ele trabalhou na Infraero, e foi demitido em escândalo parecido com o de agora, quando a direção da companhia botou para fora afilhados de aliados do então presidente para tentar modernizar a empresa, provocando a ira do PMDB contra a "tesourada" na estatal que gere aeroportos.

Demitido da Infraero, Jucazinho voltou em julho deste ano ao governo, onde comandava orçamento de R$5 bilhões como diretor financeiro da Conab. Apanhado em suposto desvio de R$8 milhões para uma empresa fantasma ligada à família, caiu e acusou o ministro da Agricultura, Wagner Rossi - também indicado pelo PMDB -, de oferecer propina a ele em troca de silêncio, dizendo ainda que "só tem bandido" na Conab e que o órgão é pior que o Dnit, dos Transportes.

Mas, antes dos dois cargos no governo - que obteve tanto no governo Lula como no de Dilma por indicação de Romero Jucá -, Jucazinho não se dera bem com outro irmão, Álvaro Jucá. Isso porque teve atuação desastrosa no gerenciamento do restaurante Assucar, de comida regional, no Centro de Recife, montado por Álvaro.

A empreitada acabou não dando certo por causa da má gestão de Jucazinho - ou Oscarzinho, como é chamado na família -, segundo três pessoas que trabalharam em três setores do restaurante, que funcionava no 1º andar do Paço Alfândega - o shopping center mais luxuoso do Centro de Recife, e que já foi administrado pela família Jucá.

Segundo essas pessoas, Jucazinho se revelou um "péssimo gerente", e muitas vezes era a mulher dele (Taciana Canavarro) que dava as ordens, porque ele se mostrava sem capacidade para administrar. Também pouco entendia de cozinha, mas vez por outra ficava no local usando a indumentária dos chefs e dando ordens sobre o assunto que não dominava.

O Assucar era voltado à classe A e tinha cardápio contemporâneo, assinado pelo chef César Santos, proprietário do restaurante Oficina do Sabor, um dos mais criativos do estado. Sua inauguração foi precedida de pesquisa histórica e cada prato levava o nome de um engenho tradicional da Zona da Mata pernambucana. O chef não ficou muito tempo no Assucar, e também não quis falar sobre o assunto. Mas, segundo um auxiliar dele, Jucazinho era desorganizado com as compras, não administrava direito o estoque e tinha relação caótica com fornecedores.

- O problema era de gestão mesmo. Chegamos ao Assucar e encontramos excesso de funcionários, contas atrasadas, falta de controle no estoque e compras e vendas totalmente desorganizadas. A casa, apesar de ser uma das preferidas do Centro para recepções, estava no vermelho - lembrou ontem Ronas Vicente, o Tatu, que ficou no restaurante como maître e gerente entre 2005 e 2008.

Tatu tem 24 anos de atuação em restaurantes e espantou-se com a situação do Assucar na era Jucazinho:

- A gente chegou com a função de uma auditoria, porque o que havia ali era falta de gestão mesmo: o restaurante gastava mais do que arrecadava. Tinha funcionários em excesso (40), reduzidos para 26. Também tinha chef demais para pouco índio, era gente demais querendo mandar na cozinha.

Senador defendeu irmão em 2009

Segundo uma das pessoas ouvidas, que pediu para não se identificar e trabalhava no setor de contabilidade, a má gestão terminou induzindo os irmãos a uma briga familiar. O GLOBO procurou Álvaro Jucá no seu escritório, em Recife, mas funcionários informaram que ele estava viajando.

O restaurante fechou em 2005. Em 2006, Jucazinho ganhou o cargo na Infraero, mas trabalhava em Recife, no Aeroporto de Guararapes. Em maio de 2009, numa faxina que não fica muito atrás da que Dilma fez agora nos Transportes, a direção da Infraero desmontou um cabide de empregos no órgão - e, entre os mais de 20 demitidos, estava Jucazinho e sua mulher.

Também como agora - em que a crise, após atingir o PR nos Transportes, bateu à porta do PMDB com as denúncias na Agricultura, e Jucazinho caiu -, a faxina de então chegou ao maior aliado dos petistas. Como os demitidos da Infraero eram apadrinhados do PMDB e até parentes de parlamentares peemedebistas, o partido reagiu com ira ao desmonte, que tinha sido autorizado, porém, pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, da própria sigla. Em outra semelhança com os tempos atuais, aliados ameaçaram retaliar nas votações de interesse do governo no Congresso.

Romero Jucá - que no governo atual fez lobby por cinco meses no Planalto e em gabinetes de ministros em favor do nome do irmão para a Diretoria Financeira da Conab - saiu, na época, em defesa de Jucazinho. "Bom cabrito não berra. Agora, é um absurdo que o governo passe a criminalizar cargo de indicação política. Mas não vou bater boca com o presidente da Infraero. Agora, está claro que é no mínimo uma deselegância", disse o senador na época. Agora, após a história se repetir e o irmão cair de novo, Romero Jucá se desculpou com a presidente Dilma e desautorizou o irmão, ficando ao lado do ministro Wagner Rossi - que ontem depôs na Câmara.

O episódio da Infraero levou ainda a uma briga pública entre Jobim e Romero Jucá. O ministro reagiu à pressão dos peemedebistas (que ameaçaram, por exemplo, com a CPI da Petrobras), afirmando que deixaria o governo caso os cortes fossem suspensos: "Se não for sério, não é para mim". Foi, então, a vez de Romero Jucá responder a Jobim, chamando de truculenta a forma como fora tratado ("se tem alguém que não agiu com seriedade, que ele aponte quem é", disse o senador). Na tribuna, Jucá afirmou que apresentaria uma emenda estabelecendo que a Defesa fosse ocupada apenas por militares da ativa ou da reserva, que entendessem do assunto. Jobim, então, respondeu que as demissões continuariam: "Vou fazer o que tenho de fazer e ponto. O senador tem direito de apresentar a PEC que bem entender. A questão é aprová-la".

FONTE: O GLOBO

Contra CPI, Dilma usa até vaga no TCU

Tendo à frente a própria presidente Dilma Rousseff, o governo conseguiu enterrar a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Transportes requerida pela oposição. Para abortar a CPI, o Planalto prometeu acelerar obras, apoiar um candidato ao Tribunal de Contas da União e até assegurar a presença de Dilma na inauguração de uma ponte

Dilma promete vaga no TCU e até inauguração de ponte para deter CPI

Presidente assumiu comando da negociação política para retirar assinaturas necessárias à instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito que investigaria irregularidades nos Transportes; sem os 27 nomes necessários, requerimento foi arquivado

João Domingos

BRASÍLIA - Tendo à frente a própria presidente Dilma Rousseff, que contou ainda com a ajuda de ministros e líderes na Câmara e no Senado, o governo conseguiu enterrar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Transportes requerida pela oposição. Para abortar a CPI, o Planalto prometeu acelerar obras, apoiar um candidato ao Tribunal de Contas da União (TCU) e até garantir a presença de Dilma na inauguração de uma ponte.

O governo conseguiu que dois senadores da base aliada retirassem suas assinaturas a favor da CPI. Como a oposição havia coletado 27 assinaturas - número mínimo para a instalação de comissão parlamentar no Senado -, as duas baixas inviabilizaram a iniciativa. Com apenas 25 assinaturas, o requerimento foi mandado pelo presidente José Sarney (PMDB-AP) diretamente para o arquivo. Se quiser abrir uma CPI, a oposição terá que recomeçar a coleta de assinaturas.

O objetivo da CPI era investigar as irregularidades no setor de transportes, que já resultaram na demissão de 27 pessoas, entre elas o ex-ministro Alfredo Nascimento e o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura Rodoviária (Dnit) Luiz Antonio Pagot.

O senador João Durval (PDT-BA), o primeiro a retirar a assinatura, recuou em troca da promessa do governo e do PT de apoiar a candidatura de seu filho, o deputado Sérgio Barradas Carneiro (PT-BA), para vaga de ministro do TCU. Até então, Dilma mostrava-se simpática à candidatura da deputada Ana Arraes (PSB-PE), mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Carneiro conseguiu da bancada de 86 deputados do PT a promessa de que cada um buscará o voto de um colega a seu favor na disputa pelo TCU. O cargo de ministro do tribunal é vitalício.

O PT nunca conseguiu pôr nenhum de seus integrantes no TCU. Todas as vezes que disputou, perdeu. Carneiro disse ter a certeza de que se contar com os votos de seus colegas, multiplicados por dois, será eleito.

Durval teria recebido ainda a promessa de que, enfim, será construído um anel viário em Feira de Santana, núcleo de sua base eleitoral, reivindicação que ele faz há cinco anos ao governo. Como Alfredo Nascimento prometia o anel viário e não o fazia, Durval vingou-se assinando o requerimento da CPI. Mas recuou para não prejudicar o filho.

"O governo operou mesmo para impedir a CPI", disse ontem o líder do governo no Senado, senador Romero Jucá (PMDB-RR). "A CPI não vai servir de instrumento de açoite do governo pela oposição."

Já o líder do governo no Congresso, deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS), afirmou que trabalhou nas últimas 24 horas para acabar com a CPI antes mesmo que ela começasse.

Também retirou a assinatura o senador Reditário Cassol (PP-RO), suplente e pai do titular Ivo Cassol (PP). O próprio filho ajudou o governo a levar o pai ao recuo. De acordo com parlamentares da base, o filho lembrou ao patriarca que os Cassol são empresários do setor de geração de energia elétrica e fazem negócios com o governo.

Ponte. O tucano Ataídes Oliveira (TO), suplente de João Ribeiro (PR), também chegou a tirar a assinatura. Para que ele recuasse, Dilma prometeu comparecer a seu Estado até o próximo mês para inaugurar a ponte sobre o Rio Tocantins que liga Miracema do Norte a Lajeado. Quem mais fez pressão para que Oliveira recuasse foi o titular João Ribeiro, que tem interesse direto no Ministério dos Transportes e é padrinho de vários dos indicados para o setor.

Oliveira, empresário que nunca havia assumido mandato eletivo, foi pressionado pelo líder do PSDB e autor do requerimento da CPI, Álvaro Dias (PR). Terminou por recuar do recuo. Dizendo-se arrependido, assinou novamente.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Pagot defende CPI para o setor de Transportes

O ex-diretor-geral do Dnit Luiz Antonio Pagot, que saiu do órgão em julho, defendeu a instalação de CPI para investigar o setor.

Para Pagot, a CPI seria forma de "passar a limpo", as acusações. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) começou outra coleta assinaturas para nova CPI

Ex-diretor do Dnit afirma apoiar CPI dos Transportes

Pedido de criação de comissão foi arquivado

Catia Seabra, Gabriela Guerreiro, Natuza Nery e Maria Clara Cabral

BRASÍLIA -  Ex-diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutrura de Transportes) Luiz Antonio Pagot defendeu ontem a instalação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar acusações de irregularidade no órgão.

Dizendo que prestaria esclarecimentos à CPI, Pagot afirmou que essa seria uma forma de "passar a limpo" as acusações no setor. Pagot pediu demissão em julho.

"Sou defensor número um da CPI do Dnit. Até para passar a limpo, ter uma certidão negativa, ou para ser apenado. Tem alguma coisa contra o Pagot? Digam o que têm, e vou me defender nas instâncias que houver."

Em guerra com o governo, deputados do PR defenderam, durante reunião na noite de anteontem, apoio à criação de uma "CPI do PAC", principal plataforma da candidatura da presidente Dilma Rousseff na eleição de 2010.

Os deputados, porém, foram convencidos pelo líder Lincoln Portela (MG) que esse não era o momento para a articulação.
No Senado, dois governistas retiraram, a pedido do governo, suas assinaturas para a criação de uma CPI que investigaria acusações de corrupção no Ministério dos Transportes. Com isso, o requerimento não obteve as 27 assinaturas necessárias e foi arquivado.

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), começou ontem mesmo a coleta de novas assinaturas, obtendo apoio de cinco integrantes de partidos governistas.

A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, questionou a real motivação da oposição.

"Essa CPI não era para valer. Se fosse, tinha que protocolar com mais assinaturas, como tradicionalmente se faz para evitar que a retirada de assinaturas a inviabilize. Ele (Álvaro Dias) sabia que não era para valer", disse ela.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), admitiu ter atuado contra a CPI. "A CPI seria um instrumento de açoite político no governo. Convencemos dois senadores a retirar assinaturas, isso é que vale. Tudo já está sendo investigado pelo governo."

Os governistas João Durval (PDT-BA) e Reditario Cassol (PP-RO) foram os senadores que voltaram atrás.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Governo foi avisado de aparelhamento na pasta da Agricultura

Associação de empregados pede explicações sobre a nomeação de apadrinhados sem intimidade com setor

Assessoria de imprensa do ministério diz que ofícios recebidos foram enviados anteontem a órgãos de fiscalização

Andreza Matais e Natuza Nery

BRASÍLIA - O governo de Dilma Rousseff foi informado de que a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estava sendo aparelhada com objetivos eleitoreiros, mas manteve as indicações políticas.

O órgão se tornou o novo foco de denúncias da gestão petista após um ex-diretor da empresa acusar seus colegas de "bandidos".

As indicações para a companhia, braço do Ministério da Agricultura, intensificaram-se a partir de 2007, com a adesão do PMDB a Lula.

Em oito cartas a diversos ministérios, a Associação Nacional dos Empregados da Conab cobrou do governo explicações para nomeações de apadrinhados políticos sem intimidade com o setor.

Numa das cartas, protocolada no dia 20 de junho, a associação pediu à ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) explicações para as indicações de Oscar Jucá Neto e Marcelo Araújo à diretoria, ignorando os pedidos por nomeações técnicas.

Irmão do senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, Jucá Neto foi exonerado na semana passada após a revelação de que ele ordenou, de forma suspeita, o pagamento de R$ 8 milhões a um armazém hoje em nome de laranjas.

O outro diretor citado no documento, responsável pelas operações de abastecimento da Conab, é um ex-deputado federal e chegou à empresa com o apoio da bancada do PMDB na Câmara. Todos os diretores têm padrinhos políticos.

"Nos últimos anos, a Conab vem sendo utilizada como uma organização de acomodação partidária, com vistas a objetivos essencialmente político-eleitoreiros", escreveram quatro dirigentes da associação.

Carta com o mesmo teor foi encaminhada à Casa Civil e à pasta de Relações Institucionais quando da nomeação do atual presidente da Conab, Evangevaldo dos Santos.

Nela, pedem que seja comprovada a experiência no setor agrícola para embasar a indicação. Santos foi indicado pelo líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO).

A única resposta oficial do governo para as cobranças veio da ministra Gleisi, que disse ter encaminhado a demanda ao Ministério da Agricultura. A Casa Civil confirmou que recebeu as cartas. Duas foram encaminhadas nos dias 27 de junho e 25 de julho para o ministro e seu chefe de gabinete na Agricultura, informou a Casa Civil.

Numa primeira resposta, a assessoria do Ministério da Agricultura disse o seguinte: "não chegou nenhum ofício da ministra Gleisi Hoffmann tratando do assunto relativo às indicações políticas na Conab". À noite, a assessoria mudou a versão. Disse que a pasta recebeu os ofícios anteontem e que foram enviados a órgãos de fiscalização.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O enigma Dilma:: Merval Pereira

Vou acompanhando o desenrolar algo enigmático do governo Dilma, e cada vez mais me recordo das palavras com que Carlos Castello Branco, o maior colunista político brasileiro, explicava a natureza dos fatos políticos cotidianos: "Os fatos vão se criando, e as explicações, se multiplicando, ganhando coerência ou clareza à medida que os surpreendemos no seu aparecimento, no seu colapso, no seu ressurgimento, nessa permanente elaboração, fundada em contradições que nem sempre chegam a sínteses, que caracteriza a ação política".

Seus atos, até agora, ora carecem de clareza ou coerência, ora parecem justificar a crença de que nada mudou em relação ao governo de seu sucessor e tutor político.

Mesmo quando parece que sua direção é contrária ao estabelecido anteriormente, logo um recuo determina os limites de sua ação autônoma.

Assim, a tal operação "faxina" que não teria limites dá lugar a uma grande manobra palaciana para impedir que o Congresso monte uma CPI para investigar as denúncias a que o próprio governo deu crédito, a ponto de demitir mais de 20 servidores dos Transportes e mais o próprio ministro.

De volta ao Congresso, Alfredo Nascimento fez um discurso cheio de insinuações contra o governo que diz ainda apoiar, mas do qual a bancada de sua sigla anuncia se afastar.

O de mais grave que disse, ainda carente de resposta, que não veio possivelmente por não ser possível rebater, é que os sobregastos ocorridos nas obras ocorreram sobretudo na campanha, quando Dilma Rousseff disputava o Planalto.

Ao acionar a máquina partidária para impedir a CPI, Dilma confirma que não pretende se afastar demasiadamente das raízes que a ligam ao lulismo, acatando os conselhos de Lula para não afrontar a base parlamentar costurada por ele de modo a ser a mais ampla possível para facilitar o governo de Dilma e não para ser confrontada permanentemente.

O PMDB sente-se novamente revigorado com a garantia de que não será incomodado e mostra-se unido em torno da demonstração de força dada pelo vice-presidente Michel Temer, cujo protegido, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, não será atingido nem mesmo por denúncias de um irmão do líder do governo no Senado.

Outra indicação de que laços que a ligam ao lulismo são mais fortes do que supõem os que imaginam que ela possa estar em busca de novas alianças é o programa de fortalecimento da indústria nacional. Reafirma visão de capitalismo de Estado que joga com a interferência do governo em setores-chave da economia que pode trazer prejuízos, como vem acontecendo com Vale e Petrobras.

A preferência para a produção nacional, quando a diferença de preços em relação aos competidores estrangeiros for de até 25%, é o retorno de reservas de mercado com viés nacionalista que afronta a livre concorrência, e pode ter consequências nocivas à competitividade da indústria nacional.

A sensação é que, mesmo superado o problema imediato, a situação econômica dos EUA não está resolvida e, ao contrário, ficou mais explícita a dificuldade de Obama para governar.

A polarização democratas-republicanos chegou a um nível que impede o funcionamento do Congresso. Temos, assim, além do problema econômico, problema político grave.

Como será o futuro das relações políticas que, em caso como o da dívida, deveriam ser apartidárias e acabaram virando disputa sangrenta e com sentido puramente eleitoral?

As pesquisas mostram que nenhuma das siglas ganhou na opinião dos eleitores, e o descrédito dos políticos cresceu.

Obama conseguirá dar a volta por cima? O aumento de impostos voltará à discussão se ficar demonstrado que os cortes de gastos estão impedindo o país de sair da crise?

Tom Trebat, diretor-executivo do Instituto de Estudos da América Latina e do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Columbia (NY), considera esta "uma crise política que tem cara de crise financeira".

Para Trebat, "um lado do debate partidário está no momento disposto a arriscar tudo, até a própria estabilidade da economia, para ganhar a batalha".

Ele chega a comparar "essa visão de tudo ou nada" à que marcou a política americana antes da Guerra Civil, e durante os anos 30, com forte resistência, que continua até hoje, contra as reformas de Roosevelt. "Ou seja, o debate atual americano está revestido de enorme importância histórica".

Quem corre o risco maior neste contexto, diz Tom Trebat, é o presidente Obama, "justamente o cara que quer fazer as pazes com todo mundo".

Os republicanos já teriam percebido "que ele pode ser uma versão atualizada de Jimmy Carter - bom de papo e bem-intencionado, mas sem jogo de cintura. Pressionado, ele cede terreno".

Por sua vez, os democratas, segundo Trebat, estão desiludidos por não haver até agora estratégia para lidar com a extrema direita dos republicanos.

Ele acha que as vantagens de Obama ainda são grandes: a imensa maioria dos eleitores é contra o radicalismo da direita, que foi tão claramente exposto nesse debate, e em consequência a predominância dos republicanos sofrerá certo recuo na Câmara de Deputados.

Lembra ainda que o grande capital privado, que acaba financiando as campanhas americanas, será bem mais cauteloso antes de apoiar candidatos radicais que poderiam levar o país à beira da moratória.

Essas eleições de 2012 "serão cruciais" e, na opinião de Trebat, "inevitavelmente se transformarão em uma quase luta de classes, com Obama defendendo a classe média e pintando os republicanos como representantes só dos mais ricos".

Caso Obama assuma cara nova de lutador zangado e abandone a postura de conciliador que o marca como um líder fraco, Trebat acha que ele tem boas chances de se reeleger.

FONTE: O GLOBO

À beira de um ataque de nervos :: Eliane Cantanhêde

Os ministros, ex-ministros e futuros ex-ministros estão à beira de um ataque de nervos.

Alfredo Nascimento, defenestrado dos Transportes, usou a volta ao Senado para admitir ter mágoa de Dilma, jogar os escândalos no colo do sucessor Paulo Sérgio Passos, seu ex-secretário-executivo, e liberar um desconhecido lado cômico: "O PR não é lixo para ser varrido".

Wagner Rossi foi jogado na fogueira pelo ex-diretor da Conab (o Dnit da Agricultura) Oscar Jucá Neto, irmão do longevo e famoso líder do governo no Senado, Romero Jucá. Também no Congresso, Rossi negou que haja uma "central de corrupção" na pasta que comanda. Reduziu tudo a "ressentimento".

Nelson Jobim, o que detesta ser "dissimulado" e adora falar suas verdades por aí, conversou ontem com Dilma, saiu calado e viajou a serviço para a região Norte, onde assina com a Colômbia acordos para a proteção conjunta das fronteiras. Como se nada tivesse acontecido -até a próxima verdade.

E o Planalto fez um troca-troca: sai a CPI dos Transportes, ufa!, e entra uma fila de mais cinco ministros para depor "a convite" na Câmara: Comunicações, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário, Cidades e o novo dos Transportes.

De CPIs sempre podem sair cobras e lagartos. De depoimentos camaradas só saem palavrórios e imagens para preencher a grade de programação da TV Câmara.

Pelo sim, pelo não, o Palácio do Planalto se esforçou para salvar pelo menos um, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. No lugar dele vai o diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima. Por enquanto...

Sem a CPI, o PR falou grosso no Congresso e se retirou do bloco de apoio ao governo. Repare bem: do bloco de apoio, não do governo. Aí, vale o "daqui eu não saio, daqui ninguém me tira".

Conclusão: está uma bagunça danada no fim do recesso. Por quê? Está faltando comando.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dependente do PMDB, Dilma não faz faxina nos ministérios do partido :: Josias de Souza

Medo da bancada mais poderosa explica a ausência de demissões de aliados peemedebistas

Dilma se deu conta de que o PMDB é aliado de dois gumes: ajuda a estabilizar, mas também pode desestabilizar

Sob Dilma Rousseff, existe a "faxina" e a faxina. A limpeza sem aspas foi insinuada contra o PR. Com aspas, contra o PMDB.

A julgar pelo que diz em privado, Dilma parece sinceramente incomodada com o modelo que escora a governabilidade na ocupação predatória do Estado.

No instante em que degustava a pompa da higienização nos Transportes do PR, tropeçou na circunstância de suas limitações na Agricultura do PMDB.

Dilma se deu conta de um detalhe que condicionou a Presidência dos antecessores: o PMDB é aliado de dois gumes. Ajuda a estabilizar. Mas pode desestabilizar.

Dilma aproveitara-se do recesso para manusear a vassoura que varreu mais de duas dezenas de servidores da pasta dos Transportes.

No segundo dia de Congresso cheio, a oposição logrou obter as quatro assinaturas que faltavam para uma CPI no Senado. Sintomaticamente, as derradeiras foram amealhadas quando ocupava a tribuna Alfredo Nascimento (PR-AM), ministro varrido dos Transportes.

Em discurso apinhado de recados, ele insinuou que as suspeitas que o defenestraram nasceram no ano eleitoral de 2010. Mais: disse que pedia votos no Amazonas quando o orçamento do pedaço do PAC tocado pelos Transportes foi tonificado em R$ 14 bilhões.

Pior: afirmou que, reconduzido à pasta, deu ciência a Dilma da inconsistência dos gastos. Deu a entender que a ex-mãe do PAC passava a vassoura sobre o próprio pé.

Ficou entendido que, aberta a CPI, a matéria-prima para a investigação viria do legado de Lula e da campanha presidencial de 2010.

Seguindo ordens de Dilma, o Planalto desceu ao front com métodos de fazer corar o ex-PT. Extraíram-se duas rubricas do pedido de CPI, inviabilizando-o.

No instante em que os operadores de Dilma iniciavam a operação enterra-CPI, a caciquia do PMDB reunia-se no gabinete do vice-presidente Michel Temer. O encontro não foi fortuito. Rodeado de líderes e ministros, Temer exibiu as armas da sigla: o tamanho e a unidade.

Sob FHC, o tucano Tasso Jereissati animou-se a sugerir ao presidente que se livrasse do PMDB. "Tá louco! Vamos ter uma CPI a cada 15 dias", reagiu FHC. Nessa época, o PMDB não era tão unido como hoje. E não ocupava a Vice-Presidência.

No alvorecer do seu primeiro mandato, Lula ousou esnobar o PMDB. Deu na CPI para investigar o mensalão.

No segundo mandato, rendeu-se às evidências. Hoje, empenha-se para convencer Dilma de que a história demonstra que, em política, a "faxina" é sempre mais conveniente do que a faxina.

Vem daí a ausência de demissões do PMDB no "Diário Oficial da União". A entrevista em que Oscar Jucá Neto disse que na Agricultura "só tem ladrão" virou problema familiar do irmão e líder do governo Romero Jucá.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Mais problemas com a base governista acentuarão dependência de Dilma a Lula::Jarbas de Holanda

A presidente Dilma Rousseff voltou a projetar uma boa imagem nos segmentos melhor informados da sociedade com o rápido acolhimento das denúncias da imprensa sobre irregularidades no ministério dos Transportes, em especial no DNIT e na Valec. O que lhe rendeu, também, aplausos do ex-presidente FHC. E reanimou expectativas de alguns analistas de um progressivo distanciamento dela em relação ao ex-presidente Lula, por meio de decisões políticas e econômicas que desdobrem nesses campos essenciais as diferenças de estilo existentes entre os dois. Expectativas cuja confirmação seria sem dúvida positiva para o país. Mas que, realisticamente, não têm condições de configurar de fato o que constituiria mais uma, e relevante, reprodução de conflitos entre criador e criatura. Podendo, ao contrário, um ensaio efetivo desse distanciamento – que fosse mesmo além de uma operação de marketing político-eleitoral como a que tem sido promovida pelo Palácio do Planalto – reforçar a dependência da presidente ao antecessor, como alternativa à inviabilização do exercício de seu mandato.

 Isso por causa de dois fatores básicos e vinculados. Porque ela não conta nem se propõe construir nenhum esquema próprio de sustentação política e parlamentar. E, sobretudo, porque sua visão da economia é basicamente a mesma do lulopetismo, centrada na perspectiva de um capitalismo de estado, tão próximo quanto possível do modelo chinês, e perseguida pelas peças chaves de sua equipe no ministério da Fazenda, Guido Mantega e Nelson Barbosa, bem como no BNDES, Luciano Coutinho. Perspectiva bem evidenciada numa das primeiras ações do novo governo – a emblemática intervenção praticada na Vale, sob suas ordens diretas, com a demissão do presidente Roger Agnelli.

Quanto à operação do marketing ético (afastamento de toda a cúpula do ministério dos Transportes), parou aí, contida por advertências de Lula sobre o risco de descontrole e desmonte da base parlamentar governista. As novas denúncias de irregularidades no ministério da Agricultura estão sendo abafadas porque, além do PTB, afetam o aliado decisivo no Congresso, o PMDB. Outro risco de complicações no relacionamento do governo com as Forças Armadas (com implicação no Congresso) explica a recomendação feita por Lula à presidente Dilma, para que desista da demissão do ministro da Justiça, Nelson Jobim. E as denúncias relativas ao ministério de Minas e Energia – por envolverem um ministro peemedebista e, juntos com ele, petistas ligados diretamente à presidente (indicados por ela quando chefiava a Casa Civil), os quais controlam as principais decisões da pasta e das estatais do setor elétrico – também serão desconsideradas.

4) Assim, tal operação é substituída agora por grande esforço do Planalto para impedir a apuração parlamentar das denúncias de corrupção em diversas áreas da máquina federal, a partir de uma CPI específica sobre a de Transportes, proposta pelas lideranças do PSDB, do DEM e do PPS. Apuração esta que se tornou mais preocupante para a presidente após o discurso feito ontem no Senado pelo ex-ministro Alfredo Nascimento. No qual ele responsabilizou o governo Lula pelo aumento irregular dos gastos do ministério dos Transportes, ocorrido durante a campanha eleitoral de 2010 e quando havia deixado o cargo de ministro para disputar o governo do Amazonas, ademais de atribuir seu pedido de demissão, no mês passado, a falta de apoio, prometido, da presidente. E ao qual se seguiu manifestação de outro senador do PR, Blairo Maggi, de que o partido deixará de integrar a base governista.

Quanto a outros dois ingredientes do marketing presidencial – a troca do palanquismo de Lula pelo estilo gerencial de Dilma Rousseff e os passos ainda tímidos de uma inflexão na política externa, em favor dos direitos humanos – embora não digam respeito a questões básicas do governo merecem apoio da opinião pública e da oposição. No caso dessa inflexão, por representar a revalorização de valores humanistas fundamentais de nossa sociedade, mas com a cobrança de novos passos no sentido da desideologização e do realismo das posturas do Itamaraty. Objetivos que estão ou estavam sendo deixados de lado pelo empenho diversionista da representação brasileira na ONU de contrapor-se a uma condenação do Conselho de Segurança às selvagens violências do ditador Bashar Assad contra os rebeldes sírios, já com o massacre de mias de 1.500 deles.

Jarbas de Holanda é jornalista

Um novo reformismo democrático de esquerda*::Gilvan Cavalcanti

O 17º Congresso do PPS não deixa de ser um momento de extraordinário valor para atualizar, através do debate, os paradigmas das forças progressistas. Atualizada e relevante é a idéia investigativa sobre o que é novo reformismo de esquerda no Brasil do século XXI. Tentarei, dentro das minhas limitações de aprendiz, contribuir para essa discussão.

É possível ser reformista de esquerda, hoje? A resposta é afirmativa.

Mas, o que seria isso?

Tenho a convicção de que, em primeiro lugar, é essencial reconhecer as mudanças ocorridas no mundo e no Brasil. E, entender, no campo do pensamento, essas transformações. Mas, há duas maneiras de fazê-las: uma consiste em renunciar aos próprios princípios, o que seria dramático e levaria ao cinismo, a um vazio intelectual. E, poderia, no fim, resultar no individualismo dos antigos. Outra maneira é a de pensar novos caminhos e atualizar os conhecimentos. Em outras palavras, criar novos paradigmas A primeira hipótese não seria a melhor solução. A segunda seria, objetivamente, uma experiência coletiva, mais complexa e exigiria o esforço de unir “fortuna e virtù”. Ou seja, reconhecer que a estrada em busca da democracia e da igualdade é longa.

A primeira premissa é perceber o que sucedeu no século passado. O que se passou? O mundo do século XX foi, em primeiro lugar, de violência, durante o qual alguns homens imaginaram concretizar o genocídio dos judeus. Foi, a época de vitimas das perseguições do fascismo e do nazismo. Inicio do tempo das revoluções sociais que tentaram mudar o mundo. Simultaneamente, da tragédia do "socialismo real" dos horrores do stalinismo. Ao mesmo tempo, o século das liberdades reconquistadas, da Europa isenta das ditaduras, da África livre do colonialismo e apartheid, da América Latina plena de jovens democracias. Paradoxalmente, o século XX foi de extraordinárias conquistas da civilização, do progresso, da emancipação humana.

Penso que o novo reformismo de esquerda, hoje, teria de incorporar os valores históricos pelos quais o antigo reformismo nasceu: liberdade, democracia, justiça, igualdade, solidariedade e trabalho. E, acrescentar os novos valores, do novo século: cidadania, direitos, laicismo, inovação, criatividade, integração, mérito, multiculturalismo, oportunidade, segurança, sustentabilidade e internacionalização. Valores estes, consagrados na Constituição de 1988.

Somos contemporâneos de tempo novo, em que o caráter da sociedade capitalista - modo de produzir, de consumo, de trabalho, de comunicação, relacionamento de conceber e organizar a vida individual e social - está se modificando profundamente. Em outras palavras, o o novo reformismo deveria ser, na essência, do trabalho, do desenvolvimento sustentável, da cidadania e dos direitos civis, da criatividade, da meritocracia, do saber, da consciência do individuo e laico, da democracia representativa, da integração mundial, interdependência, da paz e segurança.

Um tema que deveria ficar bem límpido, cristalino para o reformismo de esquerda e moderno: não há no horizonte nenhuma perspectiva de "revolução" à vista. Deveria, além do que, considerar que esse conceito, tem algo a ver com a idéia de recriação do mundo a partir do zero, radicalmente novo. Isso, na prática, não existe. E o mais grave: as duas grandes "revoluções' a francesa e a russa foram impondo limites à cidadania. O indivíduo poderia ser censurado, preso ou proibido de deixar os seus países por pensar de forma diversa dos" "revolucionários" e levaram à falta de democracia: os jacobinos na França e os bolcheviques na Rússia.

Esse novo reformismo de esquerda tem um papel?

Estou convencido que tem. Ele deveria ser o protagonista principal de um movimento progressista, plural, não só na cultura, mas, também, amplo na sua expressão política. Esse reformismo deveria ser a esquerda do nosso século. A esquerda se não quiser se transformar em uma força conservadora, deveria ter melhor consciência das promessas liberadas pelas mudanças e saber formular as grandes opções reformistas, tais como: que verbalize respeito a uma distribuição mais justa das liberdades entre sexos, etnias e grupos sociais; sinalizando respeito à abertura das oportunidades de vida no campo existencial, fecundado em seus aspectos individuais e coletivos; que expressem à defesa do trabalho, de sua dignidade; que manifestem à valorização dos méritos, enobrecimento profissional, a capacidade empresarial, a inovação social, a criatividade cultural em beneficio da iniciativa individual no campo da responsabilidade social.

No espaço reformista do equilíbrio ecológico: a sustentabilidade das técnicas, a proteção da natureza, o valor cultural do ambiente. Opções que digam respeito à integridade do ser humano, o respeito pela vida, o aprofundamento do Estado laico e a liberdade de escolhas com base na convicção ética dos indivíduos. Valorizem a cultura, a história e a memória, com clara consciência que o desenvolvimento das tecnologias midiáticas trás o risco não só de excluir do processo de conhecimento quem não sabe ou não tem condições de se atualizar, mas, também, o empobrecimento das mentes, reduzindo o presente a uma simples representação de narrativas, sem raízes e sem passado. Fale a respeito à ética política: os direitos, mas, também, os deveres da cidadania, as responsabilidades morais dos representantes democráticos.

Sirva para abrir as portas do mundo da política, muito asfixiante. Valorize a capacidade do autogoverno dos cidadãos e das comunidades locais. Reconstruir a política como expressão dos interesses coletivos e lutar contra o indeterminismo, mas batalhar contra aqueles que concebem a política como instrumento de ambições pessoais e interesses corporativos. Tenha como sagrado os princípios constitucionais, da divisão e independência dos poderes da República, não tolere o totalitarismo de quaisquer conotações políticas ou de grupos sociais.

Reformismo que envolve um novo internacionalismo: a luta contra fome e a pobreza e a favor da "globalização" dos direitos humanos. Conceba que justiça e liberdade são valores inseparáveis e que não pode haver justiça sem liberdade, sem democracia, sem respeito aos direitos humanos. Valores a serem defendidos em qualquer lugar do mundo e que nenhum governo tenha o direito de se esconder atrás da soberania nacional para violar esses valores. Mas, não pode ser "pelo alto" sem povo.

É necessário trazer essa idéia para o presente concreto de nossa sociedade. Não um presente rebaixado, sem perspectiva, acontecimentos sem seqüência, sem passado a ser enfrentado conforme a oportunidade ocasional.

O presente só pode ser dirigido se as forças política reformistas, no País manifestarem visões e projetos que envolvam reformas estruturais: a) uma reforma política em médio prazo. O atual sistema proporcional atual precisa ser reformado. É paroquial. Pior, uma mistura entre paroquialismo e lobbismo, pois boa parte de parlamentares se elegem em função de máquinas – partidárias, prefeituras, igrejas, sindicatos, empresas, coronéis urbanos, sem esquecer o crime organizado, etc. b) reforma administrativa que diga respeito a fortes ações mais simplificadas, totalmente informatizadas, imparciais, promova a profissionalização do trabalho público, em outras palavras, uma administração de qualidade; c) reforma trabalhista que leve em conta, em primeiro lugar, a questão do desemprego. O desemprego causa vários problemas: para o desempregado, para a família e para o Estado. Para o cidadão desempregado e sua família, o desemprego provoca insegurança, a indignidade, aquela sensação de inutilidade para o mundo social.

Em segundo lugar, existe uma realidade dramática. O quadro legal é formado por muitos dispositivos constitucionais. Além de muitos artigos da CLT, leis subsidiárias, normas do Ministério do Trabalho, normas do Ministério da Previdência, convenções da OIT ratificadas pelo Brasil e, no campo do Poder Judiciário, por inúmeros enunciados, orientações jurisprudenciais e precedentes normativos do Tribunal Superior do Trabalho.

No campo da estrutura empresarial é formada por mais de cinco milhões micros empresas, quase trezentos mil pequenas empresas, mais de 30 mil médias empresas e cerca de 25 mil grandes empresas. E neste quadro o drama da informalidade alcança milhões empregados em empresas, outros tantos milhões por conta própria, e mais de quatro milhões de empregos domésticos. E mais, segundo o SEBRAE existem milhões de micro-empresas informais. Os reformistas teriam de enfrentar dois problemas propostos: a questão da flexibilização, de um lado, e por outro lado, a precariedade do trabalho.

Teriam de ser aplicadas medidas positivas que garanta emprego decente e proteção social para todos, estimulem o crescimento, a geração de empregos e formalização da mão-de-obra informal. Melhorem o perfil da distribuição de renda e a garantia da estabilidade da economia, com inclusão social de setores marginalizados da população. Combate à inflação e a defesa do desenvolvimento sustentável., seria criado um "fundo para programas de proteção" aos trabalhadores pobres.

Outro desafio para a esquerda reformista seria enfrentar a questão do campo. Há muitas ideais sobre o tema. O sociólogo Zander Navarro, especialista no assunto, em artigo na imprensa fez uma proposta interessante, resumida assim: a) criação de um único ministério para a área, O Ministério do Desenvolvimento Rural; b) apoio e expansão da agricultura de grande porte, especialmente no centro-oeste; c) respeito aos direitos trabalhistas; d) outra relação com os recursos naturais e a não destruição ambiental; e) apoio mais decisivo a agricultura familiar no centro-sul; f) formar uma Agência de Desenvolvimento Rural destinada, exclusivamente, a implantar a reforma agrária no polígono das secas. Isso permitiria assentar, em condições favoráveis, todos aqueles que ainda demandam terra; g) na região amazônica, moratória imediata na expansão da soja e de formação de assentamento pelo leste do Pará, como forma de manter um patrimônio que se tornará ainda mais valioso, iminente de ações para evitar as mudanças climáticas. Com isso, poder-se-ia mudar a face agrária brasileira para melhor, diminuindo, radicalmente, a pobreza rural e promovendo a justiça social.

É evidente, outras reformas estruturais o Brasil necessita. Realizar, sem mais perda de tempo, em particular, a tributária, a previdenciária a urbana e a universitária. E, a esquerda reformista e democrática deveria ser a protagonista, desempenhar o papel de vanguarda, vital para criar um ambiente de esperança e mudança que supere a atual realidade.

*Texto publicado no Fórum de Debates no Portal do PPS

Planalto barra mudança no rito das MPs

Projeto do senador Aécio Neves foi derrotado com a participação decisiva do PT, conforme orientação da presidente Dilma

Sintonizado com o Palácio do Planalto, o PT impediu ontem, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, a aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) do senador Aécio Neves (PSDB-MG) que altera o rito de votação das medidas provisórias (MPs) .

Hoje, o Senado praticamente não discute as medidas de iniciativa da presidente da República, Dilma Rousseff. Todo o tempo de tramitação é consumido na Câmara dos Deputados, que apenas na reta final da vigência das MPs as envia aa Senado.

Nos últimos meses, restou aos senadores a função de apenas "carimbar" as MPs, recebidas da Câmara, nos últimos dias de validade.

Coube ao senador petista Aníbal Diniz (AC), suplente de Tião Viana, que foi eleito governador do Acre, agir pelo partido, pedindo vista da proposta, mesma depois de negociado um acordo com o líder do governo, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), para avançar a votação da proposta.

Para Aécio Neves, a bancada do PT mostrou que esta "confortável com a situação de hoje, em que o Senado age como um poder subalterno que aceita todas as subordinações do Poder Executivo e que abdica de sua prerrogativa fundamental de discutir as matérias".

Cobrança. "As lideranças do PT terão de dizer se querem ajudar a restabelecer as prerrogativas do Congresso ou se continuarão aceitando o Congresso como poder subalterno que vai apenas cumprir as ordens da senhora presidente da República", afirmou o senador tucano.

Aécio Neves destaca como principais pontos da proposta, negociada com senadores da oposição e da base aliada, a fixação dos prazos de 60 e 45 dias para o debate da medida, respectivamente, na Câmara dos Deputados e no Senado; a proibição de introduzir contrabando no texto, como é chamada a inclusão de medidas totalmente alheias à proposta original; e a obrigatoriedade de as comissões de Constituição e Justiça das duas Casas examinarem a admissibilidade da medida provisória e, com isso, impedir que o Congresso continue aprovando medidas provisórias de assuntos sem urgência nem relevância./Rosa Costa

Bandeira

Um dos nomes mais cotados para disputar as eleições em 2014, o senador Aécio Neves fez da alteração do rito de votação das MPs uma de suas bandeira neste início de mandato.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Centrais protestam contra política econômica

Sem a participação da CUT, manifestação evidenciou racha entre as principais centrais sindicais do País

Cley Scholz

Com apoio da Prefeitura e do governo do Estado de São Paulo, cinco centrais sindicais encabeçadas pela Força Sindical promoveram uma manifestação ontem para protestar contra a política econômica do governo federal.

Os participantes - 15 mil segundo a Polícia Militar e 80 mil segundo os organizadores - foram em passeata da Praça Charles Muller, no Pacaembu, até a Assembleia Legislativa. A Companhia de Engenharia e Tráfego (CET) acompanhou o percurso mas não conseguiu evitar o fechamento de quatro pistas da Avenida Paulista.

O trânsito ficou complicado em toda a cidade desde cedo, quando cerca de 200 ônibus começaram a chegar ao Pacaembu transportando representantes dos sindicatos filiados às centrais.

Dois helicópteros foram contratados pelos organizadores por cerca de duas horas para transportar fotógrafos e cinegrafistas que acompanhavam o protesto. O custo do aluguel das aeronaves, ônibus, cinco carros de som e alimentação dos participantes não foi informado. Segundo a Força Sindical, as despesas foram divididas entre as várias centrais e sindicatos.

Agenda unitária. A manifestação foi convocada para "sensibilizar a sociedade, o governo e o Congresso Nacional da importância de se aprovar a "Agenda Unitária da Classe Trabalhadora"". Além de reivindicar mudanças na política econômica - redução dos juros, desenvolvimento distribuição de renda -, as centrais listaram outras palavras de ordem menos precisas como o "combate a todas as formas de discriminação e violência e soberania nacional e autodeterminação dos povos".

O protesto evidenciou o racha entre as duas principais centrais sindicais, a Força Sindical e a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

O presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, disse que os temas apresentados na manifestação foram discutidos no ano passado com todas as centrais sindicais, incluindo representantes da CUT.

"Sentimos a falta da CUT na manifestação", disse o sindicalista. "Seria importante a presença deles, porque tenho certeza de que eles trariam mais pessoas para essa mobilização".

A direção nacional da CUT informou que não participou por considerar que a luta prioritária no momento é o fim do Imposto Sindical.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PPS pode lançar candidatura de Stepan para a prefeitura do Rio de Janeiro

Steoan admite que pode disputar a prefeitura do Rio de Janeiro
O Partido Popular Socialista (PPS) realizará no próximo dia 13 agosto um encontro na cidade do Rio de Janeiro com o objetivo de discutir as eleições municipais. Em debate estará a possibilidade de lançamento de candidatura própria à prefeitura da cidade. Um dos nomes que o partido cogita para participar desta disputa é o do deputado federal Stepan Nercessian.

Ator e ex-vereador durante dois mandatos, ele exerce, atualmente, seu mandato em Brasília, onde integra as comissões de Segurança Pública e de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados.

“São vários os diálogos mantidos e entendimentos dentro e fora do partido, inclusive com a possibilidade de o PPS lançar candidatura própria. O Roberto Freire (presidente nacional do PPS) tem insistido para que eu lance meu nome e estou avaliando isso (disputar)”, disse Stepan, nesta quarta-feira (3).

Aliança com Gabeira

Presidente do Diretório Municipal, Roberto Percinoto, diz que Stepan é um nome capaz de atrair outras forças políticas.

Perguntado sobre a possibilidade de buscar montar uma chapa com o Partido Verde, antigo aliado na capital fluminense, o dirigente não escondeu o otimismo.

“Há uma convergência total nesta hipótese. (Fernando) Gabeira e Stepan se afinam muito. Pela história da atuação política dos dois, não há nenhuma aresta a se aparar. Vamos conversar sobre isto”, garantiu Percinoto.

Além do debate sobre as eleições na capital, o Diretório Estadual vem realizando seminários em diversos municípios. No último deles, o partido anunciou que pretende disputar a prefeitura de pelo menos 10 cidades fluminenses.

FONTE: PORTAL DO PPS