sábado, 27 de agosto de 2011

Opinião do dia – Dora Kramer: fim da “faxina”

"Qual a razão de a presidente Dilma Rousseff resolver pagar o preço junto à opinião pública de um recuo naquilo que seus próprios assessores até outro dia denominavam com orgulho de "faxina" ética, anunciando aos partidos aliados que não fará novas demissões? "

Dora Kramer, jornalista. Era vidro e se quebro. O Estado de S. Paulo, 26/8/2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Interventor encontra ralos para corrupção na Conab
Escândalos dão 'ajudinha' no superávit

FOLHA DE S. PAULO
Alerta sobre furacão tira 272 mil de casa em NY
Ministros do STF são contra pagamentos acima do teto

O ESTADO DE S. PAULO
Prefeitura de SP sofre fraude recorde
Arrecadação já faz governo cumprir meta
Ministério responderá por desvio de ONG
18 mil famílias vão receber Bolsa Verde

ESTADO DE MINAS
Governo e mercado preveem crescimento menor em 2011

CORREIO BRAZILIENSE
Justiça proíbe Câmara de pagar supersalário
Pedalando rumo ao colégio

ZERO HORA (RS)
Protesto e vandalismo de PMs por salários constrangem quartéis
Os Jatinhos e o debate da ética no poder

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Indústria lança ônibus especiais para o Mundial

Interventor encontra ralos para corrupção na Conab

Serviço Jurídico do órgão, foco de desvios, tem 90% de terceirização

Recém-empossado como procurador-geral da Conab, Rui Magalhães Piscitelli disse ter ficado estarrecido com o quadro que encontrou no órgão. Um dos focos da corrupção, a terceirização do serviço jurídico da empresa atinge 90% das cerca de 10 mil ações da Conab na Justiça, com passivo de R$ 1,7 bilhão, entregue a 12 escritórios de advocacia. "Um órgão desestruturado nesse nível, nunca vi", diz ele, uma espécie de interventor na área jurídica da Conab. "Temos um fusquinha 69 nas mãos", comparou Piscitelli. Dos 70 procuradores da instituição no país, 20 estão lotados em outros órgãos e outros 20 estão prestes a se aposentar. Três estados sequer têm um procurador. A fragilidade da defesa fez a Conab ter prédios, terrenos e automóveis penhorados pela Justiça. As denúncias contra a empresa apontavam que havia escritório que perdia propositalmente causas contra o órgão.

"Dá um desespero..."

Novo procurador da Conab diz que encontrou estrutura caótica e um passivo de R$1,7 bi

Evandro Éboli

Um dos focos da corrupção detectada na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a terceirização do serviço jurídico da empresa atinge 90% das cerca de dez mil ações do órgão que tramitam na Justiça. O passivo judicial envolve R$1,7 bilhão. Recém-empossado no cargo de procurador-geral da Conab, Rui Magalhães Piscitelli ficou estarrecido com o quadro que encontrou na instituição. A contratação de escritórios particulares para cuidar dos interesses da Conab é apontado por ele como o principal problema a ser resolvido.

Em todo o país, a Conab contratou 12 escritórios de advocacia. O procurador disse que identificou indícios de irregularidades, como falhas banais no processos, e notificou órgãos como a Controladoria Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) para que façam a investigação. Escolhido pelo ministro Luís Inácio Adams, da Advocacia Geral da União (AGU), Piscitelli é uma espécie de interventor na área jurídica da Conab.

- Essa excessiva terceirização é motivo de minha indignação, meu desalento. Um órgão desestruturado nesse nível, nunca vi. É triste. Quando você consegue despachar um processo, aparecem outros nove, dez contra a empresa. Dá um desespero... Mas sou um entusiasta - afirmou Rui Piscitelli ao GLOBO.

"A Conab é uma estatal dependente"

O procurador fez um relato que mostra a situação caótica do órgão e lamentou a falta de estrutura. Dos 70 procuradores da instituição no país, 20 estão lotados em outros órgãos, recebendo gratificações adicionais por outras funções, e outros 20 já contabilizam tempo para se aposentar. Três estados sequer têm um procurador. É uma estrutura insuficiente.

- Temos um fusquinha 69 nas mãos - comparou Piscitelli.

A maioria dos processos envolve ações trabalhistas e de armazéns gerais, que cobram judicialmente por serviços que julgam não terem sido pagos. São pendências antigas, até da década de 80. A fragilidade da defesa fez a Conab ter prédios, terrenos e automóveis penhorados pela Justiça. Piscitelli classificou assim a empresa:

- A Conab é uma estatal dependente, que não vive com suas próprias pernas - disse, sobre a estrutura que encontrou.

Apesar da resistência à contratação dos escritórios, Piscitelli afirmou que, neste momento, não pode abrir mão de alguns desses serviços, por conta da falta de pessoal. As denúncias contra a Conab apontavam que havia interesse de perder propositalmente algumas causas.

- Não posso fazer uma aventura jurídica. São ações que variam de R$20 mil a R$500 mil. Não dá para cuidar de todas.

Piscitelli já começou a pôr em prática uma série de medidas administrativas para tentar reverter esse quadro. Ele lista quatro ações fundamentais para fortalecer a procuradoria e, assim, acabar com a terceirização: a volta dos procuradores cedidos para outros órgãos, a elevação da procuradoria ao status de diretoria, concurso público para contratação e a criação de uma subprocuradoria especial para cuidar das ações de maior vulto contra o órgão.

Piscitelli já enviou à direção da Conab as justificativas para dar maiores poderes à procuradoria:

- Com maior autonomia, teremos maior poder de ação e evitaremos ingerências políticas.

Piscitelli afirmou que é preciso melhorar a autoestima dos procuradores da Conab, desestimulados nas suas funções:

- Dar status de diretoria para a procuradoria já vai melhorar. Eles irão se sentir valorizados - disse Piscitelli, que buscará também concessão de gratificações no seu setor.

Hoje, um procurador da Conab recebe entre R$6 mil a R$7 mil. O salário é apontado por Piscitelli como um fator de desestímulo. Para ele, é preciso valorizar a "prata da casa".

- Meu propósito é reestruturar a procuradoria da Conab, trazendo os procuradores de volta, abrindo concurso específico, valorizando o pessoal e, principalmente, extinguindo a terceirização do jurídico, algo que nunca deveria ter havido.

Promessa de vetar interferência política

O procurador afirmou que não vai permitir interferência política no seu trabalho e disse que sua indicação é técnica:

- Não sou político, não sou filiado a partido algum e nunca fui a um comício. Não tenho nada a ver com esse mundo.

O procurador disse também que é preciso convencer o Judiciário de que a Conab é uma empresa de direito público. Esse entendimento conceitual impediria a penhora de bens da empresa e a obrigação de pagar custas de processo e taxas para recorrer das milhares de ações:

- Não podemos ser tratados como uma empresa privada pelo Judiciário.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dilma marca reunião de emergência para barrar votação da emenda 29

Líder do PMDB diz que bancada não aceita adiar decisão sobre Saúde

Adriana Vasconcelos e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. A pacificação da bancada peemedebista da Câmara deve sair caro para o governo. Segundo o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), a paz voltou ao partido não só pelo recuou na indicação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para relatar a reforma do Código de Processo Civil, mas também pelo compromisso assumido de não se adiar mais a votação da emenda 29, que garante mais recursos para a Saúde. Na tentativa de barrar a votação, a presidente Dilma Rousseff convocou reunião de emergência do Conselho Político para segunda-feira.

- Nós vínhamos protelando esse debate (votação a emenda 29), mas a Câmara não tem mais como segurar - disse Henrique Alves.

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), diz duvidar que a emenda 29 seja o tema principal da reunião, mas admitiu que o assunto preocupa o Palácio do Planalto:

- O texto da emenda 29 é ruim. Mas estão criando uma ilusão de que ele vai resolver o problema da Saúde. Pelo contrário, vai criar é um problema para os estados - disse Vaccarezza.

A emenda 29 começou a ser votada na Câmara em 2008. Falta votar um destaque, sobre a parte do texto que cria a Contribuição Social para a Saúde (CSS. Há consenso na Casa de que este não é o momento de criar novo imposto. Mas o governo teme que, no Senado, seja retomada a proposta original, pela qual a União terá de gastar 10% de sua receita bruta com Saúde, o que é considerado inviável pela equipe econômica. Hoje, esses gastos giram entre 6% e 7%.

A desembargadora Mônica Sifuentes, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região manteve válida a decisão judicial que impede servidores da Câmara de receber vencimentos superiores ao teto do funcionalismo público, fixado em R$26.725. Na segunda-feira, o presidente do mesmo tribunal, Olindo Menezes, liberou o pagamento de salários acima do teto do funcionalismo a servidores do Senado.

Colaborou Carolina Brígido

FONTE: O GLOBO

MST pressiona e consegue verbas do governo

Planalto anuncia que vai liberar este ano R$400 milhões

BRASÍLIA. O governo anunciou ontem que vai liberar R$400 milhões para a reforma agrária. O dinheiro será usado para comprar terras para assentar em caráter emergencial 20 mil famílias acampadas em todo o Brasil. A medida foi divulgada depois de protestos e até invasões realizadas pelo MST e outros movimentos sociais que compõem a Via Campesina. Representantes da organização se encontraram por duas vezes esta semana com a presidente Dilma Rousseff. E por duas vezes cercaram o prédio do Ministério da Fazenda.

O anúncio foi feito pelo ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República. Apesar de não divulgar data certa, ele garantiu que o dinheiro será liberado este ano.

O ministro disse ainda que o governo vai apresentar uma proposta de refinanciamento das dívidas dos pequenos agricultores. Segundo ele, quem tiver dívidas de até R$20 mil poderá renegociar o pagamento por até sete anos, com juros de 2% ao ano. Para autorizar o refinanciamento, a União vai exigir o pagamento inicial de 10% do valor do débito - proposta com a qual os agricultores não concordam.

- Abrimos as portas para um diálogo que é tenso. Chegamos no limite das nossas possibilidades. Esperamos que tenhamos atendido às principais reivindicações - afirmou Carvalho.

O ministro disse que Dilma determinou que o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Incra apresentem um plano de reforma agrária emergencial e outro de médio e longo prazo, com previsões de ações até 2014.

FONTE: O GLOBO

Petistas do Rio não ganham cargos de Dilma

Presidente rejeitou nove indicações de políticos e sindicalistas e avisou que não vai nomear derrotados de 2010

Alfredo Junqueira

A presidente Dilma Rousseff rejeitou todas as indicações feitas pelo diretório regional do PT no Rio para cargos no governo federal. A lista de nove nomes contava com dois ex-deputados federais, Cida Diogo e Carlos Santana, dirigentes e sindicalistas.

As sugestões foram apresentadas pelo então ministro de Relações Institucionais e atual responsável pela pasta da Pesca, Luiz Sérgio, presidente licenciado do PT do Rio. De acordo com integrantes do diretório, além de rejeitar as indicações, a reação de Dilma não foi boa.

Aos ser apresentada aos currículos dos indicados, a presidente chegou a dizer que não poderia nomear ex-deputados que haviam sido derrotados nas eleições de 2010. Mas, ao se deparar com os nomes de dirigentes do partido no Rio, Dilma nem sequer olhou os documentos.

Os petistas fluminenses queriam vagas na Agência Nacional de Saúde (ANS), Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), BR Distribuidora e Cobra Tecnologia, entre outros. Caso raro no partido, a lista foi elaborada por consenso entre todas as alas petistas, no fim de janeiro deste ano.

A indicação do secretário-geral do partido no Rio, Lourival Casula, para o Fundo da Marinha Mercante também foi inicialmente rejeitada, mas integrantes do partido acreditam que ele ainda tem chances, pois membros do diretório nacional e integrantes da bancada federal passaram a apoiar a nomeação.

Ex-presidente do diretório regional, Alberto Cantalice queria uma vaga na Empresa Brasileira de Legado Esportivo (Brasil 2016). Teve que se contentar com uma subsecretaria na Secretaria de Assistência Social do governo do Rio.

A diferença de tratamento em comparação com o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já é motivo de insatisfação de alas do partido. "Não emplacamos nada e nem vamos emplacar", disse um integrante da executiva estadual. "Não dá nem para dizer que estamos com o pires na mão porque, na verdade, nem pires temos", resumiu outro dirigente do partido. A transferência de Luiz Sérgio das Relações Institucionais para a Pesca é chamada, no PT do Rio, de "rebaixamento" e "prêmio de consolação".

Mensalão. No primeiro governo Lula, o PT do Rio conseguiu indicar nomes para Eletrobrás, Eletronuclear, Furnas, Incra, CBTU, Companhia Docas e Arquivo Nacional, além órgãos ligados à Cultura. Manoel Severino dos Santos era presidente da Casa da Moeda até ser envolvido nas denúncias do mensalão. Marcelo Sereno era assessor especial da Casa Civil e também caiu no escândalo. Funcionários técnicos dos setores de energia e meio ambiente apadrinhados por Jorge Bittar, deputado federal licenciado e secretário de Habitação, e Carlos Minc, deputado estadual licenciado e secretário de Estado de Ambiente, também continuam em seus cargos.

As nomeações rejeitadas por Dilma e parte dos postos perdidos são o que os integrantes do PT fluminense chamam de "cargos de ponta". Ou seja, têm bom orçamento e dão muita visibilidade eleitoral.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Ideli destinou recursos a ONG de assessor

Quando era senadora, petista apresentou emendas que beneficiavam o Cesap, ONG com sede em Florianópolis

Ministra afirma que não há irregularidades nas emendas; governo já pagou R$ 148 mil dos R$ 200 mil previstos

BRASÍLIA - A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) apresentou duas emendas parlamentares, quando exercia o mandato de senadora pelo PT de Santa Catarina, em benefício de ONG ligada a um assessor no Senado.

A verba, no total de R$ 200 mil, foi destinada pela então senadora Ideli para o Cesap (Centro de Elaborações, Assessoria e Desenvolvimento de Projetos), com sede em Florianópolis, na elaboração dos Orçamentos da União de 2008 e 2010.
Do volume de recursos encaminhados para a entidade pela ministra, R$ 148 mil já foram pagos pelo governo.

FUNDADOR

A ONG foi criada em 2003, e teve como sócio-fundador Claudionor de Macedo. Em 2004, ele assumiu o cargo de assessor parlamentar de Ideli Salvatti no Senado, e pediu afastamento de suas atividades na organização.

A ministra admite, contudo, que, apesar do afastamento formal de Claudionor, ele manteve relações com a entidade que ajudou a criar.

Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, Ideli afirma que Claudionor passou a ser "apenas membro colaborador" da ONG durante o período em que trabalhou diretamente para Ideli no Senado.

Hoje, porém, Claudionor voltou ao quadro de dirigentes da entidade, conforme informa o site da entidade.

CONVÊNIOS

As emendas de Ideli para a ONG de seu assessor resultaram na assinatura de dois convênios. O primeiro foi assinado com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, em 31 de dezembro de 2008, no valor de R$ 158,5 mil.

Dois anos depois, em 28 de dezembro de 2010, outro convênio foi assinado com a Cesap, desta vez com Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, no valor de R$ 110,3 mil.

Na nota enviada por sua assessoria, a ministra nega irregularidades e afirma que as emendas beneficiaram centenas de famílias.

"Com os recursos destinados através das duas emendas foram criados 12 grupos voltados para ajudar mulheres chefes de família na geração de renda. O trabalho beneficiou indiretamente centenas de famílias das cidades de Itajaí, Tijucas e Palhoça", afirma a nota.

Ideli, no ano em que apresentou sua primeira emenda para o Cesap, acumulou as funções de líder do governo no Congresso Nacional e de líder do PT no Senado.

A ministra assumiu a Secretaria de Relações Institucionais na esteira do escândalo que derrubou o então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci Filho, em junho, com o objetivo de reabilitar a articulação política da presidente Dilma Rousseff.

Antes, ela comandava o Ministério da Pesca. Para o seu lugar foi o então ministro das Relações Institucionais, o petista Luiz Sérgio.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

As polêmicas viagens de Maia

CONGRESSO

Uso de jatinhos privados pelo presidente da Câmara gera polêmica e parlamentares da oposição cobram explicações de petista

Leandro Colon

BRASÍLIA A oposição criticou ontem o uso de jatinhos particulares pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), em viagens pelo País nos fins de semana. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), afirmou que o PT, envolvido em recentes polêmicas sobre o mesmo tema, está misturando as relações públicas com as particulares. "Não há um discernimento claro do que é público e do que é privado", disse.

O deputado Ônyx Lorenzoni (DEM-RS) chamou Maia de "cara de pau" em sua página do microblog Twitter e o líder do PSOL, Chico Alencar (RS), cobrou do presidente da Casa a explicação sobre a origem do dinheiro que tem bancado esses voos fretados. "Ele deve explicações em nome da função que ocupa", disse Alencar.

O jornal O Estado de S. Paulo revelou ontem que Maia fez pelo menos duas viagens em aviões particulares nos últimos meses. Semana passada, usou um avião e um helicóptero da Uniair, empresa do plano de saúde Unimed, para viajar a Erechim e Gramado, no Rio Grande do Sul, com o objetivo de participar de encontros partidários. A viagem foi paga ontem. Antes, no início de junho, o presidente da Câmara fez um trajeto aéreo ainda maior, para assistir ao jogo da seleção em Goiânia e de lá rumar para Porto Alegre.

Questionado pela reportagem sobre a origem do dinheiro que bancou os voos, o parlamentar disse que "ganha bem". O presidente da Câmara afirmou que pagou do próprio bolso a primeira viagem. Como não tem colocado essas despesas na verba indenizatória, a que tem direito para custear o mandato, Maia adotou a versão de que tira do próprio salário o pagamento das aeronaves.

O deputado Alencar afirmou que é "inusitado" esse argumento do presidente da Câmara. "É um fato inusitado despender tantos recursos se você vive só da remuneração", disse o líder do PSOL. "Espero que ele explique a origem desses recursos. A única coisa que não pode ocorrer é empresários pagando viagens", afirmou Alencar.

Da mesma fonte salarial, saiu, segundo ele, o pagamento de outra viagem, no dia 4 de junho, de Brasília para Goiânia e, de lá, para Porto Alegre. A reportagem tem a informação de que Maia fretou outros dois aviões durante o ano, em 29 de abril e 24 de junho, mas ele recusa-se a comentá-la.

Em entrevista à Rádio Gaúcha, ontem, o deputado afirmou que a viagem do último sábado, pela Uniair, custou de R$ 15 mil a R$ 16 mil, depois de dizer ao Estado que os valores seriam de R$ 3 mil a R$ 4 mil.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

PPS pressiona Bernardo

SÃO PAULO - O PPS pretende encaminhar na próxima segunda-feira (29) um pedido à Comissão de Ética da Presidência da República para que se pronuncie sobre a suposta utilização de aviões de empresários pelo ministro Paulo Bernardo (Comunicações). Segundo a revista Época, o ministro viajou recentemente num avião da construtora Sanches Tripoloni, que faz obras para o governo federal. Reportagem do jornal O Globo de ontem mostra que o ministro também usou avião de um empresário ligado ao agronegócio e à construção de imóveis de luxo em 2009, quando era o titular do Planejamento.Em nota, Bernardo admitiu que utilizou aeronaves de várias empresas no ano passado, no período de campanha eleitoral, mas que não se lembra os prefixos e tipos, ou proprietários, dos aviões. Segundo ele, as viagens foram pagas pelas campanhas.

"A situação do ministro é delicada, por conta deste mais novo episódio revelado, o que exige do órgão competente uma manifestação pública para dizer se houve infração ao Código de Conduta do Executivo", afirma, em nota, o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).

A intenção do partido é questionar a Comissão de Ética para que responda se Bernardo infringiu o Código de Conduta da Alta Administração Federal. Entre as penalidades previstas pela comissão estão advertência e censura formais, além do pedido de afastamento do cargo.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Quando o passado deixa de iluminar o futuro :: Luiz Vianna Werneck

Não foram poucas as vezes em que a obra de Marx e a herança do seu pensamento foram declaradas como peremptas e anacrônicas, não sendo capazes de explicar a natureza do nosso tempo. A queda do Muro de Berlim significaria a demonstração fática de que o augúrio de tantos afinal encontrava a sua confirmação: na melhor das possibilidades, Marx seria um pensador prisioneiro das circunstâncias do século 19 e da filosofia da história de Hegel, com a qual, apesar dos seus esforços, jamais teria conseguido romper.

Sobretudo estaria por terra o princípio que, na sua teoria do materialismo histórico, assentava o primado da instância econômica na determinação da vida social, cujo desenvolvimento o levou a seus estudos sobre o capitalismo em sua obra maior, O Capital, quando identificou o processo de subsunção da economia real ao sistema financeiro como o foco de crises especulativas que o ameaçariam persistentemente de colapso.

Estamos bem longe da queda do Muro e, apesar do diagnóstico, ora vencedor, que condenou Marx ao anacronismo, desde o setembro negro de 2008 o mundo parece estar fora dos seus eixos, vítima dos mecanismos da intermediação financeira, pondo em xeque hegemonias, moedas, conquistas sociais e políticas. Este pós-2008 é diverso dos acontecimentos dos idos de maio de 1968, pois, em vez de gravitar em torno de valores culturais, trata-se de uma crise que, sem deixar de incluí-los, tem o seu epicentro na natureza do sistema capitalista e nas dificuldades que enfrenta para a sua reprodução ampliada. O seu tema dominante não é o dos libertários que, em 1968, bradavam que "é proibido proibir", e o papel dos seus filósofos de ontem tem encontrado o seu equivalente funcional nos economistas de hoje e nos comentaristas versados na crítica da sociabilidade. A matéria é outra: é econômica, falta de emprego e de oportunidades de vida.

Não há observador qualificado da cena contemporânea que se recuse à hipótese de que estamos diante de uma mudança epocal. O capitalismo, mais uma vez, poderá sair renovado da crise atual, mas o preço da sua reprodução parece exigir algo bem além de uma retomada do experimento keynesiano. Os custos de uma saída para os ciclos depressivos se tornam cada vez mais pesados, e já importam a necessidade de uma inédita ordenação do sistema financeiro em escala mundial, com a efetivação de mecanismos de cooperação internacional que a todos obrigue. Estamos longe dos tempos de Hegel, quando se podia conceber a transferência da tocha da civilização de um Estado para outro, e, definitivamente, a China não parece ser o lugar mais adequado para o seu novo endereço.

Aqui, do extremo Ocidente onde nos situamos, e do alto da nossa História bem-sucedida, com seus valores de paz, de comunidade, que, bem ou mal, tem resistido aos avanços da mercantilização da vida social, muito particularmente pela convivência que se soube criar entre diferentes etnias e religiões, todas protegidas constitucionalmente, e pelo fato capital dos nossos êxitos no processo de modernização, estamos dotados de condições para o exercício de voz nos desafios ora presentes no mundo.

Nossas credenciais têm, portanto, um duplo registro: o das ideias e o dos interesses. E o que ainda nos falta é um projeto de nação que se afirme de baixo para cima, rompendo com décadas de modernização pelas vias do pragmatismo, de Vargas a Lula, passando por JK e pelo regime militar, sempre em busca de ajustamento ao mundo. A linguagem da modernização foi e segue sendo a da economia, tudo o mais devendo ceder lugar a ela e aos imperativos de luta contra o tempo na superação do atraso de suas forças produtivas. O desenvolvimento político e social seria sucedâneo do sucesso no front econômico, com que se justificava uma política de tutela das associações dos trabalhadores e o autoritarismo político que confiava às elites na chefia do Estado a missão de nos conduzir, com o pé no acelerador, a novos patamares de acumulação.

A nova época que se abre diante de nós, se imediatamente promete ser de escassez e de destruição criadora de ativos, como dizem os economistas, também pode ser a da oportunidade para a política e para a reconstituição do tecido social, esgarçado depois de décadas de exposição nua aos automatismos do mercado. O tempo é de riscos e de novos rumos. Como disse um grande autor, na História de um povo há momentos em que o passado deixa de iluminar o futuro, como agora, em que a tradição do nosso processo de modernização não nos serve para o enfrentamento da crise atual, que está a exigir um novo repertório, uma vez que o antigo, que nos levaria a uma tentativa de fuga solitária, nos pode excluir ou subalternizar a nossa presença nos fóruns de cooperação internacional de onde deve sair uma nova engenharia para a operação da economia-mundo.

Tal repertório é o do moderno, estimulada a autonomia dos seres sociais e o adensamento da sua participação na esfera pública, especialmente os de origem subalterna, com uma radical desprivatização do Estado, lugar do interesse público e da universalização de direitos, e da afirmação, inclusive no cenário internacional, da democracia como um valor universal. Ainda imersos em trevas, como na metáfora de Tocqueville, o autor há pouco citado, aqui e ali se distinguem riscas de luz, tênues, é verdade, como na liberação de poderes públicos capturados, por meio de uma intermediação política não republicana, por interesses privados, e no encontro, em São Paulo, da presidente Dilma com líderes e importantes personalidades da oposição.

Aí podem estar sinais de que a estratégia da presidente estaria considerando a possibilidade de fazer frente à crise com a política do moderno.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador PUC-Rio.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Oito meses e alguma turbulência :: Marco Aurélio Nogueira

Há bons motivos para avaliarmos positivamente os primeiros meses do governo Dilma Rousseff, sobretudo se se considerarem as reais possibilidades de atuação com que contou. Empurrado e legitimado pelas urnas de 2010, ele se iniciou num momento em que o País estava com a moeda estabilizada, reduzindo a miséria e expandindo o mercado interno, graças à ampliação do crédito popular, aos programas de transferência de renda e à recuperação do emprego. Encontrou, portanto, uma sociedade animada pelos mecanismos consumistas típicos da modernidade atual, ou seja, uma sociedade menos solidária e mais competitiva, que extrai desta sua nova condição o oxigênio necessário para se relacionar de outro modo com o Estado. É uma sociedade que continua pedindo garantias, direitos e proteção, mas também aprofunda sua inserção nas trilhas da despolitização e passa a ver o mundo em termos mais mercantis, aliviando parcialmente a pressão sobre o Estado.

A face política e administrativa do Estado, por sua vez, se não corrigiu por inteiro seus problemas crônicos (ineficiência, inchaço, custo elevado, despreparo), também não piorou. A representação continuou como sempre, com uma classe política que deixa a desejar. A administração permaneceu contagiada pela dinâmica gerencial que se vem afirmando desde a reforma de 1994. Além do mais, está hoje submetida a um maior grau de fiscalização por parte da opinião pública, fato que a torna mais transparente e mais passível de controle. A corrupção não cresceu, mas sua percepção aumentou, o que faz com que denúncias se sucedam e o combate a ela passe a fazer parte da agenda pública e da agenda governamental.

Não é por outro motivo que os oito meses iniciais do novo governo foram vividos sob o signo da instabilidade ministerial. A fraqueza da equipe é flagrante. Ministros saíram por motivos relacionados a desvios de conduta ou a inabilidade. O Ministério não parece funcionar.

Parte dessa instabilidade se vincula à herança recebida por Dilma, que está longe de ser uma "herança maldita", como se ouve dizer em alguns ambientes. De qualquer modo, é um fardo. Aquilo que beneficiou a então candidata nas eleições de 2010 - o apoio de Lula, as realizações governamentais, as alianças feitas com o intuito de fornecer "governabilidade", a base parlamentar -, tudo isso, de repente, parece voltar-se contra o novo governo, dificultando sua arrumação. Afinal, cada presidente precisa imprimir sua própria marca ao governo que dirigirá, e nesse terreno não pode haver simples transferência de esquemas ou continuidade passiva, por mais que Dilma e Lula sejam carne da mesma carne e integrem o mesmo partido.

Não deveria estranhar, portanto, a existência de certos "ajustes de contas" entre os apoiadores do novo governo ou mesmo entre alas do PT. Nos primeiros oito meses esses ajustes foram tão intensos e eloquentes que ofuscaram planos e programas de ação do governo. O quadro acabou por ensejar certa confusão. O Brasil sem Miséria, por exemplo, complementa ou compete com o Bolsa-Família, é uma sua requalificação ou representa a abertura de outra frente de batalha, com distinta lógica e distintos protagonistas?

O legado dos oito anos de Lula não deu trégua aos oito meses de Dilma. Não poderia ter sido diferente. O período Lula imprimiu uma inflexão na vida nacional, seja pelo choque simbólico derivado da biografia de Lula e de seus traços carismáticos, seja pelas novas alianças que produziu, especialmente as que levaram a uma espécie de pacto informal entre o trabalho e o grande capital, seja, enfim, por sua própria agenda pessoal. Não deve ser fácil governar com a sombra de uma liderança popular que se recusa a sair de cena e espera o momento certo para retornar ao palácio. O esforço para se livrar dessa sombra ou, ao menos, neutralizá-la deve ter consumido boas horas de sono no Palácio do Planalto.

Muita gente acreditou que poderia pautar o governo com a ideia de "limpeza ética". A presidente reagiu à altura, e não sem razão. A meta de seu governo, disse, não é fazer "faxina" em ministérios suspeitos de corrupção, mas "fazer o País crescer e combater a pobreza". Há quem pense que o combate à corrupção deveria ocupar o centro da ação governamental, como se só pudesse haver bom governo depois que todos os corruptos fossem presos. Alguns se esquecem de olhar para o próprio quintal e outros imaginam que o governo é a fonte geradora de tudo o que há de errado no País. Falta bom senso por aí.

Uma coisa é combater a corrupção, outra é transformá-la na razão de ser da ação governamental. No primeiro caso, faz-se uma luta política cotidiana que não paralisa o governo. No segundo, o combate é moralista e "espetacular", atrapalhando a ação governamental. Achar corruptos é fácil, governar bem, difícil. Uma coisa não explica a outra. Um governo não é bom só porque combate a corrupção e não é mau só porque mantém prudência na luta contra ela. Como tudo na vida, virtus in medio est.

O equilíbrio demonstrado até agora pelo governo tem sido seu melhor alimento. A situação não lhe é totalmente favorável, há ventos soprando forte pelos lados da economia, a maioria parlamentar não é confiável e falta ao governo maior poder de articulação, seja em seu próprio interior e no âmbito das relações com os demais poderes, seja junto à opinião pública e à sociedade civil. O barco conta com uma timoneira tecnicamente qualificada e disposta a liderar o período governamental que terá pela frente. Sua densidade política, porém, ainda é baixa e ela dispõe de poucas bases próprias. Trata-se de uma situação que talvez nos ajude a entender as razões que mantiveram o governo enredado num matagal de pequenas questões.

O momento é de atenção. Tanto porque as águas em que navega são turbulentas quanto porque amigos, inimigos e adversários estão à espreita, prontos para subir ao palco.

Professor titular de teoria política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Distorções:: Merval Pereira

Antes mesmo de se discutir uma reforma que dê mais sentido ao nosso sistema político, é preciso considerar que, no presidencialismo, o presidente é o chefe do Executivo, e a "direção" do país é indicada pelo Congresso. É possível dizer que o presidencialismo é o "inventor", ou o melhor tradutor, do princípio da independência entre os Poderes, base do sistema de pesos e contrapesos da democracia.

A Constituição não prescreve o emprego de membros do Legislativo como auxiliares do Executivo; essa prática exacerbada em nosso "presidencialismo de coalizão" é um desvio de finalidade, e os efeitos estão à vista de todos.

Está faltando a nossos políticos a noção de que o Executivo presidencialista ter de nomear deputados e senadores como seus ministros é, como diz um amigo meu, uma "novidade tropical", e como tal só pode redundar em distorções da função pública, tornada o mais das vezes em função que atende a interesses privados.

A briga no Congresso por vagas no Ministério, da maneira como se dá, é uma deturpação dos valores do presidencialismo, sintoma de tendência ao patrimonialismo e ao fisiologismo.

Um parlamentar que vai para o Ministério abre mão de exercer seu mandato como membro de um dos Poderes da República para aceitar papel secundário em outro poder, a maioria das vezes com interesses subalternos, como está se revelando rotineiramente nesses primeiros meses de governo Dilma.

Não é que não houvesse essa deturpação em governos anteriores, mas desestruturação cada vez maior dos partidos políticos, e a sempre ampliada base governista, formam um agrupamento que não faz liga programática e levam a que a composição ministerial obedeça cada vez mais a interesses esparsos e pessoais - e os políticos se tornem posseiros de "feudos" onde reinam, soberanos, não para implementar projetos, mas para se beneficiar, e aos seus apaniguados.

O próprio aumento do número de ministérios colaborou para a redução da importância deles, que se transformaram em grande parte em fontes de negociatas.

Como não estamos no parlamentarismo, onde os programas de governo são defendidos pelos partidos que ganharam a eleição, a maneira como os partidos aqui negociam seus pedaços de poder os transforma em atores que não desejam opinar nas diretrizes que vierem a ser adotadas pelo governo a que aderiram por mero desfrute.

Todos os políticos que se digladiam por uma vaga na Esplanada dos Ministérios deveriam, em teoria, renunciar aos mandatos, não podem servir ao Poder Executivo no exercício do cargo para o qual foram eleitos.

Mas apenas se licenciam, e têm a prerrogativa de retornar ao Congresso quando deixam o Ministério, além de continuar a receber o salário de parlamentar, maior que o de ministros, como aconteceu recentemente com o senador Alfredo Nascimento, saído dos Transportes e devolvido sem honra ao plenário do Senado.

O sistema presidencialista oferece ao chefe do Poder Executivo muitas alternativas legais para contornar o Legislativo, e os presidentes têm mais flexibilidade para montar seus ministérios.

Enquanto no parlamentarismo os governos são organizados essencialmente pelos componentes dos partidos que formam sua base parlamentar, no presidencialismo é possível escolher ministros de acordo com critérios próprios, e até mesmo levando em conta apenas as relações pessoais.

Na teoria, uma das virtudes que devem ser evitadas ao se montar uma boa equipe de governo é, paradoxalmente, a lealdade do escolhido, o que leva inevitavelmente a que pessoas não qualificadas, mas leais ao presidente da República, assumam postos importantes nos governo com o único compromisso de que não se voltarão contra quem os escolheu.

Há quem defina o hiperpresidencialismo como uma ditadura disfarçada, cuja fronteira para a ditadura de fato é a liberdade de imprensa, que geralmente não existe em países que já adotam esse sistema de governo, como a Venezuela e a Rússia.

A partir do caso da Rússia, os estudiosos dos sistemas de governo dizem que a fragmentação partidária pode levar a que o Executivo estimule uma maioria circunstancial que favoreça a aprovação de sistemas autoritários.

Seria o mesmo fenômeno que acontece na América Latina, com governos se utilizando dos mecanismos democráticos para aprovar leis que lhes conferem superpoderes, colocando o Executivo acima dos outros Poderes, fazendo com que o sistema democrático perca sua característica de contrapesos.

Nós ainda estamos em um estágio anterior, em que essa desagregação dos partidos facilita apenas o predomínio do Executivo sobre o Legislativo às custas de vantagens fisiológicas que estão sendo reveladas quase que cotidianamente.

É o que chamo de uma "maioria defensiva", que só serve mesmo para evitar a convocação de ministros, a realização de CPIs e, no limite, processos de impeachment.

E, mesmo quando o Legislativo decide "mostrar a sua força", o faz quase sempre na base da chantagem política, e não na defesa de uma posição ideológica ou programática.

No presidencialismo, deputados e senadores eleitos governam o país no Parlamento, no Congresso, como parte principal de um dos Poderes da República.

Abrindo mão do mandato, passam a exercer papel secundário do Poder Executivo, mais secundário ainda quanto mais forte for o presidente da República.

Mas raros são os que têm essa percepção ou essa visão da política para rejeitar essa submissão. A maioria, infelizmente, quer usufruir as vantagens que a "lealdade" ao poder central lhe garante.

FONTE: O GLOBO

Imagem é tudo:: Fernando Rodrigues

Acabou a faxina que foi sem nunca ter sido. Ficou o ganho de marketing para a presidente Dilma Rousseff. Publicações internacionais andam infestadas de interpretações sobre a atitude "firme" da petista na sua luta contra a corrupção e os maus costumes.

Quem anda por Brasília por dever do ofício sabe que as demissões de ministros e de servidores ocorreram mais por inevitabilidade do que por desejo específico e determinação do Palácio do Planalto. Dos quatro ministros demitidos, um (Nelson Jobim) caiu por falar em demasia e desagradar a presidente. Os demais saíram por terem as entranhas reveladas pela mídia e não por investigação do governo.

Aliás, os fatos pendentes no Ministério do Turismo e no das Cidades têm octanagem equivalente aos "malfeitos", como prefere Dilma, dos já demitidos. Mas agora, basta. A presidente mudou a escala com a qual mede a corrupção.

Brasília entrou numa fase de boatos e expectativas. Não há meio de antever o resultado de inúmeras investigações em curso.

Fatos graves ficaram mais visíveis durante a fase "política zero" de Dilma. A presidente se eximiu de arbitrar as desavenças do cotidiano da micropolítica. As informações tomaram seu curso natural, até a mídia. Aos poucos, tudo será apurado e publicado -quando houver veracidade. O efeito é imprevisível. Daí o clima de fim do mundo às vezes sentido entre os políticos no Congresso.

É cedo para fazer juízos definitivos. A força centrípeta do Planalto é imensa. O negócio do governo, qualquer governo, é produzir adesões em série. Mas quem imaginaria em janeiro que Antonio Palocci cairia da Casa Civil em junho?

Por enquanto, resta apenas o ganho de imagem para Dilma. Ao produzir a miragem de que faria uma faxina sem limites, a presidente atraiu o apoio até de tucanos ilustres, como FHC e Alckmin. Com uma oposição assim, tão dócil, fica bem suave a tarefa de governar.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A presidente Dilma e o governo-conluio :: Rubens Figueiredo

Nem tudo que é bom para o Brasil é bom para o governo. A presidente Dilma Rousseff, ao se empenhar em resgatar princípios republicanos, promovendo a famosa faxina nos ministérios, certamente beneficia o País. Mas, ao mesmo tempo, expõe o ex-presidente Lula e o PT, gerando, de quebra, um imenso descontentamento nos partidos da base aliada. E passa para a sociedade a ideia de um governo instável, imerso em corrupção.

Dilma é cria de Lula, o presidente ídolo, o presidente show, o rei dos discursos, o comunicador talentoso e o pai moderno dos pobres. Em pouquíssimo tempo, Dilma conseguiu imprimir uma marca à sua gestão e criou um estilo todo próprio de conduta. Para alguém que sucede a um fenômeno e era totalmente desconhecida pelo eleitorado há um ano, trata-se de verdadeira epopeia.

O quadro é complexo. A presidente ganhou a simpatia da classe média tradicional, aquele conjunto de cidadãos de escolaridade mais alta e mais informado sobre política. Sua avaliação, entretanto, piorou no conjunto da sociedade, segundo todas as pesquisas recentes divulgadas. Ainda é alta, pois Lula entregou o governo nos píncaros da glória. Mas caiu.

A performance de um governo, entretanto, não é medida apenas pela ação do chefe de governo. Precisa ter projetos, prestar bons serviços, melhorar a vida das pessoas, aprovar leis importantes. Num sistema político de presidencialismo de coalização, no qual os governos são formados com a participação de partidos coligados, fazer uma boa administração significa ter uma excelente relação com os grupos aliados. Um governo paralisado ou em "marcha lenta" jamais será inscrito no rol dos mais eficientes.

Isso criou, no Brasil, a ideia do governo-conluio. Em nome da governabilidade, aceita-se uma pletora de nomeações de políticos de caráter duvidoso e cria-se uma espetacular rede de proteção corporativa, que nos governos anteriores era capitaneada pelo próprio presidente. Combater corrupção, as pesquisas mostram, não é prioridade para a ampla maioria dos eleitores. Pode vir a ser, se a presidente Dilma conseguir dar às suas ações um caráter educativo e convencer a sociedade de que, pelo menos no caso da sua faxina, o que é bom para o Brasil pode ser bom também para o governo.

É cientista político pela Universidade de São Paulo.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Lá Vem o Patto! :: Urbano Patto

Não há qualquer justificativa moral para o uso do helicóptero da Polícia Militar do Estado do Maranhão, adquirido e reservado para a função de transporte de emergência de doentes para transportar o Senador do Amapá (não do Maranhão onde mora) e presidente do Senado José Sarney, para a sua ilha particular, sem agenda oficial, ainda mais atrapalhando e atrasando uso da aeronave por pessoa necessitada.

Essa historinha de que o fato de ser chefe de um dos poderes da República lhe confere esse direito é pura embromação de quem foi pego com a boca na botija, utilizando uma rede familiar e “coronelística” na qual o interesse particular se confunde e se mistura com a administração pública.

Não era transporte custeado pelo Senado, nem requisitado às Forças Armadas, não era programa nada oficial. É apenas coincidência que a governadora do Estado, portanto chefe da Polícia Militar, seja filha do viajante senador.

Sob todas as óticas, independentemente dos aspectos legais, revelou-se aí a mais pura e simples sobrevivência do coronelismo, do mandonismo, do patrimonialismo. É o sinhozinho e a sinhazinha mandando no Estado, como mandavam os senhores de escravos até o século XIX.

O que se revela revoltante e deprimente não é uma possível justificativa do acontecimento. É até plausível que um chefe de poder tenha direito a transporte e segurança sob condições, normas e responsabilidades de custeio regulamentadas. O revoltante e deprimente é a forma moralmente indigente e a desfaçatez como o episódio foi tratado pelos personagens envolvidos. Tratam a coisa pública como se fosse a cozinha da sua casa, se julgam imunes às normas e leis, não tem qualquer condescendência ou mesmo educação e civilidade para com os outros.

E o que mais assusta é ver coisas como essa serem encaradas como normais, “coisas de esperto”, e servirem de exemplo para vereadores, prefeitos, secretários, deputados, e “otoridades” diversas utilizarem dos bens públicos para suas necessidade pessoais e familiares.

Se o sinhozinho Sarney, chefe de um poder da República, que já foi até reverenciado pelo ex-presidente do Brasil, Lula, como uma pessoa que “não é uma pessoa qualquer”, faz assim porque que não faço da mesma forma no meu pedaço de poder.

Urbano Patto, Arquiteto Urbanista e Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, membro do Conselho de Ética do Partido Popular Socialista -PPS- do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com.

Um erro perigoso:: Míriam Leitão

A inflação está em 7,1% em 12 meses. A de serviços chegou a 8,8%, sem contar alimentação fora de casa. Se isso entrar na contar, a taxa vai a 9,4%. No ano que vem o país terá um choque de custos pelo aumento de 14% do salário mínimo. Mesmo assim, há uma coalizão de ministros da área econômica - com reforços de economistas até de fora do governo - querendo pressionar o Banco Central a baixar os juros já.

Os juros deveriam cair, eles de fato estão muito altos. O Brasil perdeu boas oportunidades de derrubar mais as taxas. Contudo, a presidente Dilma não deve passar a ideia de que os juros são decididos em outras instâncias ou esferas que não o Banco Central; nem que ela decide aconselhada por economistas que têm histórico de pouco se importar com a alta da inflação. Esse erro ela não deve cometer porque seria um bumerangue. Se ficar consagrada a impressão de um BC dócil a outros ministérios ou submetido a análises de pessoas estrangeiras ao governo, a aposta será em inflação cada vez mais alta. Se todos apostarem que não há Banco Central e que a taxa vai subir, ela subirá. A presidente perderá todo o esforço, que custou muito, de criação de reputação do Banco Central autônomo em seu governo. Os juros subiram cinco vezes em cinco reuniões. Infelizmente, não é ainda a hora de derrubar a taxa.

A inflação em 12 meses vai cair no último trimestre do ano. Essa é a previsão de todos, inclusive do Banco Central. Só que depois virá o ano que vem, com a pressão da fórmula negociada do salário mínimo que, inevitavelmente, impactará a inflação de serviços e os gastos previdenciários. A fórmula prometida tem sim que ser cumprida. O que o governo precisa é dimensionar o impacto do choque na inflação e nas contas públicas, para neutralizar com corte em outros gastos.

O ideal é que não corte em investimentos mas em gastos de custeio. Dos investimentos, o país precisa para manter o crescimento, de preferência que sejam investimentos com uma análise mínima de custo/benefício. Algumas das obras do governo não fizeram tal exercício e podem virar buracos sem fundo e sem juízo.

A hora não é de cometer erros. O mundo está em meio à turbulência e no terreno da incerteza. Os Estados Unidos estão com baixo crescimento; a Europa, com risco de calote; o Japão, em recessão. Nós estamos dependentes de que a China continue encomendando preços altos de commodities, porque isso mantém o superávit comercial. Por mais desejável que seja a alta do dólar, se acontecer de repente ela pode provocar vários efeitos colaterais. O economista José Roberto Mendonça de Barros analisou, num vídeo que sua consultoria disponibilizou, que hoje muitas empresas brasileiras estão mais dependentes de componentes e matérias-primas importados. Caso haja uma virada brusca do câmbio, muitas empresas, inclusive indústrias, serão prejudicadas. O melhor é que um novo patamar do câmbio se dê mais devagar, como consequência da queda de juros. O problema é que a taxa não pode ser decidida de nenhuma outra forma que não seja autonomamente pelo Banco Central, para que o efeito não seja oposto ao desejado.

Um dos argumentos dos que defendem a pressão sobre o Banco Central é que, como o crescimento está caindo, o problema inflacionário está resolvido. Infelizmente, não é simples assim. Uma das piores conjugações que acontecem na economia é de crescimento em queda e inflação em alta. Ocorre com frequência. A queda do ritmo do PIB por si só não garante que a inflação ficará controlada. Do contrário, ela não estaria subindo na morna economia dos EUA.

O remédio agora é fiscal. O Brasil não deve se enganar com a alta do superávit primário divulgado ontem. Nem tudo que reluz é ouro. O superávit subiu porque as receitas subiram e em alguns casos com arrecadação extraordinária, como os quase R$5 bilhões pagos pela Vale na discussão judicial que a empresa decidiu abrir mão. Os gastos que caíram foram apenas os investimentos. E isso não é bom. Uma das razões da redução do investimento foi a paralisia nos Transportes, provocada pelas demissões em série no DNIT e a queda do ministro.

Há quem garanta que a situação fiscal é excelente porque relativamente a outros países o Brasil parece sólido. Mas é bom lembrar que ele permanece tendo déficit, mesmo no ano passado, em que cresceu 7,5%. O Brasil não aproveitou o melhor momento para zerar o déficit. Deveria ter feito isso, porque agora teria mais espaço para a política fiscal.

Este é um ano em que a conjuntura internacional está mudando constantemente e os riscos são desconcertantes. O mundo das moedas e dos ativos financeiros oscila ao sabor das corridas das grandes massas de capital, formando bolhas. A ameaça de uma recessão global é concreta. O governo deve controlar seus gastos - que já subiram 11% este ano - reforçar investimentos, abrir espaço para a queda dos juros. O que não pode é seguir a receita de achar que o problema inflacionário está resolvido, reduzir os juros para garantir o crescimento, e achar que os indicadores fiscais - porque estão melhores que em tantos países - são sustentáveis. Nenhum país pode elevar indefinidamente as despesas do governo acima do crescimento PIB.

FONTE: O GLOBO

Estudante é morto durante protesto no Chile

Foto: L'Unità
Segundo testemunhas, disparo que atingiu rapaz de 16 anos em Santiago partiu da polícia, que nega envolvimento

Um estudante de 16 anos foi morto com um tiro no peito no início da madrugada de ontem na capital do Chile, Santiago, onde novos confrontos entre manifestantes e autoridades marcaram o fim da greve geral de 48 horas convocada pela Central Unitária dos Trabalhadores (CUT), principal sindicato do país, e outras 80 entidades.

Testemunhas afirmaram ontem que o disparo que matou Manuel Eliseo Gutiérrez Reinoso partiu de um carro da polícia - que negou envolvimento no assassinato. Acompanhado de um amigo, Manuel caminhava em direção à manifestação que ocorria em seu bairro, pouco após a meia-noite de ontem, empurrando a cadeira de rodas de seu irmão, Gerson Gutiérrez Reinoso, de 23 anos, quando foi atingido pelo tiro.

"Eu vi os policiais atirarem e não sou a única testemunha", afirmou Gerson ao jornal chileno La Nación. De acordo com o relato, três disparos foram efetuados.

"Descarto categoricamente a participação de policiais (no assassinato). Sei que há testemunhas que afirmam ter visto um veículo no local, mas não entendo porque atribuem o carro à polícia", disse Sergio Gajardo, subchefe da corporação. Ele garantiu ainda que, em casos como os protestos de Santiago, apesar de portarem armas, os agentes são orientados a não disparar.

Novos protestos. De acordo com o analista político Ricardo Israel, a morte do adolescente "seguramente resultará em manifestações maiores no Chile". "Agora vem um momento muito complicado para o governo, que terá de lidar com muito cuidado com os próximos protestos", afirmou.

Com pedidos que vão desde uma reforma constitucional até a redução de impostos e o apoio às reivindicações estudantis por mais investimento em educação, a mobilização ameaça virar um protesto generalizado contra o presidente Sebastián Piñera, o líder mais impopular desde o general Augusto Pinochet - apenas 26% dos chilenos aprovam seu governo.

A greve geral também é a primeira de 48 horas desde o fim da ditadura, em 1990. Ontem, Piñera pediu novamente um diálogo com estudantes, pais e educadores do país.

Os organizadores afirmaram que 600 mil pessoas marcharam nas principais cidades do país durante a paralisação dos últimos dois dias. Segundo estimativa feita pela Reuters, os protestos reuniram pelo menos 200 mil manifestantes em Santiago.

Saldo oficial. De acordo com o governo chileno, 153 policiais e 53 civis ficaram feridos. Durante as 48 horas de manifestação, 1.394 pessoas foram presas em todo o país, segundo autoridades locais.

Ontem, novos focos de violência foram registrados na capital chilena. Manifestantes incendiaram veículos e levantaram barricadas, mesmo após o fim da greve, principalmente em bairros populares de Santiago. Alguns voltaram a saquear lojas, centros comerciais e a atacar a polícia com paus e pedras.

Novamente, a polícia utilizou gás lacrimogêneo e jatos d"água para dispersar os protestos.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO