segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Opinião do dia – Alexis de Tocqueville : verdade e virtude

"Sua presença era notável, mas restrita e afetada pela pouca amplitude de sua alma. Esclarecido, fino, flexível e tenaz, voltava-se somente para o útil e era dominado por um desprezo tão profundo pela verdade, bem como por uma incredulidade tão grande na virtude, que suas luzes estavam obscurecidas, e ele não via a beleza sempre presente na verdade e na honestidade, mas também já não compreendia que elas frequentemente são úteis; conhecia profundamente os homens, mas apenas por seus vícios."

Alexis de Tocqueville, sobre Luiz Filipe. Lembranças de 1848, pág. 44. Companhia de Letras, São Paulo, 2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
PM afasta comando de UPP em Santa Tereza
Enem reprova ensino das escolas públicas
Renda cresce mais entre as mulheres
Lei Seca aplica R$ 45 milhões em multas

FOLHA DE S. PAULO
Rede pública perde espaço entre melhores do Enem
No Rio, morro aprova a ação da polícia, mas aponta excessos
Investimento cai em 22 Estados e nas estatais
Na TV, Dilma diz não se sentir refém de aliados e nega faxina

O ESTADO DE S. PAULO
Nota do Enem cai em 68% das escolas de elite de São Paulo
Inflação se espalha entre vários setores
Dilma diz na TV que não faz política de "toma lá da cá"
Promotoria quer derrubar multas por inspeção veicular

VALOR ECONÔMICO
Crise será prolongada, diz Tombini
Descolamento de emergente já perde força
Sinais de bolha que não podem ser ignorados
Uma 'Embrapa' para o setor industrial
Mantega virou o homem forte do governo
Relações tensas com sindicatos podem atrasar obras dos estádios da Copa
Desaceleração da indústria começa a ter efeitos no ICMS
Importação indireta de aço
Nem tudo que é ouro brilha
Açodamento na logística reversa

CORREIO BRAZILIENSE
Brasília ferve

ESTADO DE MINAS
Má qualidade da escola faz aluno evitar o Enem

ZERO HORA (RS)
RS cai de primeiro para quarto no Enem
Ibope: A avaliação dos governos Dilma e Tarso

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Dilma Rousseff defende aliados
MEC divulga os melhores do Enem

O despertar das consciências

A indignação, que se encontrava em estado de letargia desde o governo Lula, deu sinais de vida – e levou milhares de brasileiros às ruas para protestar contra a corrupção

Daniel Pereira

Na última década, o Brasil testemunhou uma escalada sem igual de escândalos de corrupção. Vampiros, sanguessugas, mensaleiros – entre outras máfias menos afamadas – surrupiaram dos cofres públicos de 41 bilhões a 69 bilhões de reais por ano, segundo estimativa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Sobre esses valores paira a percepção de que o sistema político brasileiro serve mesmo é ao enriquecimento pessoal de autoridades e ao financiamento de máquinas partidárias. Apesar da gravidade do quadro, a sociedade atravessou o período em estado de letargia. Quanto maiores as cifras desviadas, mais tímidas eram as vozes a se levantar contra os malfeitos. Tem sido assim. Uma pasmaceira entrecortada por alguns espasmos de indignação. Na semana passada, de maneira totalmente espontânea, valendo-se das redes sociais como plataforma de organização, milhares de brasileiros reagiram nas ruas. Em diversas capitais, eles, a maioria jovens, fizeram demonstrações paralelas aos desfiles oficiais do Dia da Pátria. Algumas características dessa ira santa dão esperança de que, desta vez, não se trata apenas de um espasmo. Os manifestantes mostraram total autonomia em relação a partidos políticos e,
sem se questionar sobre suas predileções políticas, empunharam a mesma bandeira: "Chega de corrupção!". Nas redes sociais, no dia seguinte, eles avaliaram como razoável a primeira incursão organizada às ruas e já marcaram uma nova manifestação para o próximo dia 12 de outubro.

Brasília, cidade acostumada a assistir pela janela a manifestações artificiais patrocinadas por sindicatos ou por partidos políticos, sediou a demonstração de força mais vistosa: cerca de 12000 pessoas empunharam bandeiras contra a corrupção, protesto que reuniu estudantes, empresários, profissionais liberais, famílias e até funcionários públicos – categoria que costuma testemunhar passivamente os desmandos que se passam dentro dos gabinetes de seus chefes e que quase sempre se cala por conivência ou receio de perseguição. O fato é que, pela primeira vez em muitos anos, a capacidade de indignação parece ter saído de um coma induzido pelos recorrentes exemplos de impunidade e de maus hábitos dos políticos. Nos últimos tempos, a corrupção foi vulgarizada a ponto de parecer uma coisa corriqueira, quase natural, merecedora de um conveniente consenso de que ela também é inevitável e inimputável. As manifestações mostram que tem muita gente que não pensa assim.

Na década de 90, quando brilhava na oposição, o PT comandava grandes mobilizações ao lado de entidades civis e movimentos sociais. O partido protagonizou, por exemplo, ações que minaram politicamente o então presidente Fernando Collor de Mello, apeado do poder ao cabo de um processo de impeachment. Ao subir a rampa do Palácio do Planalto, o PT enrolou a bandeira da ética e, por meio de generosas verbas públicas, empalhou junto com ela os setores outrora aguerridos. Caso da União Nacional dos Estudantes (UNE) e das centrais sindicais, que, obviamente, não participaram das marchas anticorrupção da semana passada. No poder, Lula se mostrou benevolente e complacente com companheiros e auxiliares pilhados em irregularidades. Tornou-se o anestesista-geral da nação. Agora, sem a faixa presidencial, empenha-se numa cruzada para tentar convencer os incautos de que o mensalão não passaria de uma conspiração da oposição, com o apoio de setores da mídia, para satanizar seu próprio governo e companheiros petistas – principalmente aqueles que respondem por formação de quadrilha e corrupção no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), como o ex-ministro José Dirceu. Lula continua com sua pregação, o PT continua no poder, os movimentos sociais continuam mudos e se empanturrando de dinheiro e denúncias de corrupção continuam pipocando com antes. Tudo, portanto, aparentemente igual, exceto pelas manifestações populares de indignação que começam a se espalhar por todo o país.

Para o cientista político Albeno Carlos Almeida, diretor do Instituto Análise, a troca de comando na Presidência da República foi um dos dínamos das manifestações da semana passada. Desde que assumiu o mandato, Dilma Rousseff demitiu três ministros acusados de irregularidades que vão do enriquecimento ilícito à corrupção. Caíram o petista Antonio Palocci (Casa Civil), o "republicano" Alfredo Nascimento (Transportes) e o peemedebista Wagner Rossi (Agricultura). “O fato de a presidente se comportar assim ajuda muito porque as pessoas começam a notar que alguém importante está sensível à causa do fim da corrupção. As pessoas incorporam a sensação de que a mobilização pode provocar algum impacto em Brasília", diz Almeida. No pronunciamento oficial de Sete de Setembro, Dilma fez questão de reforçar o compromisso com a moralidade. "Um país que com o malfeito não se acumplicia jamais. E que tem na defesa da moralidade, no combate à corrupção, uma ação permanente e inquebrantável", prometeu.

O discurso presidencial está em linha com os humores da população detectados em pesquisas. Auxiliares de Dilma dizem que, segundo sondagens recentes, o combate à corrupção é um tema em ascensão na agenda do brasileiro – apesar de ainda figurar atrás de saúde, educação segurança pública. Mais importante: o tema começou a sensibilizar a chamada nova classe média, o contingente que deixou a pobreza e a miséria nos últimos anos e agora é perseguido como ouro pelos partidos políticos. "Fica claro que, neste novo momento, a população não dará apoio aos lenientes e àqueles que querem apenas pegar carona no discurso de combate à corrupção", diz um integrante do núcleo duro do governo. Exemplo disso ocorreu na marcha de Brasília.

Políticos e partidos que tentaram se integrar ao movimento foram hostilizados pelos manifestantes. As pesquisas à disposição do Planalto também dão fôlego ao combate à corrupção. Primeiro, por mostrar apoio popular à faxina realizada. Segundo, ao apontar Dilma como a principal depositária da esperança de diferentes segmentos de ver um país livre da roubalheira e da impunidade. "Para a população, não há a percepção de que houve recuo no combate à corrupção. Pelo contrário, avalia-se que a presidente está levando a situação com jeito", conta um auxiliar.

Além do bom exemplo que vem de cima, outros fatores influenciaram as marchas da semana passada. Para o cientista político Paulo Kramer, professor da Universidade de Brasí1ia (UnB), "a bem-vinda reação" decorre do descompasso crescente entre as áreas econômica e social, de um lado, e as instituições políticas, do outro. O Brasil hoje vive com inflação sob controle, respeita contratos firmados, tem peso crescente no comércio internacional e resgata milhões de pessoas da pobreza para a classe média. Nesse campo, faria jus, portanto, ao status de emergente. Já na seara política ainda convive com práticas dignas de nações africanas subdesenvolvidas. Basta olhar para o Congresso, onde ainda reina, por exemplo, o senador José Sarney, e onde pode transitar com tranquilidade o deputado Paulo Maluf, que consta na lista de criminosos procurados pela lnterpol. Se ele sair do Brasil, vai preso. Aqui, elabora leis. "A corda esticou demais. O Brasil já não suporta mais esse sistema político em que a corrupção é endêmica", diz Kramer. Aliás, a ideia da marcha ganhou força exatamente por mais uma demonstração explícita de escárnio dos políticos quando o tema é corrupção.

Uma semana antes do ato em Brasília, 5000 pessoas haviam se mostrado dispostas a passar o feriado protestando. A absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN) pelo plenário da Câmara dos Deputados, há duas semanas, estimulou uma onda de adesões. Jaqueline é filha do ex-governador Joaquim Roriz, um populista que, à moda dos velhos coronéis, fez da política um negócio de família. Ela foi processada depois de aparecer em um vídeo embolsando propina. Apesar disso, 265 parlamentares decidiram que não havia motivos para puni-Ia, uma vez que a propina fora recebida antes de ela tomar posse. É um exemplo visível da capacidade de resistência da corrupção e dos corruptos. Há outros menos visíveis, porém muito mais poderosos. Diante da disposição de Dilma Rousseff de limpar áreas historicamente contaminadas, os próprios partidos aliados estrilaram e ameaçaram retaliar o governo em votações no Congresso. PP e PMDB pegaram em lanças a fim de impedir as demissões dos titulares das Cidades e do Turismo, cujas pastas estão há semanas no centro do noticiário devido a uma série de denúncias de irregularidades. Ciente do clima de ebulição entre os parlamentares, a presidente Dilma chegou a anunciar que a faxina ética não era meta do seu governo. Sua prioridade seria o combate à pobreza. A classe política, por incrível que pareça, gostou do que ouviu. Os jovens, não. "Se ficarmos calados, seremos coniventes", diz a brasiliense Lucianna Kalil, vendedora autônoma, de 30 anos, sem filiação partidária, que, com a ajuda da irmã e de um amigo, lançou, pela internet, a ideia da manifestação. A segunda onda de protestos, marcada para o dia 12 de outubro, vai ser decisiva para reafirmar a sensação de que o grito dos jovens no dia 7 de Setembro não foi apenas um espasmo. Torçamos!

Com reportagem de André Eler, Érico Oyama, Gustavo Ribeiro, Helena Borges, Heloísa Brenha, Marina Yamaoka, Paulo Celso Pereira e Renata Betti

FONTE: REVISTA VEJA

Chantagem explícita

O operador do mensalão quer Lula trabalhando por sua absolvição. Caso contrário, ameaça mostrar provas de que o ex-presidente sabia de tudo

Rodrigo Rangel

Desde que a investigação do mensalão foi encerrada, em 2008, uma pergunta continua sem resposta: afinal, o presidente Lula realmente não sabia que dentro de seu governo funcionava o que a Procuradoria da República classificou como uma “sofisticada organização criminosa”? Desconhecia que o chefe da tal organização era o ministro mais poderoso de seu governo? Desconhecia que amigos e fiéis companheiros do seu partido, o PT, formavam fila na porta de uma agência bancária de Brasília para pegar pacotes de dinheiro às escondidas? Lula jura que nunca soube de nada disso. Porém, mesmo depois de concluir seu mandato sem ser importunado pela Justiça, o ex-presidente continua a ser assombrado pelo mensalão. De tempos em tempos, especialmente quando se dá conta de que a cadeia se apresenta num horizonte próximo, o empresário Marcos Valério, apontado como o operador do mensalão, ameaça o ex-presidente – e o faz ora de forma velada, às vezes de maneira indireta e até mandando recados explícitos.

A estratégia causa arrepios em seus velhos comparsas do PT e, em particular, no próprio Lula. E por uma razão elementar: Valério já confidenciou a pessoas próximas que guarda documentos que mostrariam o envolvimento direto dele com o ex-presidente. O lance mais recente desse estratagema se deu na semana passada, quando terminou o prazo para que os 36 réus do processo do mensalão apresentassem sua defesa ao Supremo Tribunal Federal, que deve julgar o caso no primeiro semestre do ano que vem. Com jeito, em cinco linhas perdidas entre as 148 páginas entregues por sua defesa, Marcos Valério associa Lula ao papel de “mandante” do mensalão. Diz a peça: “É raríssimo o caso de versão acusatória de crime em que o operador do intermediário aparece como a pessoa mais importante da narrativa, ficando mandantes e beneficiários em segundo plano, alguns, inclusive, de fora da imputação, embora mencionados na narrativa, como o próprio ex-presidente Lula”.

Valério desconversa: “Eu nem li o que meu advogado escreveu”. A referência direta a Lula, agora no papel, é mais um lance do jogo que ele disputa com o PT desde a eclosão do escândalo. No início da investigação, o empresário pediu 200 milhões de reais ao partido em troca de silêncio. Não levou. Em um movimento ousado, em 2009, Valério enviou um intermediário ao Ministério Público Federal, em Belo Horizonte, para informar que estava interessado em um acordo de delação premiada, insinuando que envolveria Lula. O empresário recuou depois de conversar com o advogado petista Luiz Eduardo Greenhalgh. Na fase de instrução do processo, ocorreu mais um lance ameaçador: no interrogatório de Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT, o advogado de Marcos Valério, sem que ninguém compreendesse aonde ele queria chegar, perguntou a Delúbio se ele havia visitado Lula entre 2003 e 2005 e, se afirmativo, na companhia de quem. Delúbio não respondeu, mas o empresário já contou a pessoas de sua confiança que, naquele período, quando o mensalão funcionava a todo o vapor, ele se reuniu mais de uma vez com Lula na Granja do Torto, o que o ex-presidente nega. Valério quer que Lula atue sobre os ministros do Supremo para influenciar o resultado do julgamento. O empresário vê em curso uma “costura política” para livrar da cadeia cabeças coroadas do PT, como o ex-ministro José Dirceu – e exige o mesmo empenho para salvá-lo. Caso contrário (pode ser puro blefe), ameaça divulgar provas que incriminam Lula. Resta saber se Lula e o PT pagarão para ver.

FONTE: REVISTA VEJA

Dilma elogia aliados e nega ter feito “faxina”

Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, presidente garante estar cercada de “pessoas de bem” e afirma que o combate à corrupção precisa ser uma atividade contínua

RIO – A presidente Dilma Rousseff (PT) disse ontem, em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, que não se sente refém dos aliados do governo. Ela também negou, mais uma vez, ter promovido uma “faxina” contra a corrupção, dizendo entender que o termo passa a ideia de que é simples acabar com o problema. Sobre a relação com aliados, a presidente afirmou que sua base no governo é composta de pessoas de bem, e que é preciso ter muito cuidado no Brasil para não “demonizar” a política.

Ao ser questionada sobre como evitar a política do toma lá, dá cá na relação com as bancadas, a presidente respondeu: “Não dei nada a ninguém que eu não quisesse. Montamos um governo de composição. Caso não seja de composição, não conseguimos governar”. Ela falou também sobre ações de combate à corrupção, e explicou por que evita falar em faxina. “Acho a palavra errada, porque faxina você faz às 6h da manhã, e às 8h ela acabou. Atividade de controle do gasto público, na atividade presidencial, jamais se encerra”.

Quando a apresentadora Patrícia Poeta perguntou os motivos de o PT não ter conseguido acabar com a corrupção, mesmo depois de oito anos e oito meses no governo, a presidente usou a mesma fórmula: “É por isso que não é faxina. Você não acaba com a corrupção de uma vez por todas. Você torna ela cada vez mais difícil”.

No primeiro bloco da entrevista, a presidente falou de assuntos amenos, como a rotina no Palácio da Alvorada, que disse usar pouco – somente o andar de cima. Também falou sobre suas preferências culinárias e a relação com o neto Gabriel, que completou um ano de idade na última semana. “Ué, faço tudo que toda avó faz. Tudo. É um papel fantástico. É mãe com açúcar”, brincou. Ela respondeu ainda a questionamentos sobre sua saúde, afirmando que está tentando emagrecer, e falou sobre a doença que enfrentou em 2009. “A questão do câncer é hoje uma questão resolvida quando você consegue detectar cedo. Se as pessoas fazem prevenção, têm condições de detectar e tratar. Foi o que aconteceu comigo”.

Já no Palácio do Planalto, Dilma disse ser vantajoso ter uma equipe mista, com homens e mulheres dividindo postos de comando. “Mulheres são mais analíticas, obcecadas. Os homens têm mais capacidade de síntese, são mais objetivos. Um complementa o outro”, explicou. Mas garantiu que, nas reuniões com as auxiliares, não tem “papo-mulherzinha”. No máximo, elas falam sobre os netos, confessou.

A presidente também rechaçou a pecha de “durona”. “Só porque sou mulher e estou num cargo de autoridade, tenho que ser dura?”, questionou. Ela admitiu distribuir “broncas” à equipe de vez em quando, “mas em tom meigo”, arrematou.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Investimento cai em 22 Estados e nas estatais

O ritmo das obras públicas despencou nos governos estaduais. Na soma de 22 dos 26 Estados, os valores investidos no primeiro semestre caíram de R$ 13,6 bilhões, em 2010, para R$ 8,4 bilhões neste ano.

Os dispêndios encolheram também nas estatais federais.

Queda de investimentos também atinge Estados e empresas federais

Redução extrapola ajuste do governo Dilma e vai na contramão da estratégia de ampliar obras

Montante aplicado no 1º semestre deste ano caiu o equivalente a R$ 14,9 bi em relação ao mesmo período de 2010

Gustavo Patu e Sheila D’ Amorim

BRASÍLIA - A queda dos investimentos não está restrita ao ajuste fiscal do governo Dilma Rousseff. Por motivos diferentes, o ritmo das obras públicas despencou de forma generalizada nos governos estaduais e caiu também entre as estatais federais.

Segundo dados divulgados nas últimas semanas por 22 dos 26 Estados, os valores investidos no primeiro semestre caíram de R$ 13,6 bilhões, em 2010, para R$ 8,4 bilhões neste ano. Apenas Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pernambuco tiveram alta.

Nas estatais, a responsável pela queda é a maior investidora do setor público, a Petrobras, cujas contas foram retiradas das metas fiscais da União há dois anos para permitir a expansão das obras e compras de equipamentos.

Os resultados estão na contramão da estratégia iniciada no segundo governo Lula para a ampliação dos investimentos, que motivou a criação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

O Brasil tem uma das menores taxas de investimento público e privado do mundo, o que limita o potencial de crescimento da renda: como não se gasta o bastante em infraestrutura e aumento da capacidade de produção, torna-se necessário frear o consumo para conter a alta dos preços e das importações.

A meta atual do governo é elevar o investimento total dos 18,4% do Produto Interno Bruto medidos em 2010 para 22,4% até 2014. No conjunto de Estados e estatais pesquisados pela Folha, o percentual caiu de 2,95% para 2,19% do PIB semestral.
Como é óbvio, a queda não significa necessariamente uma tendência para o futuro -a intenção geral continua sendo a de priorizar as obras.

Mas há ameaças como os efeitos da crise global nas finanças públicas e os empecilhos do cenário doméstico. No principal exemplo, o Ministério da Fazenda restringiu os planos de negócios mais ambiciosos da Petrobras para o período 2011-2015, devido à preocupação com possíveis reajustes na gasolina e no óleo diesel.

Segundo a estatal, não foi esse o motivo da queda dos investimentos no primeiro semestre -a primeira desde 2000, pelo menos. Em nota enviada à Folha, a empresa aponta "a conclusão de grandes projetos" no ano passado e a apreciação do real em relação ao dólar (em média, 40% dos investimentos da Petrobras são em moeda estrangeira).

ESTADOS

Com uma das maiores baixas, São Paulo credita o desempenho ao atraso na execução do orçamento por conta da formação da nova equipe de governo. Além disso, obras importantes só foram contratadas recentemente.

"O ritmo era esperado", diz o secretário de Planejamento, Emanuel Fernandes. "No segundo semestre já será melhor", prevê, graças ao metrô e a projetos rodoviários.

A mudança de governo também foi apontada pelo secretário de Planejamento do Rio Grande do Sul, João Motta, como causa da redução. Para o subsecretário de Planejamento de Minas Gerais, André Reis, a anormalidade não está em 2011, mas em 2010, quando Estados anteciparam investimentos e repasses devido à lei eleitoral.

Para Ubiratan Rezende, secretário de Fazenda de Santa Catarina, o problema é que os governos não têm capacidade necessária para investir.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Indústria parou de crescer há 3 anos

Desde julho de 2008, a indústria cresceu apenas 1%, refletindo problemas como câmbio, custo Brasil e perda de espaço na economia

Fernando Dantas

RIO - A indústria de transformação brasileira parou de crescer há três anos, freada pelo câmbio valorizado, pelo custo Brasil e pelo excesso de oferta mundial. Desde julho de 2008, logo antes do início da crise global, praticamente não houve crescimento da produção de manufaturados nem do nível de emprego no setor. Pelos números do PIB, a expansão da indústria de transformação de julho de 2008 a julho de 2011 foi de apenas 1%, comparada a 7,8% para a construção civil e 10,5% para os serviços.

Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que abrange as seis maiores regiões metropolitanas, o emprego industrial cresceu apenas 2,2% naquele mesmo período. Enquanto isso, o emprego se expandia em 13,7% na construção civil e 11,8% nos serviços.

A pressão sobre a indústria fica clara na migração de fábricas de empresas nacionais para o exterior, como na recente decisão da Paquetá Calçados de transferir a unidade exportadora de Sapiranga (RS) para a República Dominicana.

A desaceleração do PIB do segundo trimestre para 0,8% (3,2% em ritmo anualizado) ante os três primeiros meses do ano, na série sem influências sazonais, teve como freio principal a quase paralisia da indústria. O ritmo foi de apenas 0,2% (0,8% anualizado).

No setor industrial, porém, o item que de fato segurou o crescimento foi a indústria de transformação, com expansão nula. A transformação corresponde a 62% da indústria, e abarca todas as manufaturas. Não fazem parte da indústria de transformação o segmento extrativo-mineral, a construção civil e eletricidade, água, esgoto e limpeza urbana.

A fraqueza da indústria de transformação também fica clara no fato de que o seu nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) pode cair abaixo da média histórica nos próximos meses, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Todo esse quadro de enfraquecimento industrial pesou na decisão do Banco Central de cortar a taxa básica, a Selic, em 0,5 ponto porcentual, para 12%, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Mas o fato de que a paralisia já dura três anos leva alguns economistas a defender a ideia de que o problema na indústria não é conjuntural, mas sim estrutural. Nessa visão, a indústria está perdendo peso relativo dentro da economia, atingida por uma combinação de fatores que favorece a agricultura, as matérias-primas e o setor de serviços.

"A indústria da transformação hoje está no nível de três anos atrás e a inflação está fortíssima; não dá mais para fazer um diagnóstico da inflação olhando a indústria", diz Samuel Pessôa, economista da consultoria Tendências.

O câmbio valorizado é apontado consensualmente como a principal causa da estagnação na indústria, ao atrair a competição importada e dificultar as exportações. A desvalorização desde junho, de 8,4%, de R$ 1,54 por dólar para R$ 1,68, é um pequeno alento, mas ainda está muito longe de resolver o problema de competitividade da indústria.

Em termos de quantidades, o Brasil exporta hoje menos produtos manufaturados do que em 2008, segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). A queda, comparando o primeiro semestre de cada ano, é de 17%.

Já a participação da indústria de transformação no total exportado caiu, entre 2008 e o primeiro semestre de 2011, duas vezes mais que entre 2002 e 2008, em pontos porcentuais. Dessa forma, a proporção era de 80% em 2002, 70% em 2008 e 50% no primeiro trimestre de 2011.

Sucesso da venda de commodities prejudica indústria

Para o economista Samuel Pessôa, exportação de alimentos e minérios garante equilíbrio externo mesmo com câmbio desfavorável

A indústria brasileira é vítima do sucesso do País como exportador de commodities alimentares e minerais (e com a perspectiva do pré-sal), diz Samuel Pessôa, da consultoria Tendências. Na visão do economista, as receitas cambiais dos produtos da natureza garantem ao Brasil equilíbrio externo a uma taxa de câmbio punitiva para a indústria.

Além disso, o Brasil tem baixa poupança, o mesmo que ter alto consumo. O excesso de consumo e investimento pressiona a demanda por todos os bens, mas os produtos que podem ser exportados e importados, tipicamente os manufaturados, têm os preços contidos pela oferta externa. Assim, os custos locais, inclusive da mão de obra, sobem em relação aos produtos industriais, a expressão na economia real do câmbio valorizado.

A inflação de serviços, relacionada aos custos do País, acumula 8,9% em 12 meses. Já os produtos industriais duráveis, como automóveis e eletrônicos, itens importantes do comércio internacional, tiveram deflação de 0,58% em 12 meses. O contraste entre a evolução dos preços do setor e dos seus custos não poderia ser mais extremo.

A crise global é um problema adicional para a indústria, por diversas razões. Os emergentes, como a China, continuam embalados a fabricar produtos industriais, e boa parte destes não é absorvida pelos principais compradores, as economias ricas dos Estados Unidos, Europa e Japão, cada vez mais debilitadas. A sobra de produtos derruba ainda mais os preços, e torna os produtores orientais, como a China, mais invasivos na tentativa de conquistar novos mercados - inclusive o brasileiro.

Simultaneamente, os países ricos, e especialmente os Estados Unidos, injetam montanhas de dinheiro em suas economias, tentando impulsioná-las. Esses recursos vazam para o mercado internacional, e criam uma imensa liquidez que se transforma em fluxos de capital que valorizam as moedas emergentes.

A China, que controla seu câmbio num nível desvalorizado, é pouca afetada. O Brasil, cujos altíssimos juros são especialmente apetitosos para investidores dos países ricos às voltas com taxas próximas de zero, é um dos que sofrem maior impacto.

Apesar de ser conjuntural, ligada à crise econômica internacional, essa situação pode ter longa duração. "Vai durar pelos menos uns dois ou três anos", prevê Pessôa, também ligado ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre).

Já o consultor Ernani Torres, até pouco tempo superintendente da área de pesquisa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), está muito preocupado: "A ideia de que, como países ricos na Europa e como os Estados Unidos, nós vamos sofrer uma desindustrialização é uma tentativa de racionalizar um processo que não é desejável", ele diz.

Torres nota que a indústria brasileira também passou por estagnação estrutural nos anos 90, com o impacto da abertura e o mau desempenho da economia.

A partir de 2003 e 2004, o câmbio desvalorizado e a retomada do crescimento fizeram a indústria voltar a se expandir, processo interrompido na crise global, que levou à violenta queda em 2009. Depois, a indústria voltou ao nível de 2008, e nele ficou.

Torres preocupa-se com sinais de redução do investimento na indústria. Para ele, isso está ligado ao câmbio, mas também a perspectivas menores de crescimento econômico.

Dificuldades levam empresas a produzir em outros países

Grupos brasileiros buscam no exterior condições de produção melhores, mesmo para vender para o Brasil

Em agosto, a Paquetá Calçados, com 66 anos de mercado, resolveu transferir a sua unidade produtiva de Sapiranga, no Rio Grande do Sul, para a República Dominicana. Os motivos alegados, em comunicado divulgado à imprensa no mês passado, foram os de "manter a competitividade industrial e continuar crescendo, bem como manter a base de clientes importadores".

Segundo a Paquetá, uma das vantagens principais da República Dominicana é o acordo de livre comércio entre o país caribenho e os Estados Unidos, principal mercado para as exportações da empresa.

A Paquetá informou que, dos 1,4 mil empregados da fábrica de Sapiranga, 800 foram reabsorvidos pelo grupo, e 400 foram contratados pela Ramarim, outra empresa calçadista. A Paquetá, com sete fábricas (duas fora do Brasil) e 273 lojas (18 no exterior), produz 8,5 milhões de pares de calçados por ano.

O setor calçadista é um dos mais afetados pelos problemas da indústria no Brasil. "As maiores dificuldades estão nos setores mais intensivos em mão de obra, com atividade exportadora", diz André Loes, economista-chefe do HSBC.

Em julho, o grupo Vulcabrás/Azaleia confirmou o fechamento da unidade de Parobé, no Rio Grande do Sul, com demissão de 800 funcionários. A empresa também fez demissões em Itapetinga, na Bahia, e anunciou planos de produzir na Índia.
Tendência. O economista João Furtado, professor da USP especializado em indústria e inovação, nota que há uma tendência crescente de que partes, peças, complementos e até produtos completos sejam importados.

Essa tendência, para ele, afeta mais os produtos indiferenciados e vendidos em grande quantidade. Pesquisando atualmente o setor químico, ele diz que "os maiores projetos químicos de empresas brasileiras hoje estão no exterior, porque é preferível produzir lá fora, até mesmo para vender no Brasil".

A petroquímica Braskem, do Grupo Odebrecht, por exemplo, tem projetos na Venezuela e no México, e fez aquisições importantes nos Estados Unidos.

Furtado acha que os segmentos da indústria nacional com condições de melhor competir são "os mais próximos de bens de consumo que exigem relacionamento e logística, que exigem proximidade com o cliente, marketing, etc". São empresas que podem se diferenciar ou que, por peculiaridades dos seus mercados, estão mais protegidas da concorrência internacional.

Mas Furtado faz questão de dizer que há muitas ambivalências nas perspectivas da indústria no Brasil: "Há estímulos positivos vindos do crescimento, da redistribuição de renda, das políticas sociais, etc; mas a indústria é incapaz de aproveitá-los todos, porque o ambiente macroeconômico de câmbio e juros ainda é muito desfavorável".

Importados derrubam uso da capacidade instalada

O uso da capacidade instalada pela indústria da transformação, que antes da crise de 2008 chegou a ficar próximo ao limite, beirando 87%, foi derrubado pela concorrência com importados e pela desaceleração da demanda interna.

Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feito a pedido da Agência Estado, mostra que a redução do nível de capacidade se espalha rapidamente no setor industrial. De 14 segmentos analisados, oito operavam em agosto com Nível de Utilização de Capacidade Instalada (Nuci) abaixo de suas médias históricas.

A FGV alerta que o Nuci geral da indústria da transformação, que atingiu 83,6% em agosto, o mais fraco para este mês desde a crise, pode ficar abaixo da média histórica de 83,3% já nas próximas apurações.

O tombo foi mais sentido nas indústrias de bens de consumo não duráveis, como a de alimentos; de bens intermediários, como aço; e semiduráveis. Neste último segmento estão os casos mais graves. A indústria têxtil operou com Nuci de 82,7% em agosto, quase 4 pontos porcentuais abaixo de sua média histórica desde 2003 (86,4%). Já a indústria metalúrgica teve Nuci de 85%, também quase 4 pontos porcentuais inferior à média histórica (88,9%).

Na metalurgia, as indústrias com recuo mais intenso em uso de capacidade foram as de ferro, aço e metais não ferrosos. Este cenário já impacta a produção de alguns segmentos. O Instituto Aço Brasil (IABr), alegando desaquecimento, estoques elevados e concorrência de importados, diminuiu em 8% a projeção de produção de aço bruto no País, de 39,4 milhões de toneladas para 36,3 milhões de toneladas.

FONTE O ESTADO DE S. PAULO

Desaceleração da indústria começa a ter efeitos no ICMS

Arrecadação de ICMS arrefece na indústria

Marta Watanabe

São Paulo - A desaceleração da produção industrial começa a mostrar seus efeitos na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Em São Paulo e no Amazonas, a indústria apresentou nos primeiros meses do ano evolução de arrecadação do imposto abaixo da média.

Em São Paulo, a arrecadação do imposto pela indústria caiu em termos reais 2,9% em junho na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em julho também houve recuo de 1,7%, levando em conta atualização pelo IPCA. No acumulado de janeiro a julho, a arrecadação da indústria cresceu apenas 0,8% na comparação com o mesmo período do ano passado, bem abaixo dos 3,9% de crescimento da arrecadação total nos primeiros sete meses do ano. O que vem compensando a receita de São Paulo é o recolhimento do comércio e serviços, que cresceu 5,2% no mesmo período. Preços administrados também puxaram, com alta de 7,1%.

O secretário da Fazenda de São Paulo, Andrea Calabi, diz que por enquanto o menor crescimento da arrecadação da indústria tem sido compensado pelo imposto sobre importações. De janeiro a julho o ICMS sobre importação teve alta real de 5,3%. Para o secretário, a desaceleração da indústria está fortemente ligada ao ritmo vigoroso dos desembarques. "O problema é que há em curso uma desindustrialização e a desverticalização das cadeias produtivas." Entre os setores industriais importantes que tiveram desempenho mais fraco de arrecadação em São Paulo estão o metalúrgico, com queda real de 5,3% no acumulado até julho, e o de produtos químicos, que apresentou redução de 4,3%.

No Estado do Amazonas, a arrecadação da indústria de janeiro a agosto não só teve crescimento menor que a média como teve queda nominal de 6,4%. A arrecadação total de ICMS do Estado aumentou 5,97%.

Gilson Nogueira, diretor do departamento de arrecadação da Fazenda amazonense, explica que o recolhimento local de ICMS classificado no setor industrial é influenciado pela Petrobras e por produtoras independentes de energia. Extraindo essas rubricas é possível verificar o desempenho da arrecadação gerada no polo industrial de Manaus.

Segundo Nogueira, a média de recolhimento das empresas do polo de Manaus, relativamente à entrada de insumos estrangeiros, saiu de uma média de R$ 53,5 milhões mensais em 2009, para R$ 113 milhões em 2010. No acumulado até agosto, porém, a média caiu para R$ 100,3 milhões. O diretor explica que a arrecadação sobre insumos reflete o nível de produção industrial, revelando queda ou estabilidade em relação a 2010, dependendo do segmento.

Nogueira lembra que no ano passado fatores externos favoreceram a elevação da produção em Manaus. Ele destaca a Copa do Mundo, que alavancou a produção de televisores e outros eletroeletrônicos montados na Zona Franca de Manaus.

Outro fator que resulta na queda da arrecadação da indústria, diz o diretor, é a flutuação do dólar. A valorização do real frente ao dólar, diz, tem contribuído para reduzir a base para o cálculo do ICMS nos insumos importados.

Nem todos os Estados, porém, apontam para a desaceleração na arrecadação do ICMS das indústrias. De acordo com dados do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), Estados como Minas Gerais e Bahia ainda têm no setor secundário um ritmo de crescimento de arrecadação do imposto maior que o do total da arrecadação. Amir Khair, especialista em contas públicas, lembra que o perfil industrial dos Estados é diverso, o que pode explicar a diferença de comportamento. "Em Manaus, diz, há uma indústria de produtos com alto valor agregado, com a montagem de eletroeletrônicos. Em São Paulo, há uma indústria bem diversificada. Na Bahia, é provável que haja uma influência maior do setor petroquímico."

Em Minas Gerais, o crescimento do ICMS de janeiro a julho no setor industrial foi puxado principalmente pela produção de combustíveis, que cresceu 14,3%, segundo dados da Fazenda mineira. O segmento significa 32% da arrecadação total do imposto.

FONTE VALOR ECONÔMICO

Inflação se espalha entre vários setores

O aumento de preços está cada vez mais espalhado entre os setores da economia, o que deve dificultar a trabalho do Banco Central de trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%, em 2012. Em agosto, a parcela de itens que tiveram alta no Índice de Preços ao Consumidor Amplo atingiu 64,32%, o maior nível para o mês desde 2001.

Inflação se espalha entre vários setores

64,32% dos itens que compõem o IPCA tiveram aumento de preço em agosto, o maior porcentual para esse mês em dez anos

Márcia De Chiara

Os aumentos de preços estão cada vez mais espalhados entre os setores da economia, o que deve dificultar o trabalho do Banco Central de trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%, em 2012. No mês passado, a parcela de itens que tiveram alta no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - a medida oficial da inflação -, atingiu 64,32%. Foi o maior nível para o mês de agosto desde 2001, quando esse índice estava em 65,82%, segundo a consultoria Tendências.

Na comparação com o mês anterior, a fatia dos itens que compõem o IPCA e tiveram alta de preços também foi maior em agosto. Em julho, 53,1% dos itens tinham tido elevação.

Muitos economistas ressalvam que um número maior de itens teve os preços aumentados no IPCA porque os alimentos foram muito pressionados em agosto. Eles argumentam que os alimentos respondem pela maior quantidade entre os 516 itens cujos preços são pesquisados para o cálculo do indicador.

"Quando os alimentos estão subindo, o índice de difusão aumenta", argumenta o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Paulo Picchetti.

Sem alimentos. Mas esse argumento não se confirmou no mês passado. Nas contas da economista do Banco Santander, Tatiana Pinheiro, excluídos os alimentos, o índice de difusão em agosto chegou a 65,3%, um resultado ainda maior comparado com o índice cheio (64,32%). O indicador também ficou mais de 10 pontos porcentuais acima do obtido em agosto de 2010 (54,7%), também expurgada a comida.

"Desde o começo do ano, há uma alta generalizada de preços e o índice de difusão não ficou abaixo de 50%", observa a economista. Ela destaca que, até mesmo no período normalmente mais favorável à inflação - que vai de junho a agosto -, houve neste ano um espalhamento maior dos aumentos de preços entre os vários setores da economia. Nos últimos três meses, o índice de difusão atingiu 59,5%, muito acima dos 53,6% entre junho e agosto de 2010.

"A disseminação da inflação aumentou porque há mais gente tentando se resguardar de novos aumentos de preços e repassar as altas já incorridas para frente", observa o economista da Tendências, Thiago Curado. Na prática, esses dois movimentos refletem a forte indexação formal e informal que persiste na economia, apesar das correções nos últimos anos.

Preços administrados, serviços, educação e aluguel, por exemplo, representam 39% dos itens que compõem o IPCA, calcula Tatiana. De alguma forma esses itens são indexados, isto é, atrelados a outros índices. "Infelizmente, a indexação ainda é muito forte na economia brasileira, mesmo com a adoção de índices setoriais, como o IST, usado na telefonia", observa o economista da LCA Consultores, Fábio Romão.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Que pena, Dilma!:: Ricardo Noblat

Ninguém está preocupado se Sarney é isso ou aquilo. Queremos garantir a governabilidade." (Rui Falcão, presidente do PT)

Curioso. Foi da presidente Dilma a iniciativa de devolver a luta contra a corrupção à agenda dos brasileiros, normalmente pouco interessados no assunto. Vai ver que cansaram de pedir providências contra a roubalheira e agora custam a acreditar no êxito de refreá-la. Bem, aí quando apareceu gente disposta a dar uma força à ideia de Dilma...

O que aconteceu? Dilma fez cara de paisagem. Como se dissesse: "Quem? Eu? Combater a corrupção? Imagina! É claro que combaterei. Como o presidente Lula combateu... Mas, sabe? Isso é obrigação de qualquer governo. De qualquer um. Meu negócio é varrer a miséria do país". Gracinha!

Dilma tem medo do quê? Dos políticos ladrões que a apoiam se sentirem ofendidos e a abandonarem? Do PT achar que seus mensaleiros só têm a perder com uma campanha contra a corrupção às vésperas de serem julgados pelo Supremo Tribunal Federal? Da lama a ser revolvida respingar em Lula sem querer? De acabar sobrando para ela mesma?

Não, não afirmo que Dilma tenha protagonizado falcatruas ou se beneficiado de falcatruas cometidas por quem lhe devia obediência. Falta esclarecer, porém, o caso de Erenice Guerra, que a sucedeu na Casa Civil. O filho de Erenice, com a anuência dela, traficou influência e fez lobby. A mãe perdeu o emprego. Dilma foi a última a saber?

Falta esclarecer também como conseguiram esconder de Dilma, sempre atenta ao que se passava nos ministérios mais poderosos, as 66 irregularidades em processos de licitação e contratos firmados pelo Ministério dos Transportes. A União amargou um prejuízo de R$ 682 milhões. É muito dinheiro.

Nossos gatunos municipais, estaduais e federais não fazem nada barato. É por isso que a menção a pequenas quantias não nos sensibilizam mais. Quem lembra o nome do diretor da Empresa de Correios e Telégrafos filmado no marco zero do mensalão recebendo propina? Somente o Dr. Google lembra: Maurício Marinho.

De quanto foi a propina? Maurício embolsou míseros R$ 3 mil. No vídeo, conta que o roubo corria solto na empresa controlada pelo deputado Roberto Jefferson (RJ), presidente do PTB. Jefferson viu na denúncia a digital do ministro José Dirceu, da Casa Civil. Aí deflagrou o escândalo que quase derrubou o governo.

Três anos depois de Maurício ter saído dos Correios para entrar na História, a Polícia Federal descobriu um novo esquema de fraude na empresa. Na ocasião, 16 pessoas foram presas, suspeitas de desviar R$ 21 milhões. Logo, logo foram soltas. Nenhuma foi julgada até hoje. O dinheiro continua desaparecido. Como de costume.

O Dia da Independência foi marcado por tentativas espontâneas de marchas contra a corrupção. Só uma reuniu muita gente — a de Brasília, com mais de 25 mil pessoas. O que animou quem ainda se preocupa com a ética na política assustou quem vive da política sem ética. Dilma preferiu não ver o que foi estimulado por ela. Uma pena.

Vida de gado

Deputados federais e senadores têm o direito de apresentar emendas ao Orçamento da União destinando verbas para a construção de pequenas obras em seus redutos eleitorais. Uma vez aprovadas, as emendas dependem da vontade do governo para se transformar em dinheiro vivo. Às vésperas de decisões importantes no Congresso ou depois que elas ocorrem, a levar-se em conta seu resultado, o governo libera parte das emendas dos parlamentares que votaram justamente como ele queria. Guarda o resto para outras ocasiões. E assim vai conduzindo o seu gado. Muito bem. Agora me respondam: se isso não configura compra indireta de votos, configura mesmo o quê?

FONTE: O GLOBO

Corte marcial:: Melchiades Filho

Estão nas mãos do ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, duas decisões cruciais para a política -com impactos que superam temas mais usuais no noticiário, como as eleições municipais e a criação do PSD.

A primeira delas diz respeito ao mensalão. Barbosa recebeu as alegações dos advogados de defesa e hoje começa a definir o texto que pautará o julgamento dos 38 réus.

Os acusados do esquema de desvio de verba pública para a compra de apoio parlamentar não estão sós na agonia. Uma condenação em série acarretará prejuízos de imagem também ao PT e ao próprio Lula.

Não à toa, pipocam tentativas de desqualificar o ministro, considerado o mais imprevisível -e, portanto, independente- do tribunal.

Questionam seu comparecimento irregular ao plenário. Sugerem sua aposentadoria para tratar a saúde. Põem em dúvida sua isenção, porque deu declarações indignadas sobre a rede de corrupção.

Isso sem falar nas manobras para empastelar de vez o julgamento.

Após tentar a desconstrução técnica da denúncia -sem sucesso, pois a PF foi precisa e inclemente-, o ex-ministro lulista Márcio Thomaz Bastos atua para desmembrar o inquérito: a ideia é atrasar/pulverizar sentenças e evitar manchete bombástica sobre o mensalão.

(MTB, aliás, tem se reunido frequentemente com Dilma Rousseff, que está prestes a fazer sua primeira indicação para o STF.)

A segunda decisão crítica de Barbosa trata da Castelo de Areia. Por sorteio, caberá a ele avaliar a legalidade da maior operação policial sobre fraudes em obras públicas e o uso eleitoral do dinheiro desviado.

A investigação está parada, graças a um subterfúgio jurídico. Concebido por quem? MTB, contratado de uma das empreiteiras suspeitas.

Um parecer favorável de Barbosa poderá coibir novas chicanas e dar fôlego à PF. A Castelo de Areia é garantia de uma faxina de verdade e atalho para a reforma política.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Necessário, mas insuficiente:: José Roberto de Toledo

É possível extrair algo do comportamento do eleitor em 2010 que valha para o pleito municipal de 2012? Uma constatação é que o voto nas capitais foi sensivelmente diferente do voto no interior. No primeiro turno da eleição presidencial, Dilma Rousseff (PT) teve 40% dos votos válidos nas capitais, contra 49% no resto do País. A disputa do governo contra a oposição foi muito mais dura nessas 27 cidades. Entender o porquê ajuda a medir as chances de governistas e oposicionistas em 2012.

Não foi a oposição tucana que dificultou as coisas para a candidata de Lula nas capitais. No primeiro turno, José Serra (PSDB) recebeu proporcionalmente menos votos nessas cidades (30%) do que no resto do País (33%). Quem fez a diferença nesses centros foi Marina Silva (então no PV). Enquanto ela teve apenas 16% dos votos válidos no interior, sua votação chegou a 28% nas capitais. Foi a mais votada em Brasília, Belo Horizonte e Vitória.

Pesquisas do Ibope feitas ao longo da campanha de 2010 indicam que o eleitorado de Marina era dividido entre dois segmentos muito diferentes entre si: de um lado, um eleitor de classe média alta que estudou acima da média e estava desencantado com PT e PSDB; e de outro, evangélicos que desconfiavam das opiniões de Dilma e Serra sobre questões como aborto. Será possível comprovar isso na esfera municipal?

O cruzamento dos resultados eleitorais com as informações de renda do Censo 2010, divulgadas recentemente, e o novo mapa da religião publicado pela Fundação Getúlio Vargas apontam que sim.

Há enormes diferenças de comportamento do eleitor de capital para capital: no primeiro turno, a votação de Dilma variou de 16% em Rio Branco (AC) a 57% em São Luís (MA). E a de Serra, de 7% em Manaus (AM) a 51% em Boa Vista (RR). Para além das peculiaridades regionais, é possível identificar tendências.

Em 3 de cada 4 municípios que não são capitais, quanto maior era a abrangência do Bolsa Família em 2010, maior foi a votação de Dilma. Já nas capitais, a força da correlação entre os programas assistencialistas do governo federal e o comportamento do eleitor foi reduzida à menos da metade. Dois outros fatores diluíram essa influência: renda e religião.

Segundo estudo de Marcelo Neri, da FGV, há maior proporção de evangélicos nas capitais. E, entre elas, há grandes disparidades: de 10% em Teresina (PI) a 43% em Rio Branco (AC). Embora haja exceções, em regra Dilma teve menos votos nas capitais onde há maior porcentual de evangélicos. Sua votação também foi proporcionalmente menor nas capitais com renda per capita mais alta. Essas duas correlações foram mais fortes do que entre voto e Bolsa Família.

Para Marina Silva, as relações foram inversas às de Dilma. Em grande parte das capitais, quanto mais evangélicos, maior sua votação. Mas a conexão mais forte não foi religiosa, e sim de poder aquisitivo. Quanto maior o crescimento absoluto da renda acima da inflação, melhor o desempenho da então candidata do PV. Ou seja: ao menos nas capitais, Marina faturou politicamente mais do que Dilma e Serra os reais extras que os eleitores embolsaram ao longo da década passada.

Como interpretar essas correlações? Do ponto de vista estrito, comprovam-se as inferências do Ibope. Marina teve dois eleitores distintos, um mais rico e outro mais pobre, que votaram nela por motivos diferentes: o primeiro, para criar uma alternativa política ao PSDB e ao PT (e, eventualmente, defender o meio ambiente), o segundo, na candidata da sua fé, que por ser evangélica se mostrou mais confiável contra mudanças como a legalização do aborto no Brasil.

Mas é possível extrapolar os resultados para 2012. A principal constatação é que quando há outros fatores intervenientes, como religião, a influência econômica sobre o voto é amenizada. A segunda é que nos lugares onde a riqueza já era mais alta, os incrementos de renda, por maiores que tenham sido, não foram traduzidos automaticamente em predisposição do eleitor de votar na candidata do governo identificado como o responsável por esses ganhos.

Não bastará ao governo manter a economia crescendo, a inflação sob controle e o Bolsa Família funcionando. Essas são condições necessárias, mas não suficientes para Dilma e sua base aliada vencerem as eleições municipais de 2012. São necessárias obras e políticas com impacto local. E isso só é viável com uma máquina administrativa bem azeitada.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Os partidos como parasitas:: Renato Janine Ribeiro

Uma convicção difundida, entre comentadores da política e cientistas políticos, é que partidos fortes são essenciais para a democracia. Já filósofos e estudiosos da comunicação não se entusiasmam tanto pelos partidos, mas reconhecem sua utilidade. Ora, um mantra da discussão política no Brasil é que os partidos são fracos, representam pouco e tendem a expressar mais os interesses dos políticos que os do eleitorado. Não espanta que nossa legislação seja uma mãe para os partidos. Deixou de regulamentar seu funcionamento interno, o que seria bom, não fosse o fato, revelado pelo Valor, de que vários deles, mesmo importantes, funcionam na base de comissões provisórias nomeadas pela direção nacional, sem democracia interna. Houve momentos, na ditadura, em que a lei fixou um máximo de partidos (dois), determinou que tivessem o "P" de partido em seu nome e até mandou suas convenções se realizarem em Brasília. Bobagem, que passou. Mas continua havendo vantagens para os partidos que, paradoxalmente, talvez expliquem por que são fracos. Não precisam ir à luta, conquistar o apoio do povo. Isso os fragiliza, isso nos fragiliza.

Por que, no Brasil, só partidos podem lançar candidatos? Não é assim na França, Estados Unidos ou Grã Bretanha, três democracias exemplares, fruto de grandes revoluções democráticas. Lá, quase todos os eleitos em nível nacional pertencem aos principais partidos, mas isso não é obrigatório. Os partidos se fortalecem sem serem donos da atividade eleitoral. São fortes porque lutam por isso, não porque a lei lhes dê o oligopólio da política. Já no Brasil só pode concorrer quem se filiou a um partido doze meses antes da eleição - o que exclui do direito de se eleger 95% ou mais da população.

Essa oligopolização da política traz um adicional. Você se filia sem a certeza de que será candidato. Entre você e o voto popular, está a cúpula partidária. Itamar Franco se inscreveu no PMDB, em 1998, esperando concorrer à sucessão de FHC. Uma vez filiado, o PMDB aproveitou o ilustre refém para negociar com o governo tucano e liquidou sua candidatura. Mas é legítimo uma pessoa, que pode expressar a vontade popular, ser impedida de ir às urnas porque o partido lhe negou legenda?

Imaginemos que o PSDB se divida entre Serra e Aécio, em 2014. Se um deles notar que não tem chances no partido, sua única saída será mudar de legenda antes de outubro de 2013. Ora, dificilmente um deles saberia disso a tempo. Portanto, digamos que disputem a convenção. Quem perdê-la não poderá apelar ao povo. Na França, Estados Unidos ou Argentina, poderia - e poderia ganhar a eleição. Agora, à pergunta: isso enfraquece o partido? a resposta adequada é: menos que o sistema atual. Hoje, o perdedor na convenção dificilmente dará apoio entusiástico ao vitorioso. Muitos serristas acusaram Aécio de corpo mole na eleição de 2010. Mas, se ambos puderem ir ao povo, o que teremos? Certamente, outras lideranças partidárias - a começar por FHC - tratarão de curar as feridas e negociar um acordo. Para isso, não precisa haver uma lei barrando candidaturas. É melhor a lei ser aberta, e os conflitos se resolverem na prática. Mais maduro.

Em termos municipais, nem se fala. Com raras exceções, prefeitos se elegem em torno de temas locais - no mundo todo. A maior exceção costuma estar à esquerda, mais afeita a propostas sociais, que interferem na vida cotidiana. Mas, até porque em vários municípios as coligações se mostram monstruosas, aliando partidos opostos no plano federal, por que não admitir listas fora dos partidos? É um absurdo o prefeito de S. Paulo precisar criar um partido para continuar na política, com todas as consequências que vimos nas filiações ao PSD.

Em 2010, os tribunais eleitorais difundiram spots publicitários sobre a importância do voto. A intenção era ótima. A ilusão, total. Diziam que o Poder Executivo reduz as desigualdades. Ora, esse é um belo ideal, mas só isso. Mostraram um eleitor sabatinando os candidatos, como se disputassem um emprego. Na teoria, é assim. Na prática, os candidatos dos grandes partidos têm muito mais poder que os cidadãos. No fundo, os spots indicaram um problema de nossa política: que os tribunais eleitorais acabam assumindo um papel que deveria ser dos partidos.

Tomemos os Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório - o que leva a um grave problema, que é a abstenção maior entre negros e pobres, que por isso recebem menor atenção dos políticos, o que aumenta o alheamento político de negros e pobres, levando os políticos a lhes darem menos... Mas, lá, se um partido quiser conquistar o voto de negros e pobres, terá de convencê-los de que é importante votar. Ou seja, em vez de um spot abstrato, no qual a Justiça cega e imparcial fala do voto em geral, teríamos spots concretos, em que um partido diz: se quiser combater a corrupção, vote em nós; se quiser eliminar a miséria, vote no partido tal; e assim por diante.

Isso acabaria com um aspecto que a eleição tem hoje: a reserva de mercado. Por lei, os partidos têm o monopólio das candidaturas. Por lei, os cidadãos têm de votar. Daí sucede que, no dia da eleição, muitos votantes não saibam ainda em quem votar e peçam indicações a amigos. Eu o fiz, em 2010, para deputado estadual. Ora, se você não está convencido de um candidato, por que votar nele? Por que votar? Os partidos, oligopolistas da política, têm apenas de disputar em quem você votará. Não precisam militar pela causa da política. Não precisam convencer ninguém da importância do voto. Funcionam como parasitas, não como atores da política. Isso tem de mudar.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Quando governar é resistir:: Wilson Figueiredo

É sabido que a História não pensa duas vezes para proceder como o raio que se recusa a cair mais de uma vez no mesmo lugar. E o Brasil não faz exceção. No nono mês de um mandato presidencial que soma 48, a presidente Dilma Rousseff pode abrir mão do risco de se desequilibrar perigosamente à beira de uma crise aposentada. Desde que mostre convicção do que faz e se aconselhe com a própria mestra da vida, como os gregos reverenciavam a História. E assim dispensar os préstimos de Lula, que faz cortesia com o chapéu alheio sem a menor cerimônia. Dilma será outra assim que desistir da mania de dançar ao sabor das contradições que envolvem o exercício do governo recebido dos eleitores. Não está obrigada a devolvê-lo a quem nem se desloca para ter a preferência de recebê-lo de volta em 2014.

A opinião pública não foi parte ativa na campanha eleitoral e se solta à medida que os escândalos saem dos porões e sobrecarregam o exercício maroto do poder. Não sendo a primeira, nem a ultima vez em que a inflação bate à porta, a sucessora fica dispensada de errar como ocorreu a tantos governantes antes que o Real apontasse o caminho das pedras.

Milton Campos gostava de repetir, quando vinha ao caso, que “governar é resistir a pressões”. Citado fora de contexto, parece um truísmo. Faltam-lhe a sonoridade das frases de efeito em Latim e o toque de fatalidade inerente a governos em início de mandato no sistema presidencialistas de governo. Sendo o Brasil, pela própria natureza de sua opção republicana, exposto a pressões que se fazem normais em nome da própria democracia, uma voz de fonte legítima devia repetir a advertência aos governantes em primeiro mandato.

Narra o escritor mineiro José Bento Teixeira de Salles em Passageiro do Tempo, livro de memórias, dele e da política mineira do seu tempo, um episódio e uma frase de excepcional valia democrática para as circunstâncias. Milton Campos ainda se despedia das presenças ilustres, de Minas e de fora, na solenidade de sua posse no Palácio da Liberdade, quando foi informado de que Arthur Bernardes pedia, como presidente do PR, uma audiência imediata para “tratar de assunto inadiável” com o governador. E assim foi.

O episódio ocorreu no dia 19 de março de 1947 e pode ser considerado pedra fundamental no restabelecimento da democracia. A eleição nos estados ocorreu no mesmo dia. O maior partido político era então o PSD, que se assinava Partido Social Democrático mas nada tinha a ver com a concepção da social democracia no Século 19. Era um partido conservador, com experiência de governo e inesgotável paciência para negociar soluções de compromisso. E a vitória em Minas coube à UDN, geneticamente nascida para fazer e até exagerar a oposição.

Arthur Bernardes era o presidente do Partido Republicano, que vinha da República Velha liquidada em 1930. Ficou hibernado durante o Estado Novo. Tinha sido presidente da República e presidente de Minas. Como razão de urgência, alegou os compromissos partidários em torno da candidatura da UDN. Queria fazer de imediato a indicação dos nomes do PR ao secretariado do governo que se instalava.

Milton Campos lembrou que os compromissos de campanha foram assumidos pela UDN e não, pessoalmente, pelo candidato. Não eram, portanto, do governador que tomava posse. Duas pastas estavam reservadas ao PR, mas cargos de confiança são da responsabilidade do governador, razão pela qual não podia atendê-lo.

Bernardes se escuda no compromisso de campanha para insistir na prerrogativa de indicar nomes. Milton Campos reitera que não podia, como governador, aceitar imposição. E cita os nomes que já havia escolhido para representarem o PR: Mário Brant e JC Campos Christo. E arrematou: o presidente faz alguma objeção a esses nomes?

Bernardes insistiu e Milton Campos resistiu com firmeza e respeito pelo vulto histórico que governara Minas e o Brasil, sem abdicar da altivez e da responsabilidade de decidir. O episódio exemplar ficou como o marco histórico e dele resultou a frase com que, do primeiro ao último dia do seu mandato de governador de Minas, Milton Campos aplicou o princípio de que, entre outros cuidados, “governar é resistir a pressões”. Está em alta, como poucas vezes, neste recomeço de governo oriundo das urnas.

Wilson Figueiredo é jornalista

FONTE JORNAL DO BRASIL

Mil dias :: Aécio Neves

Na próxima sexta, 16 de setembro, estaremos a exatos mil dias para que a bola comece a rolar na abertura da Copa no Brasil. O que deveria ser motivo de comemoração em um país apaixonado por futebol, infelizmente serve também para confirmar, de forma dramática, a instalação da política do improviso na administração pública brasileira.

Estamos atrasadíssimos e caminhando a passos lentos em direção a um calendário inexorável, apesar de o Brasil ter sido escolhido como sede da Copa em outubro de 2007.

Quatro anos atrás. A dimensão dos problemas que teremos, ao que tudo indica, pode ser mensurada pelo cidadão que já enfrenta congestionamento nos aeroportos ou observa que grande parte das obras nas cidades-sede permanece no papel. Isso a menos de dois anos da Copa das Confederações, a grande avant-première de 2014.

No caso dos aeroportos, cruciais para o transporte num país continental como o nosso, fomos vítimas de uma posição ideológica arcaica do governo, que considerava as concessões e as parcerias com o setor privado (PPPs) quase crime de lesa pátria.
Visão que parece superada com o anúncio feito de concessão de alguns de nossos terminais, embora, acredito, com atrasos já irremediáveis.

Igualmente conhecida é a precariedade das rodovias federais e do transporte coletivo nas capitais que terão jogos. Para explicar esse quadro desolador, há um fator predominante: a má gestão. A ausência de um planejamento eficiente e as falhas nos projetos têm sido, aliás, as primeiras e principais causas das mazelas em obras públicas.

Soma-se nesse contexto a iniciativa do governo de flexibilizar as licitações para a Copa. O novo regime de contratação das obras, RDC, está sendo implantado sem o necessário debate no Congresso e sem a devida análise dos órgãos de fiscalização.

As mudanças nas normas das licitações podem até ter aspectos inovadores, mas serão introduzidas em contratos com cifras vultosas.

A falta de transparência nessas contratações e a urgência nos prazos poderão resultar em desperdício de dinheiro e em chances de corrupção.

Infelizmente, outros dois velhos conhecidos do país. Por fim, não podemos nos esquecer que, durante o maior evento esportivo do planeta, os olhos do mundo estarão voltados para nós. Nossa infraestrutura e serviços de segurança serão avaliados diariamente, e nosso potencial turístico apresentado a milhões de pessoas. O Brasil poderá ganhar ou perder muito.

Em Copa do Mundo, só há um domínio em que o improviso deve prevalecer: nos gramados, quando estiver em campo o talento da seleção. Talento, aliás, que anda meio sumido. Mas, para isso, o Mano ainda tem tempo.

Aécio Neves é senador (PSDB-MG)

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Quem te viu, quem te vê :: Paulo Brossard

Nada menos que 10 anos se passaram do ataque que reduziu a pó as duas torres do World Trade Center, que, como a Estátua da Liberdade, passaram a compor a imagem de Nova York. O sucesso chocou o mundo. Mais do que isso, dada as suas peculiaridades, ficaram a integrar a crônica mundial das violências como algo sem antecedente, misturando-se com o medo inerente das incertezas.

Não se limitaram às vozes das vítimas que lá permanecem num túmulo vazio, a elas se juntam não apenas as de uma nação, mas das nações, pois o mal-estar que não se sabe onde começa ou onde termina migrou a outros recantos. Enfim, a insegurança não existe tão só no círculo imaginário em torno de Nova York; o medo não é apenas nela em razão do que lá ocorreu, mas pelo que pode acontecer lá e em qualquer outro lugar. Para o terrorismo, não há fronteiras nem a veneração às coisas que o tempo se encarregou de fazê-las sagradas.

Quem poderá dizer que a Catedral de Chartres com seus vitrais centenários de um azul, parece retirado do céu, goza de imunidade diante da selvageria? E Notre-Dame, cravada ao lado do Sena, um dos mais belos monumentos de Paris? O mesmo se diria em relação à Capela Sistina ou dos museus do Vaticano com suas belezas e acervos maravilhosos, para não dizer a Cúpula da Basílica de São Pedro? Quer dizer, nada mais é patrimônio da humanidade, convertendo-se em objeto ao alcance do desvario humano. Este me parece ser o desenho aproximado do medo, 10 anos depois do maldito 11 de setembro.

O recente congresso petista mostrou alguns dados ilustrativos. Limito-me a apreciar dois deles. Um de nítida censura à senhora presidente! Defendendo a extinção da "faxina", o partido propunha uma excêntrica anistia às pessoas denunciadas e até punidas, ainda as não apuradas, mas já articuladas pelo Ministério Público. A "faxina" macularia o governo passado.

O país inteiro sabe que, não por obra dos serviços oficiais, mas graças à imprensa, alguns fatos de particular gravidade foram divulgados. A eles estavam vinculados membros do passado governo e mantidos pelo atual. Diante da evidência dos fatos, era indisfarçável o maltrato do dinheiro público. A senhora presidente tomou providências que eram de seu estrito dever adotar. Não o fizesse, estaria sendo conivente com ilícitos e sujeita até a perda do cargo por ofensa à "probidade de administração", Constituição, art. 85,V. E, diga-se de passagem, a opinião pública ratificou a ação presidencial, enquanto no Congresso se pleiteava a extinção da "faxina". Não se engane a presidente, é pública a indignação popular em relação à ostensiva improbidade publicada. Nas ruas de Brasília, no dia da pátria, a presidente viu vivamente visto o fenômeno singular.

O outro diz respeito à tentativa de amordaçar a imprensa, ideia que não é nova em setores petistas. Agora, a censura passou a chamar-se de "democratização da mídia". No final do governo passado, o então ministro da Informação trabalhou em projeto para esse fim. Não houve tempo para avançar no caminho escabroso. Pois, no Congresso petista, o tema voltou a ter defensores. E foi preciso que a própria senhora presidente batesse na mesa para modificar a medida autoritária que, entre nós, existiu em anos passados e extinguiu-se sem deixar saudades. Aliás, é de lembrar-se que na comemoração dos 90 anos da Folha de S. Paulo, a senhora presidente proferiu eloquente oração defendendo a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, de modo que a divergência ficou manifestada.

Em termos de defesa da corrupção e supressão de liberdades (no Brasil e no Exterior), o PT faz hoje o que nem o partido oficial nos tempos do arbítrio ousou fazer. Estes os fatos, são sumamente relevantes e do maior interesse nacional. Como se vê, as saudades autoritárias, para não dizer totalitárias, permanecem vivas em setores de um partido que desfruta do governo do país.

*Jurista, ministro aposentado do STF

FONTE: ZERO HORA (RS)

PSD: Partido nasce como 'estoque regulador' da governabilidade

Vera Magalhães

SÃO PAULO - Quando Gilberto Kassab disse a já célebre frase de que o PSD não será nem de esquerda, nem de direita, nem de centro, estava enunciando a estratégia que pode levar seu partido a nascer com a terceira maior bancada da Câmara, com 50 deputados.

Ser incolor, insípido e inodoro é uma espécie de condição de existência do novo partido, que não terá, na largada, dois combustíveis essenciais: tempo no horário eleitoral e fundo partidário.

É por isso que Kassab costuma dizer que a primeira prova de fogo do novo partido será mesmo em 2014. Eleger uma bancada federal numerosa será fundamental justamente para estabelecer o cálculo do quinhão do fundo partidário ao qual o PSD terá direito, bem como os preciosos minutos no cobiçado horário eleitoral.

Sem essas duas ferramentas por enquanto, resta ao partido como tática de sobrevivência em 2012 o direito à livre associação, de acordo com o desenho político local em cada seção.

No Rio, estará com o peemedebista Eduardo Paes. Em Curitiba, deve dar suporte à reeleição de Luciano Ducci, do PSB. Em São Paulo, pode tanto ter candidato próprio quanto apoiar um nome do PV. E assim indefinidamente, sem restrições. Nem o PT, que sempre rechaçou alianças com o PSDB e com o DEM -de cuja espinha dorsal nasceu o partido de Kassab-, quis impor veto a acordos com a sigla "neutra" do prefeito.

A liberação de acordos com o PSD atende, principalmente, a uma conveniência do governo Dilma Rousseff. Diante de uma base aliada mais que heterogênea, com a qual a relação está sempre por um fio, interessa à presidente ter um partido com 50 deputados como uma "reserva de contingência" para votações importantes.

Não que o PSD vá aderir ao governo do PT de cargo e cuia, ao menos num primeiro momento. Isso contrariaria a necessidade de ser um aliado de gregos e troianos na sucessão municipal.

O exército de Kassab, oriundo das mais diferentes linhagens políticas e unido por contingências na maior parte dos casos locais, ficará livre para agir como quiser também no Congresso.

Mas a fatiga de ser oposição por muito tempo foi o que levou boa parte dos parlamentares a migrarem para a nova e heterogênea legenda.

É a esse contingente que Dilma poderá recorrer sempre que sua coalizão inflacionar demais o apoio, como uma espécie de estoque regulador da governabilidade, o que é uma posição estratégica no quadro político atual.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Enem reprova ensino das escolas públicas

O resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2010 mostra que oito em cada dez escolas públicas ficaram abaixo da média. No Rio de Janeiro, o índice também foi alarmante: 76% das públicas não alcançaram a média nacional. Em contrapartida, as escolas particulares do Rio dominaram o ranking. O Colégio São Bento voltou a ser o primeiro colocado no país.

Ensino público à deriva

Oito em cada 10 escolas ficam abaixo da média no Enem; das 20 melhores, 18 são privadas

Demétrio Weber

Oito em cada dez escolas públicas ficaram abaixo da média no último Exame Nacional do Ensino Médio (2010). É o que revelam os resultados do Enem por estabelecimento de ensino, que o Ministério da Educação divulga hoje. O cálculo considera escolas em que, pelo menos, 25% dos alunos participaram do exame. Entre os colégios particulares, 8% não conseguiram superar a média nacional - um décimo do índice verificado na rede pública.

A média geral dos estudantes do último ano do ensino médio foi de 553,73 pontos, numa escala até 1.000. A nota considera o desempenho tanto nas provas objetivas quanto na redação. E é ela que serve de referência para determinar quantas escolas ficaram abaixo da média nacional: nada menos do que 8.926 estabelecimentos públicos e 397 privados. Considerando apenas a nota geral nas provas objetivas - 511,21 pontos -, 80% das escolas públicas ficam abaixo da média.

A diferença entre a rede pública e a particular é um desafio para o sistema de educação brasileiro. E o Enem 2010 apresenta novos dados sobre o problema. Das 20 escolas com maiores médias, 18 são privadas e as duas públicas são vinculadas a universidades federais. Na outra ponta, todas as 20 piores são públicas, assim como as 100 unidades com notas mais baixas. Entre as mil escolas com piores médias, 995 são públicas e apenas cinco, privadas.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, lembra que outras avaliações já mostraram o abismo entre a rede pública e a particular. Para ele, é natural que existam escolas com melhor e pior desempenho, independentemente da rede à qual pertençam. O problema, observa o ministro, é mundial. No caso brasileiro, porém, o absurdo está no grau de desigualdade:

- É assim no mundo inteiro. O que chama a atenção no Brasil é que as distâncias são intoleráveis. Mais de dois terços da explicação de qualquer desempenho está fora da escola. É diferente uma escola em um bairro nobre, com um investimento anual dez vezes superior ao de uma escola pública, em área rural, que atende filhos de lavradores que não tiveram acesso à educação.

Situação diferente é a de estabelecimentos com perfis semelhantes em termos de localização, financiamento e alunado, mas rendimento escolar discrepante. Nesses casos, segundo Haddad, o gestor precisa tomar providências para melhorar a escola com fraco desempenho e replicar experiências de sucesso:

- Quando tem a mesma clientela e desempenho desigual, aí cabe ao gestor público agir.

Inep: resistência aos rankings a partir do Enem

Ao divulgar os resultados por unidade de ensino, o Ministério da Educação separou as escolas em quatro grupos, conforme o índice de participação dos alunos no Enem. O objetivo foi evitar que "amostras viciadas" beneficiassem determinadas escolas. Em tese, isso pode ocorrer nos estabelecimentos onde apenas uma minoria, formada pelos melhores alunos, faça o teste.

O grupo 1 reúne estabelecimentos em que 75% ou mais dos estudantes fizeram as provas; no 2 estão os que ficaram na faixa de 50% a 75%; no 3, os de 25% a 50%; e no 4, de 2% a 25%. Escolas com índice de participação inferior a 2% ficaram sem nota, assim como aquelas em que menos de dez estudantes se submeteram ao exame. O ranking publicado pelo GLOBO a partir dos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) só não incluiu escolas do grupo 4 por conta do baixo percentual de participação de alunos. Também foram excluídas escolas que não tiveram nota divulgada porque menos de dez alunos fizeram o Enem.

Haddad recomenda aos estudantes que vejam o percentual de participantes de cada escola ao compararem as notas. O MEC não estabeleceu critérios para definir o que deve ter mais peso, a nota ou o grau de participação. Na teoria, quanto maior o número de alunos que fizerem o exame, mais representativo o resultado.

O ministro ressalvou que o Inep tem resistências à criação de rankings. Um dos motivos é que a qualidade das escolas, segundo ele, envolve outras dimensões além do exame. Ainda mais que o Enem é um teste voluntário, de modo que a amostra de alunos nem sempre tem validade estatística para representar o universo da escola. Entre as 20 primeiras, a parcela de concluintes que fez as provas supera os 84% em 19 delas.

Em 2010, o Enem atraiu concluintes de 23.900 escolas de ensino médio regular. Excluídas as unidades com participação inferior a 25% ou menos de 10 inscritos, esse número cai para 16.226 escolas. A maioria delas - 9.323 ou 57,5% - ficou abaixo da média geral. Na ponta de cima, 6.903 escolas superaram a média. Nesse grupo, 4.713 eram particulares e 2.190, públicas. Das mil escolas com maiores médias no Enem, 912 eram privadas e 88 públicas.

FONTE: O GLOBO