sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Opinião do dia – Antonio Gramsci: “domínio” e “direção intelectual”

"O critério metodológico sobre o qual se deve basear o próprio exame é este: a supremacia de um grupo social se manifesta de dois modos, como “domínio” e como “direção intelectual e moral”. Um grupo social domina os grupos adversários, que visa a “liquidar” ou a submeter inclusive com força armada, e dirige os grupos afins e aliados. Um grupo social pode e, aliás, deve ser dirigente já antes de conquistar o poder governamental (esta é uma das condições principais para a própria conquista do poder); depois, quando exerce o poder e mesmo se o mantém fortemente nas mãos, torna-se dominante mas deve continuar a ser também “dirigente”. "

Antonio Gramsci. O Risorgimento. Cadernos do Cárcere, vol. 5, pág. 62. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2002.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
BC muda estratégia mas não impede alta do dólar
Dilma pede eliminação de arsenais nucleares
Deboche na Câmara
Comissão da Verdade: governo teve que ceder

FOLHA DE S. PAULO
BC intervém para segurar o dólar
Em NY, Dilma diz que Brasil está 'a postos' contra a crise
Montadora da China congela instalação de fábrica no país
Para Fiesp, aviso prévio pode prejudicar emprego

O ESTADO DE S. PAULO
Deputado revela venda de emendas na Assembleia
BC intervém para conter disparada do dólar

VALOR ECONÔMICO
Dívidas soberanas colocam zona do euro perto de uma crise bancária
Banco europeu reduz crédito ao comércio externo do Brasil
Usinas no rio Teles Pires sob ameaça
Kassab tenta subir para a alta política brasileira
Economia com busca na web é de 0,5% do PIB
LAN poderá ir à Justiça contra restrições à fusão com a TAM
Receita cresce mais que produção
Reações ao novo aviso prévio

CORREIO BRAZILIENSE
Até queijo tem imóvel funcional em Brasília
Deu a louca no dólar
Trem da alegria na Receita do DF

ESTADO DE MINAS
Indomável. E vai sobrar para você!
Mobilização na Justiça contra o IPI

ZERO HORA (RS)
Dólar alto pressiona aumento de preços
RS terá só 4% do Plano Nacional de Presídios

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Alta do dólar afeta preço do pão
Senado avalia na terça o nome de Ana Arraes

Bancários entram em greve na próxima terça

Os bancários de todo o país rejeitaram a proposta de 7,8% de reajuste apresentada pelos bancos e decidiram entrar em greve a partir da próxima terça-feira, dia 27. A decisão foi anunciada após assembleia realizada na noite de ontem. Para a categoria, o índice é insuficiente e "não se justifica frente aos lucros recordes dos bancos". A campanha salarial dos bancários é nacional e dela participam funcionários de bancos públicos e privados.

Os bancários reivindicam 12,8% de reajuste salarial (reposição da inflação mais 5% de aumento real), participação nos lucros de três salários mais R$4.500; piso de R$2.297,51 (salário mínimo do Dieese), tíquete-refeição e vale-alimentação de um salário mínimo cada (R$545), plano de carreira, cargos e salários e auxílio-educação.

Uma nova rodada de negociação com a Fenaban ocorre hoje, às 14h, em São Paulo. Na segunda-feira, novas assembleias serão realizadas.

FONTE: O GLOBO

Embraer tem 1ª paralisação em dez anos em São José

Os metalúrgicos da Embraer em São José dos Campos (SP) paralisaram ontem as atividades da fábrica por 24 horas. Foi a primeira paralisação na empresa em dez anos. As principais reivindicações dos trabalhadores são a antecipação dos reajustes anuais de novembro para setembro e a negociação de salários diretamente com a empresa. Hoje, ela é feita com a Fiesp.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Funcionários dos Correios em greve pedem aumento menor

BRASÍLIA - Os representantes dos funcionários dos Correios fecharam contraproposta para tentar encerrar a greve, que completou nove dias. A Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares), que reúne 35 sindicatos, reduziu pela metade o pedido de reajuste para todos os funcionários, que agora é de R$ 200.

A categoria mantém a reivindicação de reposição da inflação de 7,16%, reposição com as perdas salariais de 24,76% (de 1994 a 2010) e piso salarial de R$ 1.635 (atualmente ele é de R$ 807). A última proposta da empresa, que foi retirada, previa a reposição da inflação de 6,87%, aumento linear de R$ 50 e um abono (que não seria incorporado ao salário) de R$ 800.

A estimativa dos Correios é que 19% dos 107 mil funcionários de todo o país estejam em greve (os sindicatos afirmam que o índice é de quase 80%). Os Correios não divulgaram novo balanço da paralisação até a conclusão desta edição. A empresa interrompeu as negociações na semana passada e afirmaram que somente retomariam o diálogo com o fim da paralisação. Os sindicatos descartaram essa hipótese

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Greve da Guarda Municipal: mesma data do início do Rock in Rio foi 'acaso', diz sindicato

Emanuel Alencar

RIO - A greve da Guarda Municipal, marcada para o primeiro minuto desta sexta-feira foi marcada no mesmo dia do início do festival Rock in Rio "por acaso", afirma o presidente do Sindicato dos Servidores da Guarda Municipal do Rio de Janeiro (Sisguario), Rogério Chagas.

Chagas reforçou que a segurança do evento não será prejudicada (serão escalados 400 guardas para o entorno da Cidade do Rock, em dois turnos) e disse que, nas primeiras 72h, não será feita qualquer manifestação que prejudique o trânsito da cidade.

- Depois destes três dias vamos decidir como será a segunda etapa da paralisação. Foi por acaso (a coincidência das datas). A greve foi decidida na segunda-feira e não estamos trabalhando contra o Rock in Rio. Infelizmente coincidiu - disse Rogério Chagas. - Queremos alertar para as péssimas condições de trabalho. Na 6ª Inspetoria (Madureira) funciona dentro de uma obra do Transcarioca. Falta tudo, não há dignidade para trabalhar.

Uma das reivindicações do Sisguario é o aumento do piso salarial de R$600 para R$ 1200.

FONTE: O GLOBO

Consórcio da Delta supeito de mau uso de R$ 60 milhões

MPF cita também o subsecretário em ação civil pública sobre destinação de verbas federais para obras do Pan

Empreiteira integra consórcio suspeito de má gestão de verbas federais para construção de parque aquático

Ruben Berta

O atual subsecretário municipal de Habitação, João Luiz Reis da Silva é um dos cinco ex-dirigentes da Empresa Municipal de Urbanização (Riourbe) citados numa ação civil pública por improbidade administrativa. A ação foi impetrada ontem pelo Ministério Público Federal (MPF), por suspeita de gestão irregular de verbas federais repassadas pelo Ministério do Esporte para as obras no Parque Aquático Maria Lenk, construído para os Jogos Pan-Americanos de 2007. O Consórcio Parque Aquático Pan 2007, formado pelas empresas Delta Construções, Sanerio Engenharia e Midas Engenharia, também é réu por improbidade administrativa na mesma ação.

O MPF pede o ressarcimento do dano, suspensão temporária dos direitos políticos dos acusados e proibição temporária de contratar com o Poder Público ou receber incentivos fiscais, além de pagamento de multa. O órgão alega que o contrato entre a Riourbe e o consórcio de empresas teve um termo aditivo ilegal que burlou a licitação ao incluir obras que não estavam previstas no projeto básico.

Acusados podem ter direitos políticos suspensos

As empresas Delta, Sanerio e Midas ganharam a licitação das obras de fundação, estrutura e acabamento, no valor aproximado de R$48,7 milhões. Posteriormente, foi incluído no contrato o aditivo de R$11,3 milhões para a execução das obras de programação visual, sonorização e iluminação, não previstas na licitação, totalizando exatamente os R$60 milhões repassados pelo governo federal.

"A inclusão de itens não previstos na licitação original afastou a ampla concorrência de empresas por esta parcela da obra, impedindo uma contratação mais vantajosa para os cofres públicos", escreveu o procurador Alexandre Ribeiro Chaves, autor da ação.

O atual subsecretário de Habitação João Luiz Reis da Silva, que à época da construção do Maria Lenk era diretor-presidente da Riourbe, informou em nota que "tudo foi feito observando-se o estabelecido na Lei de Licitações número 8.666 e aprovado pelo Tribunal de Contas do Município. As informações foram prestadas aos órgãos de controle, inclusive ao Ministério Público".

Os gastos para a realização dos Jogos Pan-Americanos de 2007 vem sendo questionados pelo Ministério Público e tribunais de contas desde antes da realização do evento. Quando o Rio ganhou a disputa para organizar os Jogos, a estimativa de gastos era de R$350 milhões. Mas a conta final chegou a R$3,5 bilhões porque o projeto sofreu alterações, para aumentar as chances de a cidade sediar os Jogos Olímpicos.

Além disso, muitas obras e serviços foram contratados sem que os projetos estivessem detalhados. Com isso, os custos explodiram. Um exemplo foi a construção do Estádio Olímpico João Havelange, que custou quase R$400 milhões contra os cerca de R$100 milhões inicialmente previstos. No fim da obra, um consórcio de empresas, que não conseguiu concluir a cobertura do estádio a tempo, foi substituído, sem licitação, por outro grupo.

Pelos planos da prefeitura, o parque aquático Maria Lenk e a arena multiuso seriam construídos em uma parceria público privada que acabou não saindo do papel. Como os prazos estavam apertados, as obras começaram sem um projeto detalhado.

Problemas também aconteceram nas obras do Maracanã, onde a União liberou R$200 milhões a poucos meses dos Jogos, para a conclusão das obras.

O Governo Federal também enfrentou problemas para concluir licitações de equipamentos de segurança. Muitos itens só chegaram após o evento. O TCU também investigou uma suspeita de superfaturamento no aluguel da Vila Pan-Americana, onde os atletas ficaram hospedados.

FONTE: O GLOBO

CNBB defende protestos civis contra corrupção

Roldão Arruda

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou hoje uma nota oficial de apoio às recentes manifestações populares contra a corrupção e a impunidade. Para os representantes do episcopado brasileiro, elas constituem uma "nova forma significativa de exercício da cidadania" no combate a problemas que "corroem as instituições do Estado brasileiro".

Na mesma nota, porém, a CNBB alerta para o risco de tais manifestações desandarem para o "moralismo estéril", com curta duração. A maneira de evitar isso seria a continuidade dos protestos, sempre com objetivos democráticos.

Em termos práticos, a CNBB sugere que se exija do Congresso uma "autêntica reforma política" e apoio à campanha denominada Vamos Salvar a Ficha Limpa, patrocinada pelas pastorais sociais da Igreja Católica.

O documento de hoje reforça a nota divulgada no feriado de 7 de Setembro e assinada em conjunto pela CNBB, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Na ocasião já se dizia que, para atender à crescente interpelação da sociedade, o Executivo deveria mostrar cada vez mais transparência nas suas despesas. Para o Legislativo recomendava-se a extinção da possibilidade de se fazer emendas individuais ao Orçamento da União e o fim do voto secreto em todas as matérias.

Em relação ao Judiciário e ao Ministério Público, a CNBB e as outras instituições diziam ser necessária a garantia de maior agilidade nos julgamentos de processos e nos inquéritos que envolvem crimes de corrupção. A adoção dessas medidas, acreditam os bispos, pode constituir uma sólida barreira contra a impunidade que se observa hoje.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Rio quer gastar no Maracanã valor vetado pelo TCU

Governo diz que reforma custará R$ 931 mi e pede autorização para fazer empréstimo que permita alcançar essa quantia

Bruno Boghossian

RIO - O governo do Rio usou um orçamento considerado irregular pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para buscar a aprovação de um empréstimo de US$ 126 milhões para cobrir o aumento de custos da reforma do Maracanã. Em projeto enviado à Assembleia Legislativa (Alerj), o governador Sérgio Cabral afirma que o crédito será usado para complementar o pagamento de R$ 931 milhões. O valor da obra, no entanto, é de R$ 859 milhões.

No texto enviado aos deputados estaduais fluminenses em 13 de setembro, o governo alega que o empréstimo pedido ao Banco de Desenvolvimento da América Latina se deve ao aumento do preço da reforma, que teria passado de R$ 705 milhões para R$ 931 milhões. A diferença, de R$ 226 milhões, equivale ao valor do empréstimo, a um câmbio de R$ 1,793 por dólar.

"O acréscimo de R$ 705 milhões para R$ 931 milhões coberto pelo crédito se deve à necessidade de se demolir a cobertura do estádio, demanda esta que significa maior aporte de recursos dos que até então estavam previstos para a obra", afirma o governador no texto.

Em 31 de agosto, no entanto, duas semanas antes da entrega do projeto de lei que pedia autorização para o empréstimo, o TCU havia considerado irregular o orçamento de R$ 931 milhões. Após constatar sobrepreço nos valores da reforma, o tribunal se reuniu com a Secretaria de Obras do Estado e determinou a redução do preço final em R$ 72 milhões - para R$ 859 milhões.

O pedido de empréstimo precisa ser autorizado pela Alerj, onde a base de apoio a Cabral é maioria. O governador pediu urgência na votação do projeto, que ainda será analisado pelas comissões técnicas da Casa.

A Secretaria de Obras alega que o texto enviado para aprovação na Assembleia foi redigido antes da decisão do TCU de reduzir o orçamento da reforma. O órgão informou, no entanto, que não pretende alterar o valor do projeto, uma vez que o empréstimo de US$ 126 milhões é necessário para pagar parte da obra, independentemente do valor final.

O governo informou que os trabalhos no Maracanã serão concluídos dentro do orçamento de R$ 859 milhões. Do valor total, R$ 400 milhões (46,6%) serão obtidos via empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Estado pretende buscar outros empréstimos, no valor total de R$ 312 milhões (36,3%), e vai destinar R$ 147 milhões (17,1%) do orçamento deste ano para a reforma.

O deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), que faz oposição a Cabral na Alerj, afirmou que o valor do empréstimo deveria ser reduzido, a fim de cobrir apenas o acréscimo de preços autorizado pelo TCU.

"O governo quer tomar um empréstimo maior do que o necessário sem nenhuma transparência. Se a informação do custo final da obra estivesse correta, seria necessário reduzir o valor do crédito", avaliou o parlamentar. "É uma operação que vai levar o governo a se endividar mais do que deveria."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Marolinha que se ergueu do mar :: Roberto Freire

A Chamada de “marolinha” pelo ex-presidente Lula, a crise financeira deflagrada em setembro de 2008, nos Estados Unidos, que rapidamente e de forma persistente alcançou todo o sistema econômico global, está muito longe de ser superada.

À época enfrentada com o surrado populismo fiscal que incentivou o crédito fácil para o consumo de forma irresponsável e a redução de IPI para alguns setores produtivos, vendeu a fantasiosa ideia de que o país passaria ao largo da crise que arrastava as economias dos países centrais para uma recessão longa e profunda.

Contra todos os avisos e críticas dos mais variados economistas, enveredamos por um perigoso caminho, o do consumo subsidiado pelo Estado, quando deveríamos ter empregado toda a energia possível no sentido de efetivar reformas fundamentais que dariam um lastro seguro para um desenvolvimento sustentado, como a reforma tributária, previdenciária e trabalhista.

Sem falar nos necessários investimentos em infraestrutura que fossem capazes de diminuir o custo Brasil, tornando nossos produtos, sobretudo os manufaturados, competitivos no mercado mundial.

Como nada disso foi feito, sentimos agora o agravamento da crise transformada em alta da inflação, descontrole cambial com risco de uma maxidesvalorização, forte regressão de nosso parque industrial, maior endividamento do Estado e uma precarização das políticas públicas do governo, como o demonstra à farta a situação da educação, da saúde e segurança do povo brasileiro.

Pagamos, não apenas o preço do descaso para com as necessárias reformas do Estado que se exige há muito, mas da incompetência gerencial de um governo que loteou as agências reguladoras com seus arranjos de ocasião, a estrutura do Estado aos partidos aliados, sem nenhum critério que levasse o interesse público em devida conta.

Com o aprofundamento da crise, esgotados os artifícios da mágica do populismo e tendo o Estado presa de interesses clientelísticos e patrimonialistas, fica a sociedade jogada à própria sorte.

O resultado é uma inflação perigosamente crescente, um preocupante nível de endividamento das famílias e o aumento da inadimplência, solapando sua capacidade de consumo, em um momento que os empregos começam a escassear, uma paralisia da indústria incapaz de vencer os custos de produção e enfrentar a concorrência internacional.

Vivemos um governo precocemente envelhecido, incapaz de articular políticas sólidas de desenvolvimento econômico e social de longo prazo, ou materializar os planos que herdou, simplesmente porque a atual estrutura do Estado é incapaz de responder com a necessária presteza aos desafios postos pela atual conjuntura.

O que pareceu para os desavisados uma marolinha transformou-se em uma onda que se ergueu do mar ameaçando as conquistas tão duramente conseguidas de uma moeda estável e inflação controlada, colocando à prova a capacidade de um governo que até agora apenas reage às circunstâncias, falta de capacidade técnica e planejamento, busca a zona de conforto de políticas protecionistas ao invés do desafio da inovação.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

Geleia eleitoral:: Merval Pereira

O encontro do ex-presidente Lula com representantes de alguns partidos da base aliada, tendo o vice-presidente Michel Temer como principal interlocutor do PMDB, gerou alguma ciumeira entre partidos que não foram convidados - PP, PR e PTB, a direita da coalizão governamental. E também deixou no ar uma proposta de misturar o voto em lista fechada defendido pelo PT e o "distritão" que o PMDB quer, tudo para viabilizar o financiamento público de campanha, que parece ser o grande objetivo de Lula na sua pregação pela reforma política.

Por trás desse empenho do ex-presidente, há uma estratégia eleitoral, pois o PT é o partido que mais recebe votação em legenda, mas também uma manobra política.

Às vésperas do julgamento do mensalão, interessa ao PT estabelecer que todos os problemas que ocorrem nas eleições devem-se ao atual sistema de financiamento eleitoral, que levaria os partidos a usarem o caixa dois, que é no que o ex-presidente quer transformar o mensalão.

A princípio, a estratégia não está dando certo, pois em recente debate sobre o tema dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) - Gilmar Mendes e Dias Toffoli - demonstraram receio de que o financiamento público exclusivo, esse sim, leve os candidatos ao financiamento paralelo ilegal.

A proposta do projeto do deputado petista Henrique Fontana, de aceitar também o financiamento privado, mas para um fundo, que seria distribuído igualmente por todos os partidos de acordo com as bancadas eleitas na eleição anterior, não agrada aos partidos de maneira geral.

Primeiro porque alegam que os financiadores privados não gostarão de não saber que candidatos estão ajudando, e depois a distribuição dessa verba beneficiaria o PT e o PMDB, que têm hoje as maiores bancadas, e ajudaria a congelar as representações no Congresso, beneficiando sempre os maiores partidos.

O ministro Gilmar Mendes lembrou ainda que já existe um financiamento público, através do fundo partidário e do horário de propaganda na televisão e no rádio.

Essa proposta de um sistema misto de eleição, com metade sendo eleita pela lista fechada, e metade na eleição majoritária nos "distritões", tem uma complementação na proposta do deputado Alfredo Sirkis, remanescente do grupo da ex-senadora Marina Silva no Partido Verde.

Pela "emenda Sirkis", metade dos deputados federais e estaduais seria escolhida pela lista fechada, com base num cociente partidário ponderando a média entre os votos dados à legenda e os atribuídos aos candidatos dos partidos nas grandes zonas eleitorais.

A outra metade seria eleita nos grandes distritos eleitorais em eleição majoritária, eleitos os mais votados, sem contagem de sobras.

Nesses grandes distritos, o número de candidatos apresentados por cada partido seria inferior em um ao número de cadeiras em disputa.

Os partidos poderiam, a seu critério, apresentar um número de candidatos inferior a esse, e Sirkis acredita que provavelmente o farão.

Os candidatos aos grandes distritos seriam eleitos em primárias ou convenções, usando os mesmos sistemas propostos pelo relatório Fontana para as listas.

O financiamento das eleições nos grandes distritos seria exclusivamente público, com 70% dos recursos distribuídos igualmente entre os candidatos, podendo haver uma margem de negociação para um sistema misto de financiamento.

Seriam criados dois tipos de grandes distritos eleitorais: os estaduais e os municipais.

Os estaduais serviriam para eleger metade dos deputados federais e estaduais; e os municipais, metade dos vereadores.

O desenho territorial desses distritos seria feito nos estados e nos municípios sob a responsabilidade da Justiça Eleitoral, com concurso do IBGE, buscando a maior proporcionalidade possível entre eleitores e cadeiras nos distritos. Nos municípios com menos de cem mil eleitores, a zona seria o município.

O deputado Alfredo Sirkis vê as seguintes vantagens em sua proposta:

a) Introduz um componente de regionalização que aproxima um pouco mais os eleitos da população, barateia custos de campanha e facilita o acompanhamento dos mandatos pelos eleitores. Esse ponto favoreceria o apoio dos parlamentares favoráveis ao voto distrital.

b) Mantém o sistema proporcional na medida em que o voto dado nos grandes distritos continua contando para a eleição proporcional, evitando, assim, a emenda constitucional.

Esse sistema limitaria o alcance e o poder de transferência dos "fenômenos" eleitorais, pois seus votos, embora contando para o cociente partidário, são limitados ao eleitorado da respectiva zona.

Pelo malabarismo que cada grupo está fazendo, é previsível que mais uma vez a reforma política não chegará a bom termo.

Mas o deputado Miro Teixeira pretende simplificar a discussão, levando diretamente ao interessado a questão.

Ele apresentou um projeto de decreto legislativo para que se realize um plebiscito para saber como o povo quer escolher seu representante, "pois qualquer projeto fica sob suspeita de facilitar a eleição dos políticos que o apresentam".

Miro acha que o plebiscito é um constrangimento para os que defendem voto em lista e financiamento público, que já foram rejeitados anteriormente pela reação negativa da opinião pública, que levou à não aprovação do voto em lista fechada.

O plebiscito colocaria em discussão com o público todas as formas eleitorais que estão em debate e mais a opção de não mudar nada.

Quem é que disse que o povo quer mudar?, indaga Miro.

Se for porque o Lula quer, então ele que vá defender seu projeto no plebiscito, desafia o deputado do PDT, que se oferece para um debate público com Lula para criticar o voto em lista e o financiamento público.

FONTE: O GLOBO

Sem punho de rendas :: Eliane Cantanhêde

Dilma capitalizou bem o "fato histórico" de ser a primeira mulher a abrir a Assembleia-Geral da ONU, mas falou de "homem para homem", como se dizia no século passado, ao se contrapor a Barack Obama. Ou melhor, contrapor o Brasil aos EUA e, por tabela, aos países ricos. Senão, vejamos.

Ela enfatizou que há violações dos direitos humanos "em todos os países, sem exceção", citando inclusive a pena capital. Pois os EUA são useiros e vezeiros em usar os foros internacionais nessa área para espezinhar adversários, mas têm pena de morte e o fantasma de Guantánamo.

Também lembrou "as dolorosas consequências de intervenções que agravaram os conflitos". O Iraque está aí para contar essa história.

E foi incisiva e muito aplaudida ao defender o Estado palestino, dizer que o Brasil já o apoia nas bases de 1967 e ressaltar que a maioria dos membros da ONU tem a mesma posição. Obama, logo em seguida, ficou falando sozinho numa posição oposta.

O recado mais direto foi na economia, mas Dilma, aí, não mirou só os EUA. Sobrou para todo lado. Ao se dispensar de elencar os culpados pela crise internacional, já que está "suficientemente claro" quem são, ela disparou que não podem querer decidir o que fazer. "Todos têm o direito de participar das soluções."

O golpe final: nos EUA, 14 milhões de desempregados; na Europa, 44 milhões (para a Comissão Europeia, metade disso). Já o Brasil vive "praticamente um ambiente de pleno emprego".

Ao bater na tecla da cadeira permanente no Conselho de Segurança, Dilma disse que o Brasil "está pronto a assumir suas responsabilidades". Mas, cá pra nós, ficou claro que, tivesse chegado lá, estaria dando uma seca-pimenteira na maior potência planetária para acabar com a prática de voto único. Se, por acaso, os EUA analisavam com carinho a reivindicação, devem ter mudado de ideia.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A saúde dos impostos :: Fernando de Barros e Silva

Nos estratos mais ricos da sociedade, que costumamos confundir com a classe média, é difícil encontrar quem não levan te a voz contra os impostos -extorsivos, como se gosta de dizer. De fato, a nossa carga tributária, em torno de 35% do PIB, além de alta, é atípica para países pobres como o Brasil.

É uma taxa equiparável à de nações como Reino Unido, Alemanha ou Portugal, nas quais os serviços públicos são incomparavelmente melhores. Mas os países da OCDE (com renda e IDH bastante elevados) destinam, em média, 6,5% do PIB à saúde. Nós destinamos apenas 3,6%.

A carga brasileira é pesada, mas o dinheiro que chega à saúde é insuficiente. Quem não precisa encarar as filas e os horrores do sistema público tende a se incomodar apenas com os excessos da tributação.

Há agora uma grita geral contra a criação da CSS, a Contribuição Social para a Saúde. Entre impostos, contribuições e taxas federais, seria o 64º tributo do país. Mas a questão assim está mal posta. Como lembrou Gustavo Patu, nesta mesma página, entidades empresariais contrárias à contribuição não abrem mão das taxações destinadas às confederações da indústria e do comércio.

Os que pregam que a tragédia social se resolve apenas combatendo a corrupção e os desperdícios do Estado são tão demagogos quanto aqueles para quem isso não tem importância. Num país tão desigual, é preciso desmistificar quem paga o que em benefício de quem.

Com os impostos indiretos embutidos no que consome, o pobre destina proporcionalmente mais que o rico ao Estado. Os impostos por aqui são regressivos.

Taxamos muito o consumo (ninguém percebe o que paga), mas a tributação da renda e do patrimônio é baixíssima para os padrões internacionais. Os ricos reclamam da voracidade do Estado. Enquanto isso, ser pobre e ficar doente no Brasil segue sendo um péssimo negócio

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O cálculo político do risco:: Maria Cristina Fernandes

"Permitam-me dizer". A presidente Dilma Rousseff pedia licença aos seus ouvintes na assembleia anual das Nações Unidas para a contundência da afirmação que se seguiria: os líderes dos países desenvolvidos ainda não encontraram uma solução para a crise "por falta de recursos políticos e clareza de ideias".

Dias antes, num seminário de militantes de esquerda em São Paulo, um dos economistas mais influentes que orbitam o Palácio do Planalto, em linguagem que julgou mais afeita à plateia, e sem aposto, fez mais ou menos a mesma provocação: "O mundo é governado por idiotas".

À Assembleia da ONU Dilma se disse portadora de uma clarividência - a de que a crise financeira exige uma coordenação política dos instrumentos fiscais e monetários -, mas reconheceu que a aposta que fez no Brasil tem limites se a governança mundial não aprofundar a regulamentação do sistema financeiro. Ou, como diria seu amigo economista, se os ricos não deixarem de fazer idiotices.

Dilma tenta legitimar mandato que ainda é creditado a Lula

O discurso de Dilma, mais do que momento simbólico de sua investidura na Presidência, revela a aposta de altíssimo risco que a presidente fez ao impor mudanças aos rumos das políticas fiscal e monetária.

Se bem-sucedida, a política iniciada com vistas a tirar o país da condição de imbatível campeão mundial dos juros altos, só guarda relação em impacto para a economia brasileira com o Plano Real.

A estabilidade da moeda apoiou-se nos juros, na abertura da economia e no controle dos gastos públicos para combater a inflação. À crescente autonomia do Banco Central para perseguir a meta de inflação seguiu-se o esvaziamento, na mesma medida, do raio de ação de partidos, governadores, industriais, sindicalistas.

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva deu-se sob o pacto de que uma renda mais bem distribuída não colocaria em risco a centralidade da meta de inflação. Com um mandato sob ameaça pelo mensalão, Lula afrouxou os nós da política e começou a dar mais gás ao crescimento e à geração de emprego. Como tinha facilidade em açambarcar sua audiência, manteve os ruídos sob controle. Veio a crise de 2008, e a política de redução de juros que havia sido posta em curso foi revertida.

Ao tentar mudar o paradigma da economia brasileira e realizar aquilo o que Lula não foi capaz, Dilma tenta legitimar um mandato cuja conquista é creditada na conta de seu antecessor.

Lula parece sincero nas reiteradas afirmações de que deseja a reeleição de sua sucessora. Nenhum presidente saiu do governo de maneira tão consagradora. A história pode até não se repetir como farsa, mas até Lula teria dificuldade em se superar.

O problema é que os aliados governistas legados por Lula não se cansam de demonstrar sua autonomia em relação à eleição de 2014. Não bastassem os saudosistas do lulismo que tomam conta do PT, do PMDB e adjacências, a população quando consultada (pesquisa do Instituto Análise no Valor de 20/9) também é, por folgada maioria, favorável a que o ex-presidente tome o lugar de Dilma na disputa.

A sucessão está, sim, longe demais para prognósticos tão definitivos. Mas os saudosistas têm a seu favor a mística de Lula que o tempo custa a apagar. É a expectativa de poder que alimenta a política. E Lula é uma reserva garantida para essas expectativas.

Dilma só será páreo para o mito se seu governo for capaz de liberar para investimentos maciços na grande chaga social brasileira - educação e saúde - os recursos hoje canalizados para o serviço da dívida. Não por acaso se costuma considerar como as grandes armadilhas de seu governo a emenda que fixa os percentuais mínimos de gastos na saúde e a política nacional que eleva as despesas com educação, ambas em tramitação no Congresso.

Há muitos adversários com quem ainda resta combinar para que a aposta de alto risco de Dilma dê certo. A volatilidade cambial que tomou conta do mercado é apenas a evidência mais imediata de que além de "idiotas", o mundo é governado por interesses. Ao demonstrar que o Banco Central é independente do mercado, sinaliza-se que o compromisso da atual política monetária com o crescimento pode ter uma rentabilidade menos imediata para o capital especulativo que vinha sendo atraído para o país.

Por outro lado, apostas do governo como a política industrial não têm tido apoio suficiente para contrabalancear o equilíbrio do poder. A opção deste governo pelo fortalecimento da indústria nacional se traduz numa cesta que soma BNDES, os incentivos do "Brasil Maior" e um Plano Plurianual que assume a meta de internacionalizar 30 empresas manufatureiras. Aposta-se que a política industria é o eixo para o fortalecimento do mercado interno e do desenvolvimento tecnológico de uma maneira ainda mais aguda do que já vinha ocorrendo no governo Lula.

São opções que distanciam Dilma do que foi o governo Fernando Henrique. Parece paradoxal que busque se aproximar politicamente do ex-presidente tucano. Mas não o faz apenas porque reconheça seu papel na história. Para a mudança de paradigma que realizou na economia, Fernando Henrique montou uma coalizão política que foi rearranjada, sob o comando do PT, pelo governo lulista.

Para dar conta do risco que resolveu tomar, Dilma terá que dar conta de todas as frentes que abriu: a valorização do salário mínimo, a ampliação dos programas sociais e a vasta gama de incentivos fiscais.

Precisará rearranjar também a base política que a elegeu, incorporando setores da sociedade que votaram no PSDB. Um câmbio apreciado e medidas como a elevação do IPI para carros com baixo índice de nacionalização podem vir a lhe custar o apoio de parte da classe média tucana e daquela que ascendeu no governo Lula e que, por isso, votou em sua candidata.

Numa passagem do discurso que escreveu para a história, a presidente diz que coragem, em português, é uma palavra feminina. É dela que precisará para enfrentar a guerra, outra palavra feminina, que decidiu travar sem que esteja claro, no momento, quem são seus aliados - vocábulo masculino.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Ministra do TSE aceita criação de partido de Kassab

Alvo de denúncias de irregularidades, PSD corre contra o tempo para disputar as eleições municipais de 2012

Relatora diz que sigla apresentou documentos exigidos e que fraudes devem ser investigadas na Justiça comum

Felipe Seligman

BRASÍLIA - A ministra do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Nancy Andrighi votou ontem a favor da criação do PSD (Partido Social Democrático), legenda criada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

Até a conclusão desta edição, os demais ministros do tribunal ainda julgavam o pedido de registro do novo partido político.

O PSD tem até o dia 7 de outubro para ser oficialmente constituído e poder participar das eleições municipais.

A ministra, que é relatora do caso, entendeu que o partido entregou toda a documentação necessária. O processo foi alvo de diversas acusações de fraudes.

Segundo ela, o PSD conseguiu comprovar que obteve o registro de diretórios regionais em 16 TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) e que colheu 514,9 mil assinaturas de eleitores em apoio à sua criação da sigla - a lei exige 492 mil assinaturas.

Em longo voto, Andrighi afirmou que analisou todas as listas de assinaturas e desconsiderou cerca de 25 mil delas, por irregularidades.

Mesmo assim, o partido ultrapassou o número necessário, que equivale a 0,5% dos votos válidos obtidos nas eleições para deputado federal no pleito anterior (2010).

O processo de criação da nova sigla ocorreu sobre fortes suspeitas de fraude na coleta dessas assinaturas, entre elas uso da máquina da prefeitura e fraude na coleta de assinaturas -algumas de pessoas mortas.

A ministra afirmou que irregularidades devem ser questionadas na Justiça Comum, e não na Eleitoral. Antes de seu voto, a vice-procuradora-geral Eleitoral, Sandra Cureau, reafirmou a necessidade de diligências para apurar suspeitas, pedido negado pela relatora.

A criação do PSD foi criticada pelo DEM (ex-partido de Kassab) durante o julgamento. Segundo o advogado Fabrício Medeiros não houve tempo hábil para o PSD cumprir as exigências formais.

Para ele, é preciso de mais tempo para investigar denúncias de fraude na coleta de assinaturas. "Houve pressa para obter o registro. O partido foi criado em abril e, em cinco meses, é impossível obter o registro", disse.

A defesa do PSD também foi apresentada durante o julgamento. O partido nega as fraudes. O advogado Admar Gonzaga, que fez a defesa da nova sigla, argumentou que o partido já obteve a aprovação em 18 TREs.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Fora do PV, Marina fica sem palanque nas capitais

Sem partido, ex-senadora não tem candidato a prefeito em SP, Rio e BH

"Marineiros" temem que possível sumiço nas disputas municipais prejudique campanha presidencial em 2014

Bernardo Mello Franco

SÃO PAULO - Apesar dos 19,6 milhões de votos que recebeu na corrida presidencial de 2010, a ex-senadora Marina Silva (sem partido) corre forte risco de submergir nas eleições municipais do ano que vem.

Dois meses depois de sair do PV, ela não tem perspectiva de lançar candidatos de seu grupo político nas quatro maiores capitais que vão às urnas para eleger prefeitos: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador.

A possível ausência de palanques e da propaganda de rádio e TV preocupa os "marineiros". Reservadamente, alguns já admitem que a perda de visibilidade pode prejudicar o plano de concorrer de novo ao Planalto em 2014.

O impasse ganhou tom de urgência entre aliados que deixaram o PV com Marina e querem ser candidatos, mas estão sem partido. Eles têm apenas duas semanas -até o dia 7- para encontrar abrigo.

É o caso de Ricardo Young, pré-candidato a prefeito de São Paulo, onde a verde recebeu mais de 1 milhão de votos à Presidência. O empresário flertou com o PPS, mas foi avisado de que o partido deve lançar Soninha Francine, que teve 11% de intenções de voto, segundo o Datafolha.

"Está difícil. Não vou me filiar se não tiver a garantia de que serei o cabeça de chapa", diz Young, que descarta a alternativa de embarcar numa legenda nanica, como o PHS.

Em Belo Horizonte, onde Marina alcançou quase 40% dos votos e bateu Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), o plano de lançar o ex-deputado José Fernando Aparecido também deve fracassar.

Sem partido, ele diz que ainda avalia convites de siglas pequenas, mas não disfarça o pessimismo.

"É necessário que a Marina tenha o máximo de palanques no Brasil todo, especialmente nas capitais. O contraponto ao governo Dilma não será o Aécio, será ela", diz.

DESISTÊNCIA NO RIO

No Rio, onde Marina ficou em segundo lugar em 2010, o ex-deputado Fernando Gabeira ficou no PV e avisou que não será candidato a prefeito -no máximo, a vereador.

"Seria uma eleição muito difícil. Mais que a última, quando fui para o sacrifício para montar o palanque dela no Rio", afirma ele, referindo-se à derrota ao governo.

Em Salvador, o candidato natural do grupo seria o ex-deputado Luiz Bassuma, mas ele se filiou ao PMDB e tentará vaga na Câmara Municipal.

"No Brasil, campanha eleitoral é monopólio dos partidos políticos. É o preço de ter saído do PV", lamenta o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), que permanece fiel a Marina, mas ficou na legenda para preservar o mandato.

A ex-senadora diz não estar ansiosa e promete "não forçar a barra" para lançar aliados. Se ficar isolada na campanha, investirá em outros recursos para tentar manter visibilidade política, como a militância ambiental na internet.

Os "marineiros" querem fundar um novo partido, mas o plano, que depende de dinheiro e articulação nacional, só deve começar a sair do papel a partir de 2013.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

BC muda estratégia mas não impede alta do dólar

Moeda subiu mais de 5%, e Dilma diz que governo esta pronto para agir

Diante da disparada do dólar ontem, o Banco Central foi obrigado a mudar sua forma de atuação e voltou a vender a moeda americana no mercado futuro, o que não acontecia desde junho de 2009. Quando o dólar comercial subiu 5,25% no dia, o BC decidiu vender US$ 2,7 bilhões a investidores, fazendo a moeda recuar 1,29%. Mas a trégua durou pouco e logo as cotações voltaram a subir, terminando o dia a R$ 1,895, com alta de 1,61%. No mês, a valorização já chega a 18,96%. As bolsas despencaram em todo o mundo, com o agravamento da crise mundial. Na Bovespa, a queda foi de 4,83% e nenhuma ação do índice principal subiu. A presidente Dilma Rousseff disse, em Nova York, que o governo está pronto para agir no câmbio.

Banco Central contra-ataca

Dólar avança até 5%. Após leilão do BC, moeda chega a recuar, mas fecha em alta de 1,61%, a R$1,895

Vinicius Neder, Gabriela Valente, Vivian Oswald e Geralda Doca

Em mais um dia de nervosismo, com as bolsas de valores registrando fortes perdas no mundo e o dólar chegando a subir 5,25% durante os negócios, o Banco Central (BC) foi obrigado intervir no mercado de câmbio ontem para evitar uma alta estrondosa da moeda. Depois do leilão do BC no mercado futuro, a cotação no câmbio comercial à vista chegou a cair 1,29%, mas acabou fechando com valorização de 1,61%, a R$1,895, maior nível desde 1º de setembro de 2009. Desde junho de 2009 o BC não vendia dólar no mercado futuro. Em cinco pregões consecutivos, a moeda americana acumula avanço de 10,88%. No mês, a alta acumulada é de 18,96% e, no ano, de 13,74%. O dólar turismo subiu 3,10%, para R$1,99 no Rio, mas, em alguns bancos e casas de câmbio, passou de R$2. No Bradesco, por exemplo, a moeda fechou o dia vendida a R$2,01.

O BC fez leilão de contratos de swap cambial, o que não ocorria desde 26 de junho de 2009. Nesses contratos, que equivalem a uma venda de dólar no mercado futuro, o BC paga ao investidor a variação da moeda americana e recebe uma taxa de juros. A autoridade monetária ofereceu US$5,6 bilhões, mas apenas a metade foi vendida. Agentes do mercado acreditam que o preço do BC não agradou aos investidores. Segundo cálculos de operadores, a cotação dos contratos do BC ficou em torno de R$1,90.

- O Banco Central vai continuar atuando no mercado futuro de dólar enquanto entender que as condições de liquidez não atingiram os patamares considerados adequados por nós - disse o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes.

Segundo um técnico, a equipe econômica está monitorando a escalada do dólar e avalia que o momento é de "exagerada volatilidade". Por isso, o trabalho agora é do BC, de reduzir a instabilidade e a ação de especuladores. Medidas mais concretas, como o recuo na cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no mercado de derivativos, estariam descartadas até que haja um cenário mais claro ou uma deterioração ainda maior, devido à aversão ao risco.

- O governo batalhou para elevar o dólar e, agora, tem que ser prudente. Mexer no IOF seria inconsistência - disse uma fonte.

Para analista, atuação ajuda a acalmar pânico

Em 27 de julho, um dia após o dólar chegar ao menor valor desde 1999, o governo estabeleceu que o investidor que apostar na queda do dólar no mercado futuro (o que, no jargão do mercado, é chamado de posição vendida) mais de US$10 milhões acima das apostas na alta (posição comprada) paga 1% de IOF. Segundo analistas, a medida tirou liquidez do segmento, que tem forte influência na formação da cotação do dólar comercial à vista.

- O problema atual do câmbio é pontual no mercado futuro. Fundos estrangeiros têm forçado o mercado para reverter suas apostas na queda do dólar e alta dos juros - diz o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, referindo-se às posições dos investidores externos na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).

No fim de julho, as apostas dos estrangeiros na queda do dólar superavam as projeções de alta em US$20 bilhões (incluindo contratos de dólar futuro e cupom cambial). Anteontem, a diferença já havia caído para US$7 bilhões.

Por trás desse movimento, estão também os grandes bancos, que estão assumindo parte dos contratos de venda dos estrangeiros, mas cobrando alto preço por isso.

A volta dos leilões de venda no mercado futuro se soma à decisão de anteontem, de não rolar US$2 bilhões em contratos de swap cambial reverso (equivalentes a uma compra de dólar no futuro). Segundo especialistas, a guinada na estratégia da autoridade monetária, que até a semana passada atuava comprando dólares no mercado à vista, demonstra que o patamar de R$1,95 pode ser considerado alto demais.

- Hoje (ontem), o mercado entrou em pânico, e a ação do BC ajuda a limitar o movimento especulativo - confirma Alfredo Barbutti, economista da corretora BGC/Liquidez.

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o Brasil está mais preparado para reagir. Por esta razão, admite oscilações como as de 2008, quando o dólar bateu o pico de R$2,50:

- Mas vai e volta. O que mudou na economia brasileira de forma estrutural nos últimos 45 dias? Nada.

FONTE: O GLOBO

Uma nova tempestade:: Luiz Carlos Mendonça de Barros

O BC tenta abrir buracos nas paredes para evitar que o câmbio leve a inflação para mais de 7% ao ano

Uma tempestade vinda de fora atingiu fortemente a economia brasileira nesta semana. Um pessimismo crescente com a crise política e econômica na Europa transformou-se em pânico com o aumento do risco de que a Itália também se junte ao grupo de países perto de uma moratória. Se isso realmente acontecer, uma catástrofe financeira -e não mais uma crise- vai atingir o mundo nos próximos meses.

Segundo alguns analistas, os efeitos que se seguirão vão fazer o período 2009/2010 parecer tempos de normalidade e bonança econômica. Nesse novo cenário, o mundo emergente, que até então vinha sendo considerado pelos investidores internacionais um refúgio seguro para seus investimentos, seria afetado de forma importante e entraria também em recessão. Até meados de agosto, países como Brasil, México, Austrália e muitos outros estavam recebendo expressivos volumes de recursos para serem investidos em suas economias. Citei recentemente, como exemplo desse movimento, a compra de parcela importante do capital da cervejaria Schincariol por um grupo japonês do mesmo ramo.

Dizia que tinha escolhido esse particular investimento como exemplo por três razões: o valor do investimento (US$ 2 bilhões), o fato de a empresa ter enorme questão legal com o fisco brasileiro e, principalmente, por ser o investidor uma tradicional empresa japonesa, considerada pelos especialistas uma das mais conservadoras do mundo.

Por isso, quando a crise europeia virou tempestade do tipo 5, o mundo róseo dos emergentes desabou. Os investidores -como sempre acontece nesses momentos desde que os florentinos inventaram os bancos- tentaram sair correndo ao mesmo tempo e voltar para o refugio do dólar, ainda a moeda mais confiável que existe.

Mas a porta de saída do mundo emergente é muito mais estreita do que a do mundo desenvolvido e esse movimento descontrolado -chamado no linguajar do mercado de desalavancagem- provocou subitamente uma das mais brutais correções de preço que já vi em meus 44 anos de mercado financeiro.

O pânico no Brasil foi muito maior do que na maioria dos emergentes, principalmente no mercado de câmbio, por culpa do governo Dilma. Poucos dias antes dessa mudança de ares, o ministro da Fazenda tinha criado um imposto na compra de dólares no mercado futuro da BM&FBovespa.

Segundo ele, havia um movimento especulativo que estava valorizando o real e prejudicando a indústria brasileira. Contra a maioria das opiniões de especialistas, ele decidiu levar sua proposta adiante. Ora, no momento de pânico que estamos vivendo, esse imposto funcionou como uma restrição importante nos negócios com o real, pois pune os que, sabendo que esse movimento de pânico em algum momento vai passar, poderiam estar comprando reais e amortecendo sua queda.

A imagem que me vem à mente para descrever o que está ocorrendo é a de um acidente recente em uma boate no México, quando centenas de pessoas morreram porque as saídas de emergência estavam fechadas. Nessa situação, todos os que estavam na boate tiveram de sair por uma única porta de entrada, e o resultado foi um desastre.

No caso do mercado de câmbio no Brasil, as portas de emergência, para situações como a que estamos vivendo, estavam fechadas na BM&FBovespa. A tranca colocada pelo governo -o IOF na compra de dólares futuros- funcionou a contento se o objetivo do governo era provocar uma correção vigorosa do real. Mas, como o câmbio é um preço fundamental na dinâmica da inflação brasileira -afeta 50% dos preços ao consumidor-, a correção brusca dos últimos dias ameaça inviabilizar a política de redução de juros do governo.

Por isso, no momento em que escrevo esta coluna, equipes de bombeiros do BC estão tentando abrir buracos nas paredes para evitar que o câmbio leve a inflação brasileira para mais de 7% ao ano. Como o mercado da BM&FBovespa hoje está do lado dos especuladores por não haver vendedores, o BC está vendendo mais de US$ 5 bilhões em derivativos cambiais. Uma trapalhada de mais de metro...

Luiz Carlos Mendonça de Barros, 68, engenheiro e economista. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Solavancos no câmbio:: Celso Ming

O governo Dilma vai trombando com os casuísmos e a inconsistência de sua política de câmbio.

Há poucas semanas, fez movimentos esdrúxulos destinados a estancar o mergulho do dólar (valorização do real). Uma dessas decisões foi impor um IOF de até 6% sobre as posições vendidas no mercado futuro. De lá para cá, ninguém mais assumiu posições vendidas para não morrer com esse imposto. Ou seja, o mercado de hedge (proteção) foi esvaziado.

Agora, a situação cambial virou. Bancos, empresas e instituições entenderam que precisam se proteger da crise com compras de moeda estrangeira. Só que não há mais quem venda no mercado futuro, por causa do IOF e da desativação relativa do mercado de hedge.

As cotações dispararam. Saltaram 19,8% em apenas 15 dias úteis. E nesta quinta-feira o Banco Central acionou o primeiro leilão de swap de câmbio desde junho de 2009, para tentar conter a alta.

À parte essas inconsistências já deu para ver que o governo Dilma (e já não se fala em protagonismo do Banco Central) não quer nem cotações abaixo de R$ 1,50 por dólar e começa a se incomodar quando saltam para acima de R$ 1,90. São limites (piso e teto) ainda pouco claros.

Com essa disparada, novos problemas apareceram. O mais sério deles é o impacto inflacionário acionado pelo câmbio.

O que provavelmente não foi considerado pela equipe econômica (incluídos aí os dirigentes do Banco Central) quando começou a puxar para cima as cotações é a enorme transformação do sistema produtivo nos últimos três ou quatro anos. As empresas brasileiras se tornaram muito dependentes de suprimento externo de matérias-primas, insumos, conjuntos, componentes, peças, máquinas e capital de giro. A dívida externa do setor privado saltou, em cinco anos, de US$ 103,3 bilhões para US$ 232,3 bilhões.

Não só montadoras se abastecem mais de autopeças importadas. O setor têxtil usa fibras, fios e tecidos do exterior em maior número. A construção civil incorporou materiais de acabamento trazidos do exterior. A indústria de máquinas depende de eletrônica embarcada e subconjuntos importados. A indústria eletrônica importa a maioria dos seus chips e circuitos. E toda a agricultura precisa de fornecimento externo de fertilizantes, defensivos e boa parte de máquinas agrícolas.

Em outras palavras, essa esticada das cotações do câmbio provoca uma alavancada nos custos de todo o setor produtivo, não só da indústria. Até agora não se sabe o impacto inflacionário (pass through) disso diante do novo quadro de interdependência global. Em todo o caso, os mesmos setores que pediam mais câmbio já reclamam da forte alta dos custos.

Se a desvalorização do real persistir, logo chegará o momento em que o Banco Central será convocado para iniciar a revenda de dólares das reservas. E tem a política de juros. A aposta do Banco Central é de que a crise externa leva à desinflação da economia, a começar pela queda dos preços das commodities alimentares. E isso pode não acontecer. Ao contrário, a alta do dólar no câmbio interno vem puxando para cima os preços do trigo e demais cereais. O que implicará duro teste para a atual estratégia de expansão monetária (baixa dos juros) do Banco Central.

Aí está a trajetória do desemprego no Brasil que, em agosto, ficou em 6,0%, mesmo índice de julho. Esse número revela que o mercado de trabalho continua aquecido. É fator que contribui para que o nível de demanda da economia se mantenha acima da oferta da produção nacional.

Algo vai quebrar. Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), avisou: "Os mercados temem que algo vai quebrar". A pergunta de 1 milhão de dólares: que bancos correm o risco de afundar com a quebra da Grécia?

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O custo do salto:: Míriam Leitão

A alta do dólar não estava no radar de nenhum banco ou consultoria. Não nesta rapidez. O Banco Central alertou que isso poderia acontecer e tomou medidas preventivas para evitar o excesso de endividamento em dólar. As empresas estão analisando o custo nos seus balanços; os bancos e consultorias estão elevando as projeções de inflação para este ano e o próximo.

Não era a alta do dólar que tanta gente pedia? Era sim: os ministros da Fazenda, do Desenvolvimento, as entidades empresariais, os exportadores, os produtores locais. Todos diziam que o dólar baixo demais causava distorções, desindustrialização e déficit em transações correntes. Mas a alta brusca causa distúrbios e ontem o BC teve que entrar no mercado para derrubar o câmbio que bateu no pico em R$1,96 e fechou em R$1,89.

O impacto da alta do dólar acontece em cadeia. Sobe o preço dos importados e dos produtos feitos no Brasil que têm grande quantidade de materiais, componentes e insumos importados. Matérias-primas como metais, petróleo e alimentos sobem porque são cotadas em dólar, seja quando o Brasil é o importador, como trigo, seja quando é exportador, como soja e café. As cotações das commodities caíram 10,5% nos últimos dias, mas a queda do real foi de 19,7%. A alta do petróleo em reais afeta uma sucessão de produtos como detergentes, embalagens, passagens aéreas.

A Petrobras há muito tempo não corrige o preço da gasolina que fornece às distribuidoras, mas sobe os preços dos outros derivados como óleo combustível, querosene de aviação, nafta. Quando o dólar estava caindo, a Petrobras subia o preço dos derivados, mas descontava a queda do dólar. Agora com a alta da moeda americana haverá uma onda de elevação dos preços de derivados, apesar de o petróleo ter caído no mercado externo. A queda do barril foi menor do que a alta do dólar até agora. Ficará mais caro para a Petrobras continuar adiando a correção dos preços da gasolina e óleo diesel. Pelos cálculos do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), se o dólar se estabilizar em R$1,78 a defasagem do preço da gasolina será de 19,2% e do diesel, 18,6%, em relação aos preços internacionais.

Os preços cobrados pela Itaipu de seus clientes são corrigidos pelo dólar. A moeda americana mais cara afeta os custos industriais e as contas residenciais em grande parte do Sudeste, que depende da energia da empresa binacional.

A dívida externa das empresas e do governo ficou bruscamente mais cara, mas como só será liquidada no vencimento o aumento atual é apenas contábil. O problema é que isso afetará os lucros das empresas que têm dívidas em dólar.

O Banco Central atuou preventivamente para evitar a repetição das posições alavancadas em moeda estrangeira, que quebraram algumas grandes empresas brasileiras quando houve a crise de 2008. Elas tiveram enormes prejuízos porque haviam apostado no mercado futuro que o dólar continuaria baixo e, com a quebra do Lehman Brothers, a moeda deu um salto. O custo das "chamadas de margem", isto é, pagamento antecipado de uma parte da garantia dos contratos, ficou muito alto. Elas tiveram que ser socorridas pelo BNDES. Não se espera que isso aconteça agora, porque o BC tem monitorado essas posições e limitado esse tipo de operação.

Quando a crise externa se agrava, há uma corrida natural para o dólar, mesmo quando o epicentro do terremoto é nos Estados Unidos, como foi em 2008. Neste momento, o medo é de que o muito provável calote da Grécia afete outros países. Ontem, o seguro para a dívida italiana subiu fortemente. Os bancos que têm muitos títulos das dívidas dos países mais encrencados da Europa estão com ações em queda e sendo rebaixados pelas agências de risco. Todos estes sinais são de que o mercado espera um agravamento da crise na Zona do Euro.

Num ambiente assim, o refúgio é o dólar. A situação se inverteu dramaticamente. A moeda que perdia valor em relação a todas as moedas do mundo agora se valoriza. Isso detona uma compra antecipada de quem tem obrigações em dólar, o que realimenta o processo.

A volatilidade do dólar afeta a economia mais do que a alta em si. Se houvesse uma desvalorização lenta do real, as empresas teriam tempo de contratar produtores locais, o que ajudaria a economia interna. Mas um salto de 20% em 15 dias pega empresas e pessoas no contrapé. Quem programou uma viagem no dólar a R$1,60, fez gastos no cartão de crédito nesse valor, está agora diante do fato de que sua viagem ficou subitamente mais cara do que o orçamento feito anteriormente. É o movimento brusco que prejudica.

O Banco Central está equipado para enfrentar a turbulência. Tem o cinto de segurança de US$150 bilhões a mais de reservas do que tinha na crise de 2008. Adotou nestes três anos medidas prudenciais para evitar o excesso de exposição ao câmbio. Mesmo assim, as empresas se endividaram em dólar porque a tentação de captar numa moeda que perdia valor em relação ao real a juros quase zero foi grande demais.

Para quem não é empresário, nem tem dívida em dólar, o problema será enfrentar a inflação que será impactada se a moeda americana ficar em patamar mais alto.

FONTE: O GLOBO