terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Blogueira cubana oficializa apelo ao Brasil e põe Dilma em saia-justa

Cuba: blogueira faz pedido oficial a Dilma

Yoani Sánchez entregou carta na Embaixada do Brasil em Havana para visitar o país; ela já tentou sair da ilha 20 vezes

Chico de Gois, Pedro Armestre/AFP, Desmond Boylan/Reuters

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff, embora repita que não se envolve em assuntos internos dos países, sente-se apertar por uma saia-justa criada pela situação política em Cuba, onde chega no dia 30 para reuniões com o presidente Raúl Castro. Ontem, a blogueira Yoani Sánchez, uma das mais conhecidas vozes dissidentes na ilha, disse, no Twitter, que entregou uma carta na embaixada brasileira em Havana com o pedido formal para que Dilma interceda a seu favor e ela possa viajar ao Brasil.

No início do mês, Yoani havia postado um vídeo na internet pedindo o auxílio de Dilma para participar da exibição do documentário "Conexão Cuba-Honduras" na Bahia, em fevereiro. O filme, dirigido pelo cineasta Dado Galvão, tem como tema a liberdade de imprensa em Cuba e no Brasil e inclui uma entrevista com a blogueira. Ela já havia tentado deixar o país em outras 20 ocasiões.

- Dilma já viveu isso na pele. Temos esperança de que seja sensível - disse Galvão, que organiza um protesto digital, em que as fotos de cada perfil nas redes sociais seriam trocadas pela de Dilma sob interrogatório em 1970.

Até então, o Itamaraty dizia que não se manifestaria a respeito porque nenhum pedido formal havia sido protocolado. "Desde sexta-feira, 20 de janeiro, entreguei na Embaixada do Brasil em Havana a carta a Dilma Rousseff. Agora espero resposta", disse Yoani no Twitter.

O Itamaraty confirmou a entrega do pedido, mas não informou o que Dilma fará. O governo agora será pressionado a se manifestar publicamente sobre o tema. Ainda não se sabe se a presidente tratará de direitos humanos na visita, mas o Itamaraty disse que o chanceler Antonio Patriota abordou o assunto quando esteve na ilha, na semana passada, para acertar a visita presidencial. Patriota se reuniu com o chanceler Bruno Rodríguez, e eles conversaram sobre o assunto no âmbito de discussões no Conselho de Direitos Humanos em Genebra.

Na época, o dissidente Wilman Villar Mendoza já agonizava. Após sua morte, outros dissidentes disseram que gostariam de se reunir com Dilma, mas não há nenhuma manifestação favorável por parte do Brasil.

O "Granma", jornal oficial do regime, em editorial de ontem, chamou Mendoza de preso comum e disse que há interesses de outros em explorar o caso.

Em fevereiro de 2010, quando Lula visitava Cuba, morreu o preso político Orlando Zapata Tamayo depois de 85 dias de greve de fome. Na ocasião, Lula lamentou a morte e, pouco tempo depois, acabou criando um mal-estar ao comparar presos políticos a criminosos comuns.

País libertou três "prisioneiros de consciência"

A Anistia Internacional disse que três cubanos considerados "prisioneiros de consciência" foram libertados na sexta-feira: Ivone Malleza, Ignacio Martinez e Isabel Haydee. A Anistia estava prestes a conceder esse status a Villar, pouco antes de sua morte.

Para o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, o embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, se Dilma tratar de direitos humanos ou de casos como o de Yoani, o fará em caráter reservado, nas reuniões com Raúl Castro.

- O tratamento público do assunto pelos meios de comunicação pode não ser o mais eficaz. Ela pode preferir uma abordagem junto às autoridades - disse ele.

Para Williams Gonçalves, professor de Relações Internacionais da UERJ, Dilma deve se concentrar em uma agenda de desenvolvimento da economia.

- Lula destoou da nossa história diplomática em 2010. Dilma deve respeitar a não interferência em assuntos internos.

Para Alexandre Hecker, professor de História Contemporânea da Universidade Mackenzie, é mais factível uma ação em órgãos como o Conselho de Direitos Humanos ou a Assembleia Geral da ONU, para que Cuba tenha uma postura mais tolerante.

- Ela não vai dar apoio às Damas de Branco - resume.

Colaboraram Janaina Lage e Silvia Amorim

FONTE: O GLOBO

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