quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Aliança entre PSD e PSB ameaça eleição de Henrique Alves a presidente da Câmara

Caio Junqueira

BRASÍLIA - A aliança do PSD com o PSB na Câmara dos Deputados é hoje o principal fator de instabilidade para a eleição do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), a presidente da Casa em 2013. A composição é parte do projeto do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, de tomar espaço dos pemedebistas na esfera nacional para viabilizar seu partido como aliado preferencial da presidente Dilma Rousseff na eleição presidencial de 2014 - Campos ambiciona ser vice de Dilma ou, se ela não for candidata, candidato à Presidência.

Esse desenho de Campos passa tanto pelo Executivo quanto pelo Legislativo. No Ministério da Integração Nacional, comandado pelo PSB, isso já começou a ser feito. O aliado de Alves no ministério, Elias Fernandes, ex-presidente do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), foi exonerado sem muito esforço do ministro Fernando Bezerra Coelho para mantê-lo no cargo.

Mantendo esse processo, Bezerra promete agora ampliar as mudanças entre outros órgãos, como a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Não por acaso, redutos tradicionais do PMDB. O presidente da Sudene é Paulo Sérgio Fontana, ligado ao vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima. A Codevasf vinha sendo presidida interinamente pelo irmão de Bezerra Coelho. Em janeiro, assumiu outro interino, Guilherme Almeida Gonçalves, ligado ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL) - possível candidato a presidente do Senado.

Mas é no Congresso Nacional que a estratégia de Campos tem ganhado força. Isso porque, ali, a interferência do Palácio do Planalto na definição de um presidente é muito mais suscetível a percalços do que a definição de um nome do segundo escalão na Esplanada. Se houver maioria no plenário em torno de um nome para a presidir a Casa, ele é eleito. Fora dali, basta Dilma impor o nome que quiser.

Diante disso, PSD e PSB retomaram as conversas sobre a formação de um bloco parlamentar que, com 86 deputados, superaria todas as demais legendas e criaria condições para trabalhar um nome dentre seus quadros para 2013. "Existe uma conversa sobre esse bloco mais forte e existe a possibilidade real de uma candidatura à Mesa em 2013. Não vou dizer que está fechado, mas pelo relacionamento construído com o PSB é plenamente possível", afirmou o líder do PSD na Câmara, Guilherme Campos (SP).

Nessa linha, o candidato seria do PSB. "Até como um reconhecimento pelo que o [presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco] Eduardo Campos tem feito conosco." Ele cita como melhor exemplo disso o fato de Campos ter dissolvido o diretório do PSB em Santa Catarina e entregado-o ao governador do Estado, Raimundo Colombo, um dos que migraram do DEM para o PSD. Em troca, o PSB garante ao aliado tempo de rádio e televisão nas eleições municipais do Estado neste ano.

Para se consolidar, a candidatura a presidente da Câmara oriunda dos dois partidos conta com a crescente insatisfação da base com o governo. É comum ouvir de integrantes de todos os partidos aliados que aguarda-se a hora certa de "dar o troco" no governo pelo tratamento dispensado pelo Palácio do Planalto a eles neste primeiro ano de governo Dilma. Essa, dizem, seria uma oportunidade, pois ao mesmo tempo desestabilizaria a aliança das duas principais legendas e criaria as condições de Campos se colocar como vice de Dilma em 2014. Ou, quem sabe, como cabeça de chapa.

Ocorre que uma operação para barrar isso já está em curso. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), pensa até mesmo em criar duas comissões a partir do desmembramento de uma das 20 existentes na Câmara. Algo que o próprio PSD não concorda. "Queremos apenas que se faça valer a nova proporcionalidade, que consiste em cair por terra tudo o que foi acordado no começo do ano passado. É preciso reconhecer que o surgimento do PSD mudou toda a correlação interna de forças", disse o líder Guilherme Campos (PSD-SP). Por respeito à proporcionalidade ele quer dizer número de funcionários, espaço físico e presidência de comissões de acordo com o tamanho da sua bancada, de 52 deputados, a quarta maior da Câmara.

Ele garante, porém, não haver correlação entre essas concessões e a eleição da Mesa em 2013. "Na hora da escolha do presidente em 2013 vai ser outra briga, se o PSD vai poder ou não participar da distribuição dos cargos da Mesa. Mas vamos por partes. Cada coisa de uma vez."

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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