domingo, 5 de fevereiro de 2012

O ritmo das remadas:: Celso Ming

Quando ainda era apenas professor da Universidade de Princeton, o especialista em Política Monetária Ben Bernanke afirmou, em entrevista agora sempre relembrada, que um banco central tem de agir como patrão de barco a remo numa competição: deve cantar o ritmo das remadas e indicar o rumo para garantir eficiência máxima dos remadores e da embarcação.

A instituição do regime de metas de inflação anunciada por Bernanke na semana passada foi mais um passo importante do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) na direção da tal eficiência máxima.

O comunicado divulgado logo após a reunião do Comitê de Política Monetária (Fomc, na sigla em inglês) de terça-feira avisou que o Fed passaria a perseguir a meta de inflação de 2,0% ao ano. A novidade não é propriamente a meta em si, mas a oficialização de uma meta já conhecida informalmente.

Na medida em que o patrão do barco, com a credibilidade que lhe é imputada, canta em voz alta o ritmo de uma inflação de 2,0% ao ano, formata-se a expectativa dos fazedores de preços à medida que acionam seus negócios. Em termos mais técnicos, expectativas de inflação ficam "ancoradas" também em 2,0% e toda a economia passa a trabalhar em sintonia com o Fed. Sempre que ousasse remarcar seus preços em níveis mais altos, o homem de negócios correria o risco de ser punido com o encalhe de sua mercadoria. Em contrapartida, esvaem-se também temores de que sobrevenha deflação (queda constante de preços), igualmente desastrosa para a economia, porque afugentaria investimentos e provocaria transferência de capitais.

O efeito da ancoragem não morre aí. Desdobra-se em duas outras consequências: (1) os juros praticados na economia acabam sendo proporcionais aos praticados pelo banco central; e (2) a atividade econômica tende a funcionar com o nível máximo de eficiência.

E aí está a mais importante sutileza teórica subjacente à execução do regime de metas pelo Fed, tal como apontada por Bernanke.

Diferentemente de outros bancos centrais, o Fed cumpre mandato duplo imposto em lei. Não só tem de atacar a inflação, mas trabalhar para garantir o melhor nível de emprego, nas circunstâncias.

O que Bernanke está dizendo é que o cumprimento do regime de metas de inflação por um banco central de grande nível de credibilidade e, ao mesmo tempo, transparente, tende a garantir o máximo de eficiência de uma economia e, portanto, assegurar o máximo de empregos.

O anúncio do Fed da semana passada corrói antiga pretensão de certos economistas brasileiros que defendem para o Banco Central do Brasil o mesmo regime duplo do Fed. A proposta desses especialistas é de que, em vez de cuidar somente de enquadrar a inflação no centro da meta, a política monetária tratasse de estimular o crescimento econômico e o nível de emprego.

O que Bernanke acaba de dizer é que o que conta mesmo é uma firme ancoragem das expectativas dos administradores do setor produtivo à meta de inflação. O crescimento econômico e a criação de empregos dentro do potencial da economia são mera consequência.

CONFIRA

O gráfico mostra um dos efeitos esperados pelo Banco Central Europeu com sua operação de crédito de longo prazo (três anos) para os bancos: a queda dos juros cobrados pelo mercado para absorver títulos de dívida soberana na área do euro.

Procura ainda maior. No dia 29 haverá a segunda operação do tipo. Dessa vez, analistas esperam o dobro da demanda dos bancos: nada menos que 1 trilhão de euros.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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