quarta-feira, 21 de março de 2012

Dilma chama empresários para cobrar investimentos

Em busca de uma agenda positiva, Dilma Rousseff fará amanhã reunião com 27 grandes empresários em que cobrará mais investimentos para acelerar o ritmo de crescimento do país. O encontro acontece num momento em que o Planalto enfrenta uma turbulência política, após trocar os líderes do governo na Câmara e no Senado, desagradando principalmente ao PMDB.

Dilma convoca elite do PIB para cobrar investimentos

Presidente tenta mudar agenda do governo em meio a turbulência política

Grupos privados, que se queixam de falta de interlocução com o Planalto, pararam de investir no fim do ano

Valdo Cruz, Flávia Foreque

BRASÍLIA - Numa tentativa de mudar o foco do governo para uma agenda positiva, a presidente Dilma Rousseff faz amanhã uma reunião com um grupo de 27 grandes empresários e banqueiros do país para cobrar mais investimentos no setor produtivo.

A reunião foi convocada num momento em que o Palácio do Planalto enfrenta uma fase de turbulência política em suas relações com o Congresso e o principal partido da base aliada, o PMDB.

Segundo assessores, Dilma quer mostrar que a crise política não imobilizou sua administração e que sua prioridade continua ser fazer a economia crescer pelo menos 4% em 2012, depois de um crescimento de apenas 2,7% no primeiro ano de sua gestão.

Dilma vai pedir aos participantes do encontro que invistam mais para acelerar o ritmo de crescimento.

Segundo o IBGE, os investimentos ficaram praticamente estagnados no segundo semestre do ano passado.

A intenção da presidente, disse um assessor, é despertar o "espírito animal" dos empresários, expressão que o ex-ministro Delfim Netto, conselheiro de Dilma, costuma usar para salientar a influência que as expectativas criadas pelo Planalto têm nas decisões dos investidores.

A relação dos 27 pesos-pesados da economia chamados pelo governo é encabeçada pelo empresário Jorge Gerdau, do setor siderúrgico, que assessora a presidente na área de gestão e competitividade e ajudou-a a elaborar a lista.

Também foram convidados Lázaro Brandão (Bradesco), Roberto Setúbal (Itáu), Emílio e Marcelo Odebrecht, Sérgio Andrade (Andrade Gutierrez), Luiz Nascimento (Camargo Corrêa), Murilo Ferreira (Vale), José Roberto Ermírio de Moraes e Frederico Curado (Embraer).

Se os empresários repetirem em público o que dizem em conversas reservadas, Dilma ouvirá que a bola do jogo está nas mãos do governo, que teria que melhorar as condições da economia para que eles se sintam encorajados para voltar a investir.

Nos encontros com assessores presidenciais, a principal reclamação do setor é que o próprio governo incentiva a direcionar parte do caixa para aplicações financeiras ao não agir contra os elevados custos tributários e logísticos.

Empresários e banqueiros também têm se queixado de falta de interlocução com o Planalto. Eles argumentam que tinham canal mais aberto quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava no governo e afirmam que, depois da saída de Antonio Palocci da chefia da Casa Civil, perderam o principal interlocutor que tinham com a presidente Dilma.

Ontem, às vésperas do encontro, o governo rebateu publicamente um manifesto de associações da indústria publicado nos jornais com críticas aos seguidos cortes de verbas sofridos nos últimos anos por programas federais de incentivo à inovação tecnológica.

Irritada com o documento, que considera os cortes "incompatíveis com os recentes compromissos do governo", a presidente escalou dois ministros para responder aos empresários e cobrar deles mais investimentos no setor.

"As empresas precisam aprender a fazer melhor e mais barato, para que o Brasil tenha competitividade", disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. O ministro de Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp, afirmou que as empresas brasileiras "precisam ser mais protagonistas, investir mais".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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