domingo, 4 de março de 2012

Entrevista: Freire diz que Dilma não tem liderança para enfrentar rebelião da base

Freire: PT jogou fora suas bandeiras. Só restou a volúpia pelo poder

Por: Diógenes Botelho

Presidente do PPS alerta que aparelhamento do Estado pelo PT já preocupa até os aliados. “A Petrobras agora criou uma nova diretoria para nada, uma diretoria de ‘aspone’ para abrigar o ex-presidente do PT”.

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), é conhecido por não ter meias palavras. Desde 2004, quando o partido rompeu com o governo Lula, ele já avisava que o aparelhamento do Estado brasileiro promovido pelo PT levaria o país a uma situação insustentável e provocaria uma rebelião no meio político nacional. Nesta entrevista ao Portal do PPS, Freire analisa os crescentes escândalos de corrupção no governo de Dilma Rousseff e a insatisfação, considerada por ele tardia, na base governista.

“Esse aparelhamento é algo que começa a ser de impossível convivência, até mesmo para aqueles que admitiam ter migalhas desse aparelhamento, ou seja, essa base aliada que estava se dando por satisfeita com as sobras”, disse Freire.

Na avaliação do presidente do PPS, o manifesto do PMDB contra a gula do PT também é um sinal de alerta. “Esse protesto é um sinal de que a coisa pode estar fugindo do controle. Eu não sei se a presidente Dilma tem liderança para enfrentar e deter esse processo de esgarçamento da própria base de sustentação”, afirmou.

Freire critica ainda os casos de aparelhamento no Banco do Brasil e na Petrobras: “A Petrobras, agora, criou uma nova diretoria (Corporativa e de Serviços) para nada, uma diretoria de ‘aspone’. É apenas para ter um lugar para um ex-presidente do PT (José Dutra), que foi coordenador da campanha da Dilma”.

Na entrevista, Roberto Freire lembra também da rebelião do PSB na votação do Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público (Funpresp). “Em política nada acontece sem que seja uma sinalização futura. Pode até não se concretizar, mas o governo começa a sofrer um desgaste”, analisou.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Portal do PPS - Deputado Roberto Freire, essa gula do PT pelo poder, essa busca incansável por dinheiro público para abastecer esquemas de corrupção e caixas de campanha, vai levar o partido para onde?

Roberto Freire – Eu até não me preocuparia muito se só fosse o partido. O problema é que a legenda está levando junto o Brasil. O perigo é o aparelhamento de toda a estrutura do Estado, o que também não é nenhuma novidade. Só para lembrar, quando da ruptura do PPS com o governo Lula, lá em 2004, um dos elementos importantes desse processo de afastamento foi exatamente a crítica ao aparelhamento do Estado. Eu diria que isso teve mais força do que o próprio processo de corrupção, que ainda era embrionário. O que tinha ocorrido naquela oportunidade era o caso Waldomiro Diniz (que pedia propina na Loterj para abastecer a campanha do PT), que agora foi condenado. Ainda bem que se fez justiça, embora tardia. Mas só havia o escândalo do Waldomiro. O mensalão ainda não tinha explodido. Não era esse o tom da nossa discordância que motivou a ruptura. Era a crítica à política econômica do governo Lula e ao mesmo tempo o aparelhamento do Estado. A novidade é que esse aparelhamento é algo que começa a ser de impossível convivência, até mesmo para aqueles que admitiam ter migalhas desse aparelhamento, ou seja, essa base aliada que estava se dando por satisfeita com as sobras. Migalhas, como o Ministério da Pesca, para quem não sabe sequer botar minhoca em anzol. Este é o caso do pastor de almas (senador Marcelo Crivella), que agora vai ser pescador não sei de quê. Então, eles (os partidos da base) estavam satisfeitos com essas sobras, mas o PMDB começa a gritar. Esse manifesto (do PMDB, que reclama que o partido é jogado para o escanteio pelo PT) é sinal de que a coisa pode estar fora do controle. Eu não sei se a presidente Dilma tem liderança capaz de enfrentar e deter esse processo de esgarçamento de sua base de sustentação.

Portal – Essa voracidade pelo poder foi crescendo ao mesmo tempo em que cresceu a corrupção no governo? Para citar um exemplo prático, hoje se chega ao ponto de, dentro do próprio PT, ter explodido uma briga pelo comando do Banco do Brasil, arranhando a imagem do principal banco oficial.

Freire – E a briga não é só no Banco do Brasil. Você vê isso na Petrobras e em todos os ministérios. Mas quando isso chega ao Banco do Brasil, começamos a ter - e não tenho dúvida que a sociedade vai reagir muito fortemente contra isso - um crime contra um banco que representa a nacionalidade. O Banco do Brasil tem uma força emblemática e, se você tocar nele, talvez seja até mais grave que tocar na Petrobras. E eles (do PT) tocaram. Agora, a Petrobras criou uma nova diretoria (Corporativa e de Serviços) para nada, uma diretoria de “aspone”. É apenas para ter um lugar para um ex-presidente do PT (José Dutra), que foi coordenador da campanha da Dilma. É total desfaçatez, o interesse público não vale coisa nenhuma. O que vale é o interesse do governo. E essa briga no Banco do Brasil está demonstrando isso aí. A briga com a Previ (Fundo de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil) é coisa de facções do PT. Os outros partidos da base estão olhando e percebendo o risco. O PT não vai admitir perder nada, nem Petrobras, nem Banco do Brasil, tampouco ministérios importantes. Importantes não do ponto de vista do interesse público, mas para a corrupção e a safadeza que, infelizmente, grassam no governo Lula/Dilma.

Portal - Isso também se reflete na Câmara dos Deputados, que é comandada pelo deputado Marco Maia, do PT? Nos últimos tempos, surgiram várias reclamações. Acham que ele quer agir sozinho, impondo pauta à Casa, atropelando até os partidos aliados.

Freire – Infelizmente, a Câmara também se transformou num órgão que sofre aparelhamento. Isso fica evidente em quase todos os setores da Casa. O lulo-petismo começa a ter uma predominância na própria administração da Câmara. Mas como essa é uma casa política, parece-me que esse processo não tem muito futuro, não. Mas a postura do PT no plenário começa a ser contestada. É bom lembrar à opinião pública que o governo sofreu uma grande contestação na votação do seu projeto do Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público (Funpresp). O PPS, na sua visão de reforma do Estado, apresentou um substitutivo muito mais avançado. E a nossa iniciativa teve orientações de voto favoráveis da parte de partidos da própria base de Dilma. Quando fomos votar o projeto, o governo teve defecções e dissidências de alguns partidos que até então eram muito fiéis ao Palácio do Planalto. O PSB é um deles, partido do governador de Pernambuco Eduardo Campos. Algum sinal? Olha, em política nada acontece sem que seja uma sinalização futura. Pode até não se concretizar, mas o governo começa a sofrer um desgaste. Talvez até por incompetência da Presidente da República, que não tem liderança alguma, e também por conta dessa volúpia com que o PT tenta aparelhar e usurpar tudo o que possa se tornar mecanismo para a corrupção e financiamento de campanha para partidos. Ou seja, o PT quer manter sob seu domínio todo o aparelho do Estado. Isso pode começar a gerar atritos com os aliados.

Portal – Por pressão de grupos religiosos, o PT tem recuado muito de posições que antes defendia, caso, por exemplo, da questão do aborto.

Freire – Incrível é que setores do PT, que defendiam posições bem mais avançadas do ponto de vista de concepção e visão de mundo, agora, estão com essa ideia de ganhar eleição a qualquer custo. Renderam-se ao voto fácil, de fazer concessões. E aí cria problema, como criou aqui (em São Paulo), por exemplo, o candidato a prefeito do “dedaço de Lula”, o Fernando Haddad. Numa postura até correta, ele propôs a discussão da educação sexual na escola. Algo correto, porém, mal conduzido. Os vídeos eram evidentemente malfeitos, mas na origem era uma posição correta. Agora, por pressão religiosa, eles recuaram totalmente. E recuam em tudo. Tem uma ministra (Eleonora Menicucci , da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres) que foi dizer que era a favor da descriminalização do aborto, não sei nem se ela teve essa prudência de dizer que era contra a descriminalização, porque ninguém é a favor do aborto. Podemos ser a favor de que não seja considerado crime, como nós do PPS. Mas a ministra foi com uma força tão grande a favor disso que teve que recuar. E recua todo mundo. O PT já jogou fora todas as suas bandeiras. Não é apenas aquela contra a privatização, a da ética lá atrás. Jogou fora tudo. Quer dizer, não tem mais nada, salvo a volúpia de manter o poder pelo poder.

FONTE: PORTAL DO PPS

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