quarta-feira, 21 de março de 2012

Líder sem tom conciliador

Senador Eduardo Braga ainda tem dificuldades no trato com os aliados e recebe "orientação" do vice-presidente

Paulo de Tarso Lyra

Uma semana após ter sido indicado como líder do governo no Senado, a avaliação na Casa é de que o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) ainda não encontrou o tom para debelar a insatisfação na base aliada. Nesse período, em pelo menos três momentos, Braga, segundo políticos experientes ouvidos pelo Correio, fez declarações incompatíveis com o cargo que ocupa: na quinta-feira, disse que "o governo só negociaria com o PR se o partido não radicalizasse"; também afirmou que a presidente "vai enfrentar velhas práticas políticas". Por fim, cobrou do senador Fernando Collor (PTB-AL) explicações sobre as comparações feitas por ele em relação ao comportamento da presidente Dilma Rousseff com o Congresso.

Uma raposa peemedebista lembra que o momento é de cautela e que atitudes como essa do novo líder governista não vão amenizar em nada o clima ruim que existe no Congresso. "Nós precisamos de um bombeiro com aquelas mangueiras potentes para apagar incêndios, não de alguém com mais disposição para jogar lenha nessa fogueira", disse um cacique do PMDB.

O senador teve novamente uma conversa com o vice-presidente Michel Temer, na última segunda-feira, depois da reunião de coordenação da presidente Dilma Rousseff com os líderes partidários para tratar dos assuntos em tramitação no Congresso. Temer repetiu o que dissera na semana anterior, em jantar realizado no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente. "Você é o líder de todos. É preciso buscar unificar o PMDB e os demais integrantes da base", alertou Temer.

Um dos integrantes do chamado grupo dos independentes, o senador Roberto Requião (PMDB-PR), acha que a presidente Dilma Rousseff errou ao substituir Romero Jucá (PMDB-RR) por causa da derrota na votação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). "Não foi culpa do Jucá. A derrota se deu pela incompetência de Bernardo Figueiredo", afirmou Requião.

É justamente nesse argumento que os aliados de Jucá se amparam para defendê-lo. "O Requião fez nove ou 10 discursos no plenário e isso acabou contaminando os demais. Além disso, era uma votação secreta. Dificilmente essa conjuntura se repetirá novamente", disse o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL).

Mágoas

Nos bastidores, os peemedebistas seguem remoendo as mágoas. No domingo, um grupo de caciques do partido reuniu-se na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Ontem, Braga teria, em tese, seu primeiro teste de fogo: a votação de uma medida provisória com recursos para a defesa civil. Foi aprovada, sem sustos. "O PMDB não vai votar contra o país e contra o governo. Pode até reclamar de atrasos nas emendas parlamentares, mas não interessa para o partido prejudicar a governabilidade. A relação de Temer com Dilma é ótima e não podemos atrapalhar isso", disse o pré-candidato do partido à prefeitura de São Paulo, deputado Gabriel Chalita.

Isso não quer dizer, no entanto, que os caciques do partido não estejam esperando um momento para explicitar suas insatisfações. "Ninguém vai passar recibo, são todos políticos experientes. Quanto mais demorar para o troco, melhor. Vingança é um prato que se come frio", disse um parlamentar nordestino. O Planalto poderá ganhar tempo, no entanto, porque, em tese, não há temas candentes no Congresso que possam prejudicar o Executivo. A votação da Fundação de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais (Funpresp) parece ser tranquila e, segundo analistas políticos, dificilmente algum parlamentar vai se vingar na Lei Geral da Copa, projeto que interessa aos governadores.

Um petista acostumado a conviver com crises políticas estranhou o clima silencioso pelos corredores do Senado ontem. "A atmosfera está muito morna depois de uma semana agitada como a que passou", avaliou.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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