sábado, 21 de abril de 2012

Acuada por CPI, Delta sai da reforma do Maracanã


No Ceará, empreiteira é acusada de pagar mensalão a diretores do Dnit

Alvo da CPI do Congresso e investida pela Polícia Federal sob suspeita de financiar parte do esquema criminoso do bicheiro Carlinhos Cachoeira, a Delta Construções vai sair do Consórcio Maracanã 2014, que reforma o estádio para a Copa do Mundo. A decisão foi da Andrade Gutierrez e da Odebrecht, integrantes do Consórcio. Elas devem comprar os 30% da Delta, que deixou de fazer repasses para a obra na última semana. O governo do Rio ainda não foi informado oficialmente da decisão. O Ministério Público Federal no Ceará acusa a Delta de pagar um mensalão a servidores e diretores do Dnit no estado. No Congresso, a CPI do Cachoeira teve a assinatura de 72 dos 81 senadores e 396 dos 513 deputados.

Delta sai do jogo

Alvo da CPI do Cachoeira, empreiteira fica sem crédito e deixa consórcio de obras do Maracanã

Maiá Menezes

TENTÁCULOS DA CONTRAVENÇÃO

Empreiteira número 1 do PAC e investigada na CPI que apura atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira, a Delta Construções vai sair do Consórcio Maracanã Rio 2014, que faz a reforma do estádio. A decisão foi tomada pela Andrade Gutierrez e pela Odebrecht, que integram o consórcio. Elas devem comprar a parte da Delta, que deixou, na última semana, de fazer aportes de recursos para a obra, e até 1 de maio deve sair do grupo. Citada no inquérito da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, a Delta recebeu do governo do estado do Rio, no ano passado, R$ 1,4 bilhão para todas as obras no estado. A empreiteira, que detém 30% do consórcio, não comentou a decisão. A Odebrecht tem 49% e a Andrade Gutierrez, 21%.

- Não tivemos comunicação oficial, mas parece que sim. Também ouvimos isso. Em tese, as construtoras que fazem parte do consórcio devem assumir o lugar da Delta - disse o chefe da Casa Civil do governo do estado, Regis Fitchner.

Metade das obras concluída

Anteontem, o consórcio afirmou que as obras do Maracanã estão próximas de 50% de conclusão. Em nota, as empresas informaram que já tinham finalizado a montagem das estruturas pré-fabricadas do primeiro módulo da arquibancada intermediária. Ainda este mês, estão previstos o início a instalação dos degraus da arquibancada no primeiro módulo para compor a arquibancada intermediária. A previsão é que, até o fim de julho, sejam dispostos todos os módulos e fechado o perímetro das arquibancadas. Atualmente, 5.200 trabalhadores estão atuando no canteiro de obras. O campo será palco de sete partidas da Copa do Mundo, incluindo a final no dia 13 de julho de 2014.

O prazo para a conclusão das obras do Maracanã é 28 de fevereiro de 2013, a tempo de receber jogos da Copa das Confederações. A Fifa quer que todas as arenas que receberão jogos do torneio (de 15 a 30 de junho do ano que vem) estejam prontas até fevereiro de 2013. Há um mês, a secretária estadual de Esporte e Lazer do Rio, Marcia Lins, disse que a entrega do estádio estava "mais do que garantida" para a data.

A reforma do Maracanã, iniciada em setembro de 2010, foi orçada em R$ 700 milhões. No entanto, em junho do ano passado, teve seu custo elevado para R$ 931 milhões, a partir do compromisso de construir a cobertura do estádio. Contudo, ele foi reduzido para R$ 859 milhões após o Tribunal de Contas da União identificar sobrepreço no orçamento.

Relatório do TCU de fevereiro do ano passado apontava "graves irregularidades" no processo de licitação para as obras do Maracanã. No documento, os auditores do TCU chegam a dizer que a planilha orçamentária da novo estádio "beirava a mera peça de ficção". Fechado desde setembro de 2010, o Maracanã teve o projeto de sua reforma orçado em R$ 705 milhões. Os R$ 305 milhões complementares ao empréstimo do BNDES virão dos recursos do tesouro estadual.

O projeto básico para a obra foi feito pela Emop. O consórcio venceu a licitação. Segundo o TCU, o projeto básico e o orçamento apresentados no edital de licitação abrem caminho para que a obra fique muito mais cara do que o previsto. No relatório, o ministro Valmir Campelo destaca que a planilha orçamentária indica 2.950 itens, alguns deles em repetição, numa clara indicação que trata-se de uma planilha "guarda-chuvas", prática que dá margem para diversas revisões contratuais e, portanto, com grande capacidade de ter inflado o seu custo final. Com cerca de 300 contratos no setor de construções em 23 estados do país e no Distrito Federal, a Delta cresceu 533% apenas no governo Sérgio Cabral (PMDB), no Rio, segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios (Siafem). Em 2007, a empresa teve empenhos de R$ 67,2 milhões, enquanto, em 2010, ano em que Cabral foi reeleito, o montante chegou a R$ 554,8 milhões, sendo R$ 127,3 milhões (22%) sem licitação.

Sem contar com os recursos investidos nas obras do Maracanã em que a Delta faz parte do consórcio, em 2011 a construtora recebeu do governo Cabral R$ 358,5 milhões, sendo R$ 72,7 milhões (20%) sem passar por concorrência pública, segundo o Siafem. Este ano, já são R$ 138,4 milhões empenhados. Os valores do Siafem não incluem, no entanto, as obras do Maracanã, onde a Delta faz parte do consórcio com outras empresas. O projeto foi orçado em R$ 859,9 milhões. Relatório do TCU apontou indícios de graves irregularidades no processo de licitação no estádio para a Copa do Mundo de 2014.

Ontem, o governo do estado apresentou os primeiros resultados de uma inspeção feita nos contratos da Delta. No primeiro mandato de Sérgio Cabral, foram pagos mais de R$ 1 bilhão à construtora. Mas o governo argumenta que os gastos são equivalentes aos da gestão anterior.

Colaborou Emanuel Alencar

FONTE: O GLOBO

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