segunda-feira, 23 de abril de 2012

CPI, classe média e más companhias:: Wilson Figueiredo


Ainda não é o fim, que pode estar longe, mas esta Comissão Parlamentar de Inquérito, tudo indica, tem o suficiente para  um bom começo. O resto depende apenas do que o governo e a oposição entendem por um bom começo para uma CPI. Governo e  oposição divergem no entendimento do que seja um bom começo para encerrar questão de vida para um e de morte para o outro. Trata-se de CPI para uma exuberante catarata. O fato é que, num país pobre de idéias e rico de vias (expressas e exclusivas) de enriquecimento, não se joga pela janela uma CPI gorda de imprevistos.

Em suma, como solução de emergência, CPI não pinga o ponto final num indeterminado período nacional,  mas pode perfeitamente ser o começo (que ficou faltando) de uma etapa compensatória, sempre adiada e já agora sem o viés de golpe. Uma reforma com inicial maiúscula, sempre engavetada, era oferecida como alternativa para propostas e soluções  por via radical que não passava de espuma retórica. Nada além de motor de arranque de oradores sedentos de quinze minutos de sucesso radical para fazer currículo.

A História tem o método, ou mesmo o hábito, tanto faz, de preferir as vias sinuosos, curvas inesperadas e efeitos especiais. A última oportunidade de reformas como opção nacional ocorreu com a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, sob a expectativa de que o Século 21 trazia com ele o reconhecimento de que as revoluções estavam arquivadas por tempo indeterminado. E assim o novo sentido de esquerda estava expresso na carta que Lula dirigiu aos brasileiros e, finalmente, ao se instalar no poder, reverenciou os valores da direita e não se falou mais em reformas nem de revolução.

Como diria  Gertrude Stein, uma CPI não é mais que uma CPI, uma CPI, outra CPI,  à qual o Brasil retorna, depois de várias voltas em torno do próprio umbigo constitucional. Duas daquelas a que recorremos, no passado mais remoto e na Nova República, inclusive em tentativas que se frustraram, com resultado e conseqüências em dose suficiente para evitar queixas.

 A primeira CPI, sob a Constituição de 1946, inverteu o curso político nacional. no segundo governo eleito depois da ditadura (Estado Novo). Começou como se nada quisesse proporcionar além do espetáculo parlamentar, com o objetivo de apurar privilégios bancários oficiais que fizeram do jornal Última Hora um sucesso político à sombra de Getúlio Vargas de volta ao poder cinco anos depois (com a agravante de ter sido pelo voto) e com as imprevisíveis conseqüências que proporcionou. A maior de todas, logo  adiante, a morte do presidente Vargas, que não estava entre as possibilidades admitidas previamente.

A outra CPI foi a que deu o toque wagneriano à mobilização social da mesma classe média e persuadiu o primeiro presidente eleito pelo voto direto, Fernando Collor de Melo, a deixar o governo  por um preço político menor. Bem depois, o mensalão, assim batizado por Lula, sobreviveu por falta de conclusão e continua por aí como a famosa mula sem cabeça com que o ex-presidente pretende amedrontar a oposição em fase minguante. As demais comissões parlamentares de inquérito não tiveram cotação política, nem expressão nacional.

A primeira CPI que renasce das cinzas quentes de um fictício parlamentarismo de coalizão, para dizer o mínimo, introduziu um componente político a ser considerado com outros olhos: a participação pessoal de Lula na função de insuflador do jogo perigoso, como atesta o espetáculo de corrupção em cartaz.   

Uma CPI é uma CPI, não mais do que o título genérico enuncia, e as conseqüências que se pagam para ver. Afinal, a História não passa de um jogo de cartas de que se ocupam deuses do Olimpo, no tédio da eternidade.

FONTE: JORNAL DO BRASIL

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