segunda-feira, 23 de abril de 2012

Polos magnéticos:: Melchiades Filho


O desejo de retomar protagonismo no jogo político explica o empenho de Lula na instalação da CPI do Cachoeira. Não se trata apenas de "fígado", "sede de vingança" ou "sangue nos olhos".

Foi por determinação de Lula que a direção do PT exortou a militância a cobrar investigações sobre os negócios do contraventor e sua ligação com líderes da oposição. Partiu do ex-presidente, também, a ordem para o partido fechar apoio à CPI.

Há a intenção declarada de empastelar o mensalão -denunciar os crimes da gangue de Cachoeira como o "maior esquema de corrupção da história", para diminuir o impacto do julgamento do principal escândalo da era Lula. Mas não é só isso.

O sucesso de Dilma Rousseff em boa medida se deveu ao esmaecimento da herança lulista -da "faxina" que extirpou ministros remanescentes à guinada da política monetária, da degola de líderes no Congresso às mexidas na Petrobras.

A CPI interrompe a desconstrução. Emancipa Lula do papel secundário de cabo eleitoral de candidatos a prefeito, devolvendo-o a Brasília.

É sintomático que o ex-presidente faça articulações pró-CPI no hospital em que se recupera do câncer e cuide para entregar a relatoria da comissão ao PT paulista. Para ele, é ótimo que a teia de Cachoeira seja multipartidária: mais legendas terão de entrar na fila do beija-mão.

Em princípio, a CPI não interessa a Dilma. Ela planejava resgatar a "gerentona" -esquecida no primeiro ano e fazer um 2012 de realizações. O caso Cachoeira, contudo, monopolizará o noticiário. Em vez de discutir a queda de juros ou os novos projetos para a ciência, a imprensa se ocupará de fraudes e propinas.

Mas Dilma tem dois alentos. O brasileiro, a despeito de tanta confusão, ou por causa disso, gosta da presidente. E talvez não seja ruim ela ter como contraponto, na política, logo o padrinho e confidente. De um lado é PT, do outro também.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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