segunda-feira, 9 de abril de 2012

Criação do bloco PR-PTB é resposta de Renan a articulações do Planalto

Raquel Ulhôa

BRASÍLIA - A formação do bloco parlamentar entre PR e PTB no Senado, sem conhecimento prévio do líder do governo, Eduardo Braga (PMDB-AM), mostra que o grupo do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), responsável pela articulação, busca fora do partido os meios para se fortalecer no Senado e na relação com o Palácio do Planalto. A intenção é continuar dando sinais de força.

O grupo quer, por exemplo, mais poder na análise das medidas provisórias, que, a partir de agora, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), terão de passar por uma comissão especial antes de ir a plenário. A ideia é olhar "com lupa" cada texto. "A ação será sutil, no jogo da política", resume um integrante. "O governo vai ter vida fácil. Basta explicar direitinho."

O bloco PR-PTB, batizado de "União e Força", é de apoio ao governo. Foi apresentado à presidente Dilma Rousseff pelos líderes dos dois partidos, Blairo Maggi (MT) e Gim Argello (DF), respectivamente, como solução para o retorno do PR à base de sustentação governista no Senado, da qual havia se afastado cerca de um mês antes, um dia após Braga substituir Romero Jucá (PMDB-RR) na liderança do governo. Jucá é do grupo de Renan.

Braga havia tentado, em vão, negociar a volta do PR à base. Ficou surpreso quando soube da formação do bloco, já com o fato consumado. Senadores o viram irritar-se com Argello, reclamando do fato de ter sido excluído do entendimento. O petebista é um dos senadores mais próximos de Renan, Jucá e José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado.

Braga foi aconselhado por um senador do PT - partido que mais tem lhe ajudado na liderança - a "não passar recibo". Publicamente, elogiou a iniciativa. "Renan é general com exército, assim como Argello, Walter Pinheiro (BA) [líder do PT] e Alvaro Dias (PR) [líder do PSDB]. Eduardo Braga tem que convencer que tem exército", diz um aliado de Renan.

"Vamos trabalhar para a liderança dele [Braga] dar certo. Não nos interessa nem tropeço nem problemas com a liderança dele", diz o líder do PT, Walter Pinheiro (BA).

O anúncio da ida do PR para a oposição foi feito por Maggi, em protesto pela recusa da presidente em devolver o comando do Ministério dos Transportes ao partido. Desde o rompimento, nada mudou em relação à participação do PR no governo, mas Maggi alega que o bloco fortalecerá a atuação parlamentar do partido.

Com 12 senadores inicialmente (metade de cada sigla) - querendo chegar a 15 (atraindo os dois do PSD e um do PSC) -, o bloco quer relatorias e maior participação em comissões. Como quarto bloco (o terceiro da base do governo), o bloco espera ter direito de indicar o relator de uma a cada quatro MPs, segundo Argello.

O Senado tinha três blocos parlamentares: o da Maioria, com 26 senadores (PMDB, PP, PV e PSC), o de Apoio ao Governo, com 25 (PT, PDT, PSB, PC do B e PRB), e o da Minoria, com 14 (PSDB e DEM). Antes de se unirem, PR e PTB atuavam de forma isolada, como PSD (dois) e PSOL (um). Nessa conta, falta Demóstenes Torres (GO), que deixou o DEM por causa das denúncias de envolvimento com esquema de exploração ilegal de jogos de azar em Goiás e está sem partido.

Na avaliação de governistas, a formação de mais um bloco de apoio ao Planalto cria um terceiro canal de interlocução com o governo, com 12 senadores. Argello foi escolhido líder. Segundo um observador da articulação, "o que Renan fazia para o PTB, agora Gim fará de moto próprio". A expectativa de governistas é que o bloco signifique novo foco de pressão sobre o governo.

A troca de Jucá por Braga contrariou o grupo de Renan, que, no entanto, reagiu sem queixas, prometendo continuar ajudando o governo. Foi assim com o projeto da previdência complementar do servidor público (Funpresp), por exemplo. E tem sido assim na votação das medidas provisórias. Na gestão de Braga, o governo ainda não teve derrota na Casa. Mas as propostas não enfrentavam resistências.

O próximo projeto de interesse do governo é o da Lei da Copa, que vai tramitar em três comissões - Constituição e Justiça (CCJ), Assuntos Econômicos (CAE) e Educação (CE). O governo queria um único relator, como ocorreu no Funpresp. Não conseguiu. Agora, quer evitar que os relatores, Ana Amélia (PP-RS), Francisco Dornelles (PP-RJ) e Vital do Rêgo (PMDB-PB), alterem o texto.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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