quarta-feira, 11 de abril de 2012

Oposição é agora alvo da ira mal resolvida do PT durante mensalão

Clima de "vendetta" ocorre porque petistas consideraram injusto tratamento durante escândalo no governo Lula

Como a teia de negócios de cachoeira não é conhecida, é impossível prever que a CPI só atingirá a oposição

Fernando Rodrigues

BRASÍLIA - Em meados de 1992, o então coordenador político do governo federal, Jorge Bornhausen, foi indagado sobre sua opinião a respeito da CPI do Collorgate. "Essa CPI não vai dar em nada", respondeu.

No final daquele ano, o então presidente Fernando Collor -hoje senador pelo PTB de Alagoas- acabou perdendo o mandato depois de um rumoroso processo de impeachment.

No caso da CPI que investigará os negócios de Carlinhos Cachoeira e as traficâncias de políticos de vários partidos com o mundo da contravenção, o governo também está dizendo que nada afetará o Palácio do Planalto. Mas essa é uma afirmação que não pode ser feita de maneira científica.

Quando Bornhausen falou sobre a CPI do Collorgate, estava também tentando fazer o trabalho de esfriamento do clima político.

Até porque, como se ouve há décadas em Brasília, CPIs a gente sempre sabe como começam, mas nunca como terminam.

O que é possível enxergar no caso da "CPI do Cachoeira" é um desejo irrefreável de parte majoritária do PT e de partidos lulistas agregados. Todos consideram a apuração uma chance de ir à forra contra o que restou da oposição.

O clima de "vendetta" ainda existe por causa do tratamento que os petistas e seus aliados mensaleiros consideraram injusto no processo do mensalão -o mais grave caso de corrupção durante o governo Lula e que destruiu a carreira de vários políticos.

Integrantes do PSDB e do DEM são alvo da ira mal resolvida dos petistas.

Também é comum ouvir no Congresso que deve ser convocado para depor o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, responsável pela apresentação da denúncia do mensalão.

Por fim, os governistas vislumbram a possibilidade de usar a "CPI do Cachoeira" para constranger jornalistas que usaram as informações do empresário na apuração de reportagens.

Como a teia de negócios de Cachoeira ainda está longe de ser conhecida, é impossível prever que a CPI prestes a ser instalada será pródiga em encontrar provas só contra políticos da oposição.

Mas os petistas não parecem considerar haver risco real e estão entusiasmados com a investigação.

O clima é de descontrole. O Palácio do Planalto também dá indicação de estar contaminado pela onda.

Como política não é uma ciência exata, a falta de estratégia definida provoca ainda mais incertezas a respeito do desfecho dessa CPI.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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