segunda-feira, 16 de abril de 2012

Oposição quer ouvir Dirceu na CPI do Cachoeira

Estratégia é insistir na vinculação do ex-ministro da Casa Civil com Waldomiro Diniz, que era seu assessor à época

Denise Madueño

BRASÍLIA - Os partidos de oposição preparam uma estratégia para levar o "mensalão" de volta à cena com a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as ligações políticas do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Entre os primeiros requerimentos à CPI, a oposição pretende pedir a convocação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) e de seu assessor à época, Waldomiro Diniz.

Em um vídeo divulgado em 2004, Diniz aparece pedindo propina a Cachoeira em troca de facilidades em contrato do consórcio representado pelo empresário com a Loteria do Rio de Janeiro. A gravação da conversa foi em 2002, quando Diniz presidia a Loterj. Essa ligação Cachoeira-Diniz será usada como elo para uma eventual convocação de Dirceu.

Os aliados da presidente Dilma Rousseff formam ampla maioria na CPI e terão o controle dos trabalhos, mas a oposição vai insistir no desgaste político do governo. O requerimento de criação da CPI mista, com deputados e senadores, deverá ser protocolado amanhã, quando estará concluída a fase de recolhimento das assinaturas - mínimo de 171 na Câmara e de 27 no Senado.

Setores da base da presidente criticam o empenho do PT em ajudar na criação da comissão e acabar levando os demais partidos aliados a reboque.

No PMDB, há um entendimento de que a base defenderá o governo, mas não terá a mesma disposição para se aliar às intenções do PT de apurar o suposto envolvimento de setor da mídia com escutas telefônicas, por exemplo.

Objetivos distintos. O PT, por sua vez, pretende usar a CPI justamente para desviar o foco do mensalão, com votação prevista para esse ano no Supremo Tribunal Federal (STF), se possível desqualificando os acusadores do partido no escândalo que atingiu o primeiro mandato do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

"É uma CPI com diferentes objetivos. Cada partido tem o seu", avaliou um parlamentar aliado. Na oposição, a CPI poderá atingir o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo.
Em contrapartida, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), será alvo de ataques da oposição.

O líder do DEM na Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), tem repetido que o partido está pronto para o ataque.

O DEM teve uma importante baixa com a Operação Monte Carlo da Polícia Federal e teria interesse em igualar o jogo. O senador Demóstenes Torres (GO), acusado de envolvimento direto com o esquema de Cachoeira, deixou o partido e responde a processo de cassação por falta de decoro no exercício do mandato.

Com tantos interesses distintos, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) suspeita da real intenção dos partidos em apurar a relações dos políticos com Cachoeira.

"Estou começando a achar que PT e PSDB estão fazendo um acordo: você não investiga isso que eu não investigo aquilo", afirmou o senador.

O PSOL, com três deputados e um senador, tenta ampliar o número de integrantes da CPI - fixado em 15 deputados e 15 senadores - para conseguir uma vaga na comissão. A composição é feita de acordo com o tamanho das bancadas partidárias e o PSOL ficou de fora.

Colaborou Ricardo Brito

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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