segunda-feira, 16 de abril de 2012

PT e PSDB de mãos dadas em outubro

Lula mandou, o PT obedeceu

Encontro de delegados confirma a aliança com PSB pela reeleição de Marcio Lacerda em BH, sem vetar a presença do PSDB, como o ex-presidente orientou. Nome de vice sai no dia 29

Alessandra Mello e Isabella Souto

O PT seguiu a orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da direção nacional do partido. Por 291 votos a favor, 196 contra e três nulos, os delegados ao encontro municipal de Belo Horizonte aprovaram a reedição da aliança com PSB e PSDB em torno da candidatura à reeleição do prefeito Marcio Lacerda. O grupo contrário à união com os socialistas – liderado pelo vice-prefeito Roberto Carvalho (PT) – se reúne na quarta-feira para discutir qual postura tomar no processo eleitoral. A legenda faz novo encontro no dia 29, para escolher o candidato a vice-prefeito e a chapa que concorrerá à Câmara Municipal.

Ao aprovar a coligação com o PSB, os petistas entregaram um cheque em branco à legenda. Na prática, eles aceitaram as regras impostas pelos socialistas, ou seja, a participação do PSDB – já confirmada pelos socialistas e tucanos – e a inclusão de vários outros partidos aliados na chapa de vereadores. Em encontro realizado no dia 25, os petistas haviam aprovado uma resolução apoiando a coligação com o PSB, mas com a garantia de uma dobradinha na disputa pelas 41 cadeiras de vereador e recomendação para a exclusão do PSDB. Na resposta enviada sexta-feira aos petistas, o presidente estadual do PSB, Walfrido Mares Guia, nada disse sobre os tucanos e deixou para depois da definição da chapa majoritária a discussão sobre a proporcional. "Com relação ao estabelecimento de uma coligação proporcional com o PSB, manifestamos nossa aceitação em fazê-la com o PT e outros partidos aliados com os quais estabeleceremos as condições após o fechamento da chapa majoritária", informou por meio de nota.

Sem mencionar o PSDB Maior defensor da candidatura própria – ou no mínimo a retirada do PSDB da chapa –, Roberto Carvalho lamentou a votação de ontem e a interferência da direção nacional do PT na sucessão da capital. "Aceitamos o resultado, mas não acatamos uma aliança com o PSDB. Que fique claro que com o PSDB não haverá unidade no PT. Essa decisão vai acabar com o PT em Belo Horizonte, podendo ter reflexos em Minas Gerais. A interferência da direção nacional é nefasta para Minas", reclamou Carvalho. Na sexta-feira, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, veio a Belo Horizonte e deixou claro que o PSB é um partido prioritário para as pretensões eleitorais do PT. Na quarta-feira, Lula já havia tratado de preparar o terreno para uma encontro pacífico que selasse a parceria entre PT e PSB numa reunião em São Paulo com Falcão, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e o ex-ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias. O recado do ex-presidente foi claro: a exclusão do PSDB seria apenas uma recomendação, sem qualquer tipo de veto. Os petistas foram mais realistas que o rei: a resolução aprovada sequer cita os tucanos.

Inconformado com o resultado, na quarta-feira o grupo que votou contra a aliança volta a se reunir e a expectativa é que deixem de lado o processo eleitoral e não participem da campanha de Marcio Lacerda.

O presidente do PT, Reginaldo Lopes, retomou o discurso da cúpula do partido, reafirmando que o PT é um partido nacional e que a aliança com o PSB é estratégica não só em Minas Gerais, mas em outros estados. Em troca do apoio ao PSB na capital, o PT conta com o aval dos socialistas para seus candidatos a prefeito em Uberlândia, Juiz de Fora e Contagem. Fora de Minas, querem o apoio à candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad em São Paulo, e do deputado federal Dr. Rosinha em Curitiba. Do lado do PSB, eles esperam o apoio do PT para candidatos em Campinas (SP), Mossoró (RN), Duque de Caxias (RJ) e municípios paulistas, como Franca, Taubaté, Taboão da Serra e Itanhaém.

"Temos que seguir com a aliança e cobrar uma repactuação programática do governo Lacerda", defendeu o presidente municipal. Segundo ele, o processo foi superado e o próximo passo é definir o candidato a vice na chapa. Reginaldo Lopes disse que a decisão sobre quais partidos vão compor a chapa proporcional será do PSB, em comum acordo com o PT. A presença do PSDB desagrada aos candidatos a vereador, pois pode elevar a quantidade mínima de votos para a eleição a uma vaga na Câmara.

Com direito a bate-boca

Foi tenso o clima da reunião do PT que sacramentou o apoio do partido à reeleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB). A decisão dividiu a legenda e vai colocar em lados apostos na campanha deste ano a turma dos defensores da candidatura própria – liderada pelo vice-prefeito e presidente do diretório municipal, Roberto Carvalho –, e a dos apoiadores da reedição da dobradinha feita em 2008, comandados pelo presidente do PT mineiro, deputado federal Reginaldo Lopes.

Em alguns momentos da reunião, as duas alas bateram boca e houve um princípio de tumulto, contido pelos líderes da legenda. Cada lado teve direito a inscrever cinco pessoas para encaminhar a votação Na hora em que o presidente estadual iniciou seu discurso, parte dos delegados ficou de costas em sinal de protesto. A vereadora Neusinha Santos (PT), adepta da tese da candidatura própria, afirmou que eles foram tachados por Reginaldo Lopes de "desqualificados politicamente". Na mesma hora, delegados ligados ao deputado protestaram e começou a confusão. Os dirigentes pediram calma e, depois de alguns minutos, a vereadora conseguiu retomar sua fala.

Também houve balbúrdia na hora em que o deputado estadual André Quintão discursava. Do grupo do ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias, Quintão é um dos cotados a candidato a vice de Lacerda. Ele defendeu o apoio ao PSB alegando que o PT não se preparou para ter candidatura própria e que era mais arriscado para a legenda "jogar o PSDB no colo de Lacerda". Sobrou até para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criticado por alguns militantes, que o acusaram de tentar impor a aliança, tachada de prejudicial para o futuro do partido.

O ex-deputado federal Virgìlio Guimarães, também cotado para vice e um dos principais responsáveis pela aliança de 2008 com Lacerda, foi vaiado na hora de seu discurso. Ele continuou falando tranquilamente e defendeu a unidade da legenda, independentemente do resultado do encontro.

Protesto Integrantes do movimento Fora Lacerda, que participavam de um protesto contra a verticalização da Pampulha pararam em frente ao Clube dos Economiários, ao lado da igrejinha, onde os petistas se reuniram , para gritar palavras de ordem contra o prefeito e a favor da candidatura própria do PT. Um grupo de delegados tentou colocar os manifestantes dentro do local, mas os seguranças barraram. O vereador Iran Barbosa (PMDB) , que participava do protesto, entrou no clube, mas saiu logo em seguida atendendo pedidos dos militantes (AM/IS).

FONTE: ESTADO DE MINAS

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