terça-feira, 1 de maio de 2012

Contra PDT, Brizola Neto vira ministro

O deputado Brizola Neto (PDT-RJ) assumirá o Ministério do Trabalho cinco meses após a crise que provocou o afastamento de Carlos Lupi em meio a denúncias de irregularidades nos convênios com ONGs. Escolhido por Dilma, Brizola Neto tem o apoio das centrais sindicais, mas contraria parte da bancada do PDT e o presidente Lupi. "O partido está perplexo", reclamou o secretário-geral, Manoel Dias.

Dilma escolhe Brizola Neto sem consultar PDT

Deputado será novo ministro do Trabalho, apoiado por centrais, mas sem respaldo de parte de pedetistas e de Lupi

Luiza Damé, Isabel Braga, Cristiane Jungblut e Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA. Escolha pessoal da presidente Dilma Rousseff, o deputado Brizola Neto (PDT-RJ) assumirá nesta quinta-feira o Ministério do Trabalho, com respaldo das duas principais centrais sindicais - CUT e Força Sindical -, mas sem o apoio de parte da bancada do PDT na Câmara e do presidente do partido, Carlos Lupi. Brizolinha, como é chamado no meio político e por Dilma, assumirá o posto ocupado por Paulo Roberto Pinto interinamente desde dezembro, quando Lupi saiu do cargo após denúncias de irregularidades em convênios da pasta com ONGs.

Lupi se reuniu pela manhã com Dilma e com o ministro da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho, no Planalto, mas foi apenas informado da escolha, e não consultado. A presidente já estava decidida sobre a indicação de Brizola Neto há quase dois meses, como publicou o Panorama Político, do GLOBO, em 12 de março.

Lupi: "Estou satisfeito, até quando apanho"

O ex-ministro ainda estava no Planalto quando Brizola Neto chegou para ser oficialmente convidado, mas os dois não se encontraram. Lupi disse que a conversa com Dilma foi boa, mas deixou claro que o escolhido não o agrada, quando perguntado se estava satisfeito:

- Sempre estou satisfeito, até quando apanho.

A nomeação de Brizola Neto contou com a campanha pessoal do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical. Mas sua escolha só foi sacramentada a partir do momento em que a CUT, que é ligada ao PT, concordou com a nomeação. Em troca, o secretário-executivo do Ministério do Trabalho deverá ser um nome apoiado pela central petista. Na quinta-feira, a presidente Dilma deve se reunir, antes da posse, com as centrais sindicais.

- Foi uma boa escolha. Ele tem o apoio das centrais e, com certeza, terá apoio da maioria da bancada. Isso se resolve - disse ontem Paulinho da Força.

Para reforçar a gestão do novo ministro, o governo pode aceitar uma das medidas em negociação com as centrais que, até agora, desagradava à Fazenda: que os ganhos do trabalhador por meio de participação dos lucros e de abonos não sejam tributados com Imposto de Renda. O deputado da Força Sindical já apresentou proposta neste sentido dentro de uma medida provisória, com proposta de isenção de IR para valores de até R$ 20 mil.

- O governo já aceita R$ 6 mil, mas achamos pouco ainda - disse Paulo Pereira da Silva.

O novo ministro disse que o secretário-executivo será escolhido a partir de discussão com o partido, e que terá caráter técnico:

- Não houve (na conversa com Dilma) nenhuma recomendação específica sobre qualquer cargo. A presidente disse: vamos cumprir o rito, você tem que tomar pé, ter contato com as questões do ministério. Entendo que temos que buscar alguém com capacidade técnica, com confiança técnica, mas também com confiança política - disse Brizola Neto.

O vice-presidente do PDT, deputado André Figueiredo (CE), reclamou que o partido "nunca foi chamado para conversar":

- O ministro Gilberto Carvalho ligou depois da decisão tomada, para nos comunicar. Coloquei a insatisfação de nunca ter sido chamado, nos últimos cinco meses, para conversar. Apenas fomos comunicados. Não tem por que questionar. Posso dizer que ele é filiado ao PDT, mas a indicação não foi discutida com o partido. Só o tempo vai mostrar (as consequências da resistência ao nome de Brizola Neto).

Brizola é "queridinho da presidente", diz ex-líder

Para o ex-líder da bancada deputado Giovanni Queiroz (PA), o partido não está representado com a escolha da presidente Dilma.

- Se a assessoria da presidente tivesse dito a ela que ele não tem a simpatia, nem tem trânsito nem na bancada nem na Executiva, ela não teria indicado. Se ele tem o apoio das centrais, a presidente nomeou o ministro da Força Sindical e não do PDT - disse Queiroz, emendando: - Em todas as votações, ele não votou com a posição programática, mas seguindo a presidente. Ele é o queridinho da presidente, não é nosso. Se Brizola (o avô) estivesse vivo, ele teria levado umas palmadas, apesar da lei. Ele trai princípios partidários do PDT. No ministério, fará o jogo da presidente, não o de interesse do partido.

O secretário-geral do PDT, Manoel Dias - outro nome cotado para o cargo ao lado do deputado Vieira da Cunha (RS) -, disse apenas:

- O partido está perplexo, porque a presidente fez uma indicação pessoal dela. Ela comunicou a escolha do ministro. Os partidos todos são ouvidos. Ao PDT, ela comunicou.

A expectativa de Dilma é que Brizolinha copie no Ministério do Trabalho o modelo da gestão de Aldo Rebelo no Ministério dos Esportes. As duas pastas tiveram seus titulares trocados por denúncias de desvio de verbas por meio de ONGs e pela nomeação disseminada de correligionários para cargos na área. Aldo assumiu e passou a fazer indicações técnicas e acabou com a farra de envio de verbas para ONGs.

Brizola Neto, de 34 anos e suplente de deputado, sempre foi o preferido de Dilma, que o conhece desde que ele era menino, quando ela militava no PDT no Rio Grande do Sul.

FONTE: O GLOBO

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