sexta-feira, 25 de maio de 2012

CPI antecipa votação de quebra de sigilo

Petistas e tucanos batem boca; deputado Fernando Francischini acusa relator Odair Cunha de direcionar investigações

Roberto Maltchik, Chico de Góis e Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA. A revelação de que o contador de Carlinhos Cachoeira, Geovani Pereira, movimentou R$ 12 milhões que saíram de contas da matriz da construtora Delta, no Rio de Janeiro, obrigou a CPMI que investiga as relações do bicheiro com políticos a antecipar em uma semana a votação do requerimento que pede a quebra dos sigilos bancário e fiscal da empresa. A votação estava prevista para junho.

Um grupo de parlamentares, liderados pelo senador Pedro Taques (PDT-MT) e pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), pressionou para que o requerimento fosse votado ontem mesmo. PT, PSDB e PMDB abortaram a iniciativa.

A manobra teve apoio do relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG). Com isso, tucanos, petistas e peemedebistas evitaram que ontem mesmo fossem votados os requerimentos de convocação dos governadores Marconi Perillo (Goiás), Agnelo Queiroz (Distrito Federal) e Sérgio Cabral (Rio de Janeiro). Perillo e Queiroz são citados em interceptações telefônicas feitas pelas PF na Operação Monte Carlo. Cabral é amigo íntimo do dono da Delta, Fernando Cavendish.

De acordo com Taques, os R$ 12 milhões saíram das contas da Delta nacional para duas empresas de fachada que irrigavam o esquema de Carlinhos Cachoeira: Alberto & Pantoja e Brava Construções, que receberam da Delta, por diferentes contas, R$ 39 milhões, segundo a PF. As duas empresas não só fizeram diversos pagamentos aos integrantes do esquema, como também pagaram despesas pessoais dos integrantes da organização e até de advogados.

- Essa quantidade milionária de reais foi depositada em duas agências localizadas no Rio de Janeiro: a Agência 3369, da Avenida Rio Branco, do Bradesco; e a Agência 240, da Rua da Assembleia, do Banco HSBC. Esse recurso foi distribuído depois, pela empresa Alberto & Pantoja e pela empresa Brava para pelo menos outras 29 empresas - afirmou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

Como exemplo dos diversos pagamentos feitos pelas empresas usadas no esquema, consta um depósito de R$ 161,1 mil feito por Geovani Pereira ao escritório de advocacia do ex-procurador Geral da República Geraldo Brindeiro. De acordo com o senador, a PF aponta cinco transferências. Atualmente, Brindeiro é subprocurador-geral da República e, ao mesmo tempo, sócio de escritório de advocacia.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que vai analisar a informação.

- Eu tive notícia disso da mesma forma, no pronunciamento do senador Pedro Taques. Não tive conhecimento disso. É coisa da advocacia mesmo. Não é nada que diga respeito ao Ministério Público, diz respeito à advocacia privada dele, mas, qualquer fato com que a gente se depare, nós temos que examinar se há algo para se apurar .

Tucano: relator petista é "tchutchuca" e vira "tigrão"

Os senadores Pedro Taques e Randolfe Rodrigues e o deputado Miro Teixeira deram entrada na 14 Vara da Justiça Federal do DF com ação cautelar preparatória para que, em regime de urgência, seja concedido o bloqueio do arquivamento de alterações societárias da Delta na Junta Comercial do Rio, decretação de indisponibilidade de bens da empresa e a nomeação de um interventor judicial para que a empresa não venda seus bens. Taques explicou que a intenção da ação é impedir que sejam paralisadas obras do PAC, realizadas pela construtora, e a demissão de mais de 30 mil trabalhadores.

O depoimento do ex-presidente da Câmara de Vereadores de Goiânia Wladmir Garcez, apontado pela PF como um dos principais operadores de Carlinhos Cachoeira junto ao governo do tucano Marconi Perillo, esquentou a disputa entre petistas e tucanos. A tensão acabou em bate-boca com a acusação do deputado Fernando Francischini (PSDB-GO) ao relator Odair Cunha (PT-MG) de direcionar a investigação contra o governador de Goiás:

- Quando fala da Delta Nacional, quando fala do senhor Agnelo Queiroz, o relator é "tchutchuca"; quando fala do Marconi Perillo, ele vira o tigrão. Então, nós queremos esse relator macho, que enfrenta tudo - provocou.

Francischini referia-se ao rol de perguntas feitas por Odair. Apesar de Garcez ser acusado de manter ligações também com o governo do Distrito Federal, comandado pelo petista Agnelo Queiroz, o relator fez 18 perguntas sobre fatos envolvendo o governo de Goiás e apenas uma sobre o do Distrito Federal. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que é ex-promotor, foi o primeiro a reagir:

- Em momento algum as perguntas são direcionadas para a apuração do fato em si, mas, em verdade, para a apuração do fato específico envolvendo um partido específico. Não chegaremos a lugar algum se o relator mantiver as suas perguntas exclusivamente com o norte de desestabilizar um partido político. O que estou percebendo claramente é direcionamento da investigação.

A situação piorou e quase terminou em briga quando o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) partiu na direção do petista Dr. Rosinha (PT-PR), após ser repreendido pela provocação debochada que fez ao relator.

- Vejo que aqui, quando há reunião secreta, o comportamento de alguns parlamentares é diferente em relação à reunião aberta. Na reunião aberta, quando há rádio, televisão e jornal, há sempre alguns que trabalham para sair na mídia, e não para investigar - disse Rosinha.

Francischini perdeu o controle imediatamente:

- Você quer me enfrentar? - questionou o corpulento parlamentar, que teve que ser contido pelo colega Álvaro Dias, antes de negar que tivesse intenção de agredir o franzino colega paranaense.

Ao fim da sessão, o relator negou que tenha direcionado o depoimento para atacar Marconi Perillo. Odair Cunha ressaltou que não havia como fugir da relação de Garcez com o PSDB.

--- Todas as perguntas que fiz, as fiz com base no inquérito da PF - sustentou o relator.

FONTE: O GLOBO

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