sexta-feira, 25 de maio de 2012

Delta e Cachoeira usaram laranjas também no Rio

PT e PSDB batem boca na CPI, que antecipa votação sobre governadores

A rede de laranjas que alimentava, com dinheiro da Delta, o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira não era exclusiva de Goiás: se estendeu também ao Rio. Entre os sócios de duas empresas que receberam R$ 521 mil da Brava Construções, ligada a Cachoeira, há duas faxineiras, um ajudante de caminhoneiro e uma desempregada, informam Cássio Bruno e Maiá Menezes. Na CPI, a revelação de que o contador do bicheiro movimentou R$ 12 milhões da Delta provocou a antecipação, para terça que vem, da votação sobre convocação de governadores e quebra do sigilo bancário da empresa. PT e PSDB bateram boca, mas se uniram depois para evitar que a votação ocorresse ontem.

Laranjas da Delta agora no Rio

Faxineiras aparecem como sócias das empresas que abasteciam o esquema de Cachoeira

Cássio Bruno, Maiá Menezes

A rede de laranjas que alimentava, com o dinheiro da Delta Construções, o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira não é exclusiva de Goiás e se estendeu ao Rio, sede da empreiteira. Os sócios de duas empresas que sacaram dinheiro da Brava Construções - apontada como fantasma pela investigação da operação Monte Carlo, da Polícia Federal -, são moradores de áreas pobres da cidade e dizem desconhecer por que aparecem como donos das firmas. A Zuk Assessoria Empresarial e a Flexa Factoring Fomento Mercantil, de acordo com a Receita Federal, têm o mesmo endereço, no Centro do Rio, onde há apenas um escritório. As duas empresas eram sediadas lá entre 2008 e 2011, mas nunca funcionaram de fato. Sacaram, juntas, R$ 521 mil.

A auxiliar de serviço gerais Cristina Lacerda de Almeida, de 41 anos, aparece como sócia da Flexa Factoring, que recebeu da Brava Construções R$ 119.442,27. Moradora do Encantado, Zona Norte, Cristina disse ao GLOBO nunca ter ouvido falar da Flexa nem dos recursos. Desempregada há um ano, mora com a mãe e os quatro filhos num casebre alugado por R$ 150 por mês. Ela conta que perdeu identidade e CPF há cinco anos, mas não registrou o fato na delegacia.

- Fiquei surpresa. Nem sei o que falar. Minha ficha não caiu. Acompanho pouco o caso (Cachoeira). Para ser sincera, nem quero ver mais isto na televisão. Sei que tudo vai acabar em pizza - disse Cristina.

Sócios tiveram sigilo bancário quebrado

Outra que figura como sócia da Flexa Factoring é Tatiana Correia Rodrigues, de 26 anos. Moradora do Encantado, ela vive numa vila. O aluguel, segundo o pai dela, que não se identificou, está atrasado há cinco meses. Tatiana está desempregada há três. Com medo, não deu entrevista.

- Ela está abalada. Estamos desorientados. Minha filha perdeu os documentos há quatro anos e assinou documentos que não lembra o que eram. Tenho certeza que não tem nada a ver com isso - afirmou o pai de Tatiana.

Já Maria Aparecida Corrêa, de 40 anos, moradora de um conjunto habitacional na Piedade, Zona Norte, é sócia da Zuk Assessoria Empresarial, que recebeu da Brava Construções R$ 401.887,04. Ela disse ter assinado procuração e reconhecido firma há quatro anos, quando trabalhava em uma padaria. O documento foi dado a uma pessoa que prometeu conseguir um financiamento - e que nunca mais viu.

- Fui burra e idiota. Eu queria sair do aluguel e dar uma vida melhor para a minha filha. Fui na confiança porque ele era cliente da padaria e, depois disso, ele desapareceu.

Aparecida é auxiliar de serviços gerais e recebe R$ 640. O marido, autônomo, não tem salário fixo.

- Nem sei quem é Cachoeira. Nunca ouvi falar de empresa. É horrível. Minha conta está no vermelho.

O outro sócio da Zuk é Edivaldo Ferreira Lopes, que mora em Leopoldina (MG). Parentes dele, que vivem no Rio, negam participação.

- Ele é ajudante de caminhão e pobre. Devem ter usado os documentos para ele ser laranja - afirmou a cunhada Germana Ramos.

Os sigilos bancário e fiscal da Zuk e da Flexa Factoring e de seus sócios Cristina Lacerda de Almeida, Tatiana Correia Rodrigues, Edivaldo Ferreira Lopes e Maria Aparecida Corrêa foram quebrados em 2011, na Operação Monte Carlo. E vai de 1 de janeiro de 2010 a 1 de agosto de 2011. De acordo com os autos da operação Montecarlo, "diligências financeiras e fiscais" serão feitas em torno dos "responsáveis pela manutenção financeira da suposta organização criminosa".

A Brava Construções e a Alberto Pantoja foram abastecidas exclusivamente com recursos da Delta. Ao todo, movimentaram R$ 39 milhões.

FONTE: O GLOBO

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