quarta-feira, 23 de maio de 2012

Ex-diretor agia em nome da Delta

Cachoeira é levado da cadeia para sessão da CPI, mas se recusa a responder a qualquer pergunta

No dia em que o bicheiro Carlinhos Cachoeira passou duas horas e meia na CPI e se recusou a responder a qualquer pergunta, irritando deputados e senadores, o relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), revelou que o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, tinha procuração da empresa para movimentar contas que teriam abastecido empresas de fachada do contraventor. Com base na informação, a CPI passa a ter dados para quebrar o sigilo da Delta em todo o país, o que vinha sendo evitado por parlamentares do PT e do PMDB, embora a Justiça do Distrito Federal já tenha quebrado o sigilo da construtora. O silêncio de Cachoeira, que teve o tempo todo a seu lado o advogado Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça, pode levar a uma revisão do trabalho da CPI. "Se estamos perguntando diante de uma múmia, o que vão pensar de nós?", protestou a senadora Kátia Abreu (PSD).

Diretor tinha carta branca da Delta

Justiça já quebrou sigilo de contas da Delta nacional; CPI quer investigar empresa em todo o país

Roberto Maltchik, Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA - O ex-diretor da construtora Delta no Centro-Oeste Cláudio Abreu recebeu uma procuração da direção nacional da empresa para movimentar contas que abasteceram empresas de fachada utilizadas pelo grupo do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. A informação foi repassada ontem pelo relator da CPMI que investiga as relações de Cachoeira com políticos e empresários, Odair Cunha (PT-MG), que na semana passada impediu a votação da quebra de sigilo da Delta nacional. Por conta das suspeitas de envolvimento de ex-dirigentes da empreiteira com Cachoeira, a Justiça do Distrito Federal já determinou a quebra do sigilo das contas da Delta nacional que Abreu teve procuração para movimentar .

Agora, Cunha admite que existem elementos suficientes para que a CPMI peça as informações bancárias e fiscais da Delta em todo o país. Na semana passada, parlamentares do PT e do PMDB conseguiram evitar que o sigilo fiscal, bancário e telefônico da matriz da construtora fosse quebrado alegando justamente que a atuação de Abreu se restringia às operações no Centro-Oeste. O deputado Ônyx Lorenzoni (DEM-RS) foi o primeiro a revelar que havia recebido a informação assim que chegou à CPI.

- Tanto Cláudio Abreu quanto Heraldo Puccini tinham autorização para operar as contas da Delta Centro-Oeste e da Delta Nacional. Cláudio Abreu inclusive emitiu cheques em nome da Delta Nacional. Agora é inevitável quebrar os sigilos dela - justificou Ônyx.

Embaraçado com a revelação, o relator Odair Cunha (PT-MG) pediu a palavra para afirmar que a CPI já dispunha da informação, até ontem não revelada. Cunha disse que a procuração indica que a direção nacional, inclusive o ex-presidente Fernando Cavendish, conhecia as transações operadas por Cláudio Abreu em nome do grupo de Cachoeira. ,

- A Delta nacional autorizou que Cláudio Abreu movimentasse suas contas através de procuração. Há um indício forte de que toda a diretoria e a presidência da Delta tinham ciência e consentiram com o movimento de Cláudio Abreu. As contas da Delta Nacional, por meio de Cláudio Abreu, foram instrumento de transferência de dinheiro para empresas em nome de laranjas ou empresas ligadas à organização criminosa. Na medida em que se identifica uma conta dessa forma, claro que alguém deu a procuração para que Cláudio Abreu fizesse essas movimentações - explicou o relator, que justificou a mudança de tom: - (Somos movidos) pelas provas, não por pressões políticas partidárias. Com base nas provas, aumentam os indícios e a probabilidade de nós quebrarmos o sigilo da Delta Nacional.

CPI vota quebra de sigilo em junho

Na quinta-feira passada o relator foi o responsável por a comissão não ter determinado a quebra de sigilo da matriz da construtora. Por isso, até agora, a CPI apenas quebrou o sigilo bancário das contas da Delta Centro-Oeste. A votação do requerimento de quebra de sigilo da Delta nacional pela CPMI deve ocorrer somente na reunião administrativa de 5 de junho.

Dados da Operação Monte Carlo, da PF, mostram que a Delta destinou R$ 39 milhões para empresas de fachada, como a Brava Construções e a Alberto & Pantoja, que pagaram despesas da organização e fizeram doações de campanha a parlamentares. Segundo o relator, a procuração requisitada pela CPI mostra que Abreu tinha respaldo da direção nacional para fazer depósitos nas contas das empresas. Cunha, porém, disse que ainda não recebeu informação sobre quais ex-diretores ou mesmo se o ex-presidente Fernando Cavendish assinaram a procuração.

FONTE: O GLOBO

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