sábado, 30 de junho de 2012

Queda na atividade derruba o superávit

Economia para pagar juros da dívida do Tesouro caiu pelo terceiro mês consecutivo, mas governo espera resultado melhor no segundo semestre

Fernando Nakagawa, Eduardo Cucolo,

BRASÍLIA - O crescimento mais lento da economia afeta cada vez mais as contas públicas. Dados apresentados ontem pelo Banco Central mostram que o esforço fiscal para pagar juros, o chamado superávit primário, caiu pelo terceiro mês seguido, para R$ 126,8 bilhões, no acumulado em 12 meses. Com o recuo, o número se afasta da meta para o ano, que era de R$ 139,8 bilhões. Os cofres públicos sofrem especialmente pela menor atividade econômica, fato que derruba a arrecadação de impostos.

Nos últimos meses, a atividade pode ter impactado as receitas, admite o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel. Mas, segundo ele, no prazo de 12 meses o superávit primário está em torno de 3% do PIB. "Isso é consistente com a meta do ano", disse Maciel. A meta oficial para 2012 equivale a 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB).

No mês passado, com a redução dos impostos gerados por vendas e lucros de empresas, a economia feita pelo setor público atingiu R$ 2,65 bilhões, uma queda de 65% na comparação com maio de 2011. Esse é o pior mês desde dezembro do ano passado. "Essas oscilações são normais", minimizou Maciel.

Diante de uma arrecadação fraca e com iniciativas do governo para reduzir impostos - para automóveis e linha branca, por exemplo -, e ainda reforçar gastos, como a compra de caminhões, tratores e ônibus, Maciel reconhece que as contas públicas são afetadas.

Mas ele lembra que nos cinco primeiros meses de 2012 o governo já tem 45% da meta do ano cumprida". A aceleração da economia no segundo semestre deve melhorar as contas, disse.

Meta. O economista da BBM Investimentos, Hui Lok Sin, avalia que os números apresentados mostram contas públicas cada vez mais fracas. "O desempenho visto até agora aponta mais para um ano com superávit primário em torno de 2,5% do PIB. Atingir a meta de 3,1% é difícil, mas não impossível", diz.

Para o especialista, o governo deve cumprir a meta por fatores que, não necessariamente, dependem do crescimento. "Podemos ter recursos extras em dividendos ou nos leilões de concessão. São valores importantes, mas que não têm relação direta com a atividade."

O BC divulgou também que a dívida líquida do setor público caiu para o equivalente a 35% do PIB em maio, menor patamar da série iniciada em 2001. Em abril, era equivalente a 35,7% do PIB.

Frustração. O relatório divulgado ontem só comprova o quadro já desenhado por números conhecidos ao longo dos últimos dias: a economia reage muito lentamente e frustra todas as previsões. Até o Banco Central admitiu esta semana, pela primeira vez, aquilo que o mercado já prevê há cerca de um mês: a economia vai crescer 2,5% no ano, menos que os 2,7% vistos em 2011.

Por isso, economistas mantêm as apostas de que a taxa básica de juros vai continuar em queda e pode atingir o patamar inédito de 7,5% ao ano para reanimar a economia.

Além dos juros, outra frente de batalha do governo está nos investimentos. Nos últimos dias, a equipe econômica aumentou recursos para o crédito rural, reduziu os juros subsidiados nos empréstimos do (BNDES) para empresas e ainda antecipou compras governamentais. A guinada para o investimento pode ser uma reação à má notícia vinda do mercado de crédito após várias iniciativas para incentivar o consumo via financiamento: em maio, o calote subiu para 6% de todos os empréstimos, novo recorde.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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