domingo, 1 de julho de 2012

Ajoelhado no milho:: Eliane Cantanhêde

Ponto para a diplomacia brasileira, que acalmou o Planalto, fechou com o uruguaio Mujica, baixou a bola de Cristina Kirchner e impediu que a turma de Chávez incendiasse o Paraguai.

Prevaleceu a proposta brasileira de reação à queda de Fernando Lugo, como dito aqui: uma "ação pedagógica", para evitar novas deposições-relâmpago, e um "isolamento calculado". Punição política, sim; sanções econômicas, não.

O país foi suspenso do Mercosul e da Unasul, mas continua beneficiário da TEC, a tarifa comum, e dos acordos, das obras, dos investimentos e dos financiamentos do BNDES. Ajoelhou no milho, mas não foi expulso da sala nem da escola.

Sai o Paraguai temporariamente, entra a Venezuela permanentemente no Mercosul, encerrando uma novela que se arrastava desde 2006 porque o Congresso paraguaio se negava a votar -ironicamente, cobrando democracia da Venezuela.

Incluindo o parceiro suspenso, o bloco passa a ter 12,7 milhões de quilômetros quadrados e mais de 260 milhões de consumidores. Ganha em densidade econômica o que poderia perder em credibilidade

política. Chávez, aliás, anda muito envolvido com os seus problemas internos, sem tempo e energia para criar problemas externos.

Vai-se discutir por um bom tempo se o que houve no Paraguai foi ou não golpe, mas a realidade costuma ter uma dinâmica bem diferente da retórica, da teoria, da ideologia.

Na prática, Lugo perdeu as condições de governabilidade e só voltaria "por milagre", como ele próprio admitiu. O Partido Liberal vai comandar a transição, e o Colorado -enraizado na máquina, nas instituições e na sociedade paraguaias, depois de 61 anos no poder- é o favorito nas eleições de 2013.

Os quase quatro anos do ex-bispo Lugo foram um parêntesis, quase uma ilusão. O jogo bruto da política não comporta ilusões nem iludidos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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