domingo, 15 de julho de 2012

Fora do casulo:: Tereza Cruvinel

Movimentos recentes da presidente Dilma Rousseff informam que ela passou a dedicar maior atenção às questões políticas, embora pense 24 horas por dia nos resultados da economia e da gestão, para louvor de uns e reclamação de outros. A piora dos indicadores econômicos, com inevitáveis reflexos sobre a popularidade e o apoio parlamentar, pesaram na inflexão. As eleições municipais, enquanto mera disputa entre os partidos pelo poder municipal, nunca emocionaram a presidente. Pelo contrário, ela chegou a dizer que isso não era problema dela. A novidade está na busca de apoios para enfrentar as dificuldades econômicas e nos primeiros ensaios para o jogo da reeleição. Ao referendar a troca do petista Marco Maia pelo peemedebista Henrique Eduardo Alves na Presidência da Câmara, em fevereiro próximo, Dilma reforçou o eixo central de sua coalizão e fixou o ponto de partida para a corrida sucessória: março de 2013, depois da eleição das Mesas do Congresso.

Ela nunca escondeu o desapreço e até certa aversão pela gestão da política parlamentar. Até aqui, foi mais ou menos assim: ela cuida das grandes questões estratégicas e gerenciais, a ministra Ideli Salvatti, líderes e auxiliares cuidam do varejão político. Em momentos mais complicados, entra em cena seu grande provedor de apoio, o ex-presidente Lula. Mas a gestora nunca suprimiu a Dilma da Polop, do Colina, da VAR, do PDT e do PT. A Dilma política, que agora está sendo chamada a testar suas habilidades, numa dimensão em que nunca precisou atuar. Para se eleger, Lula fez o essencial, montou alianças e costurou apoios.

Nas duas últimas semanas, ela saiu do casulo. Fez aquela entrada ousada no quadro eleitoral mineiro, reagindo à jogada exitosa do senador Aécio Neves, seu virtual adversário em 2014, que conseguiu unir o PSB ao PSDB, isolando o PT. Dilma obteve a quase impossível união entre dois bicudos do PT mineiro, o ministro Fernando Pimentel e o ex-ministro Patrus Ananias, fez deste último candidato e obteve o apoio do PMDB, que para isso desistiu da candidatura própria. Garantiu ainda o apoio do PSD de Gilberto Kassab, que, para atendê-la, peitou os aliados mineiros. Agora brigam na Justiça. Afagou os governadores Eduardo Campos (PE) e Cid Gomes (CE), mas demonstrou desagrado com o impetuosidade do PSB, ao fazer jogo próprio tanto em Minas como em Pernambuco. Colheu promessas de apoio continuado no Congresso e na sucessão de 2014. Na terça-feira, chamou o vice Michel Temer e o presidente do PT, Rui Falcão, para referendarem o acordo de 2010, pelo qual o PMDB se revezará com o PT na Presidência da Câmara. Vale dizer, ela aceita que o PMDB comande as duas Casas do Congresso a partir do ano que vem, e, com isso, reforça o eixo da aliança. Assimilado o nome de Henrique Eduardo Alves para a Câmara, resta saber se aceitará também Renan Calheiros no Senado, o preferido do partido, ou se insistirá no ministro e senador Edison Lobão. Com Lula, segue encontrando a cada 15 dias, conforme combinaram na troca de guarda. Isso nunca deixou de acontecer desde a posse dela, o que frustrou as tentativas de intrigá-los. Os dois sabem que, para um ou dois mandatos, Dilma precisa responder aos desafios e dificuldades que estão se apresentando. E que exigem ação política. E que, mesmo para o caso de ser Lula o candidato, daqui até lá Dilma precisa conservar e exibir alta perspectiva de poder. Para isso, precisa vencer a flacidez da economia e mostrar musculatura política.

Desafio da economia. Não se enfrenta o resfriamento da economia sem aquecimento político. Prova disso, o fracasso das votações da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e das MPs 563 e 564, que compõem o chamado projeto Brasil Maior. As MPs tratam de desonerações tributárias e trabalhistas, respectivamente, adotadas para estimular o investimento das empresas. Se a LDO não for votada, o Congresso não entrará em recesso, os prazos regimentais continuarão correndo e as MPs vão caducar, por decurso de prazo, em 2 de agosto. Ou seja, todo o esforço de alavancagem do crescimento que empacou ao longo semestre vai para o brejo. As votações fracassaram porque base aliada se dispersou de terça para quarta-feira e a oposição, mesmo minoritária, barrou as votações com verificações de quórum. "O limite da luta política tem que ser o interesse nacional", diz a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, esperando virar o jogo nesta semana. O presidente da Câmara, Marco Maia, marcou novas votações ameaçando cortar o ponto de quem faltar. Ideli e os líderes tocam o berrante. A CUT e a Força Sindical dão uma força. Afinal, a freada no crescimento já afeta o nível de emprego. E Dilma faz chegar aos empresários um apelo para que eles também, beneficiários das medidas, usem suas influências junto aos deputados. Com uma torrente de discursos, tratou de espantar a enxurrada de números ruins. Na quinta-feira, disse que o PIB não é tudo. No dia seguinte, enalteceu a queda dos juros e as medidas anticrise não recessivas. O significado é um só: é grave a crise.

Moeda podre. Grandes oradores não existem mais, mas o debate das políticas públicas já foi melhor no Congresso. Agora, a palavra mágica ali é "emendas". Elas é que impediram as votações da semana passada. O governo prometeu liberar cerca de R$ 2,5 milhões para a oposição, mas não cumpriu inteiramente a promesssa. Cada deputado pode apresentá-las no valor global de até R$ 15 milhões. Depois, vira escravo da liberação, em prejuízo do mandato e do debate. "De duas uma. Ou acabamos com a emenda individual ou baixamos este valor, tornando a liberação obrigatória", diz o deputado Marcos Pestana (PSDB-MG).

"Ao referendar a troca do petista Marco Maia pelo peemedebista Henrique Eduardo Alves na Presidência da Câmara, em fevereiro próximo, Dilma reforçou o eixo central de sua coalizão e fixou o ponto de partida para a corrida sucessória: março de 2013, depois da eleição das Mesas do Congresso"

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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