quinta-feira, 12 de julho de 2012

Novo pibinho:: Míriam Leitão

A economia está bem fraquinha. O novo corte de juros de 0,5 ponto percentual, decidido ontem pelo Banco Central, era necessário, mas não é suficiente para garantir um resultado maior. A redução que o governo deve fazer na previsão de crescimento do PIB nos próximos dias - para um nível de 2,7% a 3% - é considerada irrealista pelo mercado. O mais provável é um resultado este ano menor do que o do ano passado. Por isso, a previsão é de novos cortes nos juros.

A inflação também está em forte queda. Isso justifica a redução dos juros para 8%, decidida ontem, e abre espaço para novas diminuições da taxa Selic. Ao fim da reunião do Copom em maio, a aposta mais comum era de que havia pouco espaço para novas quedas. Poucos acreditavam que os juros pudessem ficar abaixo de 8%. Até pela insistente palavra "parcimônia" que começou a aparecer sem nenhuma parcimônia nos comunicados do Banco Central.

Depois da redução da inflação, que chegou a 0,08% no último índice divulgado, acredita-se que os juros possam chegar a 7%. Neste ponto é um excelente quadro: juros em recorde histórico de baixa e inflação caminhando para o centro da meta.

O que atrapalha a boa notícia é o crescimento. Ele está baixo e emagrece a cada nova revisão dos dados. O Banco Central já avisou que trabalha com o cenário de 2,5%. A pesquisa feita pelo BC no mercado indica um pessimismo maior, a média está em torno de 2%. Mas várias instituições estão revisando o número para um patamar abaixo disso. É o caso da consultoria Tendências, que prevê 1,9%.

A conta feita pelo economista Juan Jensen é simples: como o país teve um resultado muito fraco no primeiro trimestre (de 0,2%) e pode ter apenas 0,5% no segundo trimestre, terá que crescer numa média de 1,3% no segundo semestre, para chegar ao número previsto. O Brasil tem que acelerar no fim do ano para compensar o resultado baixo do começo. O diretor da Tendências, Gustavo Loyola, acha que parte desse resultado fraco é consequência de fatores internos.

- Nem tudo é resultado da crise internacional. O Brasil está com dificuldade de crescimento mesmo. O investimento público não está sendo realizado e o privado tem sido adiado ou cancelado.

O crescimento induzido por pacotes de reduções de impostos e por incentivo ao endividamento tem dado sinais de esgotamento. Isso é o que todo mundo acha, menos o governo.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em entrevista à "Folha de S.Paulo" neste fim de semana criticou o pessimismo do empresário - mais especificamente a sua ciclotimia - pelo baixo crescimento. Por que será que ele está pessimista?

Não há uma agenda de modernização em curso; não há conversa com empresário da qual não surja uma história surrealista sobre a demora e a falta de lógica dos trâmites burocráticos no Brasil.

Esta semana, numa conversa com a presidente da Boeing do Brasil, Donna Hrinak, quis saber por que as empresas de transporte aéreo de passageiros reclamam de resultados ruins, se o movimento aumentou muito. Ela respondeu que um dos motivos é que o custo de reposição é alto demais. A importação de peças é tão burocrática que as companhias têm, às vezes, que ficar uma semana com avião no solo, o que é um custo gigantesco. Para resolver isso, elas têm que ter estoque de peças, o que também é irracional no mundo do "just in time". Bom, não explica tudo, mas é um exemplo de como o Brasil está precisando buscar a eficiência.

O próprio Coutinho fez uma lista do que é necessário para o país crescer mais que tem pontos indispensáveis, como investimento em inovação. Resta a dúvida sobre o que há de inovador em certas apostas bilionárias feitas pelo BNDES.

O "Financial Times" publicou esta semana uma reportagem sobre o Brasil falando exatamente do peso estatal na economia - a carga tributária brasileira é dez pontos percentuais mais alta do que a da Coreia do Sul - e de como é baixo o índice de aumento de produtividade. Tudo isso tem tirado fôlego da economia. Nada disso se resolve com os pacotes curativos feitos em série pelo governo.

O grande problema não é, portanto, o fato de o Brasil crescer pouco em 2012. Isso está dado. O resultado será fraco. Mas o país tem chances de ir virando o jogo até o fim do ano e, mesmo com um resultado estatístico ruim, estar num ritmo de crescimento de 4% no fim de 2012. A dúvida é se conseguirá manter esse nível por muito tempo.

O ministro Guido Mantega disse, recentemente, em tom de autoelogio, que o país mudou de modelo de crescimento. Agora é câmbio desvalorizado, uma meta de juros e incentivos ao crédito e a alguns setores empresariais. Esse modelo, se é que se pode chamar assim, deixa solta a ponta da inflação. Passa a ser derivada de outras metas do Banco Central. O índice ficou baixo este ano, porque o país cresceu pouco. Mas o ideal é ter inflação baixa com crescimento alto.

O teste dessas mudanças passa a ser 2013, quando se espera que o país tenha um ritmo maior do que o dos anos de 2011 e 2012, que será um biênio de resultado pífio.

A crise externa atrapalhou bastante o Brasil, mas virou uma espécie de grande desculpa do governo para o seu desempenho. A crise explica metade do resultado ruim do ano. Falta explicar a outra metade.

FONTE: O GLOBO

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