domingo, 29 de julho de 2012

"Postes" tiram o sono de padrinhos políticos

Mentores de candidatos desconhecidos usam telemarketing e telão para apresentar os pupilos

João Valadares

Missão quase inglória: transformar um "poste" em prefeito. Em pelo menos três capitais brasileiras, Recife, Fortaleza e São Paulo, onde estão os casos mais emblemáticos, a tarefa não tem sido nada fácil. Estreantes em disputas políticas e completamente desconhecidos pelo eleitorado, os candidatos fabricados nesses municípios amargam péssimos índices nas pesquisas de intenção de voto, mas apostam que serão carregados no colo por seus padrinhos políticos. É certo que a corrida eleitoral está apenas no começo. Com previsões de gastos milionários, os "criadores" não perdem tempo e demonstram que estão dispostos a tudo para eleger as "criaturas". É a política do andor, porque os santos são de barro.

No Recife, 225 mil moradores têm sido "importunados" diariamente por um telefonema do governador Eduardo Campos (PSB). O Disque-Dudu custou R$ 120 mil. Pouco para os R$ 8 milhões que o candidato Geraldo Julio pretende gastar na campanha. Algumas pessoas se queixam dos horários das ligações, durante a noite ou logo de manhã cedo. Alguns são "premiados" com mais de um telefonema por dia. "O governador já ligou duas vezes para mim. Uma vez no meu telefone convencional e outra para o meu celular. Eu vou gostar mesmo quando receber uma ligação dele avisando que arrumou um emprego para o meu filho", diz a comerciante recifense Angélica Alcoforado Pereira. No visor do celular, aparece um número de São Paulo. Mas, ao atender, o eleitor escuta uma gravação de 30 segundos com a voz do governador.

"Alô! Aqui quem fala é Eduardo Campos. Meu telefonema é pra (sic) conversar com você sobre o futuro do Recife. Sei que você é testemunha do crescimento de Pernambuco." Esta é a primeira frase. Muitos, sem paciência, desligam logo. "Tenho moral e bati o telefone na cara do governador", brinca o funcionário público federal Geraldo Lima. Quem não desiste, escuta um Eduardo falar de maneira pausada sobre o seu pupilo. "O Recife também pode avançar neste mesmo ritmo. Por isso, estou apoiando Geraldo Julio para prefeito. Obrigado pela atenção e um forte abraço!".

As ações vão além. No atos de campanha em que o governador não pode participar, um telão é montado rapidamente no teto de um veículo. Eduardo Campos aparece no vídeo para mostrar a população quem é esse tal de Geraldo Julio, ex-secretário de desenvolvimento econômico. Antes das caminhadas, um carro de som é enviado ao bairro com mais uma mensagem do governador.

Lula-Móvel

Em São Paulo, o andor de Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e candidato petista, é levado com muito esforço pelo ex-presidente Lula. Ele já declarou que, por Haddad, pretende "morder as canelas dos adversários." Até o momento, as mordidas não surtiram o efeito esperado. Haddad aparece em terceiro nas pesquisas, com apenas 7% das intenções de voto, atrás de José Serra (PSDB) e de Celso Russomanno (PRB).

Recuperando-se de um câncer na laringe, Lula pretende participar o mais ativamente possível da campanha. Para driblar os problemas de saúde, os marqueteiros tiveram a ideia do Lula-Móvel. O objetivo é percorrer o maior número de bairros possíveis durante a campanha. O pacote inclui ainda a construção de um estúdio no Instituto Lula para que o ex-ministro da educação grave de maneira rápida vídeos para o guia eleitoral sem precisar se deslocar até uma produtora. Todos os depoimentos serão enviados automaticamente para o Lula.TV, uma sessão específica no site de Haddad.

Em Fortaleza, capital do Ceará, a prefeita Luizianne Lins (PT), contra tudo e contra todos, resolveu bancar a candidatura do desconhecido Elmano de Freitas (PT), seu ex-secretário de Educação, provocando um racha com o PSB, que resolver lançar candidatura própria. O candidato escolhido por ela está emperrado nos 3% nas pesquisas eleitorais. Luizianne aposta todas as fichas no horário eleitoral.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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