domingo, 1 de julho de 2012

Reaproximação tem caráter simbólico

Reatamento dos laços de Jarbas com Eduardo representa, de certa forma, a religação que não houve com o ex-governador Miguel Arraes, avô do governador

Sérgio Montenegro Filho

Longe de ser classificada como um simples “desarmamento”, a reaproximação entre Eduardo Campos (PSB) e Jarbas Vasconcelos (PMDB) – rompidos desde o início dos anos 1990 – é uma iniciativa que atende a interesses de parte a parte. É público que o governador alimenta um projeto nacional, munido de uma popularidade que lhe permite sonhar, inclusive, com o gabinete principal do Palácio do Planalto. E o senador, por sua vez, é visto como uma variável importante nesses planos. Eduardo carece de uma interlocução com o lado progressista do PMDB – adversário do governo petista – no qual Jarbas transita com desenvoltura em todo o País. É tanto que, quando vai à tribuna do Senado, ele atrai as atenções não apenas de seus pares, mas da mídia nacional.

“Jarbas entrou numa fase em que tem procurado distensionar ao máximo suas relações”, afirma um auxiliar do senador. De fato, ele já foi visto conversando até com desafetos como o senador Armando Monteiro Neto (PTB) e o deputado Sílvio Costa (PTB), com quem já não falava há alguns anos. Mas o reatamento dos laços com Eduardo Campos traz uma carga de simbolismo, porque representa, de certa forma, a reaproximação que não houve com o ex-governador Miguel Arraes (PSB), falecido em agosto de 2005, com quem Jarbas dividiu por mais de dez anos o comando da Frente Popular de Pernambuco.

Consolidar a paz política, no entanto, não será tarefa fácil para nenhum dos lados. Embora os dois já estejam dividindo o mesmo palanque no Recife, será preciso algum esforço para minimizar o clima de inimizade que se criou entre os aliados de cada lado, que precisam ser convencidos da trégua. Alguns episódios de confronto deixaram mágoas profundas, como o caso dos precatórios, amplamente utilizado em campanha por Jarbas para vencer Arraes e, posteriormente, lançado contra o próprio Eduardo Campos nas disputas mais recentes.

Os dois principais embates nas urnas também deixaram rusgas. No pleito de 1998, quando impôs mais de um milhão de votos de vantagem sobre Arraes – que tentava a reeleição para o governo do Estado – Jarbas abriu um imenso abismo entre ele e o “outro lado”. Na eleição de 2010, foi a vez de Eduardo tornar esse abismo praticamente intransponível ao dar um troco ao peemedebista derrotando-o por cerca de três milhões de votos de diferença.

O último episódio de atrito entre os dois ex-desafetos envolveu a indicação da mãe do governador – a então deputada federal Ana Arraes (PSB) – para o Tribunal de Contas da União (TCU). Em um discurso inflamado, Jarbas acusou Eduardo de praticar “nepotismo” e “compadrio”, ao deixar seus afazeres no Estado para interferir diretamente na eleição de Ana, que conquistou a vaga no TCU.

Embora os dois já troquem elogios e até amabilidades, todo esse “peso” ainda paira no ar e terá que ser superado. O que parece ser a intenção que ambos demonstraram, no início do mês passado, em seu primeiro encontro público após duas décadas de confronto.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

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