sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sociólogos saúdam indicação de FHC para o Prêmio John Kluge

Prêmio, visto como Nobel das Ciências Humanas, reconhece capacidade do ex-presidente de juntar teoria e ação política

A indicação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para o Prêmio John Kluge - que ele recebeu anteontem, em solenidade na Biblioteca do Congresso, em Washington - foi saudada, por diferentes acadêmicos, como um "resultado natural de seu trabalho teórico e sua ação política" e "mais que merecida".

 "O Kluge é uma espécie de Nobel das Ciências Humanas", resumiu o sociólogo José de Souza Martins, para quem "é justíssima e correta" a indicação do ex-presidente - que lhe valeu um cheque de US$ 1 milhão. "Um dos requisitos para tê-lo, é que o acadêmico tenha uma obra teórica original e com repercussão prática", disse Martins. FHC é primeiro nome da América Latina a recebê-lo..

Amigo de velhos temp0s do ex-presidente, o cientista político Leôncio Martins Rodrigues observa que a escolha se deve "ao talento de Fernando Henrique, que combinou o êxito como intelectual e como político". O acadêmico "pode ficar limitado a certas atividades", prosseguiu Leôncio, mas o ex-presidente foi além: "Ele introduziu a seriedade na política brasileira."

Para Aldo Fornazieri, o premiado "é um dos principais sociólogos do País" e deu grande contribuição ao criar em seus livros a teoria da dependência nos anos 60. No terreno político, lembrou, FHC desenvolveu ideias próprias. "Acho até que ele deu um mau conselho ao pedir , que esquecessem o que ele escreveu, pois a contribuição teórica é um tipo de atividade e a política é outra". Fornazieri faz uma comparação: "Lula foi um grande político e não tem nenhuma contribuição teórica. São campos diferentes. Isso não tira a importância do que ele fez".

Dicotomia. Na aceitação do prêmio, Fernando Henrique leu, em inglês, um discurso em que mesclou memórias pessoais com sua evolução acadêmica e a carreira política. Ao longo de tantas transformações do País, sua vida consistiu - afirmou - "numa dicotomia entre a ética da responsabilidade e a ética dos valores absolutos - a do sacerdote, do profeta e do professor". Nesse processo, percebeu que "a academia e a política - a razão e a emoção - não são só complementares. Ambas são essenciais."

As estruturas sociais "são básicas para explicar a sociedade, mas não suficientes para garantir a mudança", observou ao relatar seu aprendizado com figuras como Max Weber, Durkheim, Kant, Karl Manheim, Marx, Tocqueville. "Sem levar em conta a ação humana inspirada em valores, não explicamos a dinâmica do processo histórico", advertiu. E completou: "É a vontade dos indivíduos, grupos e classes, conduzidos por valores e ideologias, que cria a oportunidade para a mudança". / G. M.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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