quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Defesa tenta desqualificar "lavagem" no mensalão

Tentativas de desqualificar o crime de lavagem de dinheiro tomaram conta ontem das sustentações orais de advogados de réus do mensalão no Supremo Tribunal Federal. O advogado do ex-ministro Anderson Adauto, acusado de comprar o apoio de deputados do PTB, disse que a denúncia do Ministério Público Federal contra seu cliente não deve dar em nada. "O decreto de falência da denúncia veio com as alegações finais", disse Roberto Garcia Lopes Pagliuso, que usou só 24 minutos da uma hora a que tinha direito.

Em "defesa relâmpago", advogado de ex-ministro diz que denúncia é "falida"

Contraditório. Utilizando apenas 24 minutos da uma hora a que tinha direito, advogado do ex-titular dos Transportes Anderson Adauto afirma que Procuradoria-Geral da República não conseguiu comprovar a lavagem de dinheiro nos repasses do valerioduto

Eduardo bresciani, Ricardo Brito , Mariângela Gallucci

BRASÍLIA - Tentativas de transferir responsabilidades e de desqualificar o crime de lavagem de dinheiro tomaram conta, ontem, das sustentações orais dos advogados de réus do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal. A defesa do ex-ministro Anderson Adauto, que foi acusado de comprar o apoio de deputados do PTB, disse que a denúncia do Ministério Público Federal contra seu cliente não deve dar em nada: "O decreto de falência desta denúncia veio com as alegações finais", disse Roberto Garcia Lopes Pagliuso.

No mais rápido pronunciamento das defesas no Supremo - usou apenas 24 minutos da 1 hora a que tinha direito -, Pagliuso lembrou que a procuradoria acusou Adauto, ex-ministro dos Transportes de Lula, de ter dado dinheiro aos ex-deputados Romeu Queiroz (ex-PTB) e Roberto Jefferson, atual presidente petebista e delator do mensalão, mas negou compra de votos no Congresso.

O Ministério Público sustentou que o ex-ministro, à época filiado ao extinto PL, trabalhou para acabar com o rompimento político entre PT e PTB. "Essa suposição não está demonstrada em lugar nenhum", rebateu o defensor. "Não houve nenhuma intervenção de Anderson Adauto para recompor a relação desses partidos", completou, ao ressaltar que o ex-ministro não tinha trânsito na cúpula das duas legendas.

Segundo ele, Adauto não teve contato com Jefferson. O advogado, porém, disse que o ex-ministro teve relação com Queiroz, que, de acordo com a defesa, procurou Adauto com um pedido para "fechar as contas de campanha". O ex-ministro sugeriu que Queiroz procurasse o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, disse o advogado. Ou seja, para a defesa, a conversa entre os dois foi só "um conselho", não uma compra de apoio político.

O MP acusa Adauto de ter recebido R$ 950 mil. A defesa só admite ter recebido R$ 410 mil para quitar dívidas da campanha dele, como despesas com combustível e trio elétrico. O dinheiro, disse, foi sacado por seu ex-chefe de gabinete José Luiz Alves e por seu irmão. "Não havia nenhum motivo para desconfiar da origem do recurso", disse o advogado. "Para se caracterizar a lavagem de dinheiro, é preciso mais: não basta uma dúvida, ele tem que ter ciência da origem ilícita."

Além de responder pelos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro no STF, Adauto está às voltas com uma série de outros problemas judiciais. Atual prefeito de Uberaba (MG), o peemedebista acaba de ser condenado a 3 anos de prisão em regime aberto por irregularidades em concurso realizado no município. Também responde a pelo menos mais dois processos por improbidade administrativa e é acusado de fraudar licitação de R$ 20 milhões em recursos federais para compra de medicamentos e equipamentos. Seus advogados contestam as acusações.

Outros réus. A defesa da ex-assessora Anita Leocádia Pereira da Costa afirmou que ela só cumpria ordens de superiores. O advogado do ex-deputado Professor Luizinho disse que a liberação do dinheiro foi negociada por um ex-assessor conhecido como "Zé Linguiça". Já o defensor de Paulo Rocha confirmou que seu cliente ciceroneou uma reunião política na qual ele apenas teria tomado "uma cachacinha" com o ex-presidente Lula.

O advogado Luís Maximiliano Leal Telesca Mota, que defende Anita Leocádia, citou trechos da música O tempo não para, de Cazuza, para questionar o fato de o MPF ter denunciado sua cliente, que era apenas uma "cumpridora de ordens" de superiores, e ter poupado outras pessoas que receberam dinheiro até de carro-forte. "Procurador-geral da República, a tua piscina está cheia de ratos, mas tuas ideias não correspondem aos fatos", recitou.

João Gomes, que defende Paulo Rocha, também disse que o dinheiro foi usado para pagar dívidas de campanha eleitoral no Pará. O advogado Pierpaolo Bottini atribuiu ao ex-assessor José Nilson dos Santos - o "Zé Linguiça", que era íntimo de Delúbio Soares -, a responsabilidade pelo recebimento de R$ 20 mil. "Luizinho nem sequer sabia dos fatos."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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