domingo, 12 de agosto de 2012

Governo aposta que cansaço deve derrubar o movimento grevista

Igor Gielow

BRASÍLIA - O cálculo político da presidente Dilma Rousseff ao recrudescer a retórica a respeito da greve dos servidores públicos leva em conta uma avaliação de governo de que o movimento tende a ser vencido pelo cansaço.

A greve dos professores federais, a mais estruturada e longeva na safra atual, está no estágio em que o governo suspeita ser terminal, com ou sem novas negociações.

Corte de ponto e ameaças abertas de punição a reitores feitas pela Advocacia-Geral da União colocam pressão nos docentes, embora a ida à Justiça para garantir presença mínima não tenha tanto efeito -o MEC estima informalmente em menos de 40% a adesão real nas federais.

Já paralisações pontuais que geram tormento ao cidadão, como as de agentes em aeroportos ou policiais rodoviários, essas correm o risco de morrer por impopulares.

Com isso, caso seja vitoriosa na queda de braço, Dilma poderia contar mais um ponto positivo junto às classes de maior renda e escolaridade.

Assim como é "pop" bater em juros bancários e em celulares que não funcionam, há no governo uma percepção de que pode ser bom negócio demonizar grevistas que deixam os filhos da classe média sem aula na universidade ou os turistas em filas homéricas em Cumbica.

Em cenário de crise econômica, não é por acaso que Dilma falou em priorizar o trabalhador sem a estabilidade associada ao serviço público.

Quando "quebrou" a muito mais séria greve dos petroleiros em seu primeiro mandato, Fernando Henrique Cardoso auferiu louros semelhantes e abriu caminho para mudanças estruturais.

O risco para Dilma é de que alguma forma os grevistas consigam colar na intransigência do governo a culpa pelos efeitos de sua ação.

Mas hoje, com sua estrutura descentralizada, o movimento não parece capaz de tal jogada.

Falta uma figura de proa para transmitir uma noção de que não se trata de uma greve de privilegiados por mais privilégios -independentemente aqui do mérito das reivindicações.

Por fim, um dado inquietante: ninguém, governo ou grevistas, tem noção do tamanho real da paralisação.

Imagine uma empresa que não controla o ponto de seus trabalhadores.

Amplie para um universo de centenas de milhares de pessoas. É isso.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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