terça-feira, 14 de agosto de 2012

Greve de servidores públicos já afeta pesquisas científicas

Sem insumos importados, instituto para testes com células tronco

Cristiane Bonfanti

RIOe BRASÍLIA Além de prejudicar as exportações do país, a emissão de passaportes e a rotina de estudantes de universidades públicas, entre outros serviços essenciais, a greve dos servidores federais está atrasando até pesquisas científicas. Referência na área de saúde, o Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ (ICB) sofre com a falta de reagentes químicos, o que tem forçado a interrupção de pesquisas. O instituto desenvolve estudos em áreas como células tronco, regeneração do sistema nervoso e esquizofrenia.

Os reagentes são alguns dos insumos importados usados pelos pesquisadores. Com a paralisação da Anvisa e da Receita Federal, há produtos retidos em portos e aeroportos. Mas o problema vai além da retenção. Cientes da greve, os fornecedores não estão nem mesmo aceitando pedidos.

- Somos orientados a fazer a compra apenas depois que a greve acabar, porque são produtos perecíveis - explica Roberto Lent, diretor do ICB.

O atraso compromete desde a publicação de artigos em revistas científicas, ao registro de patentes.

Ajuda para evitar colapso

Os laboratórios de análises clínicas também enfrentam dificuldades. Por enquanto, exames como o de shbg (proteína que carrega os hormônios sexuais no sangue) e o de testosterona livre são alguns dos prejudicados. Se a greve continuar, em alguns dias outros exames mais importantes, como hemocultura e hemogramas, também devem ser afetados.

Segundo Paulo Azevedo, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), os laboratórios só não entraram em colapso porque têm se ajudado e porque os fornecedores têm obtido liminares na Justiça para liberar as mercadorias. A falta de reagentes já começa a afetar exames nas unidades de terapia intensiva (UTI), afirma Azevedo.

Ao todo, mais de 400 empresas envolvidas com o complexo hospitalar dependem de produtos importados.

Para mostrar que o governo está aberto ao diálogo, o anúncio sobre quais categorias serão contempladas com reajustes salariais em 2012 será dada aos representantes das categorias individualmente, obedecendo ao cronograma de reuniões entre os sindicalistas e o secretário de Relações de Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça.

Preocupada com os prejuízos causados pelas paralisações para a sociedade e as contas do governo, a presidente Dilma Rousseff se reuniu ontem com os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento), para encontrar brechas no Orçamento do ano que vem e fechar as propostas a serem anunciadas. No Orçamento de 2013, R$ 2,1 bilhões já estão garantidos para reajustes nas remunerações. Mas, o dinheiro iria apenas para professores e servidores técnico-administrativos das instituições federais de ensino. Outros R$ 3,8 bilhões adicionais deverão ser reservados até 2015.

Sete dias depois de começar, a greve dos analistas e técnicos de finanças e controle, que pedem reajuste de até 20%, levou a Controladoria Geral da União (CGU) a cancelar a fiscalização da aplicação dos recursos federais destinados a programas de saúde e educação. Isso reduz o combate à corrupção em pleno ano eleitoral.

Segundo a CGU, a fiscalização é feita três vezes por ano em 60 municípios, escolhidos por sorteio. Na semana em que começou a greve, haveria uma fiscalização. Agora, serão visitadas apenas 24 prefeituras, ou 40% do previsto.

Um dia antes de iniciar as reuniões com os sindicatos dos servidores públicos federais em greve, o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, enviou nesta segunda-feira um documento aos dirigentes de recursos humanos dos órgãos do Poder Executivo reiterando a orientação para que eles efetuem o corte do ponto dos grevistas.

FONTE: O GLOBO

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