Sem insumos importados, instituto para testes com células tronco
Cristiane Bonfanti
RIOe BRASÍLIA Além de prejudicar as exportações do país, a emissão de passaportes e a rotina de estudantes de universidades públicas, entre outros serviços essenciais, a greve dos servidores federais está atrasando até pesquisas científicas. Referência na área de saúde, o Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ (ICB) sofre com a falta de reagentes químicos, o que tem forçado a interrupção de pesquisas. O instituto desenvolve estudos em áreas como células tronco, regeneração do sistema nervoso e esquizofrenia.
Os reagentes são alguns dos insumos importados usados pelos pesquisadores. Com a paralisação da Anvisa e da Receita Federal, há produtos retidos em portos e aeroportos. Mas o problema vai além da retenção. Cientes da greve, os fornecedores não estão nem mesmo aceitando pedidos.
- Somos orientados a fazer a compra apenas depois que a greve acabar, porque são produtos perecíveis - explica Roberto Lent, diretor do ICB.
O atraso compromete desde a publicação de artigos em revistas científicas, ao registro de patentes.
Ajuda para evitar colapso
Os laboratórios de análises clínicas também enfrentam dificuldades. Por enquanto, exames como o de shbg (proteína que carrega os hormônios sexuais no sangue) e o de testosterona livre são alguns dos prejudicados. Se a greve continuar, em alguns dias outros exames mais importantes, como hemocultura e hemogramas, também devem ser afetados.
Segundo Paulo Azevedo, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), os laboratórios só não entraram em colapso porque têm se ajudado e porque os fornecedores têm obtido liminares na Justiça para liberar as mercadorias. A falta de reagentes já começa a afetar exames nas unidades de terapia intensiva (UTI), afirma Azevedo.
Ao todo, mais de 400 empresas envolvidas com o complexo hospitalar dependem de produtos importados.
Para mostrar que o governo está aberto ao diálogo, o anúncio sobre quais categorias serão contempladas com reajustes salariais em 2012 será dada aos representantes das categorias individualmente, obedecendo ao cronograma de reuniões entre os sindicalistas e o secretário de Relações de Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça.
Preocupada com os prejuízos causados pelas paralisações para a sociedade e as contas do governo, a presidente Dilma Rousseff se reuniu ontem com os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento), para encontrar brechas no Orçamento do ano que vem e fechar as propostas a serem anunciadas. No Orçamento de 2013, R$ 2,1 bilhões já estão garantidos para reajustes nas remunerações. Mas, o dinheiro iria apenas para professores e servidores técnico-administrativos das instituições federais de ensino. Outros R$ 3,8 bilhões adicionais deverão ser reservados até 2015.
Sete dias depois de começar, a greve dos analistas e técnicos de finanças e controle, que pedem reajuste de até 20%, levou a Controladoria Geral da União (CGU) a cancelar a fiscalização da aplicação dos recursos federais destinados a programas de saúde e educação. Isso reduz o combate à corrupção em pleno ano eleitoral.
Segundo a CGU, a fiscalização é feita três vezes por ano em 60 municípios, escolhidos por sorteio. Na semana em que começou a greve, haveria uma fiscalização. Agora, serão visitadas apenas 24 prefeituras, ou 40% do previsto.
Um dia antes de iniciar as reuniões com os sindicatos dos servidores públicos federais em greve, o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, enviou nesta segunda-feira um documento aos dirigentes de recursos humanos dos órgãos do Poder Executivo reiterando a orientação para que eles efetuem o corte do ponto dos grevistas.
FONTE: O GLOBO
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